30.4.15

Laços de Amor - Capitulo 4

— Você não pode estar falando sério. — Demi deu um passo instintivo para trás, mas não podia ir a lugar algum, a menos que se virasse, abrisse a porta e saísse para o longo corredor.

— Muito sério — respondeu ele e andou na sua direção como um homem com todo o tempo do mundo.

Joe usava uma camisa azul-marinho, aberta no colarinho, com as mangas enroladas até os cotovelos. A calça preta era impecável, e os sapatos, também pretos, brilhavam. Mas eram os olhos dele que a prendiam. Aqueles olhos azul-claros fixos nos seus, como se Joe pudesse ler sua alma. Como se estivesse procurando todos os seus segredos e não desistisse de sua busca até conhecê-los.

— Joe, esta é uma péssima ideia — disse ela, e silenciosamente se parabenizou por manter o tom de voz neutro.

— Por quê? — Ele abriu as duas mãos e deu de ombros. — Você veio para o meu navio. Diz que sou o pai de seus filhos e insiste que precisamos conversar. Então agora está aqui. Podemos conversar.

Conversar. Sim.

Num palácio flutuante que parecia projetado para sedução. Encontrar Joe em sua cabine minúscula não tinha sido exatamente fácil, mas pelo menos lá embaixo, não houvera distrações. Nenhuma opulência. Nenhuma sobrecarga sensorial de beleza.

Aquela era uma péssima ideia. Demi sabia disso. Sentia isso. E não tinha a menor idéia de como sair da situação.

— Nós não deveríamos ficar juntos — disse ela finalmente e estremeceu, porque, até para seus próprios ouvidos, soava como uma bibliotecária meticulosa.

— Ficaremos na mesma cabine. Não juntos. Existe uma diferença. — Joe estava tão perto agora que se ele estendesse o braço a tocaria.

Se ele fizesse isso, ela estaria perdida, e sabia disso.

— Qual é o problema, Demi? — perguntou ele. — Não confia em si mesma para ficar sozinha comigo?

— Oh, por favor. — Ela forçou uma risada que esperou desesperadamente soasse convincente. — Você pode ser menos prepotente por um minuto aqui?

Joe deu-lhe um sorriso lento que aprofundou sua covinha na face esquerda, e adquiriu um brilho malicioso nos olhos. A boca de Demi secou. — Não sou eu quem está tendo problemas.

Ele precisava ter um cheiro tão bom?

— Sem problemas — disse ela, erguendo o queixo e se forçando a encará-lo. —Acredite quando eu lhe digo que tudo que quero de você é o que seus filhos merecem.

Com aquelas palavras, o sorriso no rosto de Joe desapareceu. Ele era pai? Aqueles garotinhos gêmeos eram seus? Precisava saber. E para isso, necessitava de algum tempo com Demi. Precisava conversar com ela, descobrir o que ela queria, tomar uma decisão sobre o que fazer a partir disso.

Engraçado, estivera esperando a tarde inteira para apreciar o olhar incrédulo no rosto de Demi quando entrasse em sua suíte e descobrisse que ficaria hospedada com ele. Uma vingança por ela ter sido responsável por sua expressão ao ver, pela primeira vez, a foto dos bebês que ela alegava serem seus. Mas não tinha apreciado tanto o momento quanto imaginara. Porque havia outras considerações. Maiores considerações.

Seus filhos. O peito de Joe se contraiu e uma angústia começava a se tornar quase familiar. Incontáveis vezes durante o dia, ele olhara para as fotografias dos bebês que ainda carregava no bolso da camisa. Incontáveis vezes, perguntara a si mesmo se era realmente possível que fosse o pai.

E, apesar de não estar preparado para aceitar a palavra de Demi sobre sua paternidade, tinha de admitir que era pouco provável que ela tivesse ido àquele cruzeiro de seu navio se isso não fosse verdade. Não que achasse que Demi tivesse escrúpulos em relação à mentira... tinha mentido para ele da primeira vez que o conhecera, afinal de contas... mas esta mentira era muito facilmente descoberta.

Então Joe estava disposto a aceitar a possibilidade. E para onde isso o levava exatamente? Esta era a pergunta que vinha martelando na sua cabeça durante a tarde inteira, e não estava mais perto da resposta agora do que estivera mais cedo.

Ele a olhou de cima a baixo e pôde admitir, pelo menos para si mesmo, que Demi estava muito bonita. Seus cabelos castanho-claros estavam um pouco desalinhados pelo vento, alguns fios escapando da trança para lhe emoldurar o rosto. Os olhos eram vividos e brilhavam com desconfiança, e, estranhamente, isso não fazia nada para diminuir a atração que ele sentia enquanto respirava um ar que carregava o aroma de Demi para dentro de seus pulmões.

— Eu ficarei aqui, mas não vou dormir com você — anunciou ela subitamente.

Joe meneou a cabeça e sorriu.

— Não se gabe. Eu disse que ficaríamos na minha suíte, não na minha cama. Por acaso, há mais três quartos aqui além do meu. Suas coisas foram desempacotadas em um deles.

Ela franziu a testa e o rubor do rosto clareou um pouquinho.

— Oh.

— Desapontada? — perguntou Joe, sentindo alguma emoção quente e impulsiva percorrê-lo.

— Por favor — replicou Demi sem demora. — Você não é exatamente irresistível, Joe.

Ele arqueou as sobrancelhas, mas, uma vez que não acreditava nela realmente, não persistiu no assunto?

— Na verdade, estou grata por estar fora daquele buraco no fundo do navio — acrescentou ela, olhando ao redor da suíte, antes de voltar a encará-lo. — E se ficar aqui é o preço que tenho de pagar por sua atenção, então eu pagarei.

Uma sobrancelha escura se arqueou. — Quanta coragem da sua parte aguentar condições tão horríveis como estas.

— Ouça — começou Demi —, se você não se importa, foi um longo dia. Então, que tal se me dissesse onde é o meu quarto, de modo que eu possa tomar um banho. Depois conversaremos.

— Tudo bem. Por ali. — Joe virou-se, apontou e disse: — No fim daquele corredor. Primeira porta à esquerda.

— Obrigada.

— Meu quarto é no fim do corredor, à direita.

Demi parou, olhou para trás e disse:

— Eu me lembrarei.

— Faça isso — sussurrou ele enquanto ela saía da sala, os ombros eretos, o queixo erguido, os passos longos e lentos, como se estivesse marchando para a morte.

O olhar de Joe baixou para a curva de traseiro dela, e alguma coisa em seu interior ganhou vida. Alguma coisa que não sentia desde a última vez que vira Demi. Algo que acreditara ter superado há muito tempo.

Ele ainda a desejava.

Girando, Joe atravessou a sala e dirigiu-se para as janelas que mostravam uma vista inspiradora do mar. Mirando o horizonte, lutou para controlar a onda de desejo crescendo em seu interior.

Demi Lovato.

Ela o virará do avesso mais de um ano atrás. Desde então, Joe vinha sendo perseguido por memórias do tempo dos dois juntos, até que não tivesse mais certeza se suas lembranças eram reais ou apenas imagens oferecidas por uma mente que parecia incapaz de se libertar da mulher que tinha mentido para ele. E Joe não era um homem que esquecia uma coisa como esta. Agora ela estava de volta. Ali, presa no seu navio no meio do oceano, sem possibilidade de escapar dele.

Sim, eles precisavam conversar sobre muitas coisas... e se aqueles bebês fossem realmente seus filhos, então havia muitas decisões a serem tomadas. Mas enquanto enfiava ambas as mãos nos bolsos da calça e sorria levemente para a luz do sol brilhando no vasto oceano, disse a si mesmo que haveria tempo suficiente para que a tivesse de novo.

Para senti-la sob seu peso. Para reivindicar-lhe o corpo mais uma vez. Para levá-la à loucura. Então, quando estivesse satisfeito o bastante para tirá-la da cabeça, ele a libertaria, e Demi estaria fora de sua vida para sempre. Joe nem mesmo permitiria que ela fosse uma memória desta vez.

*********

Dentro do Neptune's Garden, o elegante restaurante no Splendor Deck, Demi observou quando Joe olhou ao redor do salão.

Como dono do navio, não era esperado que ele se misturasse com os passageiros, mas Joe era um executivo como nenhum outro. Não apenas se misturava, como parecia se divertir. E de braço dado com ele, Demi se sentia como uma rainha movendo-se através de uma multidão adorável.

Repetidas vezes, enquanto eles andavam em direção à mesa, Joe parava para conversar com pessoas sentadas a mesas cobertas por toalhas brancas de linho. Certificando-se de que todos estavam apreciando o navio, perguntando se havia algo que precisavam, se existia alguma coisa que a tripulação pudesse fazer para tornar a estada deles mais prazerosa.

E claro que as mulheres solteiras a bordo estavam mais do que ansiosas para conhecerem o rico, lindo e elegível Joe Jonas. E o fato de que Demi estava no braço dele não as dissuadia de flertar abertamente.

— É um lindo navio, Sr. Jonas — uma mulher falou com um suspiro enquanto apertava a mão dele. Ela jogou os cabelos pretos sobre o ombro e umedeceu os lábios.

— Obrigado — disse ele, sorrindo para ela e para as outras duas mulheres sentadas à mesa. — Fico feliz que estejam se divertindo. Se precisarem de alguma coisa, por favor, não hesitem em falar com um comissário de bordo.

— Oh, nós falaremos — replicou a morena. — Prometo. Demi teve de se conter para não fazer uma careta. As três mulheres olhavam para Joe como se ele fosse o primeiro bife depois de uma dieta de folhas de espinafre e fatias de limão.

Quando ele se virou para conduzi-la através do espaço lotado, Demi jurou que podia sentir o olhar mortal daquelas mulheres em suas costas.

— Bem, isso foi deselegante — murmurou ela.

— Deselegante?

— O jeito que ela praticamente babou em você.

— Ah — murmurou Joe, dando-lhe um sorriso rápido enquanto abria a mão direita... a mão que a morena tinha apertado e se demorado no contato. Um cartão-chave de cabine descansava no centro da palma de Joe, e o número P230 estava escrito em tinta sobre o topo. — Então suponho que isso é ainda mais deselegante.

— Oh, pelo amor de Deus — exclamou Demi, querendo voltar e agredir verbalmente a morena sem classe. — Eu estava com você. Ela não sabia se eu era sua namorada.

Os olhos azul-claros brilharam, e o sorriso de Joe se ampliou o bastante para mostrar a covinha na face esquerda.

— Com ciúme?

Ela tentou libertar a mão do encaixe no braço dele, mas Joe a segurou com firmeza.

— Não, não com ciúme — disse ela. — Apenas irritada.

— Com ela? Ou comigo?

— Com os dois. — Demi inclinou a cabeça para olhá-lo. — Por que você não devolveu a chave para ela?

Ele pareceu genuinamente surpreso pela sugestão.

— Por que eu a embaraçaria na frente das amigas? Demi bufou, indelicadamente.

— Acho que é quase impossível embaraçar uma mulher como aquela.

— Isso realmente a perturba.

Sempre perturbara, pensou ela. Logo que fora trabalhar para a linha de Cruzeiros Jonas, tinha ouvido todos os tipos de história. Sobre como, em cada cruzeiro havia uma fila de mulheres para ocupar um lugar na cama de Joe. Ele era um jogador, sem dúvida. Mas, por alguma razão, Demi tinha se permitido ser envolvida na magia do momento. De alguma forma, se convencera de que o que os dois compartilhavam era diferente do que ele encontrava em incontáveis outras mulheres.

Aparentemente, estivera errada sobre algumas coisas.

— Uma pergunta — disse ela, mantendo o tom de voz baixo de modo que ninguém que passasse pudesse ouvi-la.

— Tudo bem.

— Você está planejando usar esta chave?

Ele apenas a olhou por um momento, então, suspirando, parou um garçom, entregou-lhe o cartão-chave, e sussurrou alguma coisa que Demi não conseguiu ouvir. Depois se voltou para ela.

— Isso responde sua pergunta?

— Depende — replicou Demi. — O que você disse a ele?

— Para devolver o cartão para a morena com meus agradecimentos e minha recusa.

Demi foi envolvida por uma onda calorosa, e mesmo sabendo que aquilo era tolice, não conseguiu dissipar a sensação.

— Obrigada.

Joe inclinou a cabeça numa leve reverência irônica.

— Descobri que há somente uma mulher com quem estou interessado em conversar no momento.

— Joe...

— Aqui estamos — interrompeu ele, ajudando-a a se sentar à mesa que reservara. — Demi, vamos jantar e começar a ter aquela conversa que você quer.

Demi acomodou-se e observou-o sentar-se ao seu lado.

— Tudo bem, Joe. Mas antes, deixe-me lhe perguntar uma coisa.

— O quê?

— Todas as pessoas com quem falou enquanto entravamos no restaurante... todas as mulheres com quem flertou... — Ela o olhou e meneou a cabeça. — Você não mudou nem um pouco, mudou?

As feições de Joe se tornaram tensas enquanto ele a fitava, e na luz tremulante de uma única vela no centro da mesa, os olhos azuis pareciam um pouco perigosos.

— Oh, eu mudei bastante — murmurou ele suavemente, e o tom da voz gelou a pele de Demi. — Hoje em dia sou muito mais cuidadoso com quem passo meu tempo. Não acredito mais na palavra de uma mulher quando ela me diz quem é. Agora, eu mando investigá-la. Não quero me deparar com outra mentirosa, afinal de contas.

Demi se sentiu enrubescer, e ficou grata pela iluminação fraca do restaurante. Unindo as mãos sobre o colo, olhou para a toalha de Unho branca cobrindo a mesa e disse:

— Certo, vou repetir isso mais uma vez. Eu não planejei mentir na época, Joe.

— Então simplesmente aconteceu?

— Bem — murmurou ela, erguendo o olhar para ele com relutância —, sim.

— Certo. — Joe assentiu, deu um sorriso forçado e acrescentou: — Você não conseguiu encontrar um jeito de falar que trabalhava para mim, então me deixou pensando que era uma passageira.

Demi tinha se deixado envolver pela noite enluarada e o homem mais maravilhoso que já vira na vida.

— Eu nunca disse que era passageira. Você presumiu isso.

— E você não fez nada para me corrigir.

Verdade. Tudo verdade. Se ela tivesse dito a verdade, então a semana dos dois juntos nunca teria acontecido. Demi nunca teria descoberto como era estar nos braços dele. Jamais teria imaginado algum tipo de futuro entre eles. Nunca teria engravidado. E nunca teria dado à luz dois garotinhos sem os quais não poderia se imaginar vivendo.

Por causa dos seus filhos, era difícil se sentir culpada pelo que havia feito.

— Joe, não vamos remoer o passado, tudo bem? Eu pedi desculpas na época. Não posso mudar nada. E sabe, você também não agiu exatamente como príncipe encantado na ocasião.

— Está me culpando?

— Você nem mesmo falou comigo — Demi o relembrou. — Descobriu a verdade e fechou as portas para mim tão rapidamente que fiquei surpresa por você não ter me obrigado a pular do navio e nadar para casa.

Joe se mexeu desconfortavelmente, parecendo lutar contra a vontade de gritar.

— O que você esperava que eu fizesse?

— Tudo que eu queria era me explicar.

— Não havia nada que você pudesse ter dito.

— Bem — murmurou Demi suavemente —, nunca saberemos disso com certeza, verdade? — Então ela suspirou e acrescentou: — Nós não estamos resolvendo nada aqui, portanto, vamos deixar o passado para trás. O que aconteceu, aconteceu. Precisamos conversar sobre o presente.

— Certo. — Ele sinalizou para o garçom, então a olhou novamente. — Conte-me sobre seus filhos.

Seus filhos — corrigiu ela, erguendo o queixo, como se estivesse pronta para lutar.

— Isso ainda precisa ser provado para mim.

— Por que eu mentiria?

— Hmm. Questão interessante — disse Joe. — Eu poderia dizer que você já mentiu antes, mas então nós concordamos em não falar sobre o passado.

Demi não sabia se queria suspirar em frustração ou chutá-lo debaixo da mesa. Aquilo estava sendo tão mais difícil do que imaginara. De alguma maneira, tinha se convencido de que Joe acreditaria nela. Que ele olharia para as fotos dos bebês e saberia instintivamente que aqueles eram seus filhos. Enganara-se.

Tudo ao redor deles... o tilintar de cristais finos e as conversas murmuradas das outras pessoas que jantavam... proporcionava um pano de fundo que era mais barulhento do que qualquer outra coisa. Do outro lado das janelas que alinhavam uma das laterais do restaurante, a noite estava escura e o mar infinito. O brilho das luzes coloridas vindo das extremidades do deck parecia quase como um arco-íris que brilhava somente à noite.

E ao seu lado, o homem que perseguia seus sonhos e criara uma nova vida para ela permanecia esperando, observando.

Quando Demi começou a falar, um garçom se aproximou com uma garrafa de champanhe dentro de um balde de prata. Ela fechou a boca e mordeu o lábio enquanto o garçom numa taça de cristal oferecia a bebida para Joe experimentar. Após aprovado, o vinho foi servido primeiro para ela, depois para Joe. Uma vez que o garçom desapareceu no meio da multidão, Demi pegou sua taça e deu um gole no champanhe, esperando aliviar a súbita secura em sua garganta.

— Então? —incentivou Joe, a voz rouca e baixa parecendo penetrá-la. — Fale-me sobre os gêmeos.

— O que você quer saber?

Ele a olhou.

— Tudo.

Assentindo, Demi respirou fundo. Normalmente, ficava mais do que feliz ao falar sobre os filhos. Até mesmo era conhecida por importunar completos estranhos no supermercado com histórias sobre as façanhas dos gêmeos.

Mas esta noite era diferente. Importante. Precisava fazê-lo entender isso. Acreditar. Então, escolhendo as palavras com cuidado, ela começou de modo simples:

— Eles se chamam Jacob e Cooper.

Joe franziu o cenho de leve e deu um gole em seu próprio champanhe.

— Nomes de alguém da família?

— De meus avós — respondeu Demi em tom defensivo, como se estivesse preparada para discutir sobre seu direito de nomear os filhos como bem entendesse.

— Foi um gesto bonito de sua parte — comentou ele após um momento, surpreendendo-a. — Continue.

Enquanto ao redor pessoas riam, conversavam e relaxavam, havia uma tensão quase palpável na mesa deles. A voz de Demi era baixinha, e Joe se inclinou para mais perto a fim de ouvi-la, fazendo-a arfar com a proximidade.

— Jacob é risonho e feliz o tempo todo. Sorri do minuto que acorda até o momento que vai dormir à noite. — Ela sorriu também, só de pensar nos seus bebês. — Cooper é diferente. Ele é mais... introspectivo, suponho. Seus sorrisos são raros e mais preciosos por causa disso. Está sempre observando. Estudando. Eu adoraria saber o que ele está pensando na maior parte do tempo, porque mesmo aos quatro meses, parece quase um filósofo.

Ele a olhava fixamente, e Demi podia ver seus dois filhos no rosto de Joe. Eles eram tão parecidos com o pai que ela não entendia como ele podia duvidar por um momento que os bebês fossem seus.

— Onde eles estão agora?

— Com minha irmã, Maxie. — Que provavelmente estava exausta. — Os meninos são loucos por ela, e Maxie os ama muito. Eles estão bem.

— Então por que você ficou tensa de repente?

Demi suspirou, recostou-se e admitiu:

— Esta é a primeira vez que me separo deles. Parece... errado, de alguma maneira. E sinto saudade dos dois. Muita.

Os olhos de Joe se estreitaram enquanto ele pegava o copo e bebia mais um gole do champanhe. Observando-a por sobre a borda da taça, engoliu, antes de devolver à mesa.

— Não deve ser fácil ser mãe solteira.

— Não, não é — admitiu ela, pensando agora no quanto se sentia cansada todas as noites quando punha os garotos na cama. Fazia tanto tempo que Demi não se sentia desperta depois das 8h da noite que era estranho estar sentada num restaurante às 9h. Mas antes o normal era este, quando se preocupava somente consigo mesma. Quando não tinha dois garotinhos dependendo dela.

Deus, como havia sido capaz de suportar a quietude? O vazio em sua pequena casa? Nem mesmo podia imaginar uma vida sem seus filhos agora.

— Mas — acrescentou Demi quando ele não disse mais nada —, juntamente com todo trabalho, uma mãe solteira tem todos os benefícios para si mesma. Eu não preciso compartilhar os pequenos momentos. Fui eu quem os viu sorrir pela primeira vez, quem os viu acordar para o mundo ao seu redor.

— Então, uma vez que você não está querendo compartilhar os bons momentos, isso significa que não está interessada em me ter envolvido na vida dos gêmeos — disse ele, pensativamente. — Tudo que quer é pensão alimentícia?

Ela ficou um pouco tensa. Não tinha considerado que Joe pudesse querer participar da vida dos filhos. Ele não era o tipo de homem "família". Era um homem festeiro. O sujeito que namorava, mas não levava a moça para conhecer a mãe.

— Nós dois sabemos que você não tem nenhum interesse em ser pai, Joe.

— Será isso verdade? E como você sabe?

— Bem...

Ele inclinou a cabeça quando ela permaneceu em silêncio.

— Exatamente. Você não me conhece melhor do que eu a conheço.

—: Está enganado. Eu sei que você não é o tipo de homem que se prende num único lugar. Naquela semana que nós passamos juntos, você me disse que não tinha planos de se casar e se acomodar um dia.

— Quem falou alguma coisa sobre casamento?

Demi respirou fundo e disse a si mesma para ir com calma. Estava andando num campo minado ali.

— Eu não quis dizer...

— Esqueça isso.

Outro garçom apareceu, desta vez levando o jantar que Joe claramente pedira mais cedo. Surpresa, Demi olhou para o peito de frango e fettucine ao molho de cogumelo, antes de erguer um olhar interrogativo para ele.

— Lembrei que você gostava deste prato — murmurou ele com um dar de ombros.

O que deveria fazer com, aquilo? , perguntou-se Demi. Ele fingia não se importar com ela, todavia, depois de mais de um ano lembrava quais eram seus pratos favoritos? Por quê? Por que Joe se recordaria de algum detalhe tão pequeno?

Depois que o garçom saiu, Joe recomeçou a falar:

— Então me responda uma coisa. Quando você descobriu que estava grávida, por que levou a gravidez em frente?

— Perdão?

Ele deu de ombros.

— Você estava sozinha. Muitas mulheres nesta posição não teriam feito o mesmo. Dado à luz, decidindo criar os bebês por conta própria.

— Eles eram meus — declarou Demi, como se isso explicasse tudo, e em sua mente explicava. Nem por um segundo tinha considerado interromper a gravidez. Tentara falar com Joe, é claro, mas quando não conseguira, havia começado a construir uma vida para si mesma e para seus filhos.

— Sem arrependimentos?

— Somente o de ter entrado neste navio — sussurrou ela. Joe sorriu, pôs o guardanapo sobre o colo e, pegando os talheres, cortou seu filé mignon.

— Eu ouvi isso.

— Falei para você ouvir. — Demi enrolou fettucine no garfo antes de dizer:— Joe, meus filhos são as coisas mais importantes do mundo para mim. Farei qualquer coisa que for necessária para me certificar de que eles estão seguros.

— Bom para você.

Ela deu uma garfada na refeição e, embora pudesse dizer que o prato era cozinhado à perfeição, o molho delicado e o frango tinham gosto de areia em sua boca.

— Eu vou querer um exame de DNA.

— É claro — disse ela. — O exame de sangue dos meninos já foi feito num laboratório local. Você pode enviar sua amostra para eles e requisitar o exame de comparação.

— Eu cuidarei disso amanhã.

— O quê? — Ela meneou a cabeça, olhou-o e perguntou: — Você não pode esperar até que estejamos de volta a San Pedro?

— Não, eu não vou esperar. Quero resolver esta questão o mais rapidamente possível. — Ele continuou a comer, como se o que eles estivessem discutindo não o afetasse nem um pouco. — Atracamos em Cabo pela manhã. Você e eu descemos em terra firme, encontramos um laboratório e pedimos que eles enviem os resultados dos exames para o laboratório em San Pedro.

— Nós vamos fazer isso? — Ela não havia planejado passar muito tempo com Joe, afinal de contas. Apenas subira a bordo para lhe contar sobre os gêmeos, e, francamente, pensara que ele não ia querer mais nada com ela depois disso. Contudo, ele a mudara para a sua suíte, e agora estava propondo que eles passassem ainda mais tempo juntos.

— Até que este assunto seja resolvido à minha satisfação — murmurou Joe suavemente —, eu não permitirei que você saia da minha vista. Não iremos nos separar nem por um minuto. Portanto, é melhor você começar a se acostumar com isso.

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              Mais um capítulo pra vocês!!! Comentem pro próximo.
              xoxo Nathi

29.4.15

Laços de Amor - Capitulo 3

Demi abaixou a cabeça e empurrou-lhe a mão, mesmo que aquele contato lhe causasse uma sensação deliciosa. Joe deu um passo atrás e se afastou, o que, naquela cabine, significava que estava praticamente contra a porta de saída. Então, concluindo que poderia olhá-la sem querer entrelaçar as mãos naqueles cabelos e tomar-lhe a boca na sua, voltou a encará-la.

— Eu não tenho tempo para resolver isto agora. - Demi cruzou os braços sobre o peito numa clássica postura defensiva.

— Oh, claro, mundos para conquistar, mulheres para seduzir. Ocupado, ocupado.

— Inteligente como sempre, posso ver. — Joe não queria admitir nem para si mesmo o quanto sentira falta daquela língua afiada de Demi. Sempre retrucando, colocando-o em seu devido lugar, diminuindo-lhe o ego antes que este tivesse a chance de se expandir.

Não havia muitas pessoas como Demi em sua vida. A maioria das pessoas que ele conhecia estava muito ocupada em bajulá-lo para discutir com ele. Todos, exceto Teresa, é claro. E Demi. Contudo, ela não fazia mais parte de sua vida.

— Nós jantaremos esta noite. Na minha suíte.

— Acho que não.

— Você veio aqui para conversar comigo, certo?

— Sim, mas...

— Então iremos conversar. Às 7h.

Antes que ela pudesse discutir ou discordar, Joe abriu a porta e saiu da cabine. Respirou profundamente no corredor escuro, então se dirigiu ao elevador que o tiraria das entranhas do navio e o levaria de volta para a luz.

*********

Por volta das 5h da tarde, Demi estava mais do que pronta para tomar algumas margueritas com Mary.

Ela deixara sua cabine abafada e sufocante apenas minutos depois que Joe tinha saído. Francamente, a presença dele fora praticamente imprimida no minúsculo espaço, fazendo a cabine parecer ainda menor do que era. O que não havia parecido possível, em sua opinião.

Mas Joe a abalara mais do que Demi pensara que aconteceria. Apenas a proximidade dele lhe despertara sentimentos e emoções que ela teimara em ignorar mais de um ano atrás. Agora tais emoções estavam de volta, e Demi não sabia como lidar com elas. Afinal de contas, não tivera muita experiência com esse tipo de coisa. Antes de Joe, só houvera outro homem em sua vida, que não a afetara nem de perto da maneira que Joe a afetara. É claro, desde Joe, os únicos homens em sua vida preferiam babar no seu ombro a dançar romanticamente no escuro.

Só o fato de pensar em seus garotinhos causou um aperto no coração de Demi. Ela nunca os deixara antes, e, apesar de saber que os gêmeos estavam em boas mãos, detestava não estar com eles.

— Mas eu estou neste navio para o bem dos meninos — relembrou-se com firmeza.

Com tal pensamento em mente, olhou para o interior do Captain Jack's Bar and Lounge. Como em todos os outros lugares daquele navio, Joe não tinha sido mesquinho. As paredes de madeira clara brilhavam na luz que vinha de candelabros altos em formato de lemes. O bar era uma curva elegante de madeira clara, com o topo de granito da cor de mel derretido.

Conversas fluíam num murmurinho constante, pontuadas pelo ocasional tinir de cristais ou por risadas suaves. Primeiro dia no mar, e a festa já havia começado.

Bem, para todos, exceto para Demi. Ela não estava exatamente no humor de comemorar, depois que Joe saíra de sua cabine.

Na verdade, havia passado a maior parte do dia deitada numa espreguiçadeira no Verandah Deck, tentando se perder no livro que escolhera na loja de presentes. Mas não conseguia se concentrar nas palavras tempo bastante para fazer progresso. De tempos em tempos, seus pensamentos tinham retornado para Joe. O rosto dele. Os olhos azuis.

O semblante de rejeição no primeiro momento que olhara para as fotos dos filhos.

Ela não sabia o que aconteceria a seguir, e a preocupação sobre isso a consumira o dia inteiro. Motivo pelo qual decidiu não desmarcar as margueritas com Mary. Demi tinha passado muitas horas sozinha naquele dia, com tempo demais para pensar. O que precisava agora era de alguma distração. Um drinque à base de tequila para relaxar parecia perfeito. Especialmente considerando sua ansiedade em relação ao jantar com Joe mais tarde.

— Oh, Deus — sussurrou ao sentir uma angústia no peito novamente.

— Demi!

A voz de uma mulher a chamou, e Demi virou-se naquela direção. Viu Mary, parada perto de uma das mesas ao longo da parede, acenando e sorrindo-lhe. Grata, Demi trilhou seu caminho entre as mesas repletas de gente. Quando chegou à mesa, sentou-se numa cadeira e sorriu para a marguerita que já a aguardava.

— Espero que não se importe. Pedi o drinque para você assim que cheguei aqui — disse Mary, dando um gole no seu próprio drinque tamanho gigante.

— Importar-me? — murmurou Demi, pegando o copo gelado. — Está brincando? Isto é fabuloso. — Após tomar um longo gole de seu drinque, ela recostou-se e olhou para sua nova amiga.

Mary estava praticamente saltando da cadeira, os olhos brilhando com excitação. Seus cabelos loiros pareciam desalinhados pelo vento, e a pele estava rosada, como se ela tivesse tomado muito sol hoje.

— Procurei você pelo navio inteiro — disse Mary, sorrindo como uma tola. — Eu precisava vê-la. Descobrir onde eles a colocaram.

Demi piscou e balançou a cabeça.

— Como assim, me colocaram? Quem me colocou onde?

Mary estendeu um braço e pegou a mão de Demi para um rápido aperto.

— Oh, meu Deus. Você não voltou para o buraco o dia inteiro, voltou?

— De jeito nenhum — replicou Demi com um suspiro. - Depois de meu encontro, subi e permaneci no Verandah Deck, adiando o momento de voltar para lá.

— Então você não sabe.

— Sei o quê? — Demi estava começando a pensar que talvez Mary tivesse tomado margueritas demais. — Sobre o que você está falando?

— Da coisa mais incrível. Mal posso acreditar, e eu vi.

— Ela bateu uma das mãos sobre sua blusa azul e gemeu como se estivesse no meio de um orgasmo.

— Mary... o que está acontecendo?

— Certo, certo. — A loira pegou seu drinque, deu um grande gole, e disse: — Aconteceu logo no começo desta tarde. Liam e eu estávamos no Promenade Deck, olhando todas as lojas. Bem, eu estava olhando, Liam estava sendo arrastado por mim com relutância — admitiu ela. — E quando nós saímos de Crystal Candle... uma loja que você deveria ver, eles têm coisas fantásticas lá...

Demi imaginou se havia uma maneira de fazer Mary seguir um único raciocínio tempo bastante para lhe contar o que estava acontecendo. Mas provavelmente não, então ela deu um gole no seu drinque e se preparou para esperar. Não precisou esperar muito.

— Quando saímos — Mary estava dizendo —, havia um comissário de bordo esperando por nós. Ele falou: "Sr. e Sra. Curran?" de um jeito tão oficial que por um momento me perguntei o que tínhamos feito de errado, mas então Liam indagou: "Do que se trata?", e o comissário pediu que nós o seguíssemos.

— Mary...

Sua nova amiga sorriu.

— Eu estou chegando lá. Sério. É porque isso tudo é tão incrível... certo. — Ela acenou uma mão no ar para informar Demi que iria continuar a história, então murmurou:— O comissário nos levou para a suíte do dono... você sabe, Joe Jonas.

— Sim — respondeu Demi. — Eu sei quem ele é.

— Quem não o conhece, pelo menos nos países onde se fala inglês? — disse Mary com uma risada, então continuou: — Estávamos parados lá, no meio de uma suíte que parece um palácio, e Joe Jonas em pessoa chega para se apresentar para nós, e pede desculpas sobre a cabine no buraco.

— O quê? — Demi apenas olhou para a outra mulher, incerta do que fazer com aquela informação.

— Eu sei! Eu fiquei completamente pasma. Fiquei quase sem fala, e Liam pode lhe dizer que isso quase nunca acontece. — Mary parou para dar mais um gole no drinque, e quando terminou, ergueu uma mão para a garçonete, indicando que queria outro. — Então, lá estávamos nós, e o sr. Jonas sendo tão gentil e tão sincero sobre como se sente mal sobre as cabines do Riviera Deck... e insistindo em nos transferir para uma acomodação melhor.

— Transferir?

— Sim, transferir — confirmou Mary enquanto agradecia à garçonete pela nova marguerita. Esperou até que a moça desaparecesse com o copo vazio, antes de continuar: — Então, eu estava feliz, porque aquela cabine minúscula é tão ridícula. Esperei uma cabine de tamanho médio, talvez com uma janela, o que seria ótimo. Mas não foi isso que recebemos.

— Não foi? — Demi pôs seu copo sobre a mesa e observou os olhos de Mary brilhando ainda mais.

— Oh, não. O Sr. Jonas disse que a maioria das cabines estava ocupada, motivo pelo qual fomos parar naquelas minúsculas, para começar. Então ele nos mudou para uma suíte de luxo!

— Verdade?

— Fica no Splendor Deck. O mesmo piso que o próprio sr. Jonas mora. E Demi, nossa suíte é incrível! É maior do que minha casa. Além disso, nosso cruzeiro inteiro será por conta dele, que quer nos reembolsar o valor que pagamos por aquela cabine ridícula, e insiste que não paguemos nada nesta viagem.

— Uau. —: Joe sempre tivera muito orgulho de manter seus passageiros felizes, mas aquilo era... bem, para usar a palavra de Mary, incrível. Passageiros geralmente esperavam por uma conta que podia chegar a diversas centenas de dólares no final de um cruzeiro. Oh, comida e acomodação estavam inclusas quando você alugava a cabine. Mas despesas extras podiam ser muito altas se você não prestasse atenção.

Fazendo aquilo, Joe tinha dado a Mary e ao marido uma experiência num cruzeiro que a maioria das pessoas nunca teria. Talvez ele tivesse mais coração do que ela um dia acreditara.

— Ele é tão gentil — Mary estava dizendo enquanto mexia o gelo de seu drinque com o canudo. — De alguma maneira, pensei que um homem tão rico e famoso fosse...não sei, esnobe. Mas ele não é. Tem muita consideração e gentileza, e não posso acreditar que isto tudo está realmente acontecendo.

— Isso é maravilhoso, Mary — disse Demi com sinceridade. Mesmo tendo ela e Joe seus problemas, ela podia admirá-lo e respeitá-lo pelo que ele havia feito por aquelas pessoas.

— Espero muito que sua nova cabine seja em algum lugar perto da nossa, Demi. Talvez você deva procurar um comissário de bordo, descobrir para onde eles irão mudá-la.

— Oh — Demi meneou a cabeça - eu não acho que vou mudar de cabine. - Não podia imaginar Joe lhe fazendo nenhum favor. Não com a hostilidade que acontecera entre os dois apenas algumas horas atrás. E, embora estivesse feliz por Mary e o marido, não gostara de ser a única residente no deck mais baixo do navio. Agora o lugar não seria apenas pequeno e escuro, mas também solitário e assustador.

— É claro que vai — discordou Mary. — Eles não nos mudariam sem mudar você. Isso não faria o menor sentido.

Demi apenas sorriu. Não ia contar a Mary sobre sua história passada com Joe naquele momento. Então, não havia nada que pudesse dizer para sua nova amiga, além de:

— Descobrirei quando eu descer para trocar de roupa. Tenho um jantar com alguém em — ela consultou o relógio —, aproximadamente uma hora e meia. Então vamos tomar nossos drinques, e você pode me contar tudo sobre sua nova suíte antes que eu tenha de ir embora.

Mary franziu o cenho, então deu de ombros.

— Certo, mas se você não for transferida, vou ficar realmente chateada.

— Não fique. — Demi sorriu e, para distraí-la, perguntou: — Vocês têm um terraço?

— Dois! — Mary sorriu como uma criança na manhã de Natal e disse: — Liam e eu vamos jantar num deles esta noite. Ao ar livre, sob as estrelas... hmm. Hora de um pouco de romance, agora que saímos do buraco!

Romance.

Enquanto Mary falava sobre os planos que tinha feito com o marido para uma noite de sedução, Demi sorria.

Desejava o melhor para sua amiga, contudo, sua experiência ao tentar romance lhe trouxera consequências amargas. Não, não queria saber de romance. Tudo que queria agora era a promessa de que Joe faria a coisa certa, e que lhe permitiria criar seus filhos da maneira que ela quisesse.

Sua cabine estava trancada.

— O que... — Demi deslizou o cartão-chave dentro do compartimento, tirou-o novamente e... nada. A luz vermelha na fechadura ainda piscava, provocando-a. Ela sabia que não ia adiantar, mas mesmo assim, girou a maçaneta com força antes de sacudi-la, como se, de algum modo, pudesse convencer a maldita porta a se abrir.

Mas nada aconteceu.

Demi olhou para trás, vendo a cabine dos Curran, mas nenhuma ajuda viria de lá. O casal feliz estava confortavelmente instalado em seu palácio flutuante.

— O que é ótimo para eles — murmurou Demi.— Mas e quanto a mim?

Desistindo, ela virou-se, encostou-se contra sua porta fechada, e olhou para os dois lados do corredor escuro. Aquilo era fantástico. Sozinha no buraco. Ninguém a quem pudesse pedir ajuda. Ela teria de subir de novo e achar um telefone.

— Perfeito. Simplesmente perfeito. — Sua cabeça estava meio zonza das margueritas, e seu estômago se revolvendo de nervosismo pelo jantar iminente com Joe, e agora nem mesmo podia tomar um banho e trocar de roupa. — Que maravilha.

Demi apertou o botão do elevador, e quando a porta se abriu instantaneamente, ela entrou. A música de fundo era uma horrível versão orquestrada de "Stairway to Hea-ven", que não conseguiu acalmá-la.

Demi saiu no Promenade Deck e foi imediatamente engolida pela multidão de passageiros passeando ao redor das lojas. A área do saguão era em vidro e madeira, com uma claraboia instalada no teto convexo que mostrava um céu de verão azul, salpicado com nuvens brancas e fofas.

Mas ela não estava numa missão exatamente turística. Foi em direção aonde um dos empregados de Joe se encontrava posicionado para ajudar passageiros que queriam respostas às suas perguntas. O homem de camisa vermelha e calça branca, usando um crachá onde se lia Jeff, deu a Demi um sorriso de boas-vindas e perguntou:

— Em que posso ajudá-la?

Ela tentou não descontar sua frustração nele. Afinal de contas, o homem estava tentando ajudar.

— Oi, eu sou Demi Lovato, e estou na cabine 2A no Riviera Deck e...

— Demi Lovato? — interrompeu ele rapidamente, franzindo o cenho de leve, então checando uma prancheta sobre a mesa à sua frente.

— Sim — disse ela, tentando chamar a atenção dele de volta. — Acabo de vir de minha cabine, e meu cartão-chave não funciona, então...

— Sra. Lovato — disse ele, a atitude mudando de amigável para totalmente profissional. — Há uma anotação aqui, pedindo que a senhora seja escoltada ao Splendor Deck.

Onde ficava a nova cabine de Mary. Então Joe a tinha transferido também? Apesar de inesperado, aquilo era um alívio. Uma suíte seria muito mais confortável do que o closet no qual estava.

— Mas...Todas as minhas coisas ainda estão na minha cabine, então realmente preciso ir lá, arrumar a mala e...

— Não, senhora — interrompeu Jeff, sorrindo novamente. — Sua mala já foi arrumada e transferida pelo staff. Se apenas pegar aquele elevador — ele fez uma pausa para apontar em direção a um banco de elevadores oposto a eles — para o Splendor Deck, será recebida e conduzida para sua nova cabine.

Estranho. Ela não sabia como se sentia sobre alguém mexendo nas suas coisas pessoais, mas se isso significava que poderia tomar um banho, trocar de roupa e aprontar-se para encontrar Joe, então aceitaria.

— Certo. Hmm... obrigada.

— Foi um prazer, Sra. Lovato. Espero que aprecie sua estada nos Cruzeiros Jonas.

— Hã-hã. — Ela acenou distraidamente e dirigiu-se aos elevadores. Não havia muita chance de apreciar o cruzeiro quando estava lá para batalhar com o rei da companhia marítima. Não, o máximo que podia esperar era sair do buraco e ir para uma cabine melhor, como cortesia do sr. Joe Jonas.

Quando o elevador parou no Splendor Deck, Demi saiu num corredor largo e lindamente acarpetado. O teto era de vidro, aberto ao céu, mas escuro o bastante para proteger as pessoas do sol direto. As paredes eram pintadas de um tom vibrante, creme, e enfeitadas com quadros de ilhas tropicais, navios e até mesmo cenas simples do mar com suas ondas brancas, que pareciam tão reais que você tinha a impressão de que molharia os dedos se as tocasse.

O que Demi não viu foi alguém para informá-la que direção tomar, uma vez chegando lá. Mas quase antes de o pensamento se formar em sua mente, ela ouviu o som de passos apressados. Virou-se e escondeu sua surpresa ao reconhecer Teresa Hogan, a assistente de Joe.

— Demi. Prazer em vê-la — disse a mulher mais velha, andando na sua direção com passos determinados. O sorriso parecia sincero, e os olhos verdes inteligentes eram calorosos quando ela estendeu a mão num cumprimento amigável. Demi ficou feliz em estender a sua.

— Prazer em vê-la, também, Teresa. — Elas tinham se conhecido durante aquela semana mágica com Joe mais de um ano atrás. Normalmente, como diretora de um dos cruzeiros, Demi nunca teria entrado em contato com a mão direita do grande chefe. Mas como a mulher que teria um caso com Joe, Demi conhecera Teresa quase imediatamente.

Teresa tinha sido bastante amigável, até que a verdade sobre Demi ser uma das funcionárias de Joe aparecera. Então, a fria e eficiente Teresa havia desenhado uma linha na areia, metaforicamente falando. Escolheu defender Joe e se certificar de que Demi nunca mais tivesse a chance de se aproximar dele.

Na época, aquilo deixara Demi furiosa, mas agora podia entender este tipo de lealdade. E até apreciá-la de certa forma.

— Como vai? — Demi sorriu ao perguntar, determinada a manter o tom de voz amigável que Teresa começara.

— Ocupada. — A mulher mais velha deu de ombros. — Você conhece o chefe. Ele nos mantém ocupados.

— Sim — concordou Demi. — Ele sempre nos manteve ocupadas.

Um longo momento desconfortável se passou antes que Teresa dissesse:

— Então, você sabe que as cabines no Riviera Deck foram fechadas.

— E por isso que estou aqui — disse Demi, dando uma olhada para os dois lados do corredor vazio. — Eu vi Mary Curran mais cedo, que me contou que ela e o marido tinham sido transferidos. Então fui à minha cabine e não consegui entrar. Jeff me enviou para cá.

— Ótimo. — Teresa assentiu e nem um fio de seus cabelos escuros e curtos saiu do lugar com o movimento. Ela apontou atrás de Demi para o fim do corredor largo. — A suíte dos Curran é por ali. Agora, se você me acompanhar, eu e levarei para sua nova cabine. Podemos conversar enquanto andamos.

Elas seguiram para o lado oposto dos Curran. Andando em direção à proa do grande navio, Demi olhou casualmente para as obras de arte no caminho, e tentou entender o que estava acontecendo. Ser escoltada pela assistente do dono parecia incomum. Um comissário de bordo não deveria ter sido encarregado de levá-la às suas novas acomodações? Mas isso importava? Demi esforçou-se para acompanhar os passos de Teresa, que parecia estar sempre acelerada.

— Você não imagina — disse Teresa por sobre o ombros —, como Joe ficou apavorado ao descobrir que as cabines do deck mais abaixo tinham sido alugadas.

— Apavorado, não? — Demi fez uma careta. Claramente Teresa ainda era fiel ao chefe. — Então por que ele as alugou?

Teresa diminuiu um pouco o ritmo da caminhada.

— Foi um engano. As cabines baixas deveriam ter sido fechadas antes de deixarmos o porto para esta viagem de estreia. A pessoa responsável por ir contra as ordens do chefe foi repreendida.

— Repreendida? Ou simplesmente demitida sem referências? — perguntou Demi numa voz baixa.

Teresa parou subitamente e Demi quase colidiu com ela.

— Joe não demite pessoas indiscriminadamente, e você sabe disso. — Teresa ergueu o queixo enquanto defendia seu chefe. — Você mentiu para ele. Por isso foi demitida, Demi.

Ela enrubesceu. Sim, mentira. Não pretendera, mas era isso que tinha acontecido. E uma vez que a mentira começara, ela não conseguira encontrar um jeito de sair da situação. Entretanto, ele poderia ter lhe ouvido depois que a verdade havia sido revelada.

— Ele poderia ter me deixado explicar — argumentou Demi, e encontrou os olhos verdes com firmeza.

Apenas por um instante as feições duras de Teresa se suavizaram um pouco. Ela meneou a cabeça e suspirou.

— Ouça, Joe não é perfeito...

— Uma admissão e tanto vindo de você.

Teresa sorriu.

— Verdade. Eu o defendo. Faço o que posso para ajudá-lo. Joe é um ótimo chefe. E tem sido bom para mim. Não estou dizendo que a maneira que ele lidou com a situação de vocês foi certa...

Demi a deteve, erguendo ambas as mãos.

— Sabe de uma coisa? Esqueça isso. Faz mais de um ano. E passado. E qualquer coisa que Joe e eu tivemos acabou.

Teresa inclinou a cabeça para um dos lados e estudou-a pensativamente.

— Você realmente pensa assim?

— Acredite em mim — disse Demi, recomeçando a andar. — Joe me esqueceu completamente.

— Se você diz. — Teresa parou diante de um conjunto de portas duplas. Gesticulando uma mão para as portas com um floreado, murmurou: — Aqui estamos. Sua nova acomodação. Espero que goste.

— Tenho certeza que será maravilhosa. Muito melhor do que Riviera Deck de qualquer forma.

— Oh, não há a menor dúvida quanto a isso — concordou Teresa com um sorriso. — Entre agora. Suas roupas já foram penduradas. Tenho certeza de que eu a verei novamente.

— Certo. — Demi permaneceu parada no corredor, observando Teresa partir. Havia alguma coisa acontecendo ali, pensou, apenas não sabia o que era ainda.

Então ela olhou para seu relógio, viu que tinha menos de uma hora para se aprontar a fim de jantar com Joe, e abriu a porta com o cartão-chave que Teresa lhe dera.

Entrou, respirou fundo e quase desmaiou.

O cômodo era incrível... enorme, espaçoso... com paredes de vidro que mostravam a vista de um oceano que se estendia infinitamente e de um céu azul salpicado de nuvens brancas.

Pisos de madeira clara tinham um brilho dourado, e os móveis espalhados no ambiente pareciam projetados para o conforto. Havia uma lareira em uma parede, um bar de canto, e o que parecia obras de arte inestimáveis decorando as paredes. Havia vasos preenchidos com arranjos gloriosos de flores frescas, que perfumavam o ar, até que ela se sentiu como se estivesse andando num jardim.

— Esta não pode ser a minha cabine — sussurrou Demi, balançando a cabeça de um lado para o outro, enquanto tentava absorver tudo de uma vez. — Tudo bem, ser transferida para uma suíte. Mas esta é o Taj Mahal das suítes. Isso só pode ser um engano.

— Não é um engano — disse Joe, entrando ali e dando-lhe um sorriso que mesmo do outro lado da sala era tentador o bastante para fazê-la arfar. — Esta é a minha suíte, e é onde você vai ficar.

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                       Hey babys mais um capítulo pra vocês!!! Estão gostando?
                       xoxo Nathi