11.4.15

Sonho Realizado - Capitulo 9

No dia seguinte, Joe ligou para o escritório de Holden a fim de marcar uma reunião com ele. Demi não havia pedido que ele se envolvesse no assunto, e se ela soubesse que ele estava planejando se encontrar com Holden, certamente não concor­daria. Contudo, Joe não conseguia ficar apenas olhando sem fazer nada e permitir que Demi e o bebê ficassem sujeitos a esse tipo de estresse.
— Não posso imaginar o que nós temos para conversar — Holden falou de maneira seca. — Por acaso Demi está com o aluguel atrasado?
— Eu tenho algumas coisas para lhe dizer — Joe insis­tiu. — Estarei no seu escritório amanhã às dez horas e espero que esteja disponível. Eu detesto esperar.
— Está bem. Porém nos encontraremos em outro lugar onde você se sinta mais confortável. — Holden respondeu com um suspiro exagerado.
— Muito gentil da sua parte — Joe salientou com iro­nia. — Sendo assim, poderemos nos encontrar no café próxi­mo ao Rockfeller Center — E ditou-lhe o endereço.
— Certo. Mas não se atrase. Eu não poderei dispensar-lhe mais do que meia-hora — Holden avisou. — Meu tempo é precioso.
— O meu também.
— É verdade. Reformar aquela casa deve mantê-lo ocupa­do. — Holden afirmou com um tom desdenhoso.
— Isso e algumas outras coisas. — Joe não pretendia iniciar uma discussão do tipo "quem tem mais", principal­mente pelo telefone. — Eu o verei pela manhã. Até mais.
***
Viajando sem Demi no banco do passageiro, Joe ligou o rádio em volume alto e imprimiu uma velocidade no Porsche capaz de lhe proporcionar alguns pontos na carteira de moto­rista, caso um radar o flagrasse. Ele chegou à cafeteria vinte minutos antes do combinado, pois já contava com o tempo que levaria para estacionar o carro em pleno centro de Manhattan. Por sorte, encontrou uma vaga bem em frente à lanchonete.
Apesar de Holden afirmar que estaria muito ocupado, ele já estava na cafeteria e ocupava uma mesa próxima da entra­da. Quando avistou Joe saindo do Porsche, arqueou as sobrancelhas demonstrando surpresa.
— O’Donnell! — Holden estendeu a mão para cumpri­mentá-lo, assim que Joe se aproximou da mesa. — Parece que você conseguiu fazer um bom negócio com a caminho­nete!
— Como vai Seville? — Joe perguntou no instante em que eles trocavam um aperto de mãos.
Holden prosseguiu com entonação de ironia:
— Eu não sabia do seu bom gosto para roupas. O terno que está usando deve ter-lhe custado uma fortuna! Talvez tenha conhecido alguém recentemente e esteja pensando que dinheiro não será mais problema para você, não é isso?
A maneira debochada de Holden irritou Joe, contudo, ele se esforçou para manter a calma e respondeu em tom ci­vilizado:
— Não estamos aqui para discutir sobre o meu gosto para roupas ou carros.
— Então vamos nos sentar.
Assim que ambos se acomodaram, uma garçonete se apro­ximou para tornar a encher a xícara de café de Holden e ano­tar o pedido de Joe. Ele preferiu não pedir nada. Não esta­va com disposição para beber coisa alguma. E assim que a garçonete se afastou, Joe foi direto ao assunto:
— Eu não estou gostando da maneira como está tratando Demi e quero que pare com isso.
O outro arregalou os olhos e ficou surpreso com aquela ousadia.
— A maneira como trato a minha esposa não é da sua con­ta. A menos que esteja envolvido com ela de alguma maneira.
Joe ignorou a insinuação e informou:
— Quando ela compareceu à consulta de rotina com o ginecologista, ele descobriu que Demi estava com a pres­são elevada. Provavelmente por causa da pressão que você está fazendo com essas calúnias.
Holden não lhe pareceu nem um pouco preocupado quan­do falou:
— Sinto muito em saber que ela não está se sentindo bem.
— Dá para perceber o quanto está sentido — Joe ironizou.
Holden deu de ombros.
— A culpa não é minha.
Joe sentiu vontade de gritar, mas manteve o tom de voz baixo:
— Você a está acusando de ter um caso e dizendo que o bebê que ela espera pode não ser seu. Não acha que fazer alegações sem fundamento para uma mulher naquelas condi­ções poderá submetê-la a um estresse?
— Eu tenho evidências de que vocês dois estão comparti­lhando algo mais do que uma relação entre proprietário e inquilina.
— Realmente a nossa relação não se limita ao papel de proprietário e inquilina. Eu e Demi somos amigos.
— Apenas amigos?
Joe fez o possível para afastar da mente o beijo explo­sivo que havia acontecido entre eles e os sentimentos mais profundos que começava a sentir por Demi.
— Sim. Apenas amigos. E não acho que suas evidências se sustentarão no tribunal, já que nunca houve nada de ínti­mo entre eu e Demi.
— Mas posso apostar que era o que você gostaria — Holden afirmou com malícia.
Joe sentiu o sangue ferver nas veias, mas dessa vez a raiva estava acompanhada de culpa, mesclando as emoções de maneira curiosa. E se esforçando para manter o autocontrole, ele argumentou:
— O que eu gostaria mesmo seria que parasse de aborre­cer Demi. Você sabe que ela nunca foi infiel e que o bebê é seu. Eu conheci Demi só depois que ela o deixou e ela já estava grávida naquela altura. Por isso, ela não merece pas­sar por esse estresse.
Holden encolheu os ombros.
— Eu não quero criar uma situação de estresse para Demi.
— Então se trata apenas de obter vantagens?
— Bem, ela fez a própria cama.
— E você estava deitado nela — Joe revidou com in­dignação. Ao mesmo tempo, experimentou uma estranha sensação de ciúmes quando fez aquela observação. Ele não se lembrava de ter sentido isso quando descobriu que Helena estava tendo um caso. Joe se sentiu traído, mas não com ciúmes. Entretanto, aquele não era o momento de ficar ana­lisando seus sentimentos.
— Eu tenho que pensar no meu bem-estar — replicou Holden.
— E quanto ao bem-estar do bebê?
— Como você já sabe, eu não tenho certeza de que o bebê seja meu.
— Deus! Eu não acredito nisso! — Joe exclamou estar­recido. Será que Holden não percebia a sorte que tinha em ter uma mulher como Demi e a estava deixando escapar pelos vãos dos dedos?
Aparentemente não, Joe concluiu quando ouviu o que Holden revelou a seguir.
— O que eu quero é acabar logo com isso.
Joe sentiu pena de Demi. As pessoas que faziam parte de sua vida não lhe davam valor e não se importavam com seus sentimentos. E quando ela precisava deles, eles a deixa­vam na mão. Joe não pretendia agir assim. Mesmo que a amizade entre eles não derivasse para algo mais concreto, continuaria demonstrando a lealdade e respeito que Demi merecia. Faria questão de mostrar que ela poderia contar com pelo menos uma pessoa para defender seus interesses. Endurecendo as feições para confirmar o que havia decidido mentalmente, Joe perguntou:
— E então, qual é o ponto em que deseja chegar?
— Não estou entendendo o que você está querendo dizer.
— Está claro que deseja alguma coisa de Demi, ou não faria essa pressão sobre ela.
Holden curvou os cantos da boca num sorriso provocativo.
— Você também é mensageiro dela, entre outras coisas?
— Eu já lhe disse que somos apenas amigos.
— Hum... Está bem. Você quer que eu lhe diga o que desejo? Pois eu vou lhe dizer. Eu trabalhei duro para conse­guir tudo o que tenho. Algo que você talvez não imagine o que seja.
— Pode ter certeza de que eu sei muito bem sobre o que está se referindo.
— Então suponho que entenderá que não pretendo sacrifi­car meu padrão de vida para sustentar um segundo lar.
— Se está se referindo à pensão alimentícia, pode ficar tranquilo. Demi não quer o seu dinheiro. Ela tem uma car­reira e pretende exercê-la para se sustentar.
Holden ergueu os olhos para o teto demonstrando descaso.
— Mas não no padrão em que ela está acostumada. — E direcionando o olhar para o terno que Joe usava, acres­centou: — Roupas de grife não são baratas.
— Isso não é importante para ela.
— A riqueza é importante para qualquer um. Principal­mente para aqueles que nunca a tiveram. — E exibindo um olhar de desprezo, concluiu: — Ou para aqueles que estão com medo de perdê-la.
Joe podia até ignorar o insulto que fosse dirigido para ele, porém, quando se tratava de Demi, isso o enfurecia. Ela podia ser qualquer coisa, menos uma mulher fútil.
— Como você pode ter ficado casado com Demi duran­te quatro anos e não a ter conhecido?
— Eu a conheço o suficiente para saber que Demi irá lutar para receber uma boa pensão para a criança.
Joe meneou a cabeça com descrédito.
— Ela nem precisaria lutar por isso! É sua obrigação como pai!
— Eu jamais quis filhos.
Como o homem podia ser tão egocêntrico? Joe o criti­cou em pensamento e avisou:
— Parece um pouco tarde para isso. Você sabe muito bem qual será o resultado do teste de paternidade. Não poderá negar a existência de seu filho apesar de nunca ter desejado ser pai.
— Talvez esteja certo. Porém planejo me assegurar de que Demi não consiga um centavo a mais do que o devido. Eu posso ser obrigado a fornecer uma pensão para a criança, mas não para Demi. — E lançando outro olhar para o terno que Joe usava, acrescentou: — E nem para algum que­bra-galho que acredita ter encontrado o bilhete da sorte que lhe proporcionaria uma boa vida.
Agora já era demais! Joe perdeu o controle. Erguendo-se, ele avançou com os braços estendidos por cima da mesa e agarrou Holden pelas lapelas do paletó.
O café contido na xícara derramou sobre a superfície da mesa e as cadeiras que eles ocupavam tombaram no chão produzindo um grande ruído.
— Seu filho da mãe!
— Bata-me se tiver coragem! — Holden desafiou. — Faça isso e perderá aquela coisa em ruínas que chama de casa e os acres ao redor em meu favor na Justiça!
Com grande esforço, Joe controlou a fúria e libertou Holden. Bater no homem em público, embora fosse gratificante, não ajudaria a situação de Demi. Nas mesas ao re­dor, os outros clientes assistiam a discussão e ficavam espan­tados com o inesperado escândalo.
— Você vai se arrepender disso! — Holden avisou en­quanto alisava as lapelas do paletó com as próprias mãos. — Eu até poderia pensar em deixar alguma coisa dos nossos bens para Demi, mas agora, lutarei com unhas e dentes para que ela saia deste casamento sem nada! Sem nada! En­tendeu? — E antes de sair, ainda provocou: — Aproveite a boa vida enquanto durar.
***
Joe estava se sentindo nervoso demais para retornar a Gabriel Crossing naquele instante. Precisava conversar com alguém que pudesse lhe dar alguns conselhos. E sabia quem seria a melhor pessoa para isso: seu irmão. Garret tinha dois anos a mais que Joe e era um pouco mais alto. E enquanto Joe possuía um porte mais musculoso, o ir­mão, apesar de magro, era ágil e ligeiro. Nas brigas que enfrentavam quando crianças, e que eram muitas, eles se equiparavam. Contudo, em questão de temperamento, eles agiam de maneira completamente oposta. Talvez por isso tinham se tornado excelentes parceiros nos negócios. Enquanto Garret era uma pessoa analítica e presa a detalhes, Joe era mais prático e arrojado. Garret costumava pensar muito e pesar os fatos antes de chegar a qualquer conclusão. E era desse comedimento que Joe precisava naquele momento. Garret estava na sala de conferências da Phoenix Brothers discutindo alguns projetos com os arquitetos quando Joe entrou.
— Que surpresa! — exclamou Garret com zombaria. — Será que o filho pródigo voltou?
— Não, Garret. Hoje não, está bem?
O irmão lhe lançou um olhar especulativo e em seguida dispensou os arquitetos, valendo-se de uma desculpa qualquer. Assim que ficaram a sós, Garret perguntou:
— O que aconteceu?
Joe passou a mão direita sobre os cabelos e caminhou até a janela.
— Estou precisando da sua opinião.
— O que quer saber?
— Eu acabei de ter um encontro com o marido de Demi. O idiota está fazendo acusações infundadas para obter vanta­gens no processo do divórcio. Por causa disso, ela está so­frendo de pressão alta e o bebê poderá ser afetado.
— Demi? Está se referindo a sua inquilina?
— Bem, ela significa mais do que isso. Nós somos... Amigos.
— Ouça, Joe. Sei que a sua intenção é das melhores. Ela está grávida, vulnerável e solitária. É natural que você se preocupe. Contudo, amigos ou não, o divórcio dela não é da sua conta.
— E se eu quiser ajudá-la? Garret abriu os braços e protestou:
— Não é possível! Você vai começar tudo outra vez? E o pior é que a mulher nem mesmo é solteira!
— Sobre que diabos está falando?
— Sobre o fato de você pular para dentro de um buraco sem primeiro medir a profundidade. Quantas vezes precisará cair para descobrir que não é capaz de voar?
— Acontece que Demi não é como Helena e... Garret o interrompeu:
— Como sabe? Você a conhece há apenas alguns meses. Além de casada, ela está grávida, Joe! Pense por um instante nas consequências. Pelo amor de Deus! Faça um favor a mim e a você mesmo: não se envolva com essa mulher!
— O que está querendo dizer com fazer um favor a você? — Joe exigiu com a voz elevada para acompanhar o tem­peramento alterado do irmão.
— Eu tenho feito o impossível nestes últimos meses para tomar conta dos negócios enquanto tenho esperado você "es­friar a cabeça" em Connecticut. O nome desta empresa é Phoenix Brothers Development — Garrett enfatizou com um soco na superfície da mesa de reunião. — Isso quer dizer "irmãos", no plural. Nós perdemos alguns clientes para nossos competidores por falta de assistência. Eu não posso fazer serviço de dois ao mesmo tempo! Joe sentiu a culpa substituir a raiva que sentia.
— Você deveria ter-me dito isto antes.
— Estou dizendo agora. Eu concordei quando você pe­diu para se afastar por um tempo porque percebi o quanto se sentia arrasado. E você não poderia ser útil para a em­presa enquanto estivesse naquelas condições. Mas você prometeu que estaria de volta na primavera e trabalharia pelo menos por meio período. Em vez disso, resolveu se envolver em outra enrascada quando nem mesmo se recu­perou da primeira!
— Desta vez não se trata de uma enrascada.
— Tem certeza?
— Acho que sim.
Acho não é suficiente, Joe. Você precisa ter certeza. Porque se continuarmos perdendo clientes, em breve nossa empresa poderá estar falida.
***
Quando Joe estava no caminho para casa, as palavras do irmão reverberavam em sua mente. Aquele sermão não era exatamente o que ele gostaria de ter ouvido. Garrett não po­deria estar certo quanto a Demi ou a situação deles. Ela não era nem um pouco parecida com sua ex-mulher. Porém, quando Joe conheceu Helena, ele e o irmão tiveram o mesmo tipo de discussão. E, no final, as palavras de Garrett estavam certas.
***
Estava quase na hora do jantar quando Demi espiou pela janela da cabana e viu Joe entrar com o Porsche na ga­ragem da casa. Ela adorava a cabana e a área rural de Connecticut. Mas sem a presença de Joe, seu entusiasmo parecia diminuir. Ela disse a si mesma que não se sentia ansiosa pelo retorno dele, porém seu coração disparou quando ela avistou o Porsche. Também estava curiosa para saber onde ele tinha estado a maior parte do dia. Joe não lhe dissera nada sobre algum compromisso, e quando ela fora na casa dele ao meio-dia para levar-lhe uma massa e pedir que ele fizesse um intervalo no trabalho, ele não se encontrava lá.
Depois disso, o restante do dia pareceu quieto e solitário, embora Demi procurasse se ocupar de alguma maneira. Ela desocupou uma parte do quarto e ligou para uma loja de artigos infantis e encomendou um berço, uma cômoda para o bebê e também um carrinho de passeio. Logo que ela encer­rou a ligação, o telefone tocou. Quando Demi atendeu, des­cobriu com alegria que se tratava de Lilly.
— Ei, você precisa deixar alguma coisa para os convida­dos poderem comprar e lhe oferecer no chá do bebê! — a amiga brincou.
Enquanto a amiga falava, Demi podia ouvir que uma das crianças estava gritando.
— Sua mãe vai organizar o chá para o bebê, não vai? — Lilly quis saber.
— Ela não mencionou nada disso — admitiu Demi. — Nós apenas conversamos pelo telefone umas duas vezes nas últimas seis semanas. E em cada uma dessas conversas, ela só queria saber se eu e Holden havíamos nos reconciliado.
— Sabe de uma coisa? Eu vou até aí e cuidarei de promo­ver um chá de bebê para você.
— Eu adoraria, Lilly. Mas sei que está muito ocupada com as crianças. Além disso, eu não preciso de um chá de bebê. Eu posso comprar todas as coisas que ele irá precisar.
— Acontece que eu não estou tão ocupada a ponto de não conseguir arranjar um tempo para providenciar um chá de bebê para a minha mais antiga e querida amiga. Eu sei que você pode comprar todas as coisas que irá precisar, mas este não é o ponto, Demi. A chegada de um bebê precisa ser comemorada.
Demi quase chorou ao ouvir as palavras confortantes da amiga.
— Eu sei, Lilly, mas quem eu iria convidar para o chá do bebê?
— Deixe a lista comigo. Apenas me forneça o dia em que deseja que o chá seja feito. — Demi sugeriu uma data e a amiga prosseguiu: — Agora me fale sobre esse tal de Joe O’Donnell.
— Por que está perguntando sobre ele?
— A julgar pelo número de vezes que você cita o nome dele em nossas conversas, pelo telefone ou na troca de e-mails, acho que está nutrindo sentimentos fortes por esse homem.
Houve um silêncio.
— Você está aí? — Lilly perguntou.
— Eu e Joe somos apenas amigos.
— Por enquanto — Lilly presumiu. — Acho que logo vo­cês serão mais do que isso.
O comentário de Lilly ainda ecoava na mente de Demi quando ela vira Joe chegar. E a sensação de alegria que havia sentido só confirmava a avaliação que a amiga fizera. Embora Demi achasse mais prudente permanecer na cabana e prosseguir com seus afazeres ao invés de sair e arris­car-se a ser fotografada por alguém que Holden houvesse contratado, quando se deu por conta já estava vestindo o ca­saco e colocando uma echarpe ao redor do pescoço. Joe tinha a expressão zangada e a mente perdida em pensamen­tos quando desceu do carro. Porém quando avistou Demi entrar na garagem, seu rosto se iluminou.
— Olá! — Demi exclamou. E ao notar que ele estava de terno e gravata, comentou: — Não sabia que tinha algum compromisso na cidade.
Joe não respondeu e afrouxou o nó da gravata. Em se­guida libertou os primeiros botões do colarinho. Depois tran­cou a porta do carro.
— Pelo jeito a reunião não deve ter sido muito boa.
— Não. Não como eu esperava que fosse — ele respondeu com um suspiro contrariado.
Demi esperou que ele dissesse mais alguma coisa, mas não foi o que aconteceu. Percebendo o aborrecimento de Joe, ela tentou confortá-lo:
— Sinto muito.
—A culpa não é sua. Então não se desculpe. Mas que droga!
A resposta rude quase fez com que Demi se afastasse. A antiga Demi provavelmente faria isso. Mas a submissão não mais fazia parte da sua nova personalidade. Por isso, ela cruzou os braços contra o peito e declarou:
— Eu estava apenas tentando ser gentil.
Joe fechou os olhos e censurou a si mesmo:
— E eu reagi de maneira imperdoável!
— Bem, eu diria que foi um pouco rude, mas não imperdoável.
Ele ergueu as pálpebras e estreitou o olhar.
— Isso quer dizer que me perdoa?
Demi sorriu. Como ela poderia dizer que não? Ele a apoiara inúmeras vezes. Seria ótimo retribuir pelo menos uma vez.
— Quer desabafar comigo o que o está aborrecendo?
Ele a estudou por um momento e depois concordou com um aceno de cabeça.
— Sim. Eu quero falar sobre isso. Nós precisamos falar sobre isso, porque também diz respeito a você.
— Diz respeito a mim? De que maneira? Acho que não estou entendendo.
— Sei disso. — Ele gesticulou com a cabeça na direção da casa — Vamos entrar. Está frio aqui fora e você não deveria ficar em pé.
— Não se preocupe. Estou me sentindo bem.
Eles entraram pela porta dos fundos da casa e logo esta­vam na espaçosa cozinha, onde Demi se sentia completa­mente à vontade. Talvez isso acontecesse porque Joe lhe permitira que ela decorasse a maior parte das coisas. Joe ajudou Demi a se livrar do casaco e da echarpe e gesticulou para que ela se acomodasse em uma das cadeiras ao redor da mesa.
— Você quer que eu lhe prepare um chá ou qualquer outra coisa?
Ela meneou a cabeça.
— Não, obrigada.
Ele olhou espantado para o relógio de parede e lamentou:
— Eu não imaginava que fosse tão tarde! Acho melhor começar o jantar.
— Hoje é a minha vez de cozinhar — ela o lembrou.
— Talvez outro dia. Você nem mesmo deveria estar em pé.
— Por que você vive me dizendo isso, Joe? Eu não sou uma inválida!
— Sei disso, mas quero evitar qualquer coisa que possa prejudicar tanto a você quanto ao bebê.
Demi ficou comovida com a preocupação dele. E qual­quer resquício de ressentimento que ela ainda sentisse de­sapareceu.
— Está bem, eu concordo. Mas o jantar pode esperar até que terminemos nossa conversa.
— Certo. — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e franziu o cenho. Porém permaneceu calado.
— Você está começando a me deixar nervosa, Joe.
— Essa não é a minha intenção.
— Então venha até aqui e sente-se — ela pediu com um tapinha sobre a superfície da mesa. — Talvez fosse melhor se começasse a dizer logo o que o está incomodando.
Ele concordou com um aceno de cabeça e se acomodou na cadeira que ficava no lado oposto daquela que ela ocupava. Então começou a falar:
— Eu me encontrei com Holden hoje.
Como Demi havia pedido que Joe não se intrometes­se em seu divórcio, ela ficou chocada com aquelas palavras. Então duvidou que tivesse entendido direito.
— O que disse?
— O encontro que tive em Nova York foi com Holden.
— Holden pediu que você se encontrasse com ele?
Joe limpou a garganta com um ruído sonoro.
— Bem... A verdade é que ontem eu liguei para Holden e disse que precisava falar com ele.
— Você ligou para Holden? — ela perguntou e repetiu elevando o tom de voz: — Você ligou para Holden e pediu para se encontrar com ele sem antes falar comigo?
Joe assentiu meio sem graça. A voz dela se tornou estridente:
— Você foi se encontrar com ele sem me perguntar se eu aprovaria a sua interferência?
Joe baixou os olhos com um sentimento de culpa e ar­rependimento. Então confessou:
— Foi isso mesmo que eu fiz.
— E por que razão faria uma coisa dessas sem me avisar?
— Porque ele estava "jogando sujo" com você — ele de­sabafou e se ergueu da cadeira. Caminhou alguns passos e recostou-se no balcão da pia. Cruzou os braços contra o pei­to e então prosseguiu: — Você estava aborrecida depois que recebeu aquela notificação, e quando foi ao médico sua pres­são sanguínea estava alta. O que queria que eu fizesse? Ape­nas ficar aqui sentado enquanto assistia Holden arrasá-la? Não, Demi. Não me peça para fazer isso. Eu não consigo.
Demi ficou sensibilizada com aquelas palavras, mesmo assim, ela o censurou:
— Você deveria ter perguntado o que eu achava, ou, pelo menos, mencionado que iria se encontrar com Holden.
— Eu não queria aborrecê-la.
— Ora, por favor...
— Mas a sua pressão estava alta e...
— E o que acha que está acontecendo agora com a minha pressão?
Ao ver que Joe parecia tão pálido quanto a camisa branca que ele usava, ela quase se desculpou, mas estava tão indignada que acabou prosseguindo com o protesto.
— Você vive querendo tomar conta da minha vida, Joe!
— Errado. Eu apenas quero protegê-la.
Ela se ergueu e aproximou-se dele, dizendo:
— Eu não quero ser tratada como uma criança! Estou far­ta de ouvir as pessoas me ordenando como devo pensar, agir ou falar. Estou cansada de ver os outros tomando decisões por mim! Sou perfeitamente capaz de cuidar da minha vida! — Quando ela terminou o desabafo, estava quase sem fôle­go, mas pelo menos se sentia mais aliviada.
— Eu sei disso.
— Ótimo. Então passe a agir de acordo com o que sabe. Esta é a minha vida, Joe. Portanto, deixe-me cuidar dela.
— Então não quer mais que eu me envolva com você?
— Eu não disse isso — ela negou com o tom de voz mais suave. — Eu adoro quando se preocupa comigo, só não que­ro que tome decisões a meu respeito sem antes me consultar.
Ele sorriu e a abraçou.
— Acho que eu consigo fazer isso.
Um pouco mais tarde, enquanto Demi aprontava a mesa e Joe preparava o jantar, ela perguntou:
— Sobre o que você e Holden conversaram?
Joe havia decidido fazer uma refeição ligeira. Uma opa de tomates e sanduíches de queijo aquecidos na grelha.
Enquanto se concentrava no fogão, relatava os pontos mais interessantes da conversa que tivera com Holden. Claro que ele omitiu a parte em que havia agarrado o outro pelas lapelas do paletó.
— E para resumir — ele ressaltou. — Holden pensa que eu sou um pilantra e estou atrás do seu dinheiro. — Então ergueu as sobrancelhas para ela de uma maneira divertida, apenas para aliviar a tensão.
— Não entendo como Holden pode agir de maneira tão repugnante. Já não basta ele nos acusar de ter um caso?
Joe revirou os sanduíches na grelha com uma espátu­la e diminuiu a chama em que estava a panela que continha a sopa.
— Sabe de uma coisa Demi? Se Holden está pensando em conseguir vantagens no divórcio através de artimanhas, por que não deixar?
Demi estreitou o olhar.
— Não estou entendendo aonde você quer chegar.
— Se você persistir em manter o pedido da maneira como está, de acordo com as leis de Nova York você e Holden precisarão ficar separados por um ano para depois consegui­rem o divórcio. Lembra-se?
— Sim. Continue.
— Bem, se o motivo passar para infidelidade, o prazo será muito mais curto.
— Está querendo dizer que eu deveria deixar que ele fi­zesse a acusação e não contestasse?
— O que eu acho é que você deveria pensar no assunto. Não vou cometer o erro de lhe dizer o que deve fazer. — Ele ergueu a espátula no ar em sinal de rendição.
— Provavelmente eu não vou concordar com isso, mas adorei discutir a ideia com você.
— Verdade?
— Sim. — E sem pensar ela acrescentou. — Foi muito excitante.
As palavras pairaram no ar como se estivessem liberando o erotismo contido de quem deseja um fruto proibido. Joe sentiu o calor subir às suas faces e Demi corrigiu:
— Eu quis dizer democrático.
— Ah...! — foi o único som que ele conseguiu fazer, sen­tindo-se um completo idiota.
— Mas eu gostei de ter usado a outra palavra — ela con­fessou.
— Eu não sei se seria correto eu dizer que também gostei de ouvir isso de uma mulher grávida.
— Em primeiro lugar, eu sou uma mulher, Joe. E não vou estar grávida para sempre.
Sem querer, Joe afrouxou os dedos da mão e a espátula que segurava caiu no chão.
— E também não vou estar casada por muito mais tempo. — E com um sorriso insinuante, ela acrescentou: — Princi­palmente se eu aceitar a sua sugestão. Holden está fazendo essas acusações apenas para evitar uma pensão da qual eu não faço a mínima questão.
— Foi exatamente o que eu disse a ele. Holden contestou dizendo que você estava acostumada a certos padrões de vida e que não viveria sem eles.
— Que bobagem! É claro que eu consigo viver sem todos aqueles luxos!
— Eu também disse isso a ele.
— Parece que você me conhece muito melhor que meu próprio marido. Quer saber de uma coisa? Eu posso aca­bar conseguindo menos vantagens do que teria no acordo, mas em compensação poderei me livrar mais cedo desse estresse.
— É isso mesmo.
— É claro que você me disse para ter cuidado e não jogar tudo para o alto apenas para conseguir o divórcio mais rápi­do. Lembra-se?
— É verdade. Eu lhe disse isso. Mas foi antes de...
Joe fitou Demi e sentiu-se incapaz de terminar a fra­se em voz alta. Antes do quê? Antes que ele descobrisse que o marido de Demi era um tremendo imbecil? Antes que ele percebesse o quanto o divórcio estava estressando Demi e prejudicando o bebê? Ou foi antes que ele descobrisse que estava apaixonado por ela e queria que Demi ficasse livre o mais rápido possível para que ele pudesse desenvolver um relacionamento com ela? Joe avançou um passo na dire­ção dela e, sem querer, chutou a espátula que estava no ca­minho. E enquanto o objeto metálico deslizava através do piso, ele se lembrou das palavras do irmão: Você tem que ter certeza.
— Antes do quê, Joe?
O cheiro de pão queimado o salvou de terminar a frase. Ele se apressou na direção do fogão e, após desligar o fogo, abanou as mãos para dissipar a fumaça.
— Parece que eu vou ter de fazer novos sanduíches.
— E não pode se esquecer de baixar o fogo — ela avisou com um sorriso tão espontâneo que Joe sentiu como se suas entranhas estivessem a ponto de se incendiar.
"Baixar o fogo", ele repetiu mentalmente. E até que esti­vesse certo de para onde aquele relacionamento o levaria e se era isso mesmo o que ambos desejavam, aquela seria a atitude mais sábia a ser tomada.

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                       Mais um capítulo pra vocês. Venho comunicar que estamos nos últimos capítulos :(
     Infelizmente tudo que é bom dura pouco. Comentem.
                       xoxo Nathi

5 comentários:

  1. Adorei a Demi reagindo e isso claro tem uma ajuda do Joe. Louca pra saber da reação do Holden quando souber que a situação financeira dele é bem melhor..... continua logo!!!!

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  2. nossa ja ta acabando.... que rapido
    ta mt bom
    posta mais!!

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  3. Quero mais :-(
    Faz Maratona please *_*

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  4. Ah poxa! Ja vai acabar =(
    Poste logo, Estou amando a Fic

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