De longe, ela avistou uma igreja amarela e com aproximadamente um século. Joe apertou a mão de Demi.
— Dino gosta de ir à igreja.
— Ele é tão doce. Se o fato de nos casarmos aqui ajudar a manter o mundo dele intacto, então é importante para mim. Já estou pensando adiante, no batismo do bebê também.
Um brilho de satisfação penetrou os olhos de Joe. Eles entraram num vestíbulo um pouco mofado. Demi analisou o interior, semi-ornamentado. As lindas janelas de vidro manchadas davam à pequena igreja uma sensação de jóia.
— Joe? — Um padre alto de meia idade entrou pela porta lateral. Os dois homens engataram uma conversa em italiano.
Finalmente, Joe disse em inglês.
— Padre Rinaldo, esta é minha noiva, Demi Spiros. Nós gostaríamos que o senhor nos casasse.
— É uma grande honra para mim.
— A honra é minha, padre. Eu trouxe os documentos assinados, dando-lhe permissão para renunciar à proibição e realizar uma cerimônia particular na quinta-feira.
Ele sorriu com os olhos.
— Você, então, está com bastante pressa.
— Pode-se colocar dessa forma — Joe respondeu com um tom profundo na voz.
Um calor subiu do pescoço ao rosto de Demi.
— Já estava na hora, meu filho.
— Tive que esperar pela pessoa certa, padre.
— E como Dino se sente sobre isso?
— Quando o deixamos pouco tempo atrás, disse que mal podia esperar. O senhor acha que vai poder nos encaixar em sua ocupada agenda?
A expressão do padre ficou séria.
— Para você, nada é impossível.
Mais uma vez, Demi teve a forte impressão de que Joe era alguém importante.
— Obrigada, padre.
— Foi batizada, signorina Spiros?
Demi assentiu com a cabeça.
— Em Atenas.
— Bene. Uma hora estaria bom para vocês dois?
Joe olhou para Demi, esperando seu consentimento.
Ela balançou a cabeça.
— É um horário perfeito.
— Cheguem dez minutos antes para assinar os documentos.
— Estaremos aqui, padre. — A forma como Joe olhava para ela fazia suas pernas fraquejarem. O casal se dirigiu para fora da igreja. Ao sair do interior mais escuro, a luz do sol quase cegou Demi.
Eles atravessaram a rua até a trattoria lotada. Turistas faziam fila para entrar, mas ela estava com Joe. Assim, foram recepcionados e levados até uma mesa no terraço, onde o garçom os rodeava para conceder-lhe todos os desejos.
— Você o conquistou — Joe murmurou enquanto o rapaz se apressava com o pedido.
— Você acha? — ela brincou.
— Eu sei. Esqueceu que olhei para você da mesma maneira quando entrou em meu escritório, naquele dia?
Demi tinha que admitir que foi um momento eletrizante. Naquela hora, tentou ignorar o que estava sentindo, mas aparentemente não o suficiente, já que foi flagrada sentada ao lado de Joe e de ter acabado de falar com o padre que iria casá-los.
— Fui tão bajulada quanto a mulher ao lado. Sinto muito, mas a atenção do garçom tem a ver com você. Quem é você, Joe? Gostaria de conhecer o homem que está para ser meu marido.
Joe levantou uma das sobrancelhas.
— Você sabe quem eu sou melhor do que ninguém. Você deve lembrar: eu te contei que minha família me renegou. Então, não se surpreenda quando assinarmos o contrato de casamento e você souber que meu sobrenome legal é Valsecchi.
Demi achava que já tinha ouvido esse nome em algum lugar, mas não conseguia associá-lo a nada.
— Obrigada por me contar.
Ele sorriu com o sorriso que a havia seduzido na primeira viagem.
— Di niente. Não posso fazer com que minha noiva grávida sofra um ataque no dia do nosso casamento.
— Não sou desse tipo.
— Grazie a Dio. — Ele bebeu o final do café. — Acho que já brincou com sua salada por bastante tempo. Suas bochechas estão um pouco vermelhas de calor. Vamos voltar para o apartamento. Enquanto dorme um pouco, preciso ir até a fábrica para uma rápida reunião com os funcionários.
Uma soneca seria bom. Eles saíram do restaurante e andaram a pequena distância de mãos dadas, dessa vez ladeira acima. Joe era um homem que demonstrava afeto físico tocando-a com frequência.
Demi descobriu que em cada contato se sentia mais e mais viva. Quando ele a viu dentro do apartamento e disse que voltaria mais tarde, ela, de repente, não quis que partisse.
Depois que ele saiu, Demi decidiu deitar por alguns minutos. Ficou surpresa ao ouvir seu telefone tocar e descobrir que uma hora havia se passado. Os comprimidos que o médico tinha prescrito pareciam ter feito efeito. Tiraram-lhe a náusea, mas descobriu que a deixavam com mais sono. Atendeu.
— Deline?
— Acabei de colocar os gêmeos para dormir, então podemos conversar. Diga-me o que está acontecendo.
Levantando da cama, Demi andou pelo apartamento até o terraço, carregado de canteiros de flores de todas as cores. Ela se inclinou na grade, fixando os olhos na vista de tirar o fôlego.
— São tantas coisas para lhe contar, que mal sei por onde começar. Em poucas palavras: Joe e eu vamos nos casar na quinta.
O silêncio palpável vindo do outro lado da linha não era uma surpresa.
— Você está mesmo planejando seguir adiante com isso?
— Sim, acabei de vir de um encontro com o padre local que vai oficializar a união.
— Vai casar na igreja?
— É o que Dino quer.
— Quem é Dino?
Ela mordeu com tanta força seu lábio inferior que saiu sangue.
— É o filho adorável de Joe, de seis anos de idade.
— O quê?
— Eu sei que é muita coisa para absorver. Para mim, também. Vamos do início — Demi contou tudo a ela.
— Oh, Demi... Não invejo você por ter que lidar com uma ex-esposa.
— Também não estou entusiasmada com isso.
— Mas você ainda quer continuar com isso. Obviamente você está loucamente apaixonada por esse homem, certo?
— Apaixonada? Ainda não sei, Deline. Eu achei que amasse Andreas. Só sei de uma coisa... Ele é maior do que a vida para mim, Deline. A cada minuto que passamos juntos, torna-se ainda mais sensacional.
— Talvez sensacional demais?
Ela franziu a testa.
— O que quer dizer?
— Já perguntou a si mesma por que ele está tão disposto a apressar o casamento com você?
— Deline — ela suspirou com exasperação. — Fui eu quem se aproximou dele, lembra?
— Eu sei. Acredito que seja eu que não saiba do que está falando.
— Joe quer este filho e acredita que seja dele.
— Mas pode não ser, Demi. Se pudesse descobrir, antes de continuar com esse casamento...
Demi afundou em uma das cadeiras moldadas de ferro. Apertou os olhos.
— O último médico com que conversei disse que só um teste de DNA poderia me dar uma prova definitiva da paternidade.
— Então, pelo amor de Deus, peça um.
— Tenho considerado a questão.
— Para dizer a verdade, estou surpresa por Joe não ter exigido isso, principalmente pelo fato de ele estar fazendo tamanho sacrifício, e tão rápido, só para ficar com você. Deve ser louco por você!
Demi pulou da cadeira.
— Sei exatamente por que Joe está se casando comigo, Deline. Descobri no segundo em que o vi com o filho. Não foi uma proposta negligente que fez, dois meses atrás. O fato é que ele está sujeito a uma regra de visitação muito severa. Quer que seu filho possa morar com ele e que fiquem juntos o maior tempo possível. Para que isso aconteça, Joe precisa de uma esposa, mas ela tem que ser alguém que Dino aceite.
— Isso significa que você já o conquistou. Não existe criança no mundo que não a amaria, Demi.
Lágrimas surgiram em seus olhos.
— Você é mais amiga do que eu mereço.
— Quem me ajudou no pior período da minha vida? — ela disse, em tom duro. — Fico feliz de poder fazer algo por você.
— Você já fez, ao me ouvir. Ao falar com você, tomei uma decisão. Não importa o quão doloroso seja para todos os envolvidos. Eu nunca terei uma boa noite de sono novamente até que saiba a verdade paternidade do bebê.
Deline murmurou.
— Agora você me deixou preocupada.
— Na verdade, é tudo que tenho feito desde que descobri a gravidez, mas, pela primeira vez, minha mente clareou. Eu sei o que tenho que fazer. Quando olho para trás, percebo que Gabi foi até Andreas armada com os resultados do teste de DNA dos gêmeos. Antes de se aproximar do marido, já tinha checado que o DNA batia com o de Leon. Se eu disser a Andreas que estou grávida, ele vai querer um teste de DNA como prova. E então, essa é a primeira coisa que precisa ser feita.
De repente, Demi ouviu o chamado de Joe.
— Deline — ela suspirou. — Tenho que ir.
— Entendi. Mantenha contato.
***
Essa foi a segunda vez que Joe havia entrado e encontrado Demi ao telefone, agindo de forma furtiva. Ela abriu um sorriso, que não o enganou.
— Como foram as coisas no escritório?
— Tudo está sob controle até nossa lua de mel.
O sorriso dela sumiu.
— Joe...
— Eu esperava que um pouco de descanso lhe fizesse bem, mas parece agitada. O que houve?
— Tem algo que precisa saber. Não podemos nos casar ainda.
Joe estava acostumado a levar pancadas nas vísceras, mas essa penetrou fundo.
— Se estiver preocupada quanto a um vestido...
Demi sacudiu a cabeça tão rápido que desarrumou os cabelos que, com o peso, caíram em seus ombros. Ele gostava tanto de suas madeixas pretas e brilhantes que as preferia esvoaçantes.
— Sabe que não estou.
Demi não tinha um osso sequer de vaidade em seu corpo fabuloso.
— Você disse ainda. O que isso significa exatamente?
Ele podia ver o corpo dela tremendo.
— Uma vez que estivermos casados, quero ser uma boa madrasta para Dino, mas primeiro preciso consultar outro médico para fazer um exame de DNA. É pela felicidade de todos nós. — Ela suspirou como se ele já estivesse protestando. — Eu sei que disse que queria manter isso em segredo do Andreas, mas foi uma atitude histérica da minha parte. Claro que ele precisa saber a verdade sobre o bebê ser dele ou não. Quero respostas o mais rápido possível.
Joe achou que queria saber imediatamente também, mas já estava vivendo a fantasia de que o filho era dele. Suas têmporas palpitaram.
— Quando decidiu isso?
Seus olhos, espelhos de sua alma, brilharam com lágrimas não derramadas.
— Enquanto estava conversando com Deline. Se eu pedir um teste, todas as incertezas desaparecerão. Eu tenho medo de que, a essa altura, não consiga viver sem a prova positiva. Uma vez que souber a verdade, poderemos partir daquele ponto.
Enquanto não estivesse se recusando a casar com ele, Joe conseguiria viver com isso, embora tivesse pavor de pensar na possibilidade de ver a prova de que Simonides fosse o pai.
— Então, agora, vamos cuidar disso.
Ela olhou para ele em súplica.
— Você não me odeia por isso, não é?
— Demi, sua gravidez pode estar em risco se não tiver paz de espírito. Está pronta para ir?
— Sim.
Eles passaram pela cozinha, ela pegou a bolsa e o seguiu até a porta em direção ao carro. Por uns instantes, seus pensamentos ficaram tão pesados que começou a olhar cegamente através da janela, enquanto atravessavam o caminho sinuoso dos rochedos até a Via Colombo.
— Vamos pegar a estrada litorânea para La Spezia. Se lembrar da última vez em que esteve aqui, são apenas vinte minutos de carro.
— Do jeito que você dirige — Demi brincou inesperadamente.
Os lábios dele se torceram, aliviados pela aparente calma de Demi. Ao repousar a cabeça contra a janela, ele virou na AC, aproveitou-se do silêncio e ligou para a emergência do hospital. Esperava que um obstetra estivesse disponível para aliviar-lhes a espera.
Logo o trânsito ficou mais pesado. Quando chegaram à cidade propriamente dita, ele deu a volta pelo hospital e estacionou. Os estacionamentos estavam lotados. Joe ficou feliz por ter ligado com antecedência e marcado uma consulta. Depois de conduzi-la até a emergência, tiveram que esperar por apenas dez minutos, até que um atendente chamasse a signorina Spiros.
Eles desceram o corredor e entraram em um consultório pequeno. Uma obstetra, em seus quarenta e poucos anos, recepcionou o casal em um bom inglês.
— Sou a dra. Santi. O que posso fazer por vocês?
Essa era a arena de Demi. Joe ficou calado enquanto ela lançava seu pedido. Ouvindo atentamente, a doutora se recostou na cadeira, olhando para ambos, solidária.
— Eu entendo que deve estar muito ansiosa para resolver seu dilema. No entanto, esse tipo de procedimento, chamado Chorionic Villus Sampling, só pode ser realizado entre a décima e décima terceira semana.
— Mas é só daqui a um mês!
— Sim. E existe um risco mínimo.
Joe segurou a mão de Demi.
— Explique-nos, por favor.
— O teste é invasivo porque células têm que ser coletadas e isso pode causar um certo risco para o feto. Além disso, cerca de uma, em duzentas mulheres, sofre aborto por causa do teste. Vocês têm que pesar os prós e contras de obter essa informação. Por exemplo, devem considerar se o fato de saberem ou não o resultado vai ser motivo de ansiedade ou um fator tranquilizador.
— Já estamos determinados a saber — Demi insistiu.
Joe tinha suas próprias opiniões sobre o assunto. De quem quer que fosse o bebê, não estava feliz por ela fazer o teste. Ele mal podia esperar para ser pai novamente e não gostava da ideia de que isso pudesse machucar o bebê. Pior: Demi poderia perdê-lo, colocando a própria vida em risco no processo. Perdê-la seria uma maldição para ele.
Joe olhou para a dra. Santi.
— Vocês fazem o teste?
— Deixe eu verificar. Temos um perinatologista que atualmente realiza o procedimento.
Ele olhou para Demi.
— Acho que precisamos conversar mais sobre isso.
— Por que, Joe? Por favor, entenda.
A agonia dela era algo palpável, ele não podia recusar o pedido.
— Quando ela precisa comparecer para o teste?
— Não esperem mais do que duas semanas.
— Não esperarei — Demi respondeu.
— Cheque na recepção se há uma vaga e marque uma consulta. Na próxima vez em que vier, vou te examiná-la e pedir os exames de sangue.
— Obrigada, dra. Santi.
— O prazer é meu.
Joe deu-lhe um aperto de mão e conduziu Demi até a porta do ambulatório. Encostou em seu ouvido e disse.
— São duas semanas, não estaremos de volta de nossa lua de mel até lá.
Demi olhou para ele surpresa.
— Para onde nós vamos?
— Digo a você mais tarde.
Joe esperou enquanto ela marcava a consulta e então acompanhou-a até o carro, sabendo que melhor do que tentar conversar com ela agora seria esperar até que tivesse tempo de absorver a explicação da médica.
— Você está aborrecido comigo?
Exasperado, Joe a puxou para seus braços.
— Estou preocupado com você, com nosso bebê, mas nunca poderia ficar aborrecido com você. Eu sei que precisa desse teste para que possa relaxar. Quem quer que seja o pai, é com você e com a criança que eu me importo.
— Obrigada, Joe. — Ela o abraçou com uma força surpreendente antes de entrar no carro. No caminho para Riomaggiore pararam para abastecer. Ele não precisava de muito combustível, mas usou isso como desculpa para comprar um refrigerante para ambos. Ela agradeceu e bebeu durante todo o caminho de volta para o apartamento. Estava bem emotiva. Tudo havia desabado.
— Sente-se melhor? — ele perguntou quando entraram em casa.
— Não — respondeu com a voz oscilante. Joe a tomou nos braços antes que caísse no choro. A necessidade de confortá-la era suprema em sua mente. Com uma virada, ele a levantou e a carregou para o sofá, onde podia sentar e abraçá-la.
— Eu não quero perder meu bebê.
Aconchegando-lhe nos braços, Joe beijou-lhe a bochecha e o cabelo.
— Nenhum procedimento foi feito ainda. Vamos fazer um acordo: nas próximas duas semanas, simplesmente aproveitaremos nossa lua de mel.
Ela enterrou o rosto no pescoço de Joe, encharcando a gola de sua camisa.
— Quais são seus planos? — A falta de entusiasmo dela teria sido desencorajadora, caso ele não soubesse qual fosse a razão.
— Vamos voar para Los Angeles com Dino e fazer tudo. Visitar os estúdios de Hollywood, Disneylândia, a terra de Lego, Sea World.
Ele sentiu a perturbação de Demi antes que ela levantasse seu rosto inchado de lágrimas.
— Está falando sério?
Joe assentiu com a cabeça.
— Ele nunca esteve lá. Você já?
— Fui a Nova Iorque muitas vezes, mas não à Califórnia. Desde que eu comecei a trabalhar no jornal, foquei na Europa meus artigos de viagens. E você?
— Prometi a Dino que nunca iria a esses lugares até que pudéssemos visitá-los juntos. Parte das regras de visitação proíbe que eu tire Dino do noroeste da Itália. Houve uma vez em que eu quebrei as regras e fui esquiar com ele na Suíça. Dino pagou por isso ficando sem poder me ver por dois meses.
Demi colocou os braços ao redor do pescoço dele e o abraçou.
— Que cruel!
Demi não tinha nenhuma ideia das forças que agiam contra Joe. Ele esfregou a parte de trás do pescoço dela, precisando dessa proximidade da mesma forma que precisava de água ou da luz do sol do mediterrâneo.
— Se você nunca pode passar mais de uma semana com ele em qualquer dos períodos de visitação, como podemos sair por duas semanas?
— Estar divorciado ata minhas mãos. Na quinta, serei um homem casado e tudo vai mudar.
Joe ouviu algumas fungadelas antes que ela se sentasse.
— Se for pela felicidade de vocês dois, fico contente. Pensando em minha vida, eu amei tanto meu pai que seria incompreensível não ter todo acesso a ele durante minha fase de crescimento. — Para o pesar de Joe, Demi saiu de seu colo antes do que ele gostaria.
— Quero tornar essa viagem maravilhosa para Dino, a ponto de fazê-lo lembrar dela por toda sua vida.
— O dia do casamento também — Joe murmurou. — Ele precisa de um terno. Uma vez que eu vou estar ocupado com as questões legais o dia quase todo de quarta-feira, vamos fazer compras amanhã. Eu gosto da ideia da minha noiva adquirir sua roupa de casamento.
Demi sorriu, e sorriu misteriosamente, sem saber se pretendia ou não.
— Você confia a uma grega uma responsabilidade como essa? Os homens italianos são os melhores costureiros do mundo.
— Eu não sabia disso.
— Você pode enganar algumas pessoas. — Quando ela riu gentilmente, deu a ele toda uma nova razão para estar vivo.
— Eu preciso comer alguma coisa. Venha comigo e eu vou lhe preparar minha própria versão da bruschetta. Dino não consegue parar de comer.
— Sinto muito, mas estou com fome de novo, também. Agora tudo que faço é comer e dormir. — Ela o seguiu até a cozinha. — Infelizmente, todas as refeições que comi na Itália foram divinas.
Joe riu. A honestidade dela era renovadora. Quando gostava de alguma coisa, fazia isso com todo seu coração. Enquanto ele pegava os ingredientes, Demi o observava. Ele gostava muito disso.
Não levou muito tempo até que o aperitivo deles ficasse pronto.
— Eu ofereceria a você um pouco desse vinho de mesa local, que experimentou na última vez que esteve aqui, mas vai ter que esperar até que o bebê nasça.
Seus olhos se fundiram por um momento.
— A privação vai valer a pena.
Joe beijou-lhe os lábios antes que a deixasse provar um pedaço. A satisfação de assistir à comida desaparecer lhe dava um prazer interminável. Demi se levantou por trás da bancada, ao lado dele, mastigando vorazmente. A cada instante, ela fazia um barulho de prazer.
Joe adorava o fato de ela não falar sobre a quantidade de peso que iria ganhar. Ele gostava de cada coisa nela e precisava sentir seu gosto novamente. Dessa vez, quando ele procurou seus lábios, estavam cobertos por azeite extra virgem misturado com um paladar penetrante de ervas que Joe havia acrescentado ao prato.
O termo “divino” não descrevia o momento ou a sensação do corpo de Demi, quando puxada por Joe.
— Venho desejando isso o dia todo. Você não tem ideia de como eu quero você. — Ele a beijou muito e intensamente. — Os últimos dois meses foram um deserto sem você. Dino foi a única razão pela qual agi. Quando vai admitir que sentiu minha falta?
— Não é isso que estou fazendo? — Sua resposta abafada o assustou.
— Demi... — consumido pelo desejo, ele ajeitou melhor o rosto para beijar-lhe as dobras e as pálpebras, a chama apaixonada dela escapava pela boca. Indo e vindo, ele a sentia, beijo por beijo, cada um mais profundo e mais prolongado que o outro.
Ambos ouviram ao mesmo tempo a imperiosa batida na porta da frente, efetivamente interrompendo algo particular e maravilhoso. A reação de Demi foi a de afastar-se dele, mas Joe sabia qual era a intenção do intruso e puxou-a para ele, possessivamente. A batida ficou mais alta.
Demi colocou as mãos contra o peito de Joe.
— Tem alguém que não vai embora.
— Notícias de nosso iminente casamento já chegaram até os ouvidos do advogado de Mila. — Ele beijou as palmas de suas mãos, uma de cada vez. — Um dos meus primos veio para descobrir se é realmente verdade. Provavelmente, Gino. Você se sente suficientemente corajosa para conhecê-lo, se eu deixá-lo entrar?
— Eu deveria estar com medo?
— Ele não é nenhuma ameaça, mas você é, por tornar-se minha esposa.
— Por quê?
— Porque estive fora de cena por anos, mas depois que voltarmos da Califórnia ele e meus primos vão ver muito mais. Vou atender a porta antes que ele coloque o lugar abaixo. Vamos oferecer a ele o que sobrou da bruschetta — acrescentou sorrindo.
Mas quando abriu a porta deparou com seu irmão-emprestado Fabbio ali, em pé. Aparentemente, não tinha confiado em Gino ou em Luca para fazer esse serviço sujo para ele. Bem, bem... Toda a história sórdida entre eles passou por sua mente. Joe poderia contar nos dedos de uma mão as vezes que viu seu vistoso irmão de cabelos loiros escuros nos últimos sete anos.
— Entrare, prego.
— Prefiro ficar onde estou. Não é melhor?
Algumas coisas nunca mudam. Joe olhou sobre os ombros.
— Innamorata! Venha e conheça meu irmão-emprestado — ele falou em inglês.
Demi foi na direção deles. Ele sabia que podia contar que ela se manteria calma em um momento de surpresa ou em uma tempestade emocional, exceto quando se tratava da paternidade do bebê.
Joe percebeu o ar de homem interessado e atordoado nos olhos cinzas estreitos de Fabbio quando Demi se juntou a eles. Depois de ser meticulosamente beijada na cozinha, ela parecia mais desejável do que nunca.
Joe colocou os braços em volta de seus ombros, trazendo-a para mais perto.
— Demi Spiros, conheça Fabbio. Entre seus muitos talentos, ele é um avvocato.
— Quer dizer um advogado, não é? — Com uma fácil e inconsciente dignidade de verdadeira dama, ela apertou-lhe a mão. — Como vai, Fabbio?
Totalmente entregue, seu irmão-emprestado teve problemas em se articular. Foi um dos raros momentos em que Fabbio, três centímetros mais alto que Joe, perdeu as palavras.
— Eu já te vi antes.
— As pessoas normalmente dizem isso para mim. Eu devo ter o tipo físico que muitas mulheres possuem. — Joe nunca conhecera ninguém que conseguisse pensar tão rápido quanto Demi.
— Não. — Fabbio não deixaria passar.
Ela disse alguma coisa a mais para dispersar.
— Não vai entrar? Joe acabou de preparar para nós a mais sensacional comida. Se não terminar com a bruschetta, eu vou, e já comi demais. — Com o sorriso voluptuoso dela, a sedução de seu irmão-emprestado e casado estava completa.
— Como eu apareci sem ser convidado, talvez uma outra hora. — Os olhos dele passearam através de seu cabelo preto glorioso até as curvas de seu corpo, terminando em seus pés revestidos de nylon, testemunhando o quadro de dois amantes aproveitando uma noite de intimidade. Ele finalmente desviou o olhar para metralhar Joe. Fabbio desejou que ele morresse, anos atrás. — Se eu pudesse ter uma palavrinha com você.
Demi apertou-lhe o braço.
— Tenho certeza de que vocês dois têm muito para conversar, então vou desaparecer.
Antes que ela pudesse sair, Joe deu um beijo em seus lábios vermelhos e levemente inchados.
— Não vou demorar — ele sussurrou.
Ela balançou a cabeça.
— Foi um prazer conhecê-lo, Fabbio.
Depois que ela saiu, Joe se encostou no portal com as mãos no bolso.
— Qual é o assunto? Como pode ver, tenho outras questões para tratar.
As bochechas dele ficaram coradas.
— Mila descobriu que você vai tirar Dino do país por outras duas semanas na quinta-feira.
— Certo.
— A estipulação não proporciona mudanças.
— Você sabe muito bem que meu casamento vai mudar efetivamente as regras da decisão judicial do divórcio. A única razão que trouxe você aqui, hoje, foi para ver a prova com seus próprios olhos. Agora que já tirou as medidas completas da minha noiva, gostaria que fosse embora.
Sua raiva quase veio à tona.
— Você não vai sair bem dessa sem uma briga.
— Certamente isso é para o papa decidir.
— Ele está doente.
— Somente quando é conveniente para ele.
— Accidenti a te!
— Pode me amaldiçoar o quanto quiser, não vai te fazer nenhum bem.
Agora a respiração dele estava mais forte.
— A família inteira está contra você.
— Foi sempre assim.
— Você não vai ter sucesso.
— Cuidado, Fabbio. Seu medo está aparecendo.
— O seu também, caso contrário não estaria fazendo tudo escondido.
— Pode me culpar por querer mantê-la longe dos lobos maior tempo possível? Estão todos esperando para despedaçá-la, mas isso não acontecerá. Demi é a coisa mais importante na minha vida, no momento. — Ele se ergueu e tirou as mãos do bolso. — Buonanotte, Fabbio.
Demi apareceu no instante em que ele fechou a porta na cara do irmão-emprestado.
— Você não acha que já é hora de me contar sobre sua família?
Ele levantou uma sobrancelha.
— Exceto pela minha mãe, que morreu sete anos atrás, tenho estado em guerra com eles desde que nasci.
Ela se aproximou, procurando a verdade em seus olhos.
— Você não está brincando. — A dor em seus olhos revelava que estava arrasada por ele.
— Uma vez disse a você que éramos opostos. Você vem de uma família amorosa e quase casou e entrou para outra que eu consideraria amável e generosa. Já eu, amo meu pai porque ele é meu pai, mas não gosto dele nem de meu avô, aristocrata já falecido, ou do meu irmão-emprestado, dos meus tios, nem dos meus primos, uma vez que começaram a ficar parecidos com seus pais.
— Oh, querido.
— Eu pareço um monstro — denegriu a si mesmo.
— Não. — Depois de um momento de reflexão, Demi perguntou: — Além de sua mãe, não existem garotas nesse espantoso grupo?
Com um sorriso afiado, Joe soltou a respiração que estava prendendo e segurou os ombros dela.
— Dúzias. Mas elas não têm voz na hierarquia dominada por homens. — Ela adivinhou com sua rara capacidade de discernir a verdadeira natureza das coisas.
— Com que frequência Dino está com eles?
— Mila passa a maior parte do tempo com eles. Isso quer dizer que meu filho passa também. Meu pai adora o menino.
— Quem não adoraria? Sou louca por ele, mesmo estando por perto tão pouco tempo. Dino sente o mesmo que você a esse respeito?
— Não tenho certeza.
— Como assim? Ele conta tudo para você.
Ele sacudiu a cabeça.
— Algumas coisas ele guarda para si próprio. No meu caso, receio que a minha falta de envolvimento com a família fale por mim.
— Se ele às vezes fica quieto é porque provavelmente se sente culpado.
Joe beijou-lhe a ponta do nariz.
— Por que diz isso?
— Porque ele sabe como você se sente. Não quer fazer nada que possa aborrecê-lo ou magoá-lo. Ou trazer problemas — Demi acrescentou calmamente antes de se afastar dele. — Da forma como isso soa, sua intenção de casar comigo colocou lenha na fogueira.
— Deixe que eu me preocupo com isso. A família não tem nada a ver com a gente. Nossa vida com nossos filhos só pertencerá a nós.
Ela lançou-lhe um segundo olhar.
— Gosto de Dino como se fosse meu próprio filho. Nossos próprios filhos... Quero isso mais do que tudo no mundo.
Demi estava admitindo que o amava porque aceitava Dino. Ela ainda não tinha nosso bebê. Joe sabia que a dúvida que rondava a paternidade da criança pesava muito sobre seus ombros.
— Eu tenho a solução para nós, mas somente se estiver disposta.
— O que é?
— Um dia vamos ter outro bebê.
Os olhos dela de repente encheram-se de lágrimas.
— Por que eu tenho a sensação de que você acha que essa mulher em duzentas será eu?
Joe foi até ela e a segurou.
— Você está errada, Demi. Se você fizer o teste, tenho certeza de que tudo vai ficar bem e que teremos um bebê saudável. Só quero que saiba como estou ávido para ter um filho com você. Nosso filho. Sem a sombra de dúvida que paira sobre nós e a criança, que nunca terá que deixar essa casa. Nossa casa. Na verdade, nunca fui apaixonado pela Mila e ela sabia disso. Mas nossos pais queriam o casamento e minha mãe, doente, me apressou para seguir em frente, porque estava convencida de que Mila daria uma boa esposa. Ela se preocupava com meu lado selvagem. — Um leve sorriso saiu do canto da boca de Demi.
— Eu não imaginei que você tivesse esse lado.
Ele mordeu a ponta da orelha de Demi suavemente.
— Mama tinha medo que eu estivesse gostando demais da minha solteirice. Como todos os pais, os meus achavam que um casamento teria efeito estabilizador sobre mim. E então, eu e Mila nos casamos. Foi o pior erro da minha vida. Para se vingar, por não amá-la, não me contou que estava grávida até o sexto mês de gestação, quando não conseguia mais esconder.
A expressão de Demi revelou seu horror.
— Dino nasceu um mês prematuro. Os dois meses anteriores, antes do parto, foram os mais felizes que conheci, porque a ideia de ser pai apoderou-se de mim. Mas tornou-se um pesadelo depois que ele nasceu. Mila se recusava a me deixar ficar perto de Dino e ajudar a cuidar dele. O médico chamou isso de depressão pós-parto.
“Eu reconheci, pelos sintomas. Ela não conseguia encostar em mim, queria nosso bebê para si própria, nada mais. Dino já estava com três meses e eu permanecia completamente fora da vida dele. Disse a ela que não poderíamos seguir com nosso casamento dessa forma. Mila falou que não tinha nada que eu pudesse fazer sobre isso. Falei que me divorciaria. Ela alegou que eu não ousaria.”
Demi soltou um gemido.
— Horrível, não é? Quando meu pai descobriu que a estava deixando, percebendo que não conseguiria me impedir, ele me renegou. Gritou falando que não queria me ver nunca mais. A única razão que me garantiu algum tipo de visitação foi minha mãe, cuja vontade prevalecia sobre a de papa, antes de sua morte. Desde esse dia não nos vimos nem nos falamos.
— Então o casamento...
— Vai ser um novo começo para mim e para meu pai — continuou.
— Como nosso casamento vai mudar as coisas perante os olhos dele?
— Conheço meu pai. Ele nunca quis me renegar, mas tinha que salvar a pele diante do pai de Mila. Agora que soube que vou me casar novamente, voltarei para ele como um novo homem e direi que gostaria que começássemos de novo. Ao me aproximar vou permitir que ele preserve seu orgulho. Vai ficar feliz por falar com o juiz para devolver meus direitos como pai
Um raio de suspeita entrou pelos olhos dela.
— Casar com qualquer mulher teria lhe ajudado a atingir os mesmos objetivos.
A alma dele mergulhou na questão.
— Seguindo a sua lógica, poderia ter me casado anos atrás, mas tem uma falha em seu pensamento. Por que não pensa sobre isso? Tenho esperança de que um dia descobrirá.
Ele demonstrou uma respiração irregular.
— Vá para cama, Demi. Você parece exausta. Vou limpar a cozinha e vejo você de manhã.
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Então gente, estão gostando da história? Comentem pro próximo
xoxo Nathi
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Então gente, estão gostando da história? Comentem pro próximo
xoxo Nathi
Estou adorando a Fic. Poste logo
ResponderExcluirTo amando a fic o joe cheio de segredos, posta mais xara
ResponderExcluirAdorando...... desculpa não ter comentado antes, estava sem net..... será que vão impedir o casamento deles? Muito estranha essa história do meio irmão..... continuaaaa.....
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ResponderExcluirA algum tempo não já que não sigo uma história tão boa. Estou ansiosa com essa história do bebê. Ainda não entendi direito pq a família do Joe virou as costas pra ele, tem mais caroço nesse angu. Posta mais.
ResponderExcluirNanda