8.4.15

Sonho Realizado - Capitulo 4

Demi nunca esteve em uma loja de ferramentas e máqui­nas antes. Nem seu pai nem seu marido eram do tipo que costumava fazer consertos ou reparos em casa. Por isso, a loja em Gabriel Crossing lhe parecia algo que ela tivesse visto apenas em filmes. Na varanda do armazém estavam dois homens de cabelos grisalhos sentados em um banco e um deles tentava solucionar as palavras cruzadas apresenta­das em um jornal enquanto o outro o ajudava com palpites. Um deles, que parecia ser o dono da loja, assim que avistou Joe se ergueu e ambos trocaram um aperto de mãos.
— Já fazia algum tempo que eu não o via! — o homem exclamou. — Já estava começando a achar que você final­mente tinha desistido daquela velha casa e voltado para a cidade.


— Nunca! Eu sempre termino o que começo, Pat. Além disso, alguém tem que manter a loja em funcionamento.


— Não posso dizer que isso não me agrade. — Os olhos do homem se enrugaram num sorriso satisfeito.


Joe girou a cabeça na direção de Demi e declarou:


— Esse é Pat Montgomery, o dono do armazém.


— Prazer em conhece-lo, Sr. Montgomery — Demi fa­lou com um sorriso cordial.


— Por favor, não há necessidade de formalidades comigo. Diga apenas Pat — o homem revelou e depois de lançar um olhar especulativo para os dois, perguntou: — Vai ficar por mais algum tempo visitando Gabriel Crossing?


— Na verdade, eu me mudei para a região. Pelo menos temporariamente.


— Demi alugou a cabana que fica na minha propriedade — Joe esclareceu.


— Não me diga! — O homem ergueu as sobrancelhas e os lábios se curvaram num sorriso insinuante.


Demi sentiu as faces esquentarem. Ela sabia o que ele deveria ter pensado e imaginou como seria se a gravidez já estivesse evidenciada.


Felizmente Joe a socorreu:


— Demi está tirando um descanso da atribulação da ci­dade e seu marido logo virá lhe fazer companhia.


Demi deixou Joe falar o que achava porque não era de sua natureza mentir ou omitir a verdade. E permanecer cala­da parecia a coisa mais certa a fazer naquele instante. Por isso, quando Pat lhe disse que tinha certeza de que seu mari­do iria gostar de Gabriel Crossing, ela apenas assentiu com um sorriso.


— As tintas ficam no final daquele corredor. — Joe apontou com um dedo um canto distante do salão. — Eu vou lotar o porta-malas da caminhonete com as coisas que preci­so enquanto você seleciona as cores que gostar.


— Tudo bem.


Depois de passados uns vinte minutos, Demi pressentiu que Joe estava logo atrás dela. Ela não tinha ouvido seus passos, mas sentira o perfume do xampu com que ele enxaguara os cabelos. Embora ela não soubesse a razão, o fato de sentir Joe por perto lhe dava uma sensação de segurança e bem-estar. Outros atributos que desfilaram em sua mente, ela se recusou em considerar.


— Eu estou em dúvida entre esses dois tons — falou Demi antes de girar o corpo. — Ouvi dizer que o verde é uma cor relaxante e perfeita para estimular uma boa noite de sono. Só não sei se devo levar um tom mais claro ou outro mais escuro.


— Uma das paredes do meu quarto está pintada de verme­lho. Mais propriamente um tom rubro. Eu estava imaginan­do o que essa cor deverá estimular — ele comentou com um brilho divertido no olhar.


Ela percebeu a insinuação de malícia e evitou a resposta que surgiu de imediato em sua mente. Em vez disso comentou:


— Insônia, eu suponho.


Joe riu e, passando a mão pelos cabelos, deixou-os re­voltos, como era seu costume.


— Eu não acredito nisso. Geralmente durmo como um bebê.


A menção da palavra bebê ajudou Demi a afastar os pen­samentos inconvenientes da mente.


— E se misturarmos os dois tons de verde? O que você acha? — ela sugeriu apontando para a tabela de cores em cima do balcão.


— Parece que ficará tranquila.


— Ficará perfeita. Eu vou fazer isso.


— Está certo. Vou pedir ao Pat para misturar uns dois ga­lões e poderemos ir embora.


— Não se esqueça de que eu lhe devo um sorvete de cas­quinha.


— Eu não me esqueci.


Enquanto Demi observava ele se afastar na direção de Pat, ela teve a impressão de que Joe O’Donnel era o tipo de homem que nunca se esquecia de nada.


***
— Este é um dos pontos mais populares do lugar — Joe declarou enquanto eles se aproximavam da sorveteria insta­lada em um tipo de quiosque no meio de uma praça de lazer. As pessoas se mantinham na fila diante de duas caixas re­gistradoras e aguardavam o atendimento de seus pedidos. Ao redor havia várias mesas de piquenique, mas não havia nenhuma disponível naquele momento. Crianças de várias idades corriam em volta do gramado sem se importarem com o calor.


No instante em que chegou a vez de Joe pedir os sorve­tes, um garoto, que deveria ter uns cinco anos de idade, se aproximou em disparada e trombou com ele. Joe o segu­rou pelos ombros para impedir que ele caísse. Contudo, o outro menino que vinha logo em seguida aproveitou a opor­tunidade para bater nas costas do amigo e gritou:


— Eu o peguei! Agora é com você!


— Ah, é assim? Espere aí! — o primeiro garoto gritou de volta e saiu em perseguição do outro.


Assim que eles se afastaram, Joe baixou o olhar e sor­riu ao ver o estrago deixado pelos meninos na frente de sua camisa. Demi imaginou qual seria a reação de Holden se um garoto manchasse sua camisa com chocolate. Jamais o menino se livraria de um bom sermão. Joe, entretanto, apenas balançou a cabeça e riu com ironia.


— Acho que eu não deveria ter mudado a camisa — ele falou enquanto apanhava alguns papéis do porta-guardanapo em cima do balcão e tentava remediar a sujeira. — Isso foi o que ganhei por querer impressioná-la.


Demi sabia que ele estava brincando, mas a verdade era que ela se impressionou com Joe, mas isso nada tinha a ver com a camisa que ele estivesse usando ou não.


— Você é muito paciente, Joe. Se isso acontecesse com outra pessoa...


Ele deu de ombros.


— Trata-se apenas de uma camisa e ele é apenas um garotinho.


Demi ficou comovida com aquela compreensão. A rea­ção de Joe demonstrava claramente o temperamento dócil que ele possuía.


— Você daria um pai excelente! — ela exclamou de ma­neira automática. Não pretendia falar em voz alta o que pensava pensando, e muito menos com um suspiro. Contudo, Joe não teve uma reação de pânico ao ouvir aquelas pala­vras.


— Eu espero que isso aconteça algum dia.


— Você pretende ter filhos?


Ele pareceu um pouco surpreso com aquela pergunta.


— Não agora, mas no futuro, quem sabe? E quanto a você?


Demi engoliu a saliva. Os sonhos frustrados do passado e o milagre que acontecia agora produziam um nó de ansie­dade capaz de lhe bloquear a garganta. E, antes que ela con­seguisse responder, uma mulher aparentando uns trinta e poucos anos de idade se aproximou deles. As faces estavam coradas e ela parecia embaraçada. Os anéis escuros ao redor dos olhos demonstravam cansaço. E não seria para menos. Ela mantinha um bebê em um braço e segurava pela mão outra criança que não deveria ter mais que dois anos.


— Deus! Eu sinto muito! — ela exclamou enquanto olha­va horrorizada para as manchas de chocolate na camisa de Joe. — Foi meu filho Thomas quem trombou com você.


Joe sorriu.


— Parece que ele quis deixar sua marca registrada em minha camisa.


A mulher libertou por um instante a mão da criança maior e retirou um pedaço de papel de um bolso da sacola de fral­das e também uma caneta.


— Eu vou escrever meu endereço para que você possa me mandar a conta da tinturaria.


Joe abanou uma mão no ar e recusou:


— Não se preocupe com isso. A mancha desaparecerá na primeira lavagem.


— Tem certeza? — a mulher insistiu.


— Claro que sim — Joe assegurou e brincou com um dedo no queixo minúsculo do bebê que respondeu com um sorriso escancarado, permitindo que a baba escorresse abun­dantemente. — Parece que o primeiro dente está querendo sair.


A mulher secou os cantos da boca do bebê com a ponta de uma fralda e falou carinhosamente com a criança:


— E você quer mostrar isso para todo mundo não é pe­quenino?


Demi ficou maravilhada.


— Com três crianças pequenas, você certamente não tem tempo para mais nada!


A mulher assentiu com um sorriso. Naquele mesmo ins­tante, o pequenino que ela libertara a mão começava a cami­nhar na direção de um cesto de lixo.


— Preciso ir. Obrigado por ter sido tão compreensivo — ela falou para Joe. Depois olhou para ambos e acrescen­tou: — Vocês sabem como são as crianças.


O sorriso polido de Demi de repente sumiu de seus lá­bios. Não. Ela não sabia como eram as crianças. Nem mes­mo tinha ideia. Uma onda de pânico a assaltou. Logo teria seu próprio bebê e nem mesmo sabia como deveria lidar com ele. Em meio a um conturbado divórcio, ela nem mesmo teve condições de frequentar cursos preparatórios destinados aos futuros pais ou a oportunidade de contratar previamente uma babá experiente.


Sentindo os joelhos bambearem, ela murmurou:


— Oh, Deus...


— Demi? — Joe segurou um cotovelo dela e pergun­tou: — Você está bem?


— S... Sim. Acho que é apenas o calor.


***


— Agora não vai demorar — Joe a tranquilizou e fez o pedido para a moça que estava no caixa. Sorvete de baunilha para Demi e de chocolate para ele.


A seguir, eles procuraram um lugar para se acomodarem. As mesas permaneciam lotadas, porém um casal acabava de abandonar um local no gramado protegido sob a sombra de uma árvore. Joe pediu para Demi segurar os sorvetes e antes que ela imaginasse o que ele pretendia fazer, Joe retirou a camisa que usava e a estendeu aberta sobre a grama.


— Sente-se aqui. Assim não manchará sua roupa — ele avisou enquanto ela o olhava com curiosidade.


— Obrigada — Demi agradeceu e aceitou a oferta. Mes­mo porque, precisava distrair a atenção do torso nu e bronze­ado que estava na sua frente.


— É melhor tomar cuidado — ele advertiu assim que se acomodou ao lado dela.


— Cuidado? P... Porquê?


— O seu sorvete está derretendo. — Ele respondeu e in­clinou a cabeça para lamber a parte que estava prestes a gotejar.


Demi segurou o fôlego ao observar a língua dele serpen­tear ao redor do sorvete.


— Sinto muito... Eu apenas... — ele murmurou quando ergueu a cabeça. Então deu um sorriso que demonstrava em­baraço e humor ao mesmo tempo. — Eu não posso acreditar no que acabei de fazer!


Demi também não acreditava que aquele simples gesto pudesse ter despertado uma excitação inesperada em seu interior.


— E... Está tudo bem — ela respondeu com o tom de voz alterado.


— Você quer provar o meu para compensar?


— Não, obrigada.


— Por quê? Você não gosta de chocolate?


— Eu gosto de chocolate, mas acredito que a baunilha é mais adequada para um dia quente como este.


— Você sempre escolhe o que é mais seguro?


Demi lambeu o sorvete antes que começasse a derreter outra vez e envolveu um guardanapo na base da casquinha.


— Eu prefiro não me arriscar.


— Não acha tedioso? — ele perguntou.


— É assim mesmo que eu sou. Chata. A Demi chata. Ele riu.


— Não me diga que esse era seu apelido na escola!


— Infelizmente.


— E o que você fez para merecer o apelido?


— Nada — ela respondeu um pouco ofendida.


Depois de saborear um bocado do sorvete, Joe procu­rou aliviar a tensão.


— Não se preocupe Demi Chata, seu segredo está segu­ro comigo.


— Se você quer realmente saber, eu não acompanhava minhas colegas na ideia de burlar o horário de recolhimento.


Quando Joe franziu as sobrancelhas demonstrando-se confuso, ela explicou:


— No acampamento de férias de verão.


— Ah. E quantos anos você tinha na época?


— Doze. — Os pais dela haviam viajado para a Europa em uma excursão de um mês para participarem de palestras e aperfeiçoarem seus conhecimentos na área em que traba­lhavam. Ela tivera seu primeiro período naquele mês e se sentira completamente deslocada no acampamento. Não ti­nha ninguém com quem compartilhar suas dúvidas, a não ser a simpática orientadora que acompanhava o grupo.


— Aposto que no fundo você queria acompanhar suas amigas, não é?


— Talvez. Mas eu sempre gostei de respeitar os regula­mentos.


Ele a estudou por um momento.


— Bem, aqui está uma oportunidade para você começar a quebrar a rotina. — Ele apanhou o sorvete que ela segurava e o trocou pelo dele. — Vamos, aproveite!


— Oh, não! Eu realmente...


Antes que ela terminasse o protesto, Joe acrescentou:


— É melhor fazer isso logo ou o sorvete começará a der­reter e pingar chocolate em sua roupa. E desta vez eu não vou socorrê-la.


Demi não tinha escolha. Começou com suaves lambi­das, mas quando avistou um verdadeiro rio de chocolate derretido caminhar na direção de sua mão, esqueceu as boas maneiras e acelerou o trabalho com a língua. Ela ter­minou a primeira colherada enquanto Joe mal dera as primeiras lambidas no sorvete de baunilha. Logo a seguir a segunda colherada do sorvete de chocolate havia desapare­cido.


— Seu apetite não é nada mau quando você o libera — ele comentou com um sorriso debochado.


Apesar de estar se sentindo deslocada das maneiras re­quintadas que costumava ter, Demi sentia-se alegre e des­contraída.


— É melhor você acabar logo com esse, antes que eu o tome de volta — ela brincou.


— Se prosseguir com essa gula, minha jovem, não caberá dentro dessa roupa por muito tempo — ele avisou em tom jocoso.


Ela abriu a boca para protestar, mas decidiu apenas sorrir.


***


No caminho de volta para o rancho, Demi permanecia cala­da enquanto observava a paisagem do outro lado do vidro da janela.


Joe a espiou com o canto dos olhos e notou que ela havia estendido as pernas, mantendo-as cruzadas na altura dos tornozelos. As mãos repousadas sobre o colo e a cabeça apoiada contra o encosto do banco. Demi parecia aprovei­tar o ar-condicionado da cabine para relaxar. Ele curvou os lábios num sorriso discreto. O dia que passaram juntos tinha sido ótimo. Joe até se esquecera de como era desfrutar da companhia de uma mulher bonita. Demi possuía um sur­preendente senso de humor, apesar da fachada austera de quem está acostumada a padrões rígidos de comportamento. Talvez ele devesse convidá-la para jantar naquela noite, pen­sou Joe. Poderia aproveitar algumas peças da carne que havia estocado no freezer e colocá-las para grelhar na chur­rasqueira elétrica que a irmã lhe enviara como presente de aniversário no mês anterior e que ele ainda não havia experi­mentado. Nem por isso representaria um encontro ou coisa parecida. Não. Seriam apenas duas pessoas compartilhando da mesma refeição. Não havia nada de errado com isso, ain­da que ela fosse casada. Foi o que sua consciência lhe infor­mou.


Ele estacionou a caminhonete na frente da casa e pensou em uma maneira de como lhe fazer aquele convite sem lhe parecer inconveniente.


— Eu estava pensando se você...


Naquele instante, um carro se aproximou e parou atrás da caminhonete. Joe olhou pelo espelho retrovisor e viu que se tratava de uma Mercedes na cor prata e que parecia ter acabado de sair de um salão de exibição de automóveis. O homem que desceu do veículo também parecia fazer parte de um figurino de modas. Ele trajava um terno de finíssima qualidade, camisa de seda na cor branca e óculos escuros. A expressão que ele mantinha era de contrariedade.


Joe desceu da caminhonete e caminhou na direção do homem que provavelmente havia errado o caminho e se en­contrava perdido.


— Está precisando de informações? — Joe perguntou com cordialidade.


O homem retirou os óculos e com evidente irritação no olhar respondeu:


— Sim. Quem sabe você possa me informar onde eu pos­so encontrar minha esposa.

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     Oi amores,mais um capítulo pra vocês. Comentem...
      xoxo Nathi

6 comentários:

  1. Aii! meu deus, Você precisa posta logo!! Quero saber oque vai acontecer. Beijos

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  2. Como vc para justo agora? Continua logo pelo amor de Deus!!! Vc vai fazer alguma maratona?

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  3. o que vai acontecer??
    injusto parar logo ai
    posta mais!!!

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  4. To apaixonada com essa história, Demi conta logo para o Joe que voce está separada e gravida,e Joe pega a Demi é jeito logo rsrs.

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  5. Não posso esperar para o proximo capitulo. Estou amando a história!
    Sam, xoxo

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