23.4.15

Nosso Amor - Capitulo 7

O coração de Demi disparou ao perceber que ele não queria que a lua de mel terminasse. Joe pretendia dar a ela uma verdadeira noite de núpcias. Várias delas, em sucessão. Demi mal conseguia respirar de ansiedade.

Joe ficou em silêncio enquanto se aproximavam de La Spezia. Demi achou muito charmoso o caminho da cidade, quase se abria pelas montanhas verdejantes em direção ao porto. Mas dessa vez, quando olhou para cima e viu as igrejas e as propriedades privadas coladas nas encostas, teve consciência de que uma das estruturas mais magníficas que já tinha visto só poderia ser o palazzo da família de Joe.

O complexo dos Valsecchi era um grupo de cinco prédios, cada um deles com sete andares, cercados por jardins imaculados. Tudo isso estava espalhado por uma enorme área. Joe parou no estacionamento VIP e a conduziu para dentro do primeiro prédio, com o brasão da família estampado nas porta principais.

Ele fez um gesto com a cabeça para o pessoal da segurança e a escoltou até o elevador privado.

Esse aqui vai nos levar até minha suíte, no sétimo andar.

Quando chegaram, Joe a acompanhou até a porta. Entraram em um escritório espaçoso, elegante e bem mobiliado, com uma vista incrível para o mar. Tapetes orientais cobriam o piso de madeira ornamentado. Assemelhava-se a uma sala de estar com quadros, mesa de centro, um conjunto maravilhoso de poltronas, cadeiras e uma biblioteca.

Joe deu a volta pela grande mesa de carvalho e cha­mou alguém pelo interfone. Na parede atrás dele havia um enorme quadro a óleo que dominava a sala. Dentro de sua moldura ornamentada em ouro estava a imagem, em tama­nho real, do duque de La Spezia, em sua elegância natural. Era um homem de provavelmente uns 50 anos, na época da pintura.

O que você acha? — Joe deslizou os braços ao re­dor dela por trás. — Vê a semelhança?

Talvez no tipo de corpo — ela se aventurou, levemente sem fôlego porque vinha desejando essa proximidade desde que deixaram o consultório da médica. Inconscientemente ou não, a mão dele deslizou por sua barriga e a acariciou, como se ele quisesse sentir o bebê crescendo dentro dela. A intimidade do momento a pegou com a guarda baixa e a fez tremer.

Joe afastou o cabelo de Demi e deu-lhe beijos ao longo de seu pescoço.

Estou contente por você não ter dito nada sobre a arrogância dele. Caso contrário, teria ficado despedaçado.

Bem, agora que você mencionou...

Joe a virou em sua direção tão rápido que a cabeça dela rodou. Seus olhos azuis arderam de desejo, antes que ele abaixasse a boca e a beijasse com uma fome quase primitiva. Isso era o que Demi vinha esperando. Combinou com as necessidades que cresciam dentro dela desde a lua de mel.

Ir para cama sozinha, noite após noite, naquela suíte de hotel, sabendo que Joe estava apenas a uma parede de distância tinha sido mais do que difícil. Mas ela queria que Dino aproveitasse aquele momento especial com o pai e não se sentisse ameaçado por ela.

Um calor voluptuoso invadiu-lhe o corpo. Demi não sabia onde um beijo terminava e outro começava. Estava tão envolvida que não percebeu que alguém tinha entrado, até ouvir o som de uma tossida discreta do outro lado da sala.

Joe lentamente renunciou à sua boca, com o olhar ainda fixo nela, disse:

Venha até aqui, papa, e conheça minha esposa. Demi Liapis Valsecchi, este é o meu pai, Guilio.

O momento não poderia ser pior. Demi se afastou de Joe e virou em direção à porta que levava até o elevador particular. Sua primeira visão do pai dele lhe deu uma ideia de como Joe pareceria quando chegasse aos 70.

Guilio Valsecchi era um homem bonito, com fios cinzas em seus cabelos pretos finos. O porte deles era basicamente o mesmo, mas a devastação da doença havia cobrado seu preço. Não tinha mais a vitalidade do filho.

O pai de Joe se aproximou. Seus olhos castanhos cortantes a examinaram. Como o filho, ele parecia ter visão de raio-x. Deve estar sofrendo fisicamente, mas nem a idade, nem o câncer haviam roubado sua aura de autoridade, inerente em seu filho.

Ele beijou-lhe a mão.

Estava ansioso para conhecer a mulher que fez esse milagre — disse em inglês.

Milagre? — Demi inquiriu suavemente.

Nunca pensei que chegaria o dia em que Joe muda­ria de ideia e seguisse meus passos. Ele olhou de relance para o quadro. Meu ancestral tinha um medo saudável do poder das mulheres. — Guilio olhou para Demi novamente. — Depois de conversar com Dino sobre você, posso entender o porquê. Ele acredita que o ama como se ele fosse seu filho.

Demi engoliu em seco.

É muito fácil amá-lo.

Guilio prendeu os lábios.

Minha nora está passando por um momento difícil.

Demi já sabia disso, mas estava surpresa que isso fosse a pri­meira coisa que dissesse a ela, mesmo conhecendo Joe por tão pouco tempo, não deveria ser pega desprevenida. Seu marido havia-lhe chocado com sua franqueza ao falar de todas as etapas do processo, desde o dia em que se conheceram.

Eu não a culpo. Existe uma linha tênue entre a mãe querer que todos amem seu filho e aceitar o fato de que existe uma outra mulher, de fora, cujo amor por aquela criança é mais pro­fundo do que o habitual.

Julgada por uma cintilação estranha, vinda das profundezas dos olhos do pai, Joe não sabia se ele havia gostado da resposta dela ou não.

O que você sabe sobre maternidade?

Essa pergunta assolou seu corpo, um corpo que já estava car­regando uma criança. Demi chegaria a conhecer este bebê? O teste seria bem sucedido ou perderia o neném precioso que es­tava crescendo dentro dela? O medo de tal perda quase a esma­gou, mas lutou para manter a compostura.

Só o que aprendi com o modelo maravilhoso de mãe que foi a minha.

Joe deslizou o braço ao redor de seus ombros e a puxou para perto dele.

Por que não pergunta a ela sobre negócios, papa? Ela cresceu com um pai ilustre que é um dos mais reverenciados homens de negócio de toda a Grécia. O chefe do jornal de maior prestígio de Atenas. Demi cresceu com isso, trabalhou em todo os departamentos.

Seu pai desviou o olhar de um para outro sem dizer nada.

Até dois meses atrás ela chefiava a cobiçada posição de editora de estilo de vida. Viajava por toda Europa oriental e ocidental. O fotógrafo que veio a Itália com ela me disse que Demi tem sido o braço direito do pai há anos.

Demi não sabia que os dois homens haviam compartilhado confidências sobre ela.

Rumores apontam que quando seu pai estiver pronto para se aposentar, ele vai nomeá-la para suceder-lhe o cargo, mas é tarde demais para isso.

Como assim? — seu pai finalmente falou.

Porque a tornei minha copresidente. Demi vai me ajudar dirigir as empresas Valsecchi. Fiquei solteiro por muito tempo e não quero ficar separado da minha nova esposa, agora que encontrei. Em vez disso, iremos trabalhar e viajar juntos.

Demi quase caiu em meio à cena. Ficou surpresa quando o pai dele pegou uma cadeira.

Trouxe Bruno da fábrica para ser nosso assistente. Este fim de semana ele vai providenciar uma mesa e equipamento para ela aqui.

A dra. Santi tinha alertado para que se cuidasse bem e evitasse aborrecimentos desnecessários, mas a notícia bombástica de Joe quase explodiu junto com ela.

Seu pai fez uma cara feia para Joe.

Você não vai dar nem uma migalha para Fabbio?

Eu tenho planos especiais que o vão desafiar e o manter ocupado. Desde que ele mostrou predileção e encantamento pela mulher da minha vida, achei que ficaria melhor instalado em outro prédio do complexo, separado de nós.

O comentário deve ter ativado um sentimento em seu pai, porque Guilio não discutiu com ele.

E em relação a Dino? — ele perguntou em italiano.

Quando ele estiver morando conosco, vamos estar em casa ou levá-lo em nossas viagens, claro.

Mas isso é absurdo. Sua esposa não poderá fazer nada enquanto não falar a nossa língua.

Seu marido a tinha colocado em evidência perante seu pai, e nesse momento ela não queria parecer totalmente ausente diante do pai de Joe.

Seu filho e neto têm me ensinado — ela interveio em um italiano aceitável. — Dino é um ótimo tutor.

Enquanto Guilio lançava-lhe outro olhar de incredulidade, Joe continuou falando.

Bruno está despachando memorandos para se certificar de que todos sejam convocados para a primeira reunião da diretoria, na segunda de manhã, às nove. É indispensável que a famí­lia conheça Demi para que possamos implantar as novas políticas. Gostaria que as coisas começassem girando em torno do nosso próximo trimestre fiscal.

A expressão de Guilio endureceu.

Os outros não vão apoiar isso.

Seu marido, um italiano nato, fez aquele gesto com as mãos novamente.

Então eles vão ter que procurar outro emprego, foi o que tive que fazer quando me renegou. Eles vão poder escolher e não estou preocupado com isso. Agora, se puder nos dar licença, Demi e eu ainda estamos desfrutando nossa lua de mel e temos outras coisas para ocupar nosso tempo. Ciao, papa.

Demi não teve escolha, senão seguir o rastro de Joe.

A presto signore. — Demi estendeu a mão que ele teve que apertar. Assim que seu marido a conduziu até o elevador particular, ela sentiu o olhar do pai de Joe penetrar em suas costas.

Na descida, Joe colocou sua mão embaixo dos cabelos dela. Massageou-lhe a nuca, onde haviam nós nos nervos de tanta tensão.

Pela sua cara, você não está acostumada a testemunhar um relacionamento como o que tenho com meu pai. Não deixe que isso a preocupe. Nós entendemos um ao outro.

A que ponto está a doença dele? — perguntou, enquanto Joe a ajudava a entrar no carro.

É difícil dizer.

Demi inclinou a cabeça.

Suas notícias o deixaram pasmo.

Não tanto quanto atordoaram você, sinto muito... — Joe ligou o carro e lançou-lhe um olhar assertivo. — Mas conheço e sei o quanto ama seu trabalho. Só porque estamos casados não quer dizer que tenha que parar de trabalhar. Vai ser divertido dirigirmos as empresas Valsecchi juntos.

Ele era louco, mas foi essa loucura que tocou a alma dela.

E se os outros se revoltarem, como disse seu pai?

Não irão. Depois do que a vida lhes proporcionou, não têm o tipo de chama na barriga necessária para quebrarem os laços e começarem por si próprios.

Outro medo a dominou.

Você conhece o velho adágio sobre a família, Joe.

Em nosso caso não vai gerar desprezo. Você precisa entender uma coisa. Quero você comigo o tempo todo.

No fundo de seu coração, Demi também queria isso. Assim que Joe lhe contou que iria assumir a presidência da Valsecchi, sentiu-se como se tivesse sido atirada num vazio. Pôde contemplar anos e anos de separação entre eles, causada pela prioridade dos negócios.

Depois, quando o bebê chegar, vamos lidar com algumas mudanças. — Joe esticou a mão e a colocou sobre a bar­riga dela. — Se a criança não for minha, espero que seja capaz negociar custódia compartilhada que coincida com o tempo em que Dino estiver na nossa casa. Ele precisa de um irmão, mes­mo se for em tempo parcial. Eles vão ser ambos jovens o sufi­ciente para criar vínculos.

Demi assentiu com a cabeça, entristecida por pensar no turbi­lhão que teriam à frente se o bebê fosse de Andréas.

Eu adoraria ter uma família maior. Quando meu pai me deu um irmão emprestado, Fabbio e eu éramos muito velhos para nos relacionar.

E seu casamento privou você de ser pai de Dino por tempo integral. A nuance dolorida no tom dele a assombrou. Esperar para saber se ele era o pai do bebê seria o teste mais duro de sua vida.

***

O crepúsculo caiu sobre o Golfo del Poeti. De acordo com Joe, esse era o lugar onde Byron e Shelley, os poetas britâni­cos, costumavam vir e, na verdade, moraram por um tempo. Demi conseguia entender por quê.

O vilarejo medieval de pescadores de Portovenere, de que eles acabaram de sair, parecia uma pequena jóia dessa parte da Ligúria. Ela havia comido um peixe de dar água na boca e a torta de pera com chocolate, coberta por uma calda quente de chocolate, que era a preferida de Joe. Quando Demi já não conseguia dar nem mais uma garfada, ele segurou-lhe a mão de forma possessiva e os dois andaram pela avenida, amontoada com casas fascinantes e multicoloridas.

Ao final eles subiram os degraus até a Igreja de San Pietro, localizada no cume de um rochedo. Ele a puxou contra seu pei­to e a embalou em seus braços. Com o queixo enterrado no ca­belo de Demi, Joe tinha, numa direção, uma vista esplên­dida de Cinque Terre e, na outra, uma exuberante visão da ilha verde de Palmaria.

Esse é o nosso destino, hoje à noite — ele sussurrou. — Vamos ancorar pela manhã em uma pequena baía, isolada das pessoas. — O corpo de Demi tremeu de desejo. Ela começou a adentrar pelo porto com Joe, ávida para estar a quilôme­tros de distância dos turistas.

Seu veleiro branco brilhante com uma listra fina preta tinha uma cozinha pequena e um quarto embaixo do deck. Ele mane­java o barco como se fosse parte de seu corpo. Por morar no mediterrâneo por toda vida, cresceu como peixe na água. Era estranho Dino ter tanto medo da água, uma vez que tinha seu pai como um professor maravilhoso.

Demi não era uma nadadora tão boa, mas Joe gostava de tudo relacionado à água. Assim, estava determinada a apren­der, especialmente depois que Joe disse ao pai que plane­javam tirar férias juntos.

O que Spadino significa? — O nome havia sido pintado ao lado do barco.

O sorriso branco de Joe a deslumbrou.

Olhe e aprenda. — Quando eles passaram pelas bóias usando o motor, a brisa da noite soprou. Joe desligou o motor e desenrolou a vela branca que tinha uma magnífica es­pada preta desenhada na lona. Foi tão inesperado que ela soltou um grito.

Você o nomeou por causa de um pirata ou por que corta a água como uma espada?

Ele sentou ao leme, guiando em direção a Palmaria.

Por nenhum dos dois motivos, mas poderia ter sido por ambas as razões, e todas fariam sentido. A verdade é que depois de que Dino nasceu eu comprei o barco e mandei fazer a vela em homenagem ao nome dele, cuja origem, em italiano, signi­fica "pequena espada". Esse é o significado de Spadino.

Oh, Joe, como você é louco por ele.

O sorriso dele foi sumindo.

Você nunca pensaria que Dino nem pisaria nele, não é? Viu como foi na Disneylândia, não consegue nem chegar perto da água.

Deve haver uma razão. — Demi andou até ele e colocou uma das mãos em seu ombro. — Alguma coisa fez com que criasse esse medo.

Joe segurou-lhe a mão e beijou-lhe os dedos.

Não sei o que é. Deve ser um medo proveniente de uma experiência que não quer contar a ninguém. Fico triste só de pensar nisso.

Joe não mostrava com frequência seu apego à família, mas quando se tratava de seu filho, Demi sabia que ele não con­seguia esconder. Ela virou, para encostar ao lado do barco, à medida em que se aproximavam de Palmaria.

Joe tinha contado a ela que aquela era a primeira das três ilhas. As outras duas tinham dois nomes charmosos: Tino e Tinetto. Ao ter uma vista mais completa da ilha, Demi viu algo incomum balançando pela encosta íngreme.

O que é aquilo?

Um escorregador onde antigamente eles baixavam o már­more preto com veios de ouro da pedreira até os barcos que ali esperavam, exatamente onde estamos agora. Nenhuma agitação atinge a superfície aqui. Vamos dormir como bebês hoje. Se quiser descer e se aprontar para ir para cama, irei depois que acabar de cuidar do barco e baixar a âncora.

Não quer ajuda?

Sinto-me esperando um filho com você. Não sai da minha cabeça, por nenhum instante, que está esperando um bebê. — Esta noite ele não disse nosso bebê. Joe também teria medo de que o filho fosse de Andreas? Mais 12 dias para fazer o teste.

Demi o deixou e desceu. Tinha esperança de que ele quisesse ajudá-la a se aprontar para ir para cama. À noite eles fariam amor, o que parecia ter ocorrido um século atrás. A tensão sen­sual criada naqueles dez dias tornou-se um frenesi de desejos. Sem fôlego, nenhum dos dois resistiu.

Mas tudo parecia diferente agora que estava grávida. Na noite anterior, Joe os havia levado para longe da costa, dizendo que logo se juntaria a ela, mas Demi teve que esperar tanto que acabou caindo no sono. Quando acordou Joe já estava de pé, vestido e com o café da manhã pronto, em cima do deck.

Joe a tratava como porcelana e, algumas vezes, com uma ternura que doía e poderia fazê-la chorar. Mas a chama elementar que antes queimava entre eles não parecia, da parte dele, estar mais lá. Se Joe esperasse que Demi fosse estar dormindo quando descesse, então ficaria surpreso.

A surpresa terminou sendo dela. Demi esperou uma hora por ele, porém Joe não apareceu. Magoada demais para expressar em palavras, colocou seu robe por cima da camisola e subiu descalça até o deck. Encontrou o marido com as costas arqueadas para frente em uma das banquetas, falando ao telefo­ne, em italiano.

A conversa durou um longo tempo. Não podia imaginar com quem falava aquela hora da noite, a menos que fossem más notícias sobre Dino ou seu pai. Nada mais poderia transformar aquela face linda em linhas sombrias que o faziam parecer mais velho. Demi sentou na mesma banqueta para esperar por ele.

No segundo em que Joe sentiu sua presença, abreviou a conversa e desligou. Por causa da escuridão, Demi não conseguiu perceber a emoção nos olhos dele, mas sentiu que não estava feliz pelo fato de ela já não estar dormindo.

Quem era, ou não devo perguntar?

Você pode perguntar qualquer coisa. Era Bruno, meus olhos e ouvidos. Nada importante. Está tudo bem.

Sem preâmbulos, ela disse:

Joe, depois de contar a seu pai que havia me escolhido para ser copresidente da companhia com você, eu presumi que, a partir de agora, compartilharíamos tudo: nosso trabalho, nossos pensamentos, sonhos, esperanças, medos, seu filho, o bebê que está por vir... e nossa cama. Por favor, não insulte minha inteligência dizendo que está tudo bem porque sei que não está.

Joe levantou e esfregou a parte de trás de seu pescoço, um sinal claro de que ele estava contemplando uma resposta e teria que escolher suas palavras cuidadosamente. Aquele pe­queno gesto a incitou e deixou-a pronta para pular. Posicio­nou-se diretamente em frente a Joe, sem tocá-lo.

A cabeça dela inclinou para trás, fazendo com que seu cabelo balançasse por cima de seus ombros.

Por que não vem aqui e diz isso? — ela suspirou.

Ouviu a respiração aguda do marido, antes que ele tocasse em seus ombros.

Do que está falando, Demi?

De você, de mim, de nós! Achei que tinha me trazido para velejar para que pudéssemos ter nossa lua de mel particular.

Como pôde ter alguma dúvida disso? — ele perguntou com aquela voz aveludada, certo de rendê-la à fraqueza provocada pelo desejo.

A chama fez com que suas bochechas corassem.

Você é bom em responder uma pergunta com outra, Joe. É uma de suas melhores técnicas quando quer evadir-se do assunto, mas não dessa vez!

Ele ergueu as mãos com as palmas de frente para Demi.

Eu juro que não sei o que tomou conta de você.

Eu não sou tola, Joe. — Ela ficou impressionada com a firmeza da própria voz. — Se está sofrendo aquele tipo de remorso do comprador por impulso que se arrepende, me diga. Pode ser consertado. — Ela apertou os lábios.

O que diz não faz sentido.

Seu casamento já atingiu o objetivo. Agora que tem o título, você está livre, Joe. Se acha que seu pai não vai ce­lebrar por me ver de volta, então você não tem os sentidos com os quais nasceu.

Dessa vez Joe segurou-lhe o braço e deu-lhe uma pe­quena sacudida.

Vá direto ao ponto — ele fundamentou a questão. Ela nunca o viu com um tom tão aborrecido.

Dino não é meu filho biológico, então não vai impactar a vida dele se tivermos um divórcio rápido. Ao contrário do que acredita, uma carreira como copresidente de sua companhia não é recompensa para o marido com o qual eu achei que estava casando.

Joe a apertou contra ele e a beijou profunda e demora­damente, o que a deixou sem ar.

Você sabe muito bem porque não a toquei ainda.

Através de camadas de dor, as palavras ressoaram em sua mente como um redemoinho. Demi levantou a cabeça, tendo que apoiar em Joe em busca de suporte.

Não tenho a menor ideia do que está falando.

Por causa da sua gravidez e do teste. A dra. Santi me disse que intimidade poderia machucar você ou o bebê nesse estágio inicial, principalmente pelo teste gerar tantos riscos para os dois. Ela disse que seria melhor se esperássemos até três dias depois do teste. Dessa forma, você estaria fora de perigo.

Demi ficou em silêncio por um instante. Suas feições ficaram pálidas na leve luz do luar. Não tinha nenhuma ideia de que seu marido havia sido tão previdente e, de repente, sentiu-se mal por ter reagido de forma tão egoísta.

Eu não fazia ideia, Joe.

Ele suspirou, pressionando sua testa contra a dela.

Achei que a médica tivesse conversado sobre isso com você também. Obviamente, ela não falou a mesma coisa para você.

Não — Demi murmurou. — Gostaria que tivesse. Tenho estado tão arrasada que não sabia o que fazer. Achei que fosse eu...

Demi — disse em um tom emotivo, — desde que levamos Dino de volta para Milão, precisei de toda força de vontade que dispunha para me manter longe de você. Se agisse da minha maneira, nunca teríamos saído do quarto.

O alívio por ouvir a verdade a deixou fisicamente fraca.

Então vamos descer e ficar abraçadinhos.

No suspiro seguinte Joe envolveu-lhe com os braços puxando-a contra si até que não houvesse mais ar entre eles. Demi sentiu a mão do marido deslizar em suas costas com uma necessidade crescente.

Estar te abraçando nesse instante não é o suficiente. — respiração de Joe estava forte. — Do jeito que me sinto em relação a você, não dá para mentir e apagar a chama que me arrebata. É impossível.

Quanto mais os corpos deles se fundiam um ao outro, mais Demi acreditava em como tinha feito um julgamento completamente equivocado de seu comportamento.

Você vai me perdoar pelas coisas que disse? — ela sussurrou contra seus lábios.

Estou feliz por você ter me açoitado. Ajudou a me manter são até que possa amá-la do jeito que realmente quero. Vá para cama, Demi, antes que eu perca meu juízo.

Com esse humor feroz ela não ligava se iria continuar perturbando. Sua aparição havia interrompido o telefonema com Bruno. Ele tinha algo em mente que ainda tinha que anunciar. Mas independente do que fosse, Joe ainda a queria. Por enquanto, Demi iria se agarrar àquele fato.

Onde vai dormir?

Aqui.

Estava uma noite linda, quente e com o perfume das flores que cresciam em abundância na ilha. Demi olhou, por acaso, para baixo, em direção à água parada e viu algo subindo para a superfície.

Joe? O que é aquilo? Deve ter quase dois metros de diâmetro!

O olhar dele se fixou no objeto circular.

É o mesmo tipo de haddock que me fez companhia a noi­te passada, também é conhecido como peixe lua.

Está morto?

Não, eles dormem na superfície.

Pobrezinho.

Joe riu.

Ele vai encontrar algum outro lugar em alguns minutos e dormirá novamente e nada mais, além de um humano irritante que vai perturbar-lhe os sonhos. Buonanotte, esposa mia.
***

No caminho para o apartamento na noite seguinte, Demi ouviu o telefone tocar. Foi a primeira ligação que recebeu em dois dias. Há menos de duas horas, Joe a tinha levado para jantar em um bistrô delicioso em Vernazza, a última parada deles pela costa, antes de voltarem para casa.

Enquanto ele estava colocando as coisas dela para dentro, Demi pegou a bolsa em busca do telefone.

Ciao, Deline. Come stai?

É assustador como já parece italiana.

Ela sorriu.

É porque meu marido é um professor maravilhoso — Demi explicou no momento em que Joe entrava na sala. — É Deline, — disse a ele, sabendo que estava curioso para saber.

Joe deu-lhe um beijo nos lábios e continuou carregan­do as bagagens.

Ligue para mim quando puder falar — Deline desligou.

O corte abrupto da conversa revirou o estômago de Demi.

Sua amiga nunca havia feito nada desse tipo antes. Vagamen­te alarmada, tentou imaginar o que poderia estar errado. Claro, poderiam ser muitas coisas. Deline poderia estar tendo proble­mas com Leon, ou talvez complicações com sua gravidez. Demi ainda tinha uma profunda sensação de que aquela ligação tivesse algo a ver com Andreas.

Foi rápido — Joe havia voltado para sala.

Ela de repente teve que desligar. Acho que foi uma leve emergência com os gêmeos. Vou ligar de volta em um minuto.

Nesse meio tempo, quer falar com Dino comigo? Vou ligar para ele.

Eu adoraria.

Ótimo. Gostaria de pegá-lo de helicóptero, mas ele nunca andou antes. Tenho que sentir como vai ser. Se tiver muito medo, então pegaremos o avião para Milão e o traremos da forma habitual.

Demi o seguiu até o sofá. Depois que ambos sentaram, Joe digitou os números. Em instantes, Mila atendeu. Com uma voz frágil, disse que o colocaria na linha, mas que não poderia falar por muito tempo. Um minuto depois eles ouviram voz de Dino.

Papa? Está em casa?

Joe o colocou no viva-voz.

Sim, acabamos de chegar de uma pequena viagem de veleiro.

Demi está com você?

Sim, ela quer dizer olá.

Demi vinha praticando seu italiano, esperando surpreendê-lo.

Ciao, amica. Come va? Mi sei mancato molto!

Ei! Você aprendeu muito! — ele respondeu em italiano — Tenho saudades de você e de papa, também. Vai vir para me buscar na quarta-feira à tarde?

Si — Joe respondeu. — O que acha de voar no helicóptero da companhia?

Mas não tem lugar para pousar!

Joe caiu na risada antes de traduzir para ela. Dino era adorável.

Vamos pousar no telhado do meu escritório.

Demi está com medo?

Ela achou que entendeu.

Não! — respondeu em voz alta.

Depois daquela observação Joe conversou com o filho um pouco mais e finalizou a chamada. Ele a puxou para seu colo.

Disse que vai porque você não está com medo. — A face de Joe tomou um ar sóbrio. — Como vivi todo esse tempo sem você?

O coração de Demi virou pelo avesso.

Joe... — ela tomou a iniciativa e beijou a boca sel­vagem da qual ainda não tinha provado o suficiente.

Demi não teve a intenção de seduzi-lo. Queria manter seu bebê e estava convencida de que precisavam esperar até depois do teste para fazerem amor. Mas não contava com a intensidade da resposta apaixonada do marido ou de sua suscetibilidade para a voracidade que fez com que cada beijo se tomasse mais e mais profundo.

De alguma forma, eles terminaram no chão com metade dela deitada por cima dele. Isso não era bom. Mas estava tão sensacional e era tão certo, que não pôde frear o que estava acontecendo.

Demi — ele disse com uma voz rouca.Você é tão linda que isso dói. Quero beijar cada parte sua, mas se começarmos, não seremos capazes de parar. Não pode­mos fazer isso.

Joe a rolou cuidadosamente para o chão e levantou-se. Seus olhos queimavam de desejo ao olhar para baixo, em direção a ela.

Vou esfriar um pouco, não demoro. — Em segundos, ele desapareceu.

Com o corpo ainda tremendo, Demi se levantou. Seu cabelo estava completamente desarrumado. E Joe parecia não conseguir tirar as mãos dele. Ao que parecia, poderia brincar com suas madeixas para sempre.

Quando ela viu seu celular no braço do sofá, o pegou. A saída de Joe deu-lhe a oportunidade que precisava para conversar com Deline em particular. Demi digitou os números e foi para o terraço onde o calor do dia fazia com que o ar soprasse pesado, espalhando cheiro de rosa e jasmim.

Demi notou uma ardência que trouxe calor às palmas de suas mãos. Seu pulso palpitava pela ânsia provocada pelo toque Joe. Aquela primeira vez, dois meses atrás, não havia sido suficiente. Ela sabia que nunca seria suficiente.

Há algumas semanas, Joe admitiu que estava louco por ela, mas o que sentia pelo marido era muito mais do que isso.

Demi era uma mulher apaixonada pela primeira vez na vida Seu sentimento por Joe não se comparava com qualquer emoção do passado. Ela adorava tudo sobre o homem com o qual tinha se casado. Se pelo menos tivesse certeza de que bebê que esperava fosse dele...

Demi? Está aí? Pode me ouvir?

Assustada ao ouvir a voz Deline, ela limpou a garganta.

Sim, finalmente tive a chance de retornar sua ligação. Você pareceu tensa antes de desligar.

Assumo que não tenha visto os jornais há um tempo.

Ela afundou na cadeira.

Continue.

Acho que seu pai publicou um artigo no jornal em revanche contra Andreas.

Como assim?

Vou ler para você. As manchetes dizem: “A única filha do proeminente magnata do jornal de Atenas se casa com o mem­bro da realeza e presidente executivo em Riomaggiore, Itália. Depois de um namoro tempestuoso, Demi Spiros Liapis, que segundo rumores se tornaria a esposa do executivo Andreas Simonides, casou com Joe Jonas Valsecchi, Duque de La Spezia, em uma cerimônia particular na igreja.”

Demi tirou o cabelo do rosto.

Quando falei com meus pais, eu não sabia que Joe tinha um título de nobreza. Como descobriram?

Seu pai não é o magnata do jornal à toa.

Não. — Ele também deve ter empurrado uma pedra de cima da montanha. Uma vez que pegou o impulso, não deu para evitar que se partisse no caminho e atingisse o chão. — Leon viu a notícia?

Foi ele quem me mostrou. Achei que fosse melhor te ligar.

Ele está desconfiado?

Incrédulo é o mais apropriado. Disse a ele que sabia que conheceu um homem quando esteve aí a negócios pelo jornal e que, quando voltou, tudo aconteceu muito rápido.

Demi olhou para o infinito.

Quando Andreas voltar da lua de mel, provavelmente vai ser a primeira coisa que Leon irá lhe contar, mas, sinceramente, estou muito mais preocupada com os sentimentos de Joe. Amo este homem tão intensamente, Deline.

Eu sei. É por isso que odeio dar-lhe a notícia de que An­dreas e Gabi já estão de volta. Chegaram esta noite, Leon foi buscá-los no aeroporto. Eu teria ido, mas Nikos estava gripado. Em algum momento, seu casamento vai ser o alvo da conversa.

Certamente.

Fico feliz por você estar fazendo esse teste. Se Andrea somar dois mais dois vai ligar para você, esteja preparada. Contou a seus pais sobre a gravidez?

Ainda não. Joe e eu decidimos que depois que fizer o teste, iremos a Atenas com Dino e diremos a eles pessoalmente. Eles sempre quiseram ser avós, Deline. Obrigada pela força.

Claro. Vamos ficar em contato.

Sim. — Demi desligou e foi até o parapeito da varanda.

Foi onde Joe a encontrou, alguns minutos depois. Ela virou na direção do marido.

Estou feliz de ter voltado — ela sussurrou de forma emotiva.

Joe a analisou com um ar de interrogação nos olhos.

O que Deline disse que a deixou com esse olhar de angús­tia no rosto?

Demi contou-lhe tudo.

Não contava que meu pai fosse tão inadvertidamente rá­pido com os informes.

Joe ficou ali de pé com as mãos no bolso e uma expres­são solene.

Ele ama sua garotinha e não gosta de vê-la magoada. Eu aprecio a reação dele e a motivação por trás da atitude. Foi a coisa mais natural do mundo para ele anunciar nosso casamen­to. Seu pai é um homem orgulhoso.

Mas não tem ideia de como a existência desse título por si só te causou dor na vida. Agora ele proferiu em altos brados para todos.

Não precisa se preocupar comigo.

Mas eu me preocupo! Sei o quanto precisa de sua privaci­dade. Desculpe-me. — Revestida pela dor, ela correu pela casa até o quarto de Dino. Enterrou a cabeça na cama, agarrando o travesseiro como se fosse uma forma de preservar a vida.

Logo, ela sentiu que tinha companhia na cama. Joe se inclinou junto a ela.

Esqueça tudo, Demi. Relaxe. — Acariciou-lhe as costas. — As únicas coisas que importam agora são você e o bebê. Vamos fazer o teste e você vai dar à luz uma criança forte e saudável. Não quero que se preocupe com mais nada.

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             Hey amoras, desculpa a demora pra postar tinha ficado sem net :( Mas aqui estou para mais um capítulo pra ocês. Vamos melhorar nos coments hein, 100 visualizações e só 3 coments? Assim cês deixam meu coraçãozinho triste. Se tiver 5 comentários nesse, posto outro cap ainda hj.
PS: A história já está na reta final, mas alguns cap e acaba.
               xoxo Nathi

8 comentários:

  1. Mais ja vai acabar =(
    Estou adorando a Historia. Poste mais logo! Beijos

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  2. Não tenho tido tempo nenhum para voltar a ler as vossas histórias maravilhosas, mas agora que consegui ler tudo, mal posso esperar pelo próximo capítulo :)

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  3. eu to lendo mais nao to comentando por falta de tempo e net
    mais eu to amando a fic
    posta mais

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  4. Apenas amando essa fic, ela é perfeita, não ando com muito tempo para comentar, posta +! Bjs

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  5. Gente esse joe tinha que ser fabricado para todas as mulheres,merecemos homens iguais ele

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  6. Não creio que ela ja vai acabar :( ela ta ficando tão linda, posta logo xara bjus

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