9.4.15

Sonho Realizado - Capitulo 5

O MARIDO DELA...
Joe sabia que era casada, mas não imaginava que a sur­presa lhe provocaria tamanho "frio na barriga". Ele olhou para Demi, que acabara de se aproximar, e notou que ela não parecia nem um pouco feliz ao ver o marido. Embora estivesse sozinha na cabana há mais de um mês, Demi não correu para abraçá-lo. Na verdade, nem mesmo esboçava um sorriso. A expressão do rosto dela exibia surpresa e nervosis­mo. Ou seria um sentimento de culpa?


— Holden! — ela exclamou pálida como um lençol. — Eu não o esperava!


— Dá para notar — Holden respondeu com secura en­quanto observava Joe de maneira desafiadora. Demi se apressou em fazer as apresentações:


— Este é meu senhorio Joe O’Donnel. Joe, este é Holden.


Enquanto os dois homens trocavam um aperto de mãos, Holden vistoriou a frente da casa com um olhar crítico na direção da pintura descascada e as janelas ainda sem aca­bamento.


— Você tem um bonito lugar aqui — ele afirmou com um sorriso insolente que não passou despercebido por Joe.


— Ficará bonito quando eu terminar a reforma. Mas essas coisas levam tempo.


— Tempo e dinheiro — Holden completou. Joe deu de ombros e comentou:


— Isso não é problema para mim.


Holden não respondeu, mas lançou um olhar insinuante para a caminhonete e depois para a camisa manchada e amarrotada de Joe.


A caminhonete era usada apenas para o trabalho e por isso Joe não se importava com a aparência do veículo. Ele sa­bia o que Holden estava pensando, mas resistiu ao desejo de promover um debate para saber quem tinha mais dinheiro na conta bancária. Afinal, sua condição financeira não era do interesse de ninguém.


Para quebrar a tensão que começava a se instalar entre os dois homens, Demi falou para Holden:


— Venha comigo. A cabana que aluguei fica logo adiante. — E dirigindo a atenção para Joe, agradeceu: — Obriga­da pela carona.


Joe assentiu com gesto de cabeça.


— Sem problemas. Eu levarei os galões de tinta e os aces­sórios mais tarde.


— Tudo bem, eu o agradeço mais uma vez.


Demi estava tão surpresa quanto Joe pelo fato de seu marido ter aparecido naquele momento. Teve um dia calmo e relaxante como não desfrutava há muito tempo. Parte dela desejava que ele não terminasse tão cedo. Até mesmo pensa­ra em convidar Joe para jantar com ela. Então Holden chegou. Bastou olhar o sorriso sarcástico e o jeito arrogante dele para que Demi sentisse toda a tensão dos dois meses anteriores retornar com força.


Ela aguardou até que estivessem dentro da cabana para dizer:


— Por que você não me avisou da sua chegada?


— Eu preferi fazer-lhe uma surpresa.


Ela ignorou o tom de acusação contido nas palavras dele e recusou-se a se sentir culpada por estar na companhia de Joe. Se alguém devia uma explicação, esse alguém era ele.


— E por que veio aqui?


— Queria saber se você havia recuperado o bom-senso. Ela cruzou os braços contra o peito e perguntou:


— A respeito de quê?


— Ora, Demi, você já marcou seu ponto de vista.


— Meu ponto? Acha realmente que foi por essa razão que me mudei para cá?


Ele suspirou antes de confessar:


— A verdade é que eu quero que volte para o nosso lar.


Lar? O luxuoso apartamento no Park Avenue já não repre­sentava um lar para Demi. E talvez nunca tivesse represen­tado um verdadeiro lar. Não havia um lugar em que ela tivesse vivido, antes ou depois do casamento, que tivesse essa conotação para ela. Até agora. Por isso, ela precisava pensar muito bem no que deveria escolher para não se arrepender mais tarde.


— Ainda estou grávida, Holden. E não mudei de ideia a respeito de ter o bebê. — No caminho de volta da cidade, Demi havia sentido uma ligeira agitação no abdômen. Tal­vez fosse resultado do excesso de sorvete, mas ela preferia acreditar que se tratava de um sinal de vida do bebê que cres­cia em seu ventre.


— Eu sei disso — Holden resmungou.


— E você mudou de ideia a respeito de termos um filho?


— Sim. E quero que volte comigo para casa. Eu pensei muito e decidi que nossa vida não precisaria mudar demais por causa do bebê. Nós poderemos contratar uma babá em tempo integral.


— Está querendo dizer que deveremos contratar alguém para morar em casa?


— Isso mesmo. Assim ela poderá suprir todas as necessi­dades da criança. Por que está estranhando? Eu fui criado com uma babá e você também.


Sim, era verdade. Os pais dela contrataram uma variedade de profissionais de saúde e babás até que ela tivesse idade suficiente para frequentar colégios internos. E no período de férias seguir para acampamentos supervisionados pelos edu­cadores. Ela até concordava que precisasse contratar alguém para cuidar do bebê enquanto estivesse trabalhando, mas o que Holden pretendia era muito mais que isso.


— Eu quero cuidar do bebê pelo maior tempo possível — ela argumentou e colocou uma das mãos sobre o abdô­men em sinal de proteção.


— Como pretende fazer isso e dar conta da sua agenda de compromissos ao mesmo tempo?


— Sobre quais compromissos você está falando? Já faz muito tempo que eu não tenho uma carreira.


— Você sabe o que eu quero dizer — ele abanou uma das mãos no ar com impaciência. — Você sempre cuidou dos nossos compromissos sociais.


Nossos compromissos, sociais sempre significaram os compromissos sociais dele. Pensou Demi enquanto ele prosseguia:


— Temos um jantar importante na próxima semana, ou você se esqueceu?


— Então é por isso que está aqui? — ela perguntou com o tom de voz irritado. — Está precisando de uma anfitriã?


— Não seja ridícula! — ele a censurou, mas foi incapaz de sustentar o olhar dela. E aquela era a resposta que Demi esperava.


Antes da gravidez, ela fora tola o suficiente para permane­cer em um casamento onde não havia amor. Contudo, Demi não tinha intenção de submeter o bebê a um ambiente frio, principalmente porque ela não tinha razão para acredi­tar que alguma coisa fosse mudar por causa da chegada da criança.


Bem, Holden estava pedindo para que ela voltasse e lhe dizendo que havia mudado de ideia e que aceitava o bebê.


Porém, ele não parecia nem um pouco feliz com a ideia de ser pai. A expressão que ele mantinha era apenas de resigna­ção. A imagem de Joe tocando no queixo do bebê que a mulher segurava, desfilou na mente de Demi. Ele demons­trara mais interesse e entusiasmo com uma criança estranha do que Holden fazia com o próprio filho. E ela dissera para Joe que ele seria um excelente pai, mas, e quanto a Hol­den? O que ela poderia esperar? Infelizmente, Demi já sa­bia a resposta. Holden enfiou as mãos nos bolsos da calça e seguiu até a janela. Ela estava aberta, mas o calor parecia insuportável.


— Deus, como está abafado! Será que poderia ligar o ar-condicionado?


Demi suspirou contrariada. Aquele era Holden. Nunca parecia satisfeito. Ao longo do tempo em que esteve casada com ele, Demi até havia se acostumado às suas constantes reclamações.


— Não tem um aparelho de ar-condicionado aqui. — Ela nem se incomodou em revelar que Joe prometera instalar um aparelho no fim da semana.


— Como pode suportar isso? Você não pertence a um lu­gar desses, Demi!


— Eu discordo. Posso lhe garantir que gosto muito da cabana. Acordo todas as manhãs com o som dos passarinhos cantando.


Ele ergueu o olhar para o alto e bufou.


— Se gosta de acordar com o som de passarinhos can­tando, basta mandar gravar um CD. Pode até aproveitar para inserir o som das águas de um rio e o farfalhar das folhas ao vento.


Até pouco tempo atrás, a vida de Demi era preenchida com coisas artificiais, inclusive seu relacionamento com o marido.


— O que eu quero é preencher minha vida de maneira real. — E ela não estava se referindo aos pássaros.


Holden pareceu notar a intenção verdadeira das palavras dela e a voz saiu em tom de desespero quando ele falou:


— Eu quero que você volte comigo para Manhattan. Acho que podemos resolver o nosso desentendimento.


Eu quem... Eu acho... Ela meneou a cabeça vagarosamente.


— Não, Holden, não será possível.


— O que mais você quer que eu faça? — ele perguntou desesperado e repousou as mãos nos quadris.


A pose dele fez com que ela se lembrasse dos sermões de seu pai. E isso apenas serviu para reforçar sua decisão. O que ela realmente queria, Holden não seria capaz de lhe dar. Nem para ela nem para o bebê. Ele já deixara claro através de pa­lavras e ações que nunca seria capaz de oferecer um amor pleno e incondicional.


— Eu cometi um erro terrível! — ela murmurou como que para si mesma.


— Estou feliz de que finalmente tenha visto isso. Vou cha­mar uma empresa de mudanças agora mesmo.


Demi fechou os olhos e suspirou ao notar que ele havia entendido aquelas palavras da maneira errada.


— Esse não é o erro a que eu estava me referindo.


Holden estreitou o olhar e endureceu as feições.


— Então ao quê você está se referindo?


— O meu erro foi ter-me casado com você. Eu quero o divórcio, Holden.


***


Demi seguiu o som das marteladas que ecoavam no se­gundo andar da casa de Joe. As pancadas eram intercala­das com xingamentos. Ela prosseguiu até encontrar Joe em um dos quartos, portando uma marreta de cabo longo, e destruindo a argamassa de um ponto da parede. Ele estava sem a camisa e a pele bronzeada das costas reluzia com o suor que escorria até o ponto de ensopar o cós dos shorts que usava.


— O que você está fazendo? — ela perguntou enquanto ele erguia a marreta no ar e se aprontava para dar outro golpe na parede.


Alertado com a voz de Demi, ele se assustou e olhou para a porta. Quase deixou escapar a pesada ferramenta quando a viu. Ele jamais esperava visita naquele momento.


— Oi, Demi! Eu não percebi que você estava aí. — Ele clareou a garganta antes de perguntar: — Está tudo... bem?


— Sim. — Ela olhou para o buraco na parede e a pilha de entulho no chão. — O que pretende fazer, além da ba­gunça?


Ele encolheu um dos ombros.


— Estou tentando descobrir a droga de um vazamento que está umedecendo a parede.


— Está muito quente hoje para fazer esse tipo de serviço, não acha?


Ele sorriu.


— Preciso queimar as calorias daquele sorvete — ele afir­mou com uma piscadela divertida.


Demi baixou o olhar para o abdômen rígido e plano que ele mantinha e concluiu que Joe não tinha necessidade disso. Cada centímetro do corpo musculoso estava perfeita­mente definido e naquele instante reluzia como se fosse um astro iluminado.


No instante em que ela percebeu que estava literalmente devorando o corpo másculo com os olhos, Demi sentiu-se embaraçada e desviou o olhar para a verdadeira cratera que ele havia feito na parede.


— Eu aposto que você queimou as calorias do sorvete e muito mais!


— Malhar a parede serviu para liberar as frustrações tam­bém — ele admitiu. — E então? Você conseguiu arranjar uma maneira de acomodar seu marido na cabana?


— Não foi preciso. Holden já foi embora.


— É mesmo? O que aconteceu? — Ele colocou a marreta no chão e apoiou o longo cabo contra a parede.


— Bem... Nós tivemos alguns problemas ultimamente.


— Sinto muito em saber disso.


— Obrigada — ela agradeceu e começou a espremer a bainha da blusa com os dedos trêmulos. — Ele queria que eu voltasse para Manhattan.


— E acabaram resolvendo as pendências?


— De certa maneira. — Ela alisou a bainha da blusa outra vez e ergueu o olhar para Joe. — Eu pedi o divórcio.


Divórcio? Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas não sabia o que deveria dizer. Por isso, estendeu um braço e tocou num ombro de Demi em sinal de conforto.


— Eu sinto muito. Você está bem? Ela assentiu.


— Acho que assim será melhor para nós dois.


Joe também dissera a mesma coisa quando se divorcia­ra, mas isso não tornou as coisas mais fáceis no princípio.


— Você quer desabafar comigo? — ele ofereceu. Ela sacudiu a cabeça em gesto negativo.


— Obrigada pela preocupação, mas não pretendo encher seus ouvidos com minhas lamentações.


— Isso não me incomodará. Eu sou muito paciente e um ombro amigo é o que você está mais precisando no momento.


— Se é assim... — ela concordou e começou a falar: — O que acontece é que Holden e eu temos opiniões diferentes sobre um problema vital. Dessa maneira, eu decidi que será melhor cada um de nós prosseguirmos com nosso caminho de acordo com a convicção de cada um.


A vaga explicação de Demi o deixou curioso. Contudo, ela parecia tão triste que ele resolveu apenas concordar com um aceno de cabeça.


— Eu também entrei em desacordo com minha mulher e decidi pedir o divórcio.


— Oh!


— Pois é. Eu descobri que ela estava tendo um caso. — Joe nem mesmo sabia por que estava contando isso para Demi. Ele apanhou a camiseta que deixara no chão e enxu­gou o suor da testa. Em seguida prendeu uma ponta da cami­seta no bolso traseiro da calça e apanhou a marreta outra vez. — Eu demoli um bloco de cimento sozinho quando descobri que ela estava dormindo com o meu melhor amigo. Agora ambos estão separados.


— Você deve ter ficado muito decepcionado.


Decepcionado? Joe sentira como se o seu mundo tives­se virado de ponta-cabeça. Mas, naquele momento, ele ape­nas deu de ombros e falou:


— Acho que o bloco de cimento foi quem sentiu a força da minha ira. No terceiro golpe, ele se despedaçou por inteiro.


— Bem, no meu caso, aconteceu diferente. Holden não está tendo um caso, ele apenas não aceita... — Os olhos se encheram de água e ela cobriu a boca com a palma de uma das mãos na tentativa inútil de impedir um soluço.


— Oh, por favor, não faça isso! — ele suplicou enquanto abandonava a marreta contra a parede outra vez.


— Sinto muito — ela lamentou no mesmo instante em que as lágrimas começavam a jorrar de maneira abundante e lhe inundavam a face.


— Não chore, Demi. Por favor, não chore.


Ela assentiu com a cabeça, mas não conseguia parar as lágrimas. Joe se sentiu desolado. O que deveria fazer? O que poderia dizer? Finalmente, ele declarou a única coisa que provavelmente estaria certa:


— Ele não merece as suas lágrimas.


Demi parou de chorar e os olhos azuis ainda umedecidos o fitaram.


— Ele não merece as suas lágrimas — Joe repetiu com maior convicção.


Depois puxou a ponta da camiseta do bolso traseiro da calça na intenção de oferecê-la para que ela secasse o rosto. Contudo, considerando que a blusa estava suja demais, Joe jogou a peça no chão e aproximou-se de Demi. Tomou o rosto miúdo entre as palmas das mãos e afastou as últimas lágrimas com os polegares.


— Você merece alguém muito melhor que ele.


— Joe...


— Está tudo bem... — ele tentou consolá-la e abriu os braços para confortá-la.


A atitude dele era tão natural e sincera que Demi aceitou o abraço dele e se aninhou no peito forte e acolhedor. Com uma das mãos ele começou a afagar as costas dela e murmu­rar palavras que ela não conseguia decifrar. E nem precisava. Naquele instante, tudo o que Demi precisava saber era que havia alguém que se importava. Entretanto, conforme o tem­po passava, algo além de conforto começava a brotar entre eles. Joe inclinou a cabeça e Demi sentiu o hálito quente da boca masculina soprando-lhe os cabelos. Então se deu conta de que se encontrava praticamente colada ao dorso nu de Joe. Ele interrompeu o afago que lhe fazia nas costas e repousou a mão sobre a base da espinha feminina, o que a fez estremecer.


— Demi?


Ela poderia jurar que Joe parecia tão confuso e atordoa­do quanto ela. E, por precaução, recuou um passo e se liber­tou dos braços dele. Tornou a segurar a bainha da blusa para manter os dedos ocupados. Quando ergueu os olhos outra vez, Joe a estudava com curiosidade.


— Então você tem certeza de que deseja mesmo o divórcio? Ela gesticulou positivamente com a cabeça.


— O meu casamento com Holden não era dos melhores — ela admitiu com mágoa. — Embora seja doloroso, o mais importante é usar de sinceridade. Eu queria mesmo que aca­basse.


***


Um pouco mais tarde, quando o sol começava a se esconder no horizonte e a temperatura estava mais amena, Demi de­cidiu ligar para os pais. Ainda não havia contado a eles sobre o bebê e nem sobre os problemas que enfrentava com o ma­rido. Não havia comunicado seu novo endereço e nem o nú­mero do telefone, uma vez que se eles precisassem se comu­nicar poderiam se valer do celular. Ela sabia que estava protelando o inevitável, mas agora já estava na hora de en­frentá-los. Ela discou o número da casa de seus pais e a mãe atendeu no terceiro toque.


— Oi, mãe! É Demi. — Sendo filha única, seria desne­cessário dizer seu nome. Apesar de não concordar com as etiquetas sofisticadas da família, estava habituada a segui-las.


— Oi, Demi! — A voz de Camille soou apressada. — Eu já estava de saída para a aula de ioga e seu pai ainda está no escritório.


Tanto as palavras quanto o tom de voz que a mãe usava pareciam propositais para desencorajar uma conversa demo­rada. Até aí, não havia novidade alguma para Demi.


— Sinto incomodá-la, mãe. Mas o que tenho a lhe dizer é muito importante.


— O que foi? Holden está bem?


— Acho que sim.


— Vocês tiveram uma briga?


— Uma briga? Não. Aconteceu algo bem mais civilizado que isso. E achei que você e o papai deveriam saber que pedi o divórcio.


— Oh, Demi! — Camille exclamou em tom de irritação e censura. — Por que foi fazer uma coisa dessas? Você teve tanta sorte em encontrar alguém como Holden!


Sorte? Houve um tempo em que Demi também conside­rava a situação daquela maneira. Depois que Joe lhe disse que merecia alguém melhor, Demi acabou chegando à mes­ma conclusão.


— Nosso casamento já não andava bem e agora piorou ainda mais. Eu estou grávida, mãe. Eu vou ter um bebê. — Demi sorriu quando disse a última palavra.


— Um bebê? Como isso é possível? Os médicos sempre lhe disseram que você não teria condições de engravidar!


O desabafo de Camille não era bem a reação que Demi esperava. Talvez por conhecer muito bem os seus pais é que levara quase dois meses para lhes dar a notícia da gravidez.


— Isso é tudo o que você tem para me dizer, mãe?


— Claro que não! Acontece que você me pegou de surpresa.


E ao invés de perguntar para quando era o bebê ou como Demi estava se sentindo, a pergunta seguinte de Camille foi a de saber como Holden encarava a situação.


Demi cerrou as pálpebras e contou até dez para conse­guir afastar a raiva e o desapontamento. Essa era uma técnica que usara frequentemente nos últimos anos para poder se relacionar com os pais. E o mais intrigante era o fato de que Camille era uma psicóloga.


— Como Holden está encarando a situação? — Demi repetiu. — Eu lhe contei que pedi o divórcio. Isso já deveria responder a sua pergunta, não acha?


— Demi...


— Holden não quer este bebê. Ele está rejeitando o pró­prio filho!


Demi esperava um pouco de compreensão da mãe, mas já deveria saber que Camille só se importava com o aspecto social da situação.


— Nem todos desejam ter filhos.


Demi fechou os olhos e sentiu-se uma tola. Nem todos desejam ter filhos. Repetiu mentalmente. Como se não sou­besse... Demi havia sido criada por duas pessoas desse tipo e depois se casado com alguém que seguia a mesma regra...


Camille prosseguiu:


— Você precisa entender que Holden está passando por uma experiência que ele não imaginava. Deve ser difícil para ele.


Difícil para ele? E quanto a ela?


Demi ficou tão indignada que a voz saiu estridente quan­do ela falou:


— Sinto muito, mãe. Mas eu não consegui tolerar quando ele me pediu para interromper a gravidez.


— Não acha que está sendo precipitada em seu julgamento? Demi contou até dez outra vez antes de responder:


— Eu já me mudei há mais de um mês e hoje oficializei meu pedido de divórcio.


— Ter que criar seu filho sozinha será muito difícil, Demi. Uma criança precisa de um pai.


— Eu concordo. Porém criar meu filho sem um pai é me­lhor do que ele tenha um que não deseje perturbar sua vida social e que esteja sempre ocupado com compromissos e viagens de negócio.


Demi estava falando de Holden, mas a carapuça servia direitinho para a mãe.


— Você está projetando alguma frustração — Camille fa­lou no mesmo tom que usava como psicóloga.


Demi reagiu com irritação:


— Eu não sou sua paciente, mãe. Sou sua filha! E não estou projetando nada! Apenas declarando um fato.


— Seu pai e eu fizemos o que era melhor para você — A mãe prosseguiu no mesmo tom formal.


Demi teria preferido que a mãe se sentisse insultada e reagisse com alguma emoção ao invés de se colocar de ma­neira fria e distante. Começou a contar até dez, mas dessa vez não funcionou. A mágoa que mantinha escondida por quase trinta anos, de repente veio à tona:


— Você e meu pai fizeram o que era melhor para mim? — ela repetiu quase gritando. — O que fizeram foi contratar uma legião de pessoas para cuidarem do que seria obrigação de vocês. Isso porque estavam ocupados demais com suas profissões para poderem prestar atenção em mim. Em mim! Sua única filha!


— Nós estávamos trabalhando, Demi Elizabeth — a mãe respondeu com impaciência. — Tínhamos nossas car­reiras para honrar. E ainda temos. E o benefício do que foi fornecido por uma renda dupla lhe proporcionou uma educa­ção de primeira linha, para poder ter as melhores oportunida­des na vida.


— Vocês têm a minha gratidão por isso. Porém o que eu mais desejava era ter tido mais atenção e carinho.


— Sabe de uma coisa, Demi? É muito fácil julgar os outros quando não se está no lugar deles. E você precisará retornar ao trabalho se por acaso se divorciar de Holden.


— Não existe por acaso e sim quando. Porque eu estou decidida a me divorciar de Holden. — Demi afirmou e ou­viu a mãe dar um suspiro do outro lado da linha. Procurando não dar oportunidade para que Camille prosseguisse argu­mentando, declarou: — Acho melhor deixar esta discussão para outro dia. Eu já tomei demais do seu tempo e sei que está ansiosa por sua aula de ioga. Não se esqueça de passar as novidades para o papai.


Demi encerrou a ligação sem esperar pela resposta da mãe. Estava se sentindo cansada, mas não menos determinada. E afagando o ventre com carinho, murmurou:


— Não se preocupe bebê, eu pretendo ser uma boa mãe.
***


Joe não era o tipo de pessoa que gostasse de ficar ouvindo conversas particulares. Decidira ir até a cabana para se asse­gurar de que Demi estava bem, mas quando passou pelo lado de fora da janela, que se encontrava aberta, ouviu a voz alterada de Demi falando ao telefone com a mãe. Joe apenas podia ouvir a voz de Demi, mas era evidente que o que quer que fosse que a mãe estivesse dizendo não era o que ela esperava ouvir. E não seria de admirar, levando-se em conta o drama que acontecia em sua vida. Não apenas havia abandonado o marido e planejava se divorciar dele, como também estava grávida.


Grávida? E pensar que ele a havia segurado em seus bra­ços algumas horas antes... Joe passou uma das mãos sobre o rosto e admitiu com honestidade que gostaria de ter ido muito além do abraço. E agora ele não tinha muita certeza de como se sentia em relação a isso. Mas que droga!, protestou em pensamento. Ele não tinha certeza de nada quando se tratava de Demi Seville. Apenas sabia que ela era bonita e inteligente. E também muito sexy. O que chamou a sua aten­ção em primeiro lugar.


Contudo, a vida pessoal de Demi tinha virado um nó de complicações e a questão era a seguinte: Ele realmente pre­tendia ajudá-la a desatar esse nó? Houve um tempo em que Joe teria ido em frente sem pensar nas consequências. Ele costumava fazer tudo o que seu coração lhe pedisse, ainda que a cabeça não estivesse de acordo. Bem, ele havia pagado caro por sua impulsividade. Por isso, ponderou a situação com todo o cuidado. E como não tinha certeza da resposta que daria à própria pergunta, Joe decidiu se afastar da cabana sem nem mesmo bater na porta.
      
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Mais um pra vcs, COMENTEM
xoxo Nathi

6 comentários:

  1. Você precisa fazer uma maratona.
    Adorei o capitulo. Poste logo!!!

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  2. Cada vez eu me apaixono mais por essa história, continua por que Ta perfeita.beijos

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  3. Estou adorando!!!!! Será que vai esfriar a relação dos dois? Por favor posta logo.... jurei que ia sair bjo .....continua....

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  4. Com uma mãe e um marido desses vou te contar viu, tadinha da Demi. Vai lá Joe mostra pra ela como é um homem de verdade.

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  5. MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA MARATONA

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  6. tadinha a Demi sofre com esse marido e a mae e pior ainda
    pooossta maiiisss!!!!!

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