9.4.15

Sonho Realizado - Capitulo 6

Enquanto as semanas se passavam, Demi começava a pla­nejar seu futuro. Não poderia ficar na cabana para sempre. Ainda que já tivesse pagado um ano de aluguel adiantado, em algum momento precisaria procurar um emprego. Talvez conseguisse algo que pudesse fazer em casa, ou um lugar que possuísse um horário mais flexível do que aquele que ela ti­vera no passado. Entretanto, o que ela precisava fazer de mais urgente seria procurar um ginecologista em Gabriel Crossing e contratar um advogado experiente para tratar do divórcio. E também contar a Joe sobre o bebê que esperava.
Na realidade, ela nem mesmo precisava dizer qualquer coisa. Logo a verdade ficaria evidente. Mesmo assim, sentia que deveria antecipar-lhe a situação. Principalmente depois daquele dia em que ela começara a chorar e ele a consolou com um abraço. Demi poderia jurar que algo entre eles se acendeu naquele instante. Uma atração inesperada, capaz de lhe roubar o fôlego. Talvez se ela o tivesse conhecido em outras circunstâncias, Demi arriscaria explorar aquele sentimento, mas não agora. Ela apenas contaria sobre o bebê e esperaria contar com a amizade dele. Joe era um homem gentil e paciente. E, considerando a maneira como seu casa­mento terminou, certamente não estaria em busca de um novo romance, pelo menos por enquanto. Apesar de escon­der muito bem seus sentimentos, ela sabia que as feridas pro­vocadas pela desilusão ainda estavam recentes no coração dele. Amizade e nada mais. Seria o mais sensato e deveria bastar. Ela ansiava ter alguém por perto que compartilhasse de sua alegria pela nova vida que crescia dentro do seu ser. E, ao se lembrar da maneira como ele agiu com aquele bebê, quando estavam na sorveteria, Demi tinha certeza de que ele ficaria feliz com a notícia. Ela nunca tivera muitos ami­gos. Conhecidos, sim, havia muitos. Mas amizades verda­deiras, pouquíssimas. Talvez isso acontecesse por culpa pró­pria. Demi nunca havia sido muito boa em fazer amigos. Ela sempre fora muito calada e reservada.
Espere a ocasião certa para falar, Demi Elizabeth. Aque­la era uma regra fundamental da família. E ela seguia com tanta devoção que acabara se tornando um hábito. Um hábito que Demi estava disposta a quebrar para poder começar sua nova vida. Ela ainda mantinha contato com algumas colegas com quem trabalhara na Danielson & Marx. E também havia Lilly Hamlin, a única e verdadeira amiga que ela mantinha desde a adolescência. Apesar de estarem vivendo em regiões distantes, elas nunca perdiam o contato telefônico. Embora as ligações terem se tornado raras depois que Lilly tivera os gê­meos e o filho mais velho começara a frequentar a escola.
Mesmo assim, Lilly foi a primeira pessoa para quem Demi falou sobre a gravidez. A amiga reagira com absoluta alegria. E depois, quando Demi tornou a ligar para lhe contar sobre o divórcio, Lilly se mostrou compreensiva e a apoiou. Ainda bem que a amiga resistiu à vontade de lhe dizer: Eu não falei? Lilly nunca acreditou que Holden fosse o homem ideal para Demi. Nesse ponto, ela e Joe tinham algo em co­mum, Demi pensou com ironia e decidiu que antes de o bebê nascer ela faria um esforço para visitar a amiga na Califórnia. Por enquanto, ela precisava fazer amigos em Gabriel Cros­sing. E o melhor seria começar com Joe.
Ainda não eram oito horas da manhã e o calor na cabana já se tornava insuportável. Demi tomou um banho frio e vestiu uma camiseta folgada para disfarçar o ventre que co­meçava a ficar proeminente e deixou livre o botão da cintura dos shorts. Prendeu os cabelos ainda úmidos em um rabo de cavalo e, depois de colocar um mínimo de maquiagem no rosto, abandonou a cabana. Ela estava decidida a dar um pas­seio até a rodovia e, depois que o calor amenizasse, talvez fosse até a casa de Joe. Quem sabe o convidasse para to­mar uma xícara de café ou um chá gelado na cabana. Entre­tanto, enquanto Demi contornava um lado da casa dele, ela avistou Joe no alto de uma escada posta junto ao tronco de um imenso carvalho. Ele estava fixando as cordas de um ba­lanço num galho espesso e forte. O assento do balanço esta­va pintado em um tom vermelho vibrante. Exatamente como aquele exibido no comercial que ela havia coordenado e que comentara com ele.
Com um sorriso nos lábios, Demi gritou:
— Bom dia!
Ele retribuiu o cumprimento enquanto finalizava o trabalho.
— Você acordou cedo! — ela exclamou.
— Você também.
— É verdade. Mas eu ainda não fiz nada de produtivo — ela admitiu e gesticulou na direção da árvore. — O balanço está excelente.
— Obrigado.
— Parece com aquele do comercial que fiz para a empresa aérea — ela comentou no instante em que ele começava a descer da escada. E ao notar uma leve oscilação, Demi cor­reu para segurar a base da escada.
— Eu sei. Nossa conversa do outro dia me serviu de ins­piração.
— Verdade? Ele assentiu.
— Minha irmã virá no sábado com a família e pretende passar algumas horas por aqui. Eles estão de passagem para fazer uma visita aos parentes do marido dela em Hartford. Por isso, imaginei que um balanço poderia distrair as crianças.
Agora que estava no chão, Joe repousava um cotovelo num degrau da escada ao mesmo tempo em que Demi lhe perguntava:
— Quantos filhos eles têm?
— Grace e Mitch têm três filhos com menos de sete anos. Todos são meninos. — Joe revelou e, com um sorriso tra­vesso, acrescentou: — Acho que foi obra do destino fazer minha irmã receber de volta tudo o que fez para os irmãos menores enquanto éramos crianças.
— Ela foi tão ruim assim?
— Pior do que você possa imaginar — ele assegurou.
— Suponho que você e seu irmão fossem dois anjinhos, não é?
— Pode crer.
Ambos riram divertidos.
— Quem me dera eu tivesse irmãos para me atormenta­rem — ela confessou com um suspiro ao se lembrar do quan­to sua infância fora solitária.
— Pois é. Acho que nenhuma criança deveria ser filho único — ele opinou e baixou o olhar para a cintura dela.
Não sei como, mas ele já sabe que estou grávida, ela de­duziu. Por isso, repousou a palma de uma das mãos sobre o abdômen e comentou:
— Eu concordo com você, mas no momento estou satis­feita com apenas um.
Ele uniu as sobrancelhas e perguntou curioso:
— Está satisfeita? Quer dizer que não tem nenhum pro­blema por causa da gravidez?
Ela inclinou a cabeça para um lado antes de responder.
— Não. Há quanto tempo você sabe que eu estou grávida?
— Não muito — Joe revelou sentindo um calor su­bir-lhe às faces. — Eu estava indo até a cabana para saber se você se sentia bem, naquele dia em que seu marido este­ve aqui, e... Sem querer, ouvi você falando com sua mãe ao telefone.
— Oh... — Foi a vez de Susan corar embaraçada.
— Eu não tenho o hábito de bisbilhotar. Mas aconteceu que a janela estava aberta e ficava praticamente impossível não ouvir o que você dizia.
— Não tem importância, está tudo bem — ela procurou tranquilizá-lo, embora se sentisse mortificada.
Ele engoliu a saliva para conter o embaraço e a voz soou como um sussurro:
— Por que você não revelou isso antes?
Antes do quê? Demi quase perguntou, porém percebeu a tempo que Joe não estava se referindo a nenhum episódio específico.
— Não sei — ela respondeu encolhendo os ombros. — Acho que esse assunto nunca surgiu em nossas conversas eventuais.
— Imagino que não. E também não é da minha conta. — Depois de clarear a garganta com um ruído, ele finalizou: — Afinal, sou apenas seu senhorio.
Apenas seu senhorio? Ainda que eles não se conhecessem há muito tempo, ela não o via daquela maneira. Por isso, Demi repousou a mão direta num braço dele e declarou:
— Você representa muito mais do que isso para mim, Joe. Eu o considero um amigo.
Ele gesticulou com a cabeça e admitiu:
— Obrigado. Eu sinto o mesmo por você. E um novo ami­go nunca é demais.
— E por falar em amigos, você já tomou o café da manhã? Estou pensando em preparar uma omelete com queijo.
— A oferta é tentadora, mas eu tenho muito trabalho para fazer.
— Ah... — Ela recolheu a mão que ainda mantinha num braço dele e tentou disfarçar o desapontamento. — Tudo bem. Quem sabe outro dia, não é?
— Certo. Outro dia quem sabe? — ele respondeu e, apoiando a escada sobre um dos ombros, começou a cami­nhar na direção da garagem da casa. De repente, ele estacou e revirou o corpo de maneira a encará-la outra vez.
— Qual tipo de queijo você vai colocar na omelete.
— Feta. Eu tenho uma verdadeira paixão por esse queijo e estava pensando em misturar algumas azeitonas pretas.
— Queijo Feta? — ele perguntou com o nariz franzido.
— Bem, se preferir, eu tenho um pouco de Cheddar.
— Eu prefiro. Acho que vai melhor com ovos, não acha? Agora foi a vez de Demi franzir o nariz.
— Eu não acho, mas, acredito que seja mais saudável. Ele sorriu.
— Eu também não aprecio muito o sabor dele, mas em uma omelete o queijo cheddar combina muito bem.
— Está me dizendo que se a omelete for feita com queijo cheddar, você mudará de idéia quanto ao café da manhã?
— Se não se importar...
— Claro que não.
— Então me dê 15 minutos para guardar as ferramentas e estarei na cabana.
Um sorriso satisfeito surgiu nos cantos da boca de Demi enquanto o coração se- acelerava.
Calma! A voz interior a avisou. Trata-se apenas de ami­zade, lembra-se?
***
Joe se barbeou e depois de uma ducha ligeira vestiu rou­pas limpas. Quando chegou à cabana, os cabelos ainda esta­vam úmidos e o perfume do xampu muito evidente.
Demi abriu a porta e, no instante em que os olhares se encontraram, ambos pareciam embaraçados. Ela estava en­cantadora como sempre e isso deixava Joe nervoso. O mesmo acontecia com Demi mas, esforçando-se para recu­perar o controle das emoções, ela apontou para um pequeno embrulho que ele mantinha em uma das mãos:
— Isso é para mim?
— Sim. Minha mãe me ensinou a nunca visitar uma mu­lher com as mãos vazias. Além disso, umas fatias de bacon são essenciais para acompanhar uma omelete.
— Confesso que nunca recebi um presente desses antes — ela revelou com zombaria.
— Bem, acho que se eu trouxesse flores elas ficariam estorricadas na frigideira.
Ambos riram e uma grande parte do embaraço se dissi­pou. Ela recebeu o pequeno pacote das mãos dele e recuou um passo para proporcionar-lhe passagem.
— Entre, por favor.
Aquela era a primeira vez que Joe entrava na cabana depois que ela se mudara para ali. Ele admirou a maneira como ela havia conseguido tornar o lugar aconchegante, sem exagerar na decoração. Talvez valesse a pena pedir algumas opiniões dela quando a reforma da casa estivesse terminada. A harmonia do ambiente era um fator importante para incre­mentar a venda de um imóvel.
Demi apontou uma das cadeiras ao redor da mesa e pediu: — Por que não se acomoda enquanto eu preparo a omelete?
— Você precisa de ajuda?
— Não, obrigada. Posso lhe oferecer algo para beber? Eu acabei de fazer café, mas talvez prefira chá gelado. Ou então um suco. Suco de laranja. Eu tenho laranjas e posso prepa­rar-lhe um suco. — Demi despejava as palavras de maneira nervosa e apressada.
Depois de se acomodar na cadeira, ele ergueu os olhos para ela e avisou:
— Relaxe, Demi. Qualquer coisa estará bem para mim. É fácil me agradar.
— Desculpe-me. Acho que estou um pouco desacostumada.
— Desacostumada com o quê?
Ela lavou as mãos na torneira da pia da cozinha e, enquan­to as secava no pano de prato, respondeu:
— Em fazer amizade.
— Por que está dizendo isso?
— Porque eu sou assim. Tenho a capacidade de organizar uma festa para mais de trinta convidados de Holden e con­versar por horas com pessoas estranhas sem nenhum proble­ma. Mas com você é diferente.
— Diferente como?
— Você é importante para mim.
Joe respirou profundo sem saber se gostava ou não do que estava ouvindo.
— Eu não tenho muitos amigos — Demi prosseguiu. — Não sou muito boa em fazer amizades.
— Acho difícil acreditar nisso.
— Mas é verdade. — Ela aproveitou para se acomodar na cadeira ao lado da que ele ocupava e, abrindo o coração, decidiu confidenciar: — Eu estou assustada, Joe. Muito assustada.
— Por minha causa?
— Claro que não! — Ela alcançou a mão dele por cima da mesa e a apertou. — Estou com medo do que poderá aconte­cer no futuro. Não por mim, mas pelo bebê.
— Não se preocupe, vai dar tudo certo — ele a confortou revirando a mão para poder segurar a dela.
— É que aconteceu de maneira tão inesperada que eu te­nho medo de não saber lidar com a situação. Eu nunca ima­ginei que um dia pudesse engravidar.
— Por quê? — Joe se apressou em perguntar e então se arrependeu. — Perdão. Acho que essa é uma questão pessoal.
— Não tem importância. Acontece que eu tive um proble­ma de saúde quando era jovem e precisei fazer uns exames. Por causa de alguns resultados, os médicos me garantiram que eu jamais poderia ter filhos.
Ele deu uma risada sonora com a intenção de animá-la.
— Isso demonstra como a natureza é surpreendente. Nem sempre os diagnósticos médicos são infalíveis.
— É verdade — ela concordou, mas o olhar ainda estava triste.
Ele apertou a mão dela e assegurou:
— E aí está um bebê teimoso para comprovar esse fato.
Por fim, conseguiu que Demi esboçasse um sorriso de felicidade. A expectativa da maternidade parecia fazer muito bem a Demi, Joe observou. Ela estava radiante e bela. E também muito sexy naqueles shorts que permitiam a visão das pernas bem torneadas.
Joe sentiu as palmas das mãos se umedecerem. Estaria certo olhar para uma mulher grávida sob o enfoque da sensualidade? Principalmente se considerasse o fato de que ela ainda estava casada? A consciência o avisava. Então os pensamentos se voltaram para o marido de Demi.
— Como Holden está reagindo com relação ao bebê? — Joe perguntou por perguntar. Ele já sabia qual seria a res­posta, por causa do telefonema que ouvira sem querer.
Ela desviou o olhar para a janela e o entusiasmo diminuiu.
— Ele me avisou que não queria filhos quando me pediu em casamento. E deixou claro que essa seria uma condição absoluta.
Joe franziu o cenho.
— Não sabia que existe uma maneira de alguém colocar essa condição como um acordo pré-nupcial.
— E não existe. Porém ele fez questão de que eu enten­desse muito bem o que estava impondo.
Embora ele tivesse visto Holden apenas uma vez e por um curto período de tempo, Joe não tinha dificuldade em analisar que o marido dela fosse do tipo que preferia andar sem­pre bem-vestido e se exibindo em carros de último tipo, a ter que lidar com as obrigações de pai. Mas, e quanto a Demi? Ela parecia tão feliz com a ideia de ser mãe...
— Por que você concordou com as condições dele?
— Não foi isso o que eu fiz. Como já lhe disse, os médi­cos me asseguraram que eu não teria condições de engravi­dar, e o fato de Holden não querer filhos...
— Parecia perfeito para você — Joe completou.
Diante daquelas palavras, Demi o olhou com espanto e recolheu a mão que ele segurava.
— Desculpe-me — Joe murmurou. — Acho que me expressei de uma maneira rude.
Ela balançou a cabeça, mas não disse nada.
Um rubor coloriu as faces femininas, porém ele não con­siderou que fosse por um sentimento de raiva. Talvez lhe parecesse culpa ou arrependimento. Joe não poderia dizer ao certo.
— Então era essa a diferença de opiniões em um ponto vital a que você estava se referindo quando me contou que havia pedido o divórcio?
— Sim — Demi respondeu e fitou as próprias mãos que agora mantinha repousadas sobre o colo. — Holden conside­ra que educar filhos seria incompatível com o estilo de vida que ele gosta de manter.
Joe sentiu vontade de abraçar Demi para poder con­fortá-la como fizera na outra ocasião. Contudo, o bom-senso falou mais alto e ele preferiu afastar a ideia da mente.
— De alguma maneira, Holden tem razão. Os filhos pro­vocam uma grande mudança na vida dos pais. Pelo menos é o que eu sempre escuto minha irmã comentar.
— Você nunca pensou em ter filhos? Aquela pergunta o pegou de surpresa.
— Você quer dizer quando eu era casado?
— Isso mesmo — Demi confirmou.
Joe se remexeu no assento sentindo-se desconfortável. Seria preferível que o assunto se concentrasse apenas em Demi, ele pensou.
— Eu não deveria ter-me casado tão rápido. Se tivesse esperado um pouco mais, teria descoberto que eu e Helena não tínhamos nada em comum. Depois prossegui casado porque eu não queria admitir que houvesse cometido um erro. Meu irmão tentou me avisar, mas eu até briguei com ele. Até que finalmente entendi que Garret estava com a razão.
— Ninguém gosta de admitir seus erros. Há quanto tempo você a conhecia antes de se casar com ela?
— Dois meses. Na época eu considerei que já a conhecia o suficiente — ele declarou com um sorriso irônico.
— Realmente você foi muito apressado.
— Eu diria que fui impulsivo. — Joe meneou a cabeça enquanto se recordava da cerimônia em uma pequena capela em Vegas, que lhe parecera excitante, apesar das dúvidas que surgiram em sua mente pouco antes dos votos.
— Você não me parece o tipo de pessoa impulsiva — ela contestou.
— Como você já passou pelo mesmo problema que es­tou passando, será que poderia me recomendar um bom advogado?
— Depende do que você deseja.
— Eu desejo que isso acabe o mais rápido possível para que eu e meu bebê possamos prosseguir com nossas vidas.
Ela colocou um pouco de leite na vasilha e inclinou o cor­po para apanhar o misturador de ovos em uma porta do gabi­nete da pia. Depois começou a misturar os ingredientes.
— Precisa tomar cuidado com o que deseja. Eu também só queria prosseguir com a minha vida e isso me custou mui­to caro para conseguir o acordo.
— Eu não me importo com o dinheiro. Holden pode ficar com tudo. O apartamento, a mobília e os investimentos. Eu só quero levar o que era meu quando me casei. Além disso, tenho algumas economias particulares e poderei trabalhar para viver.
— Não duvido disso. Mas o seu bebê tem o direito de re­ceber apoio financeiro de ambos os pais. Se você abrir mão de tudo agora, poderá se arrepender mais tarde — Joe a aconselhou.
— Não sei, não. A maneira como fala faz parecer que se trata de um arranjo de negócios.
— Infelizmente, um divórcio não é muito diferente. Você já considerou uma possível briga judicial pela custódia? Ou como gostaria que fossem agendadas as visitas?
Ela interrompeu o que fazia e girou a cabeça para encarar Joe.
— Holden não quer este bebê. Ele não brigará pela custódia e duvido que se preocupe com os horários de visitas.
— Mas ele poderá mudar de opinião.
Ao ouvir aquelas palavras, Demi deixou cair dentro da tigela o misturador de ovos que segurava em uma das mãos. Uma parte do conteúdo espirrou para fora e manchou a fren­te da blusa que ela usava.
— Desculpe-me, Demi — prosseguiu Joe. — Eu não quis assustá-la. Mas as pessoas fazem e dizem coisas inesperadas quando um casamento termina. Holden parece ser o tipo de pessoa que se importa muito com sua imagem pública.
Ao mesmo tempo em que Demi tentava retirar a mancha da blusa com um pano úmido, ela respondeu:
— É verdade. A imagem pública é muito importante na carreira dele.
— Então isso significa que Holden não gostaria de ser visto como o homem que se divorciou da esposa porque ela estava grávida e que ele os teria abandonado tanto física quanto financeiramente.
— Eu não tinha pensado nisso! — ela exclamou e, desis­tindo de limpar a mancha da blusa, repousou as mãos sobre o balcão para equilibrar o corpo. Os joelhos estavam bam­bos e o rosto pálido como um lençol. — Meu Deus! Você acredita que Holden poderá pedir a custódia total ou com­partilhada?
— Não sei. Eu só acho que você deve estar preparada para o caso de isso acontecer.
— Mas ele não quer o bebê! — ela insistiu. — Eu não consigo nem repetir o que ele queria que eu fizesse para "so­lucionar" o problema.
Joe se ergueu da cadeira e se aproximou dela ao notar as primeiras lágrimas se formarem nos olhos bonitos de Demi.
— Por favor, não chore! Vai dar tudo certo! — Ele tocou num ombro dela para acalmá-la. Contudo, lembrando-se do que acontecera antes quando a abraçara, recuou um passo. Mas ela precisava dele naquele instante e, embora Joe não estivesse pronto para definir seus sentimentos, achou correto abraçá-la. E foi o que fez.
Demi se aninhou no peito musculoso e murmurou:
— Holden não quer este bebê.
— Vai ficar tudo bem, prometo — Joe murmurava en­quanto afagava as costas femininas com carinho. Porém Demi parecia não ouvir e prosseguia falando:
— Não vou permitir que Holden fique com o bebê. Meu filho merece ser criado por alguém que não esteja ocupado demais para poder lhe dar atenção. Fui criada dessa maneira e sei como isso é triste. Não quero que o mesmo aconteça com o meu bebê.
Enquanto ela soluçava, Joe não sabia mais o que fazer a não ser abraçá-la.
— Sinto muito, Demi. Realmente sinto muito — estava sendo sincero. Joe sentia demais por Demi ter sido uma criança solitária e por ter-se casado com um homem que a desapontara de maneira tão cruel. Por isso, confiava em Deus que estivesse certo quando falou: — Tenho certeza de que Holden não irá lutar pela custódia. E dado o que você me contou sobre ele, tenho o palpite de que Holden nem mesmo se importará em exercer o direito de visita.
Ela permaneceu nos braços dele por mais alguns minutos. Então ergueu a cabeça e falou:
— Obrigada.
— Não é preciso me agradecer. Eu tenho um fraco por mulheres choronas.
Ela sorriu.
— É o que eu mais tenho feito ultimamente. Devem ser os hormônios alterados por causa da gravidez — ela se justificou. — Mas não pense que eu sou uma manteiga derretida que fica chorando o tempo inteiro feito um bebê. Normalmente sou mais forte que isso.
— Tenho certeza disso — Joe concordou e, incapaz de resistir à tentação, ele inclinou a cabeça e depositou um beijo ligeiro nos lábios dela.
Em seguida, sussurrou:
— Mas não precisa se preocupar em ser forte o tempo todo. Pelo menos, não comigo.
***
Demi costumava observar através da janela da cabana as mudanças que o mês de setembro havia ocasionado na paisa­gem. As maçãs nas árvores do pomar começavam a amadu­recer, tingindo de vermelho as cascas das frutas e provocan­do um verdadeiro espetáculo na natureza. As noites estavam mais frescas e a brisa espalhava no ar o perfume das folhas e frutos.
Demi e Joe haviam adquirido o hábito de fazerem uma caminhada juntos antes do pôr do sol. Depois, eles se dirigiam para o extenso terraço da casa e se acomodavam na cadeira de balanço para conversarem ou então ficarem em silêncio observando as primeiras estrelas que surgiam no firmamento. Demi nunca tinha visto tantas estrelas juntas quando morava na cidade. No campo, elas reluziam com todo o esplendor por causa da ausência de luz artifi­cial. No instante em que a lua surgia e a temperatura ame­nizava, Joe acompanhava Demi até a cabana. Antes de ela entrar, Joe sempre lhe dava um beijo de boa noite.
Tratava-se apenas de um roçar de lábios, mas Demi sentia tanto prazer naquela demonstração de afeto, que às vezes permanecia horas acordada tentando definir aquele senti­mento. Enquanto as semanas se passavam, Demi ficava cada vez mais ansiosa para receber aquele beijo de boa noi­te. E, muitas noites, ela sonhava com Joe de uma manei­ra tão atrevida, que às vezes ficava difícil encará-lo no dia seguinte.
Muita coisa havia mudado na vida de Demi, sem contar as transformações em seu corpo. Ela se sentia maravilhada com a maneira como seu ventre havia se avolumado e os seios estavam maiores e mais pesados. Felizmente eles não pareciam mais tão doloridos, embora ainda estivessem sen­síveis. Demi conseguira encontrar um bom ginecologista em Gabriel Crossing, porém as reuniões necessárias com seu advogado requeriam que ela viajasse até Nova York. Na noi­te anterior, enquanto estavam acomodados na cadeira de ba­lanço do terraço da casa e Joe lhe apontava as constela­ções no céu, ele aproveitou para lhe oferecer uma carona para Nova York:
— Preciso resolver algumas coisas no centro da cidade. Poderei deixá-la na frente do edifício onde fica o escritório do advogado e a buscarei mais tarde. Poderemos aprovei­tar para jantar em algum restaurante antes de voltar para casa.
Demi adorou a ideia. Além de economizar gasolina, não precisaria dirigir no tráfego pesado de Manhattan.
Na manhã seguinte, Demi levou quase uma hora para decidir o que deveria usar. No momento em que bateu na porta dos fundos da casa de Joe e ele abriu a porta, ela quase perdeu o fôlego. Demi estava acostumava a ver Joe usando jeans desbotados e shorts folgados, por isso ficou espantada ao vê-lo trajando um terno escuro de excelente qualidade e uma gravata discreta sobre a camisa de seda branca.
Os cabelos normalmente revoltos estavam penteados para trás e a barba feita.
— Bom dia! — ele exclamou e as covinhas das bochechas surgiram com o sorriso largo que ele exibia.
Pela primeira vez na vida, Demi experimentava o que significava sentir os joelhos moles como geleia.
— Uau! — por fim, ela conseguiu exclamar. Ele sorriu.
— Obrigado. Você também está bonita, mas isso não é novidade. Essa blusa é nova?
— Ah... É apropriada para gestantes — ela declarou e pu­xou a bainha da blusa para demonstrar a elasticidade do teci­do.
— Ficou muito bem em você.
— Obrigada. Eu apenas apanhei a primeira peça que en­contrei quando abri o armário de roupas — ela mentiu. — Mas você está muito elegante nesse terno.
Ele encolheu os ombros e repetiu:
— Eu também apanhei a primeira coisa que encontrei quando abri o armário de roupas.
— Eu não imaginava que você tivesse tão bom gosto em se tratando de roupas — ela confessou.
— Eu aprecio a beleza e a qualidade de muitas manei­ras.
Apenas que a beleza e qualidade da qual ele estava se re­ferindo não era nada barata, ela concluiu. Contudo, Joe não parecia ser o tipo de pessoa que costuma viver além de suas posses.
Ela inclinou a cabeça para um lado e comentou:
— Por que será que eu tenho a impressão de que você faz mais do que reformar casas antigas no meio do nada?
— Porque é verdade. Eu e meu irmão possuímos uma em­presa em sociedade. Nós compramos construções antigas em Manhattan e as reformamos.
— Como patrimônios históricos?
— Nós também executamos esse tipo de restauração, po­rém nosso forte é modernizar edifícios antigos e destiná-los a diferentes finalidades. Por exemplo: nós poderíamos com­prar um antigo armazém de estocagem de mercadorias e transformá-lo em um centro de lojas comerciais ou de escri­tórios. A reunião a que preciso comparecer hoje se trata da venda de um condomínio de pequenas casas que nós com­pramos e reformamos em uma vila.
Joe falava sobre grandes somas em dinheiro com uma simplicidade impressionante. Em momento algum ele se ga­bava da sua riqueza. Isso fazia com que ela o admirasse mais ainda.
— Qual é o nome da sua empresa?
Phoenix Brothers Development.
Demi ficou boquiaberta. Ainda que já estivesse ciente de que Joe não era um paupérrimo, não esperava aquela resposta.
— Não me diga!
— Você já ouviu falar da nossa empresa? — ele perguntou erguendo levemente as sobrancelhas.
Na verdade, Demi já havia reparado nos logos diferentes e chamativos, colocados em alguns dos mais suntuosos edi­fícios de Manhattan, indicando que a restauração havia sido efetuada pela Phoenix Brothers Development.
— Claro que sim. Vocês fazem um trabalho maravilhoso. Mas acho que já sabe disso.
— Pelo menos é o que tentamos — Joe respondeu com modéstia. — Se você tem de fazer um trabalho, por que não fazer o melhor possível? Lógico que é preciso tempo e in­vestimento, mas o lucro compensa.
Tempo... Investimento... Lucro. Eles estavam falando so­bre o trabalho dele e sobre prédios, porém aquelas palavras poderiam servir para alertá-la em outro sentido. Por isso, Demi perguntou:
— E se não der certo? Quero dizer, você não tem medo de colocar o coração e a alma em algo que não lhe proporcione o resultado desejado?
— Às vezes isso acontece — ele confirmou enquanto abandonava o vão da porta para poder trancá-la.
A ação exigiu que Joe avançasse um passo e ficasse próximo dela. Foi o suficiente para que Demi sentisse a fragrância inebriante da loção de barba e notasse o pulsar acelerado das veias na base do pescoço largo.
— Mesmo assim você continua insistindo? — ela quis saber.
Joe estreitou o olhar.
— Por acaso estamos falando sobre a empresa de propa­ganda que você pretende fundar?
Ela fixou o olhar na porta atrás dele e falou com casualidade.
— Entre outras coisas.
— A vida é feita de riscos, Demi.
Ela suspirou e depois concordou com um aceno de cabeça.
— Então eu preciso criar mais coragem.
Seus olhares se cruzaram em silêncio. Apenas o som de um latido no quintal de um vizinho distante era ouvido.
Por fim, Demi desviou a atenção dos olhos dele e come­çou a caminhar na direção da caminhonete estacionada na frente da casa. Joe a alcançou e, segurando-a por um bra­ço, forçou-a a estacar. Quando ela o olhou com surpresa, ele apontou um dedo na direção da garagem da casa.
— Desta vez, eu prefiro usar o carro. A viagem será mais confortável.
Carro? Demi nem mesmo sabia que Joe tinha um carro.
A garagem era tão antiga quanto a casa e se encontrava no mesmo estado de deterioração. Entretanto, quando Joe abriu as pesadas portas de madeira, Demi avistou um Porsche preto e exclamou:
— Que carro lindo!
— O importante é que ele me leva de um ponto a outro de maneira rápida — Joe declarou com um sorriso



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                       Infelizmente nessa fic não tem como ter maratona pois ela é muito curta. Que bom que estão gostando, continuem comentando.
                                 xoxo Nathi

4 comentários:

  1. Gostando? Eu estou adorando!
    Uma amiga tem um problema desses, ela fez exames e não pode ter filhos, eu acho que ela é nova para os medicos dizerem isso assim, e talvez aconteca o mesmo que aconteceu com Demi, só espero que o pai seja um Joe da vida
    Não posso esperar para outro capitulo!
    Beijos garotas. Sam, xoxo

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  2. Não sei nem o que comentar,essa fic é super perfeita,To sem palavras,Joe como sempre lindo,atencioso,carinhoso,charmoso,tudo de bom.E Demi como sempre sortuda por ter ele em sua vida,To In looooove com a fic!

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  3. Poxa, entao nao vai ter Maratona =(
    Estou amando a fic, Poste logo Mais um capitulo. Bjs

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  4. Ansiosa..... queria que o Holden visse os dois juntos agora kkkkkk quero ver a reação dele quando ele souber quem é o Joe ......continua logo por favor.....

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