21.4.15

Nosso Amor - Capitulo 6

Joe entrou no jato e disse ao capitão que eles poderiam levantar voo agora. Ele encontrou Demi em uma das poltronas, de olhos fechados. Mesmo depois do longo voo, ela ainda ti­nha uma aparência renovada em seu terninho de linho amarelo de duas peças. Ela se vestia maravilhosamente bem, exibia um brilho, depois de estar sob o sol da Califórnia, mas parte disso poderia ser atribuída ao fato de estar grávida.

Joe teve duas semanas para pensar na possibilidade do bebê não ser seu. Ainda achava difícil aceitar e sabia que iria achar duro deixar o bebê ir para seu pai biológico, espe­cialmente depois de ter sido forçado a passar pela mesma ex­periência com Dino, por todos esses anos. Mas, nesta altura, ele estava muito mais preocupado com a saúde de Demi e da criança.

Em todas as vezes que permitiu a si mesmo acreditar que o bebê era dele, a alegria que o preencheu foi intensa demais. Soltou uma respiração forte. Em duas semanas, a partir de ago­ra, saberiam a verdade e teriam que lidar com ela. Embora Demi fingisse que tudo estava bem perante Dino, Joe sentia que a ansiedade dela crescia de maneira mais aguda.

Incapaz de se conter, andou até ela e beijou seu pescoço exposto, uma de suas muitas partes deliciosas.

Joe! — Os olhos dela se abriram com surpresa.

Já vamos decolar. Deixa eu te ajudar. — Ele apertou cinto para ela, sentou-se na poltrona em frente e prendeu seu aparato de segurança.

Como foi? Dino ficou feliz de voltar para casa?

Tenho certeza de que ficou contente em ver a mãe, mas Leo estava lá e as coisas pareceram menos naturais para ele.

Depois dessas semanas que passamos juntos, sei que vai ser difícil para vocês dois ficarem separados. Graças a Deus que você só tem que esperar até quarta.

Ele deu-lhe outro beijo prolongado, amando Demi por amar seu filho, por ser compreensiva.

Já haviam rolado para fora da pista e agora estavam no ar. Joe esperou até que atingissem a velocidade esperada e desatou o cinto.

Quer que eu pegue alguma coisa para você da cozinha?

Não, obrigada. Tomei um refrigerante enquanto esperava por você.

Ele foi em busca de uma xícara de café. Quando voltou, notou Demi preocupada e com um olhar interrogativo em sua direção.

Como Mila tratou você?

Agora que o jogo virou, estava atipicamente quieta.

Demi balançou a cabeça.

Certamente, ela sabe que eu nunca poderia substituí-la aos olhos de Dino. É mãe dele! Se eu puder ser amiga dele, é tudo que sempre serei.

Está envolvida além disso, Demi.

O que quer dizer?

Sendo Dino nosso único filho, Mila nunca se preocupou com o fato de ele não herdar o título do meu pai, um dia.

Você disse que estava extinto — ela o lembrou.

Está, mas ainda existe uma importância simbólica para a família. Pude ver isso em seus olhos, hoje à noite. Está quase apoplética com a possibilidade de que eu e você tenhamos um filho no futuro. Isso vai significar que Dino não será o único na linha de sucessão para o título e o dinheiro.

Demi soltou um som histérico que variou entre um choro e uma risada, depois olhou para Joe fixamente.

É uma grande fortuna?

Ele apertou os lábios.

Sim.

O que a família Valsecchi faz?

Muitas coisas: investimentos bancários, navegação, ex­portação e manufatura pelo ocidente e oriente da Europa. Agora que meu avô faleceu, meu pai, Giulio, é o presidente e o mem­bro mais velho da família.

É uma família grande?

Média. O quadro consiste dos dois irmãos de meu pai, meu tio Carlo e tio Tullio. Subordinado a eles estão os cinco filhos, o irmão da minha ex-esposa e meu irmão-emprestado, que você já conheceu. Cada um deles está na posição de vice-presidente de vários departamentos dentro do negócio.

E onde você se encaixa? — ela perguntou suavemente.

É uma longa história. Eu tinha 26 anos quando minha mãe morreu. Você já sabe como ela se sentia sobre meu casamento com Mila, então fiquei noivo, mas não marquei a data, porque precisava de mais tempo. Exceto se uma guerra o impedisse eu não entenderia adiar um casamento quando se tem completa certeza daquilo.

Joe colocou a caneca de café vazia na mesa lateral.

Dentro de seis meses, meu pai casou novamente com uma viúva aristocrata de Genoa. Ela tinha um filho, Fabbio, que estava com 27 anos e era solteiro. Ele se apaixonou por Mila. Se a ambição dela não fosse tão grande, provavelmente teria sido feliz com ele.

Meu pai viu o que estava acontecendo. Naquela época, ele anunciou que tinha tido um diagnóstico de câncer. Eu achei que pudesse estar inventando para me manipular. Sinto muito em dizer que funcionou. Eu cedi à pressão e me casei com Mila. Depois que ela engravidou, meu pai acabou no hospital com câncer de próstata. Naquela altura me senti culpado por ter duvidado dele.

Ele achou que fosse morrer e me indicou para a presidência das empresas. Até aquele momento, havia trabalhado como seu assistente. Ele então transferiu o título para mim. Naturalmente esse ato enfureceu o resto da família e os processos judiciais começaram a florescer. Era irmão contra irmão, primo contra primo.

Para neutralizar o turbilhão, recusei o título. Isso não apenas aborreceu meu pai, mas enfureceu Mila e a família dela. Trataram-me como um pária. Quando meu pai se recuperou, já não estava mais falando comigo.”

Demi fez outro som com a garganta.

Que horrível para você!

Com nosso bebê a caminho, não vou fingir que não foi um período infernal. Estive fora, a negócios, por muito tempo. Quando Dino nasceu, estávamos em guerra. Como disse anteriormente, Mila não me deixou me envolver com meu filho, então me divorciei dela. Já sabe o resto. A parte cruel começou com o termo de visitação que claramente restringiu todos os meus direitos.

Demi olhava, atordoada.

Onde estava morando até então?

Em um dos menores palazzos da família com vista para o mar, em La Spezia. Depois do divórcio, Mila continuou a morar lá.

E seu pai?

No palazzo original ducal com sua segunda esposa, onde eu fui criado. É o lugar mais alto, nas montanhas.

Achei que Mila tivesse voltado para Florença.

Ela passou um tempo nos dois lugares, mas quando era a vez da minha visita, dava um jeito de estar em Florença. Qual­quer coisa para criar dificuldades para mim. Nesses dias, ela dividia seu tempo entre Florença, La Spezia e Milão. Mais uma vez, na minha vez de estar com meu filho, tenho que viajar, mas naturalmente não me importo.

Como veio morar em Riomaggiore?

A companhia dos Valsecchi possui centenas de casas e apartamentos em Cinque Terre, que estão alugados. Decidi pe­gar aquele em que estou, porque é perto da fábrica em La Spezia, onde trabalho. A Jonas foi parte do dote da minha mãe quando se casou com meu pai.

A luz de apertar os cintos piscou. Estavam chegando a Genoa.

Você está certo — Demi murmurou, apertando os dela. — Sua vida familiar tem sido muito mais complicada do que qualquer coisa que tenha acontecido comigo. — Ela tirou o ca­belo do rosto. — Joe? Por que se casar comigo permitiu que ganhasse custódia física compartilhada?

Ele sabia que aquela pergunta viria. E esperava que pudesse adiar a resposta por mais algum tempo.

Vou te contar quando estivermos no carro. Pelo visto, o atraso do voo derrubou você. Seus lindos olhos já estão dando aquela pequena tremulada. — O comentário dele fez com que suas bochechas corassem.

Mas Joe sabia que sua esposa, que ainda teria que dormir em sua cama, merecia saber o que estava acontecendo. O casamento deles pode ter sido por conveniência, mas ansiava em torná-lo real. A verdade era que ele não ousou fazer amor com ela até que esclarecessem tudo com sua médica, no dia seguinte. Se ter intimidade pudesse colocar a vida do bebê em algum tipo de perigo devido à ameaça do teste, ele esperaria o tempo que fosse preciso. Depois de tudo, ele conseguiu o prêmio que queria.

Eram dez e meia da noite quando pediu a limusine para levá-los até o carro de Joe. Uma vez que acomodaram a bagagem e rumaram para Riomaggiore, Demi já tinha caído no sono, encostada na porta. Quando chegaram ao apartamento, em vez de ser Dino que colocou na cama, foi sua esposa exausta quem carregou até o quarto de seu filho.

Ele tirou-lhe os sapatos e colocou uma colcha sobre Demi, aliviado pela conversa ter sido adiada até o dia seguinte. Satisfeita, ela não acordaria, Joe voltou até o carro para pegar a bagagem e guardou o máximo que pôde.

Depois de desligar as luzes e trancar tudo, foi para seu quarto e fechou a porta. Infelizmente não podia adiar um certo telefonema que prometeu fazer assim que retornasse da lua de mel. Era parte da barganha que tinha feito com seu pai. Com um senso de inevitabilidade, ele pegou o celular no bolso e ligou para ele.

Então, Joe, está em casa?

Si, papa.

Com está meu pequeno Dino?

Depois de todas as novas aventuras, está irradiante. — Ele e Dino deveriam ter tido muito mais disso durante esses anos. Joe lutou para sufocar sua raiva.

Traga sua esposa ao palazzo amanhã. Silviana e eu já te­mos tudo pronto para que possam se mudar para cá. — Os mús­culos se comprimiram ao redor do peito de Joe, tornando a respiração difícil.

Amanhã vou levá-la ao escritório. Eu preferia que seu pri­meiro encontro com ela fosse no lugar onde estarei trabalhando. Quero mostrar-lhe o local, apresentá-la a todos. Dê-nos duas semanas aqui no apartamento, então faremos a mudança. Desde que nos casamos, não tive nenhum tempo a sós com ela, papa.

Você está tão obcecado assim?

Seu pai não fazia a menor ideia.

Eu soube que ela era minha alma gêmea no momento em que apareceu no meu escritório e sorriu. — Parecia melhor da­quele ponto de vista. Tão melhor que, ao fim da viagem de negó­cios dela, à Itália, fizeram amor com tal paixão que o fato ainda rouba-lhe a respiração. Por aquelas horas mágicas ele sabia, no fundo de sua alma, que ela não estava pensando no Simonides.

Acho que não estou surpreso. Eu ouvi por acaso o Fabbio dizendo ao Tullio que ela era a mulher mais enlouquecedoramente maravilhosa que ele já havia visto. Era exatamente isso que descrevia sua mãe, na primeira vez que a encontrei. O que o Dino acha dela?

Joe limpou a garganta.

Muita coisa, mas acho que terá que perguntar a ele, se quiser informações específicas.

É o que pretendo fazer. A sua nova esposa quer ter filhos?

Se um ritmo cardíaco pudesse quadruplicar, seria o de Joe. A resposta seguinte o atingiria provavelmente como um raio.

Para ser sincero, estivemos muito ocupados com Dino, existem muitas coisas que ainda precisamos explorar. É por isso que apreciaríamos mais duas semanas sem ninguém por perto.

Então, aproveite-as enquanto pode, porque vai estar muito ocupado depois disso. Eu não preciso lhe dizer o quanto es­tou aliviado por você estar assumindo, Joe. Como descobriu quando olhou nos livros, tivemos uma queda nos lucros nos últimos anos e nós dois sabemos o porquê.

Eu concordo que os números não pareçam bons.

Seus primos simplesmente não têm o tino para negócios que você sempre teve. Foi providencial você ter voltado à razão como fez. Estou cansado de ter que manter tudo coeso.

Joe tinha voltado à razão pela felicidade de seu filho e por nenhum outro motivo. Seu pai não gostaria de todas as mudanças que ele planejava fazer, porém, tendo mais duas semanas com Demi, ele não iria entrar numa discussão detalhada naquela noite.

Ele já estava pensando no dia de amanhã. A consulta com a médica da Demi, que tinham agendado para o meio da manhã. Depois que terminassem por lá, ele a levaria para almoçar no Spoleto, um de seus lugares favoritos.

Estaremos em seu escritório por volta de uma. Ciao, papa.

Ciao, figlio mio.

Seu pai não o chamava de meu filho há sete anos. Por todo esse tempo, ele tinha feito de Joe o refém de um título! A raiva penetrou em seu coração. Ele jurou que nunca permitiria que nada parecido com isso acontecesse com Dino.

***
Frustrada mais uma vez por ter adormecido na frente de Joe, Demi acordou logo após o marido tê-la carregado para dentro do apartamento. Ela havia pensado que a tinha levado para seu quarto naquela noite. Não eram íntimos há mais de dois meses. Agora que estavam casados e sozinhos, Demi não conseguia entender isso.

Ansiosa para perguntar o que havia de errado, ela atravessou o corredor, mas a porta do quarto dele estava fechada. Demi ti­nha ouvido Joe conversar com alguém, mas não tinha ideia de quem era ou o que estavam dizendo.

Sentindo-se limitada, tanto emocional quanto fisicamente, tomou um banho e se aprontou para ir para cama. Seu coração disparou assim que saiu do banheiro, achando que Joe pu­desse estar lá esperando por ela. Mas o apartamento estava es­curo e quieto. A cama de Dino permanecia vazia.

Uma dor infiltrou-se em seu coração. Quando ela conheceu Joe, tudo tinha acontecido tão naturalmente que não pen­sou em que pé colocar na frente de qual. Agora, ali, ela era a esposa dele e não ousava entrar no quarto do marido na ponta dos pés e subir em sua cama.

Ninguém mais poderia ser tão apaixonado e atencioso do que ele, na Califórnia. Lá houve muita ternura, mas estavam em casa agora. Ela precisava de uma nova garantia de que Joe ainda a queria da mesma forma que antes.

Depois que entrou debaixo das cobertas, lembrou de algo que Deline disse muitas vezes, anteriormente. Já perguntou a si mesma por que ele está disposto a apressar o casamento de vocês?

A resposta de Demi veio imediatamente. Joe precisava de uma esposa para mudar as regras de visitação. Lá no fundo, ela acreditou que a atração que tinham um pelo o outro predizia algo mais significativo. Ele disse que tinha realizado o desejo de seu coração.

Mas se estivesse errada e o desejo dele por ela estivesse desapa­recendo, era tarde demais para fazer qualquer coisa a respeito agora, porque estavam casados. Dino era seu enteado e confia­va nela. Tinha um bebê a caminho. Embora a paternidade da criança fosse ainda uma dúvida, Joe havia dito que queria ajudá-la a criá-lo.

Os pais dela sabiam que estavam casados. Enquanto estavam na Califórnia, Joe conversou com eles no telefone e achou uma forma de encantá-los com seu jeito inimitável. Amanhã, Demi faria seu primeiro exame médico com a dra. Santi. Sabia que não haveria mais volta. Essa era sua vida, aquela que tinha construído para si própria. Não havia retorno.

Pela manhã, Demi se arrumou com calma. Queria parecer o mais bonita possível para seu marido. Deixou o cabelo solto da maneira que ele disse que gostava. Depois de algumas tentati­vas, escolheu usar uma camisa rosa clara com um tom de rosa choque tricotado na parte de cima, tinha mangas e era cavada no pescoço. Combinavam com seu bronzeado e o novo batom e Demi esperava extrair um segundo ou até um terceiro olhar de Joe.

Ele não a desapontou. Ela havia acabado de terminar o suco quando Joe chegou na cozinha e deslizou os braços ao seu redor.

Você parece bem demais para comer. — Demi virou, ante­cipando um beijo penetrante, mas só durou um instante.

O seu gosto é algo de outro mundo. Se eu me esfregasse um pouco mais, não conseguiríamos sair pela porta em direção ao médico.

Outra expectativa se desfez, mas ela escondeu sua decepção e pegou a bolsa. Ao segui-lo até o carro, ela agradou seus olhos com o físico bem delineado do marido. Hoje ele estava vestido com uma calça de cor suave e uma camisa esporte com um azul brilhante que combinava com os olhos dele, e calçava sapatos de couro italianos feitos à mão. Seu sorriso impetuoso deu vida a seus sentidos.

Assim que Joe a conduziu ao departamento ambulatorial, meia hora depois, seu carisma masculino potente atraía o olhar de cada mulher da sala de espera. Tinha sido da mesma forma na Califórnia. Ele tinha admiradoras em todos os lugares a que eles iam, mesmo assim Joe parecia abstrair toda essa atenção.

Demi admitia que Joe era mais atraente do que qualquer astro de cinema ou celebridade. Assustava-lhe o fato de ela es­tar com ele e poder chamar esse homem de seu marido. Demi não acreditava que estava se sentindo e agindo como uma ado­lescente, quando, na realidade, estava grávida e era uma mulher de 27 anos.

Spiros?

Demi estava tão imersa em seus pensamentos que não perce­beu seu nome ser chamado até que Joe se levantasse.

É você, esposa mia.

Ela se levantou e os dois andaram até um consultório parti­cular de exames. Depois de sentarem, a dra. Santi entrou. Ela cumprimentou Demi com a cabeça.

Você está com uma ótima aparência, signorina.

Na verdade, é signora Valsecchi agora — Joe a cor­rigiu. — Nos casamos duas semanas atrás e acabamos de voltar da lua de mel.

Ah... Isso explica o bronzeado dos dois. Parabéns!

Obrigado — ele respondeu por ambos.

Então, signora, decidiu se quer mesmo fazer o teste em duas semanas? Caso queira, vamos agendá-lo agora.

Eu tomei minha decisão na última vez que estive aqui. Isso não mudou.

A médica desviou o olhar para Joe.

Você está de acordo, também? Nenhum segundo pensa­mento?

É a decisão da minha esposa.

Joe havia dito as palavras, mas, por alguma razão, não parecia que ele as sustentasse. Perplexa, Demi virou a cabeça para olhá-lo.

Achei que este assunto estivesse resolvido para você.

Ele colocou a mão sobre a dela e apertou.

Está, porque é o que quer.

Mas você ainda tem reservas?

A médica se levantou.

Vou deixá-los sozinhos por um minuto para discutirem a questão.

Depois que ela saiu, Joe ajeitou suavemente um peda­ço de seu cabelo sedoso atrás da orelha.

Eu disse a você antes, não estou preocupado com que perca o bebê, mas sei que você está.

Por que diz isso?

Porque teve pesadelos em nossa viagem... Quatro vezes e outro, na noite passada. Alguma coisa está perturbando você.

Demi apertou os olhos em choque e cobriu a boca com a mão, surpresa e constrangida pela perspicácia de Joe.

Como sabia que era isso que estava me incomodando?

Você balbuciou a palavra bebê em todas as vezes. Isso mostra o quanto está pensando sobre essa criança que carrega. Sinto muito, mas é a única que pode determinar se vai conseguir viver consigo mesma se o teste causar-lhe um aborto. Parece que você vai ter que pesar a possibilidade de sofrer essa culpa ou conviver com a ansiedade de esperar mais sete meses para saber a paternidade do bebê que vai nascer.

Todas elas são escolhas horríveis.

Ele a puxou contra seu peito, afagando com a mão a parte de trás de sua cabeça.

Demi, não importa o que aconteça — ele murmurou em seus ouvidos, dando-lhe um beijo, — estou aqui para apoiá-la.

Eu sei disso. Sou a mulher mais sortuda do planeta.

Ela o abraçou uma vez mais, então se afastou dele e umedeceu sua linda camisa.

Encontre a dra. Santi e diga a ela que vou seguir adiante com o teste.

Já volto.

Joe mal saiu do consultório e já viu a médica andando em direção a ele.

Minha esposa decidiu que quer agendar o teste.

Acho que é uma decisão inteligente, se considerarmos seu estado emocional. Sinto que a espera será mais difícil para ela. Queremos que ela tenha uma gravidez mais normal possível.

Ele assentiu com a cabeça.

Antes de ir até ela, gostaria de conversar um assunto com você. Desde nosso casamento há duas semanas, tenho estado com medo de fazer amor com ela. Sabendo que existe um risco, mesmo que mínimo, para o bebê por causa do teste, eu hesitei em fazer qualquer coisa que aumentasse as chances.

Ela deu-lhe um sorriso sincero.

Você me poupou de dizer-lhe para adiar a intimidade de vocês. Mais três semanas e sem problemas podem começar a aproveitar esse lado do casamento.

Enquanto a estiver examinando, fique no centro ambulatorial e peça a eles que o direcionem para o laboratório. Vou auto­rizá-los a fazer uma raspagem da sua bochecha. Quando o teste for feito e os resultados estiverem prontos, saberá se bate com seu DNA. Assim que sua mulher acabar estará esperando por você na recepção.”

Grazie.

Ele seguiu a doutora e não teve que esperar muito pelo teste. Quando Demi se juntou a ele no saguão, Joe estava no te­lefone falando de negócios com Bruno, o segundo em comando na fábrica. Depois de rodar por ali, ele a conduziu até o carro.

Antes de ajudá-la a entrar a puxou para perto dele, olhando para a gaze que estava no braço dela

Você está bem?

Estou.

Está com fome?

Morrendo de fome — disse com um certo entusiasmo, mas significava que estava fazendo um esforço, mesmo estando nervosa pelo teste. Não havia ninguém no mundo como ela.

Bene. Estou nos levando para um ristorante que vai ado­rar. — Ele beijou os lábios que achava irresistíveis. Mais três semanas... Joe não sabia como iria conseguir, mas preci­sava, para a felicidade de todos.

Cinco minutos depois, chegaram ao Spoleto. O maître os conduziu até o terrazza que tinha vista para o Mediterrâneo.

Sua mesa de sempre está esperando, signore Valsecchi. Devo trazer a carta de vinhos?

Hoje não, Giovanni. Gostaríamos de ice tea e linguini para dois.

Quando ele assentiu e saiu, Demi se inclinou.

Que prato é esse?

Linguini é o molho da casa.

Parece delicioso — ela disse as palavras certas, mas tinha algo a mais, em mente. — Antes de o garçom voltar, estou es­perando ouvir a resposta da pergunta que fiz na noite passada. Não existe linhagem real nos meus antepassados, então, como seu pai ainda pode estar disposto de se livrar das antigas regras de visitação?

Dei a ele o que quer. Antes de sairmos em lua de mel, eu concordei em recuperar o título e ser o copresidente da compa­nhia.

Depois de um longo período de silêncio ela disse:

Se não tiver cuidado vai ficar igual a meu pai. Depois que teve que assumir o jornal de meus avós, eu mal o via.

A reação de Demi foi mais do que satisfatória. Disse a ele que o tempo de ambos juntos era precioso para ela também. Joe a olhou através de cílios velados.

Mas não vou permitir que isso aconteça conosco, porque não sou como todos os outros.

As sobrancelhas escuras de Demi, perfeitamente delineadas, se juntaram.

É verdade, mas pai e filho dirigindo um conglomerado como o de vocês serão consumidos pelo negócio, mesmo se não quiser que isso aconteça.

O garçom escolheu aquele momento para trazer-lhes a comi­da. Quando saiu e começaram a comer, Joe disse:

Meu pai não vai estar copresidindo nada. O câncer dele voltou. Ninguém sabe quanto tempo mais ele irá viver.

Sinto muito — ela sussurrou, colocando na mesa o ice tea que estava bebendo.

Eu também. Uma coisa boa sobre o título é que ele me dá autoridade absoluta para escolher a pessoa que irá copresidir comigo. O que eu preciso é de uma pessoa jovem de fora do negócio com uma visão selvagem e fresca. A companhia vem perdendo negócios nos últimos cinco ou seis anos.

Porque você saiu — Demi afirmou em tom negativo. A confiança dela em Joe o tranquilizava mais do que qual­quer coisa.

É mais um caso de mau gerenciamento e má economia. Existem muitas áreas para se colocar a culpa. Meu jeito de fazer as coisas é delegar, será assim quando concluir a negociação do grande contrato. O detalhe do trabalho vai ser deixado para os outros da diretoria que são capazes de fazer um bom trabalho, se forem direcionados para o lugar certo. Meu pai não deu a eles tanta responsabilidade.

Isso parece ótimo na teoria.

As mudanças que vou fazer vão diminuir minha carga de trabalho. Quando tiver que viajar, você irá comigo e vamos transformar essas viagens em férias. Tudo vai ser diferente.

Está pensando em pedir ao Fabbio para que o ajude? Sendo seu irmão-emprestado, ele seria a escolha natural, e é tão jovem quanto você.

Até Demi entrar em sua vida, Joe se sentia como um chocalho numa velocidade absurda em relação à idade avan­çada. Estar com ela era como encontrar uma fonte de vida, novamente.

Não existe chance de Fabbio ter tino para o negócio. Todos eles fazem as coisas da forma que querem, mas depois que escolhi trabalhar na fábrica, meu pai fez tudo sozinho porque, não confiava em ninguém. Ninguém foi ensinado a pensar ou agir fora do casulo. Como resultado estão trancados em uma mentalidade de negócio comum. A companhia precisa de san­gue novo para revitalização.

Está me parecendo que você já fez sua escolha.

Já. É uma mulher.

Ela olhou para baixo, para a comida.

Dentre todo clã masculino?

Revolucionário, não é?

Uma de suas dúzias de primas mulheres? — Ele detectou aprovação na pergunta dela.

Não é uma prima, mas é parente.

Depois daquela revelação ela levantou a cabeça. Aqueles olhos escuros, de veludo marrom, de repente brilharam.

Seu pai aprova?

Ele ainda não sabe. Mesmo quando souber, não vai im­portar. Como te disse mais cedo, estou de posse do título agora e posso fazer o que me agradar.

Achei que odiasse isso.

Essa é a primeira vez na vida que mudei de ideia a esse respeito. Mas não vou manter isso por muito tempo.

Demi parou de comer.

Por quê?

Quando meu pai morrer, vou passá-lo para Dino e conce­der para meu tio Tullio enquanto ele ainda estiver vivo. Ele é o irmão Valchessi mais novo. Conhecendo bem ele, vai achar que vai morrer e ir para o céu. Seu primeiro item do negócio vai ser me atirar para fora da presidência.

Fala sério!

Acha que não estou falando? Não tem ideia de como meus tios invejaram meu pai. Tullio, particularmente, tem cobiçado muito a posição.

Demi continuou olhando para ele.

Então, o que vai fazer?

Voltar a comandar a fábrica e trabalhar ao redor das pes­soas que gosto.

Demi demonstrou um som de exasperação.

Às vezes não sei quando está falando sério ou não.

Acho que vai ter que confiar nisso.

Os olhos dela umedeceram.

Eu confio.

Bene. — Ele colocou o guardanapo na mesa. — O que acha de ver a sede dos Valchessi?

Considerando que é a cabeça agora, acredito que é o melhor a fazer. Seria constrangedor se alguém me perguntasse onde meu marido trabalha e eu não tivesse a menor ideia.

São somente três quilômetros daqui, no distrito da marina. Depois levo você para velejar no fim de semana.

Uma paralisia a envolveu. Joe esperava que fosse por­que ela gostara da sugestão.

Quando estive aqui da primeira vez, lembro de você dizer que tinha um veleiro.

Os olhos dele passearam pelas feições de Demi.

Eu queria levar você para passear nele, mas estava no conserto. Foi uma sorte.

Por que diz isso?

Porque eu poderia ter saído com você para velejar e nunca ter voltado. Quando te conheci não consegui manter as coisas em um nível profissional.

Sinto muito, mas eu também não consegui, principalmen­te naquela última noite.

Graças a Deus. Eu era um homem de 34 anos que você reduziu a um adolescente tolo que teria feito, literalmente, qualquer coisa para ser correspondido. Tive medo de não ter o necessário para encantar a mulher mais bonita que já conheci na minha vida e fazê-la ficar comigo por mais 24 horas.

As bochechas de Demi coraram.

A última noite com você foi o resultado de um desafio que me fez, um daqueles que não consegui responder... — a voz dela estava arrastada.

Uma sobrancelha se ergueu.

Para uma mulher tão cautelosa como você, mostrou uma resposta de tirar o fôlego. Suspeito que estivesse ali em algum lugar, esperando para emergir.

Não tinha ideia de que eu era tão transparente.

Você não era — ele disse em um tom sério. — Foi atraente pensar na minha parte, porque queria você tão intensamente e odiava o pensamento de que algum dia deixasse minha cama.

Eu não queria — Demi admitiu, de repente sem ar, pela memória daquela noite que compartilharam.

A química entre eles era poderosa. Joe esticou o braço e segurou a mão de sua esposa.

Estou morrendo de vontade de levar você para o mar e mostrar-lhe alguns de meus lugares favoritos. Tem praias isola­das onde poderemos relaxar e nadar longe de todos. — Ele estava contando os segundos para poder ficar sozinho com Demi.

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                         Capítulo novinho pra vocês.  Comentem pro próximo.
                          xoxo Nathi

3 comentários:

  1. Eu quero mais!! Cada vez mais ansiosa!!!
    Mas não queria que o Joe deixasse o título depois:(
    Posta mais ^^
    Beijos~
    By:Luu

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  2. Estou em êxtase com essa história, to amando, OMG Joe seu lindo,quero você para mim

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  3. Posta mais.... ele vai coloca-la pra trabalhar com ele..... quero ver o encontro com o pai dele.... continua....

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