16.4.15

Nosso Amor - Capitulo 3

Bom te achar, Arturo.

Joe! Vi seu nome no identificador e não pude acre­ditar. Não nos falamos há séculos. O que posso fazer por você?

Preciso da ajuda do meu advogado.

Claro.

Estou em Milão e estou indo para a vila de Mila agora pegar o Dino. É fundamental que eu fique com ele por algumas horas e então o leve de volta. Ela vai recusar, porque acabei de trazê-lo de nossas férias em Riomaggiore, mas algo surgiu e é vital que converse com ele sozinho. Seja o conselheiro de sem­pre e ligue para o advogado dela informando sobre minhas cir­cunstâncias especiais.

Vou resolver isso agora mesmo.

Grazie, Arturo. — Ele desligou.

Se Arturo conseguisse encontrar o advogado de Mila ou não, Joe não tinha intenção de deixar que sua ex-mulher o frustrasse. Ela já estava preparada, porque Dino havia falado sobre Demi. Ele podia imaginar os fogos quando ele aparecesse na porta alguns minutos depois, mas esse era um momento em que ele não se importava, pois tinha a esperança de que fosse a última vez em que ele ou Dino ficariam à mercê de Mila.

Signore! — A empregada olhou surpresa ao vê-lo na porta.

Diga a Mila e Dino que estou aqui para vê-los?

Si.

Ele entrou no saguão e fechou a porta. O som ressoou no si­lêncio sepulcral do interior. Logo ele ouviu o barulho de passos.

Papa! — Dino veio correndo para seus braços.

Mila o seguiu.

O que está fazendo de volta aqui?

Algo de importante surgiu. E eu preciso falar com Dino por uns instantes. Espero que não se importe.

Ela tinha que pensar sobre o assunto.

Você pode ir para o salão.

Não, quero dizer, preciso falar com ele fora daqui, Mila.

Não quero que ele saia da casa.

Tem planos para ele?

Não temos, não é mama? — Dino aumentou a voz.

Essa não é a questão, Dino.

Então, não vai fazer diferença se eu levá-lo por algumas horas. Trago ele a tempo para dormir.

Já teve sua semana com ele, Joe.

Ela não ligava se o filho deles estava ouvindo isso. Por mais que Joe odiasse isso, ela não lhe dava escolha.

Legalmente eu tenho o direito de estar com ele até as nove dessa noite. Eu o trarei de volta cedo em consideração a você, Mila. Vá em frente e ligue para seu advogado. Quando conse­guir falar com ele, já terei trazido Dino de volta.

Ele olhou para o filho.

Vamos sair para jantar.

Podemos comer pizza?

Se for isso que quiser.

Com ela? — Mila exigiu.

Joe não respondeu. Saíram, batendo a porta com força.

A mama ficou louca!

Ela sentiu muito sua falta.

Entraram no carro.

Nós vamos comer com a Signorina Spiros?

Sim, vamos.

Ela queria que eu fosse?

Eu diria que, de fato, ela se recusou a comer comigo, a menos que você viesse conosco.

Um sorriso surgiu na face do menino.

Hey! Nosso hotel! Ele gritou alguns minutos depois. Ela está esperando em nosso quarto?

Sim.

***

Demi agradeceu ao atendente da loja e levou os dois presentes que comprou para o quarto do hotel. Joe havia dito que era o quarto em que ele e Dino sempre ficavam. Fingiam que era a casa deles de férias. Quanto mais ela o conhecia, mais percebia o pai excepcional que era.

Se Joe era o pai de seu bebê, não poderia haver pai melhor. Mas ela se antecipou. Primeiro, precisavam abordar o assunto do casamento com Dino. Essas coisas levavam tempo.

Sob as melhores circunstancias, seu filho precisaria de al­guns meses, ou até um ano, para se acostumar com a ideia. In­felizmente, Demi não tinha tanto tempo com um bebê a cami­nho. Ela ainda não tinha desistido da ideia de ir para o Canadá.

Seus ouvidos captaram o ruído da porta. Nervosa sobre o que estava por vir, virou-se a tempo de ver os dois entrando no quar­to. De repente, ocorreu a ela que eles poderiam ser seu futuro marido e enteado. Assim que o pensamento surgiu, Demi foi tomada por um número infinito de emoções. Estava ansiosa, já que as coisas poderiam não dar certo. Mas também estava entu­siasmada com as chances de que dessem certo.

Oi, Dino!

Os olhos castanhos dele sorriram.

Oi, signorina!

O olhar de Joe foi de um a outro.

Eu acabei de dizer a ele que vamos jantar aqui. Vou ligar para a cozinha, ele quer pizza. O que mais você gostaria?

Salada? Café?

Joe balançou a cabeça e pegou o telefone para fazer o pedido.

Venha aqui, Dino. — Demi colocou um dos presentes na mesa e disse ao menino que podia abri-lo. Do embrulho surgiu uma lata com cinquenta varetas. Já jogou isso antes?

Quando ele sacudiu a cabeça, Demi olhou para Joe.

E você?

Um brilho invadiu-lhe os olhos.

Uma vez, muito tempo atrás. Nós chamávamos isso de Shanghai.

Bem, o jogo que eu conheço funciona assim. — Ela abriu a tampa e colocou todas as varetas na mão. Então, apoiou na mesa e deixou-as cair. Ao pegar a vareta preta, disse: — O tru­que é remover uma de cada vez sem fazer com que as outras se mexam. A pessoa que conseguir tirar o maior número de varetas é a vencedora.

Demi pegou dez varetas antes de mexer uma. Dino mal con­seguia esperar para que chegasse sua vez. O jogo entreteu a todos até a refeição chegar, empurrada em cima de um carrinho de chá.

Enquanto comiam, Joe assumiu o departamento de tradução.

Dino? Trouxemos você aqui para discutir algo muito im­portante. É sobre Demi e eu.

O que é? — Acima de seus lábios, ele tinha um bigode de leite.

Demi trocou um olhar particular com Joe e ambos sorriram.

Lembra que sempre me pergunta por que eu não me caso e eu sempre digo que é devido ao fato de não ter encontrado mulher certa ainda?

Ele assentiu com a cabeça.

Mas agora você encontrou Demi!

Quando Joe explicou o que Dino havia dito, Demi soltou a respiração que estava segurando.

Sim. Queremos nos casar logo. Como se sente a esse respeito?

Uma vez que a pergunta foi lançada Dino disse:

Posso assistir ao casamento de vocês? — ele perguntou sem hesitação. Joe traduziu.

Nós fazemos tudo juntos, não é?

Dino concordou.

O vovô vai também? — Mais uma tradução.

Não dessa vez. A família de Demi também não vai estar lá, porque estamos fazendo tudo muito rápido para todo mundo se preparar.

Não é muito rápido para mim!

O olhar de Joe, no momento em que traduziu, dizia tudo.

O padre Rinaldo vai casar vocês na pequena igreja na descida da rua?

Eu não sei, isso é Demi quem vai decidir. — Ele explicou o que o filho tinha perguntado.

Dino olhou para ela, em súplica.

É uma igreja muito bonita — ele disse em inglês.

Demi não se sentiu confortável sobre isso. Embora ela tives­se sentimentos fortes em relação a Joe, o casamento deles seria primeiro e principalmente por conveniência. Nenhum de­les havia expressado sentimentos de amor um para o outro e estavam realmente se casando por causa do bebê. Joe nem mesmo sabia se o filho era dele ou não!

Deixa eu te falar uma coisa, Dino. Seu pai e eu vamos conversar sobre isso e decidir. Assim está bem para você?

Ele deixou o assunto para lá e fez outra pergunta, antes de levantar da cadeira e ir para perto de Demi. Olhou fixamente para ela com uma seriedade que derreteu seu coração, perguntando alguma coisa em italiano. Mais uma vez, Joe explicou.

Ele quer saber se você vai deixá-lo vir nos ver mais de uma vez ao mês depois que nos casarmos.

Demi não tinha pensado sobre isso.

Diga a ele que eu adoraria se ele viesse morar conosco o tempo todo, mas eu sei que ele ama sua mamãe também.

Joe limpou a garganta antes de traduzir para o filho. Naquela altura, a resposta espontânea de Dino foi ir até Demi e dar-lhe um abraço. Ela o abraçou de volta, já amando esse me­nino de ouro. Secando as lágrimas dos olhos, ela disse a ele que esperasse um minuto. Demi levantou-se da cadeira e foi até a mesa do telefone, onde tinha deixado o outro presente.

Isso é para você — ela disse em inglês, entregando-lhe a bolsa.

Seu rosto se iluminou por antecipação

Dois presentes? — ele disse na mesma língua.

Ela entendeu o que ele quis dizer.

Sim. Vá em frente. Abra.

Dino rapidamente tirou a pequena caixa da sacola e desamarrou o laço. Embaixo da tampa havia seis bolas de chocolate bocci.

Stupendo! Grazie, signorina.

Di niente, Dino. — Ela tinha ouvido essa expressão o suficiente para aprender. — Me chame de Demi.

Dino deu-lhe outro abraço e então ofereceu chocolate aos dois. Demi recusou, sabendo o quanto ele amava os doces, mas seu pai não teve reservas e colocou logo um na boca. Dino o seguiu.

Delizioso — ambos disseram ao mesmo tempo. Só então ela teve uma vaga ideia de como Joe poderia ser quando era um garotinho irresponsável, da idade de Dino. Essa imagem ficaria sempre guardada com ela.

Eles jogaram mais duas rodadas de “pega varetas” e então Joe anunciou que eles tinham que ir.

Sua mama está te esperando e Demi e eu temos que voltar para Riomaggiore nessa noite. — Para alívio dela, Dino não fi­cou aborrecido por ter que ir embora.

O jogo é seu, Dino. — Ela colocou na sacola e entregou a ele. Na outra mão ele carregava a bolsa com o chocolate. Assim, eles saíram do quarto.

Em um minuto estavam a caminho da vila. Demi ficou con­tente em ouvir os dois conversando em italiano. Dino fazia uma dúzia de perguntas, disparando uma depois da outra.

Foi como um déjà vu quando entraram com o carro no pátio e Joe disse a ela que voltaria logo. Mas dessa vez Demi saiu do carro para dar outro abraço em Dino e dizer adeus.

Arrivederci, Dino. — Ela estava determinada a aprender italiano o mais rápido possível.

Ele sorriu em deleite.

Arrivederci, Demi.
***

A sorte foi lançada. Demi estava comprometida. Não havia volta. Joe foi forçado a suprimir sua euforia quando a própria Mila abriu a porta, pronta para castigá-lo. Mas, pela primeira vez, Dino pareceu não perceber a tensão que vinha da mãe.

Adivinha, mama? Demi me deu presentes. Ela e papa vão se casar e eu vou poder assistir!

Por que não sobe para tomar banho? — Joe sugeriu. — Preciso conversar com sua mama.

Certo.

Ligo para você amanhã à noite para contar tudo que está acontecendo, está bem?

Sim. Ciao, papa. — Ele correu escada acima com energia renovada em seus passos.

Joe olhou para a ex-mulher. Por baixo de sua raiva, ela parecia ansiosa e com uma boa razão. Desde que se divorcia­ram, tudo tinha sido feito do jeito dela, mas agora ele iria casar. O acordo de visitação existente poderia ser rasgado.

Obrigado por me deixar levá-lo esta noite. Como pode ver, era importante.

Eu quero conhecê-la.

Se desejar. Onde está seu marido?

Leo está em Roma.

Devo chamá-la para entrar ou você quer ir até o carro?

Sem respondê-lo verbalmente, ela passou por ele e foi em direção à Fiat. Demi pôde vê-los aproximando-se. Ela nunca pareceu mais bonita para ele como agora, ali, em pé, equilibra­da e elegante, sem estar consciente de nada.

Mila Ricci? Deixa eu te apresentar Demi Spiros, de Atenas — ele disse em inglês. — Ela não fala italiano, então vamos falar em inglês.

Como vai? — Demi disse e apertou a mão de Mila. Você tem um menino maravilhoso, Dino.

Obrigada. — Mila respondeu com voz irritadiça. Ela lançou um olhar gelado para Joe. Em italiano, disse: — Como espera que Dino lide com essa situação já que ela nem italiano fala?

Ela vai aprender. Dino está ansioso para ensiná-la.

Não vou aguentar isso, Joe.

Ele deu de ombros.

Você vai ter que aguentar.

Isso não vai mudar a visitação.

Ela teve um grande choque. Ignorando seu aviso, Joe disse:

Está sendo mal educada diante da minha noiva, Mila.

Suas bochechas chamuscaram em cores diferentes antes que ela se dirigisse a Demi.

Você tem alguma experiência com crianças?

Não, mas quando Dino estiver conosco, vou fazer o meu melhor para deixá-lo feliz.

Mila acabara de descobrir que Demi era uma mulher de alta classe e tinha berço. Era impossível disputar boas maneiras sem parecer uma megera.

Joe disse para Mila:

Meu advogado vai entrar em contato com o seu. Até terça vai saber de todos os meus planos. Ciao, Mila.

Deixando que ela digerisse um pouco da notícia, ele escoltou Demi para dentro do carro. Ao dar a volta até o acento do moto­rista, Mila já tinha voltado para a vila.

Eu lamento por ela — Demi disse assim que pegaram a rua principal. — Acho que não existe uma única mãe viva que não se sinta ameaçada em saber que seu filho vai estar sob in­fluência de outra mulher, por meio período.

Ele segurou o volante com força.

Talvez agora você saiba como eu me senti quando ela se casou novamente.

Ela assentiu tristemente com a cabeça.

A vida não deveria ser dessa forma.

Quer dizer que tudo deveria ser perfeito, onde todas as crianças vivessem com as próprias mães e pais até que con­seguissem um casamento feliz e todo o processo começasse novamente?

Algo parecido — ela sussurrou.

Você já sentiu como vai ser lidar com Mila. Estou feliz que ela tenha insistido em conhecer você.

Eu também.

No caso do comportamento dela ter provocado algum re­ceio de você seguir em frente, me diga. Eu ligarei para Dino e direi que houve uma mudança de planos. Não quero que ele vá dormir hoje certo de que uma coisa que ele deseja há muito tempo vai acontecer e depois se frustre.

Eu não entendo. Por que o fato de você se casar faz tanta diferença para ele?

Minha história é tão enrolada quanto a sua. Quando me divorciei de Mila, tive que desistir de muita coisa para conse­guir minha liberdade. Dino foi a principal perda, claro. Ele fi­cou tão magoado pela tensão da impossibilidade do nosso casa­mento que o divórcio foi a única solução. Mas ambas nossas famílias me renegaram.

Está brincando?

Queria estar. Se quisesse ver meu filho, tinha que concor­dar com as estipulações severas que foram estabelecidas.

Um juiz não poderia ter intercedido?

Sim, ele fez, em favor das duas famílias. Ele e meu avô eram amigos próximos, como seus pais e a família Simonides. A ordem afirmava que Dino havia estado em risco numa família sem amor, com um pai que tinha mostrado ser flagrante­mente desregrado com sua herança, ou seja, era um pobre modelo de pai infeliz.

Não acredito nisso — suspirou, horrorizada.

Tem mais. Quando o momento chegou e eu pude apare­cer, recuperei a razão e me reconciliei com minha ex-esposa, senão as regras de visitação iriam ser bloqueadas.

Oh, Joe, que horrível. Nenhuma dessas razões faz sentido.

Claro que não. Mila esperou que eu voltasse para ela, mas esperou em vão. Finalmente, ela casou de novo, seis meses atrás, causando outra mudança na vida de Dino.

Ele gosta do padrasto?

Não, em particular. Ele é 15 anos mais velho que Mila, tem um filho crescido e uma filha na universidade. Sua esposa morreu um ano atrás e não demorou muito para que ele conhecesse Mila. Ele não tem nada em comum com um garotinho como Dino.

Isso deve te partir por dentro.

É verdade.

Então, o que vai acontecer agora?

Amanhã de manhã vou ter um encontro com meu advoga­do para encerrar o atual termo de visitação.

Por que ele vai substituí-lo?

Custódia física conjunta. A partir de agora Dino terá duas casas.

Mas o juiz...

Joe sacudiu a cabeça.

Não se preocupe. Depois que meu advogado conversar com o advogado de Mila, tudo vai mudar rapidamente.

Como pode ter tanta certeza?

Ele respirou fundo.

Porque estou preparado para fazer algo que me recusei a fazer antes. Meu pai vai ficar tão entusiasmado que vai se des­dobrar para que consiga acomodar todos os meus desejos, in­cluindo aquele que influencia o juiz a rescindir sua decisão.

***

Demi havia entendido as entrelinhas. Qualquer que seja a coisa que Joe tenha se recusado a fazer, deveria ter sido algo grande. Então, sobre o que era a menção do juiz em relação à herança e notoriedade de Joe?

Desde o primeiro momento em que conheceu Joe, Demi percebeu que ele era um homem de muitas partes. Sabia muitas coisas, entendia de muitos assuntos, tinha muita experiência, para ser considerado um homem italiano comum. Tinha uma autoridade inerente e emanava uma inteligência sem consciên­cia prévia.

Quando foram apresentados na usina, ela notou uma certa diferença na forma como os funcionários o tratavam. Como se ele pertencesse à elite.

Demi olhou fixamente para suas feições impressionantes en­quanto dirigia pela estrada que levava a Cinque Terre. Sob suas sobrancelhas marrons, o perfil aquilino dava a ele uma linda aparência feroz.

Joe tinha a mais bonita pele de oliva que já tinha visto. O azul de seus olhos eram tão penetrantes que estimulava-lhe o corpo só de olhar para eles.

Demi sentiu como se experimentasse uma segunda visão. A sofisticação de Joe não podia ser negada.

Quem era esse homem atraente, de cabelos pretos rebeldes, que dirigia um carro usado e alugava um apartamento minúscu­lo, às margens de um rochedo? Ele se vestia com roupas casuais que poderiam ser compradas em qualquer loja local e usava chi­nelos, assim como o filho.

Sem roupa, ele parecia a estátua de um deus que ela havia visto em Rapallo, naquela manhã. A lembrança deles fazendo amor, seis semanas antes, irradiou uma onda de calor pelo seu corpo. Ela alguma vez o conheceria de fato?

Você ficou muito quieta de repente.

A voz baixa de Joe atravessou-lhe o sistema nervoso.

Estou juntando as peças do quebra-cabeça.

A que ponto está de chegar ao fim?

Joe sabia que ela estava atraída por ele.

Algumas ainda estão faltando. Qual é o grau de sua noto­riedade?

Vamos deixar tudo isso para amanhã.

Em que ela estava se metendo?

Não fique alarmada. Depois que me encontrar com meu advogado, vou explicar-lhe tudo. Durma um pouco. Estou ven­do que suas pálpebras estão caindo. Ainda temos uma hora de viagem. Depois de um dia tão cheio de emoções, você está can­sada e precisa se cuidar, especialmente agora que está carregan­do nosso filho.

Nosso filho.

O bebê tinha que ser dele. Tinha que ser! Mas essa nuvem negra da dúvida ainda a rodeava.

Demi estava cansada. De fato, estava exausta de pensar e sentir tantas coisas diferentes.

Quando devemos contar a Dino sobre o bebê? — ela per­guntou quase fechando os olhos.

É mais provável que ele decida o momento. Ele é um menino que tem uma perspicácia incrível.

Ela sorriu.

Quanto tempo acha que vou levar para aprender italiano?

Dois meses para o básico, se trabalhar em cima disso to­dos os dias. O resto virá durante sua vida inteira.

A vida inteira? Que pensamento legal.

Foi o último pensamento que lembrou até a manhã seguinte quando acordou na cama de Dino, sentindo-se levemente enjoa­da. Demi ainda estava vestida, pés descalços. Havia apagado na noite anterior, forçando Joe a carregá-la para dentro do apartamento, depois que chegaram.

As persianas ainda estavam fechadas, mas ela conseguia ver o sol tentando penetrar. Afastou a persiana e cambaleou até a janela para abri-la. Uma vista gloriosa do mediterrâneo recep­cionou seus olhos. Verificou a hora. Dez e quarenta e cinco. Não conseguia acreditar.

Joe havia deixado sua mala no quarto. Ela pegou sua bolsa de cosméticos e foi para o banheiro.

Demi o chamou, mas não houve resposta. Ele tinha dito que iria encontrar o advogado naquela manhã.

Sabia que Joe tinha estado no banheiro há pouco tem­po, pois cheirava a sabonete e xampu que usara no banho. De­pois de Demi lavar os cabelos com xampu de damasco, secou-os da melhor forma possível e então correu de volta para o quarto.

Colocou as peças de baixo, uma camiseta de algodão e cal­ças. Ela se sentia um pouco melhor, mas precisava de algo para comer. Na cozinha encontrou um bilhete sobre a mesa, escrito de forma floreada.

Devo voltar ao meio dia e vou levá-la para almoçar. Sinta-se em casa para beliscar o que desejar. Biscoito cream-cracker ou torrada devem ajudar no enjoo da manhã. Tem chá ou café no armário e suco no congelador. J.

Demi encontrou uma baguete e suco de uva. Perfeito. A comida preencheu o vazio de seu estômago. Voltou para o quarto e arrumou os cabelos até deixá-los lisos e brilhantes como trigo. Já que estava mais quente no apartamento do que naquele outro dia, Demi fez um coque larguinho para que se sentisse fresca.

Com a gravidez, passou a reparar em tudo. Achava que sua fadiga viera por causa ansiedade, mas o médico garantiu que era normal sentir-se muito cansada, principalmente nos primei­ros meses.

Joe parecia já saber e entender muito mais sobre aque­la condição do que ela própria. Pois ele morava com Mila quan­do estava grávida de Dino. Demi não tinha dúvidas de que ele cuidaria maravilhosamente bem dela.

Demi piscou para conter as lágrimas, não sabendo a exata razão de estar tão emotiva. Naturalmente, era uma combinação de tudo, mas admitia que parte disso era, responsabilidade do jeito com que Joe havia lidado com a situação. Ele era sua fortaleza.

A outra parte era seu sentimento de culpa. Ela precisava con­versar com alguém sobre como se sentia e acabou pegando o telefone para ligar para Deline. Desapontada, depois de ouvir sua voz na caixa postal, deixou uma mensagem pedindo que a amiga retornasse a ligação. Então ligou para sua mãe, que aten­deu no segundo toque.

Demi, minha filha querida. Como vai? Onde você está? Seu pai e eu estamos morrendo de preocupação.

Mais culpa. Ela se afundou na cama.

Me desculpe. Eu quis ligar do hotel, em Riomaggiore, mas as visitas aos pontos turísticos com o Signore Jonas levaram mais tempo do que previ.

Você está com ele novamente na Itália?

Sim. Lembra que escrevi sobre Cinque Terre em meu ar­tigo? O lugar tem aquelas ruas curvas e estreitas, alinhadas com velhas casas coloridas, empilhadas umas sobre as outras. Eu acho que é um dos lugares mais bonitos do mediterrâneo.

Você disse isso antes. Ele é um guia de viagens?

Não. Ele trabalha na Jonas Liquers, em La Spezia. É um dos locais que eu evidenciei em meu artigo de turismo. Ele é o homem que me levou para conhecer o vilarejo. Ontem fo­mos a um castelo, em Rapallo, com o filho dele.

Fico contente de que esteja se divertindo um pouco. Quando eu, no que Andreas...

Não toque nesse assunto, mãe. Essa parte da minha vida terminou. Não quero falar sobre isso novamente.

Não tive a intenção de magoá-la.

Eu sei. Na verdade, Andreas e eu não servíamos um para o outro. Acho que ambos sabíamos disso e tentamos forçar algo que não existia. O fato de Gabi ter aparecido é a prova disso.

O que quer dizer?

É difícil explicar.

Mas você o amava.

Era duro ter uma conversa como essa por telefone.

Sim, eu amava Andreas. E sempre amarei. — Frustrada ela se levantou e começou a andar, chegando até Joe, que a segurou pelo braço para impedir que caísse.

Pelo olhar enigmático nos olhos dele, ela não conseguia saber o que estava pensando, mas não havia dúvidas de que ele tinha ouvido a última coisa que disse. Ela se equilibrou sozinha, afastando-se de Joe.

Eu tenho que ir, mas prometo que ligo de novo amanhã.

Demi desligou.

Eu... Eu estava falando com minha mãe — ela gaguejou.

Contou a ela sobre nós?

Disse somente que eu te conheci quando estava trabalhando para o artigo da revista e, desde minha chegada, você tem me mostrado a cidade. Não estou planejando contar a ela nada além disso até que nossos planos estejam formalizados. — Ela esfre­gou as mãos contra o quadril demonstrando nervosismo, um gesto que ele acompanhou com os olhos. — Como foi com seu advogado?

Um silêncio longo seguiu-se.

Vamos falar sobre isso durante o almoço.

Espera, Joe. — Ele olhou sobre os ombros. — Você entrou antes que eu terminasse o assunto com minha mãe.

O rosto dele havia se tornado uma máscara de indiferença.

Você não me deve nenhuma explicação de sua conversa particular com ela. Eu é que adentrei — respondeu e foi para sala.

Ela o seguiu.

Mas quero falar a respeito.

Ele virou em direção a Demi, com as mãos no quadril e uma postura totalmente masculina.

Falar o quê?

Minha mãe ainda está negando minha separação de An­dreas. Seu eu tivesse terminado aquela frase teria dito: “Eu sempre vou amá-lo como amigo, mas percebo agora que nunca fui apaixonada por Andreas ou ele por mim.”

Ao ver a enigmática expressão no rosto cheio de apreensão, ela acrescentou.

Caso contrário, nunca teria ido para cama com você. Ne­nhuma mulher conseguiria se estivesse verdadeiramente apaixonada por outro homem.

Eu concordo — disse com a voz áspera.

Ao contrário do que deve pensar sobre mim, em meus 27 anos de vida, só tive intimidade com dois homens, e você é um deles.

A mandíbula dele se contraiu.

Nunca sugeri que fosse promíscua.

Não, mas tem todo o direito de achar isso, depois que caí como um patinho. Hoje eu olho para trás e não consigo acreditar no que fiz. Ainda me choca.

Miraculosamente, um sorriso de convencimento saiu dos lá­bios de Joe.

Eu confesso que achei que tivesse morrido e depois ido para um lugar paradisíaco, em um curto espaço de tempo.

Demi achou a mesma coisa, mas ainda não podia admitir.

Joe? — Demi o olhou com sinceridade. — Podemos deixar o passado de lado? Meu relacionamento com Andreas está terminado.

Ele deu uma rápida balançada de cabeça.

Amém. Podemos ir?

Agradecidos, eles transpuseram aquela pequena tempestade.

Ela disse.

Estou indo. Vou pegar minha bolsa.

Está com muita fome?

Acho que uma salada de macarrão vai dar conta.

Tem uma trattoria em frente à igreja da qual Dino estava falando.

Eu... Eu estava pensando sobre isso — ela gaguejou. — Talvez...

Demi... Dino presumiu que fosse um casamento na igreja porque isso é real para ele — afirmou depois ficou em silêncio — Não temos que fazer isso e eu entendo sua preocupação sobre tal compromisso, mas o gesto vai convencer as outras pessoas de que nosso casamento é real. Não vai ser melhor para todos nós, especialmente para o bebê?

Demi sabia que Joe estava certo e sentia que ele queria um casamento na igreja também. Ela poderia passar por isso com tanta exibição pública pela felicidade do bebê que crescia dentro dela? Olhou para o lindo homem à sua frente, que estava fazendo tanto para ajudá-la. Sorrindo, tocou o braço dele com ternura antes de falar.

Você está certo. Depois que fizermos uma visita ao padre, sairemos para comer.
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                       Capítulo novo pra vocês. Caprichem nos coments, tão muito poucos.
                       xoxo Nathi

4 comentários:

  1. Estou gostando da historia. Tem como faz um maratona? Eu adoraria. Poste logo!! Beijão

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  2. Adorando. Posta mais. Faz maratona!

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  3. Apaixonada pelo Dino...... e o amor entre ele e a Demi foi reciproco desde o primeiro momento.... como a Demi pode ter dúvidas ainda sobre os sentimentos do Joe? Ansiosa pra saber o que os ex vão aprontar depois que o casamento estiver oficializado..... posta mais por favor!!!!

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  4. Olha, quero que o filho seja do Joe kkk Aliás, quem não quer? Mas nesse tipo de fic é difícil saber com certeza quem é até ser revelado kkkk Mas pra um final mais feliz espero que seja do JOE mesmo kkk
    Beijos~
    By: Luu

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