7.4.15

Sonho Realizado - Capitulo 2

JÁ era quase noite quando Demi finalmente chegou à co­bertura em que morava em Nova York. Abriu a porta deva­gar e se sentia receosa pelo confronto que pretendia ter com o marido. Precisava dizer a ele o que restava para ser dito, mas, de maneira civilizada, isto é, da maneira como fora educada. Seus pais nunca foram adeptos de discussões in­flamadas. Ela descobriu o marido no escritório particular com um jornal aberto entre as mãos e acomodado em sua cadeira de couro predileta posta ao lado da lareira a gás que competia com o ar-condicionado. Pequenos problemas como as altas contas de energia não o preocupavam. Ele ti­nha dinheiro de sobra para desperdiçar. "Essa é a vantagem de ser rico", certa vez ele lhe respondera, quando Demi o criticara por deixar a torneira da pia do banheiro aberta por tempo desnecessário.
Estacada no vão da porta de entrada da sala que ele ocupava para o trabalho, Demi observava-o. Holden era um homem atraente, educado e até mesmo sofisticado. Ela jamais o vira trajando um jeans e nem conseguiria imagi­ná-lo lidando com ferramentas de trabalho manuais ou cheirando a suor e poeira. Ele considerava qualquer traba­lho físico incompatível com a sua posição privilegiada. A única calosidade que havia nas palmas das mãos dele era resultado do uso das raquetes na prática semanal de squash. E a musculatura definida de seu corpo provinha dos exer­cícios físicos programados com um instrutor particular na academia que ele mantinha na própria cobertura. Ela lim­pou a garganta com um ruído sonoro para chamar a aten­ção dele. Holden espiou por cima do Wall Street Journal e declarou:
— Como eu não sabia a que horas você voltaria, decidi jantar sozinho. Acho que Maria deve ter guardado algo no forno para você.
Demi sentiu uma súbita náusea só de pensar em comida.
— Eu não estou com fome — ela respondeu. E depois de um tempo perguntou intrigada: — Você nem mesmo está curioso em saber por onde eu andei?
— Imagino que tenha ido ao shopping para acalmar sua irritação. Quanto foi que gastou?
Será mesmo que ele havia pensado isso? Se fosse assim, Holden não a conhecia nem um pouco. De qualquer maneira, pelo bem do bebê, Demi decidiu fazer uma última tentativa de salvar seu casamento:
— Eu não estava irritada Holden. Estava horrorizada com a sua sugestão para que eu interrompesse a gravidez. Nós precisamos conversar.
Ele dobrou o jornal sobre o colo e a olhou furioso. Holden era do tipo que nunca deixava transparecer seus sentimentos, mas, naquele instante, a expressão que ele assumia a assustou.
— Eu achei que já tínhamos feito isso.
— Nós não discutimos coisa alguma — ela argumentou. — Você apenas lançou um ultimato.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Pelo que me lembro, você fez a mesma coisa.
Demi balançou a cabeça concordando com o que ele acabava de dizer. Realmente ela ameaçara abandoná-lo e pretendia cumprir o prometido se ele não mudasse de ideia. Ela jamais destruiria o milagre que se desenvolvia dentro dela.
— Eu pretendo me mudar para um lugar que descobri nes­ta tarde. Uma pequena cabana no interior.
Holden piscou por duas vezes. E esse foi o único sinal de que talvez as palavras dela o tivesse surpreendido. Então, com a voz fria como o gelo, declarou:
— Se precisar de ajuda para embalar suas coisas, Maria já foi embora, mas Niles ainda está aqui.
Demi não conseguiu suportar a própria indignação:
— Então é assim? Eu estou indo embora, nosso casamen­to... Nosso casamento está acabado, e isso é tudo o que você tem para me dizer?
— Se está esperando que eu vá cair de joelhos e implorar para que fique, eu acho que está assistindo novelas demais na tevê. Entretanto, se mudar de opinião quanto a esta situ­ação...
— Não se trata de uma situação e sim de um bebê, Holden. Nós vamos ter um bebê!
Você vai ter um bebê! Eu não quero saber de filhos! Você já sabia a minha opinião e concordou com isso quando a pedi em casamento.
— Acontece que eu pensava que não poderia ter filhos. Os médicos me asseguraram que...
Ele a interrompeu:
— O que importa é que você concordou com as minhas condições.
Demi ficou em silêncio por algum tempo. O relaciona­mento entre eles nunca fora do tipo "ardente". Nem mesmo no início, quando tudo era novidade e supostamente deveria haver um pouco mais de excitação. Será que o casamento deles tinha sido baseado apenas em interesses mútuos? Será que os sentimentos dela em relação ao marido eram apenas de gratidão por Holden tê-la aceitado apesar de saber sobre sua esterilidade?
Com o cenho franzido, ela perguntou:
— Você se casou comigo apenas por que eu não poderia ter filhos ou porque me amava?
Ele a estudou por um longo tempo e então respondeu:
— Por que você não faz esta pergunta para si mesma?
Foi o que Demi fez enquanto dobrava as roupas e as colocava na mala. E não gostou nem um pouco das respostas que surgiram em sua mente.

                              -------------------------------------------------------------------------
                     Obrigada meninas pelos comets. Essa fic é um amorzinho, vocês vão amar.
           Alguém aqui assiste The Vampire Diaries? Desliguei minha humanidade com a saída da Nina da série :(
                     Comentem para o próximo.
                     xoxo Nathi

4 comentários: