6.8.15

Dois Pequenos Milagres - Capitulo 5

Ele já estava na autoestrada M25 quando recuperou o bom-senso; tomou o primeiro retorno, parou em um esta­cionamento, desligou o motor e esmurrou o volante.

Que diabos ele estava fazendo? Ela só o estava provocando! Era só isso. Nada drástico. Ela sempre o provocara, mas ele se esquecera disso. Joe se esquece­ra de muitas coisas. De como era a sensação de abraçá-la, de tocá-la, de se perder nela... Ele engoliu em seco. Não, não podia se permitir pensar naquilo. Era cedo de­mais; ele não tinha a menor chance de chegar tão perto dela. Mas ele a queria; queria tocá-la, abraçá-la, sentir seu calor.

Deus, ele se sentia sozinho. Sozinho demais, sem ela. E não podia fazer aquilo, não podia jogar a toalha, desistir de suas lindas filhinhas e fugir, só porque ela o provocara por causa do maldito alho!

Com um suspiro trêmulo, ele ligou o motor, saiu do estacionamento, tomou o retorno e a rodovia A12, e vol­tou para a mulher.

*****

Ele não iria voltar.

Ela se sentara perto da janela, encolhida contra o vidro, com um cobertor sobre os ombros, e esperou até o pub fechar, mas ainda não havia sinal dele.

E se o carro tivesse quebrado? E se ele tivesse saído da estrada, numa crise de fúria? Ele parecia tão zangado ulti­mamente, mais zangado do que ela jamais o vira. Seria culpa de Demi? Deveria ser. O que mais poderia ser?

E, agora, ele estava Deus sabia onde, talvez deitado de bruços em uma vala cheia de água.

As luzes iluminaram o jardim, cegando-a com o brilho dos faróis, enquanto ele parava o carro e desligava o mo­tor. A luz de segurança se acendeu quando ele saiu do carro, e então ela ouviu a porta bater e o barulho dos pés dele sobre o cascalho, enquanto ele se aproximava da porta da frente.

Ele parou e olhou para ela através da janela, com uma expressão sombria; e, em seguida, sacudindo a cabeça le­vemente, caminhou até a entrada, e ela o ouviu abrir e fechar a porta. E então, ele estava ali, enchendo a soleira da porta com sua presença dominadora e silenciosa.

— Eu sinto muito — disse ele.

— Não, eu é que sinto muito — respondeu ela, levantando-se e indo até ele, sentindo os pés um pouco dolori­dos depois de ter se sentado sobre eles durante tanto tempo, esperando por Joe. — Eu não devia ter sido tão cruel com você.

— Está tudo bem. Não é sua culpa. Eu exagerei.

— Não, não exagerou. Você estava fazendo o melhor que podia. Sei que você não sabe cozinhar, e deveria ter ajudado mais, e não simplesmente atirado você às feras e esperado que você se virasse, só porque me criticou.

— Eu não a critiquei. Ou, pelo menos, não tive a inten­ção. Eu só estava perguntando. Desculpe se fiz parecer uma crítica.

Tantos pedidos de desculpas. De Joe? Ela sacudiu a cabeça lentamente, e foi até o fogão.

— Esqueça. Você já comeu?

— Não, eu estava indo para casa. Cheguei à M25 antes de recuperar o bom-senso.

Ela franziu a testa.

— São mais de 80 quilômetros!

— Eu sei. Eu estava... bem, vamos apenas dizer que levei algum tempo para me acalmar. O que é ridículo. En­tão, respondendo a sua pergunta, não, não comi nada, e sim, por favor, se a comida não estiver arruinada. Não que eu ache que você poderia arruiná-la. Eu já cuidei disso.

— A comida está boa — disse ela, determinada a comer tudo mesmo que se engasgasse. — Bem, eu acredito que ia lhe servir uma taça de vinho?

Ele deu uma risada abafada.

— Parece bom.

— Tinto ou branco? Ele sorriu.

— Vou terminar o tinto. Vai neutralizar o alho — disse ele com ironia, e ela sorriu de volta, entregando-lhe a gar­rafa e uma taça.

Demi voltou-se para a paella, tirando a tampa da panela e piscando com o cheiro forte, mas serviu os pratos sem dar uma palavra, e eles se sentaram à mesa e comeram em meio a um silêncio civilizado e levemente tenso, até que Joe finalmente afastou o prato e olhou nos olhos dela.

— O tempero está um pouco forte para o meu gosto — disse ele, e ela abaixou o garfo e sorriu para ele.

— Eu não estou com muita fome — mentiu Demi. — Devo fazer um pouco de chá?

— Não precisa. Estou satisfeito com o vinho, mas po­deria comer algumas torradas, ou algo assim.

— Queijo e biscoitos? Ou talvez eu possa pegar uma torta de maçã na geladeira e colocá-la no forno?

— Parece ótimo. Podemos comer mais tarde, depois do queijo e dos biscoitos.

Ela riu e tirou a mesa, colocando o queijo e os biscoitos à frente de Joe e a torta de maçã no forno, e então apa­nhou uma taça e se serviu de um pouco de vinho.

— Desculpe-me, eu não imaginei que você quisesse um pouco.

— Está tudo bem. Eu não bebo vinho normalmente, porque ainda estou amamentando as meninas, mas hoje... bem, pensei que poderia beber um pouco com você.

— Fique à vontade.

Demi girou o líquido na taça e olhou-o nos olhos por sobre ela.

— Então... por que você ficou tão zangado? — perguntou ela, hesitante. — Não foi só por causa do alho.

— Eu não sei, é... Bem, é este lugar, na verdade.

— O chalé? Mas ele é adorável!

— Oh, tenho certeza de que é, mas simplesmente odeio a ideia dele. Você é minha mulher, Demi. Eu não quero ver você morando na casa de outro homem.

Ela se recostou na cadeira, olhando para ele por sobre a mesa e se perguntando se havia sido rápida demais ao perdoar.

— Não é uma sorte, então, que isso não tenha nada a ver com você? Porque nós somos felizes aqui.

— E você não poderia ser feliz na sua própria casa?

— Você quer dizer a sua própria casa? Ele suspirou.

— Não, a sua. Eu poderia comprar uma para você no seu nome. Deus sabe que eu lhe devo isso. Pelo menos, se você não voltar para mim. Estamos falando sobre onde as minhas filhas vão morar, pelo amor de Deus.

— Eu posso dar um lar para as suas filhas.

— Sim, na casa de outro homem, vivendo da generosi­dade dele! Eu não gosto disso, Demi. Não gosto nada dis­so. Não gosto de ficar aqui, não gosto da ideia de ele po­der voltar a qualquer momento e de ter o direito de ficar aqui. Quero ter privacidade enquanto resolvemos tudo, e me sinto o tempo todo como se estivesse esperando pelo golpe final.

— Bem, talvez seja bom que você queira comprar uma casa para mim, porque ele vai voltar dentro de um mês e eu estarei sem teto.

— Você poderia voltar para mim.

— O quê? Para o apartamento? Eu acho que não.

— Poderíamos comprar uma casa em Londres. Em Hampstead, ou algo assim. Barnes, ou Richmond...

— Ou eu poderia ficar aqui em Suffolk, perto dos meus amigos.

— Você tem amigos aqui?

Ele parecia tão chocado e surpreso que ela quase riu.

— Ora, é claro que tenho. Jane e Peter, para começar, e também conheci algumas pessoas no hospital, e atra­vés do grupo de apoio das gêmeas, e da rede "Fralda de Verdade"...

— O quê?

— A rede "Fralda de Verdade". E há um grupo de en­contro para jovens mães que eu frequento no vilarejo. Nós nos reunimos para tomar café.

— Então... você quer ficar aqui?

— Sim. Pelo menos até sabermos o que vai acontecer conosco. Não tenho nenhuma infraestrutura em Londres, Joe. Eu ficaria muito sozinha lá, e sei que, se formos para Londres, você vai estar longe o tempo todo, indo para o escritório por um minuto ou algo assim, e antes que eu me dê conta você estará em Nova York, ou Tóquio, ou Sydney.

— Tudo bem. Então, você quer uma casa aqui. Há alguma à venda?

— Eu não faço ideia, Joe. Não andei procurando.

— E o que você planejava fazer?

— Não tenho certeza. — Voltar para ele? Não. Deveria contar a ele? Telefonar para ele? Estava quase certa de que sim, porque não fazê-lo seria muito injusto.

— Como está a torta?

— Oh. Eu não sei.

Ela abriu o forno e retirou a torta; estava crocante e dourada, e a fragrância das maçãs enchia a cozinha.

— Está pronta.

— Então vamos comer, e nos preocuparemos com a casa mais tarde.

Inferno. Ela queria ficar ali, no meio de Suffolk? Com seus amigos, amigos que ele não conhecia, amigos de quem mal ouvira falar porque ela os via tão raramente; ele não conseguira encontrá-la através deles porque não tinha ideia de como entrar em contato com eles. Ela se encontrara com Jane na cidade algumas vezes, e passara um fim de semana ou dois com ela, quando eles moravam em Berkshire. Ele se lembrava vagamente de ouvi-la dizer que eles estavam se mudando, mas não para onde; só que era para mais longe. E, como ele não tinha a menor idéia de qual era o sobreno­me de Jane, aquilo não o ajudara muito.

E eles eram mais importantes para Demi do que ele?

Não. Pare. Ela não tinha dito aquilo. Ela só dissera que, até que soubessem o que aconteceria a eles, precisava fi­car perto de sua infraestrutura.

Bem, ele podia entender aquilo. Ele se sentia totalmen­te perdido sem a sua, também.

— Está boa?

Ele franziu a testa. O quê?

— A torta. Está boa?

A torta. Ele olhou para seu prato, quase vazio, e perce­beu que mal sentira o gosto da torta. Joe piscou, surpreso.

— Sim, está boa. Está ótima. Obrigado.

— Você estava a quilômetros de distância.

— Na verdade, não. Eu estava bem aqui, pensando no que vai acontecer agora — confessou ele.

— Agora?

— A respeito da casa, quero dizer.

— Oh. Humm... certo. Bem, acho que eu preciso come­çar a procurar.

Do que diabos ela achava que ele estava falando? A menos que...

Não. Ela não estava interessada, e deixara aquilo bem claro. Ela estava enviando sinais de "mantenha distância" praticamente desde que ele chegara. Além daquele beijo roubado que ela interrompera, Demi mal o tocara, exceto por acidente.

Então, por que ela estava corando?

— Poderíamos procurar na Internet — disse ela, e ele sentiu seu radar voltar à vida.

— Internet?

— Sim, temos acesso aqui em casa, no escritório. O computador pertence a John, mas ele não se importa que eu o use. Ele me envia e-mails frequentemente, e eu res­pondo, contando como as coisas estão indo e enviando-lhe fotos de Murphy e dos bebês.

Os bebês? Ela enviava a John fotos das filhas dele?

E, então, Joe parou de pensar em John Blake e come­çou a pensar no que importava.

Havia um computador na casa. Um computador com acesso à Internet. O que significava que ele poderia che­car sua caixa de e-mails; manter contato com seus colegas e funcionários, e ficar de olho no que estava acontecendo nos mercados financeiros.

— Boa idéia — disse ele. — Vamos colocar a louça na máquina e depois daremos uma olhada.

— Claro.

Ela foi até a pia e jogou os restos da refeição deles no triturador; em seguida, virou-se para apanhar o resto das coisas, bem no momento em que ele se aproximava dela, segurando outro prato e uma panela.

— Opa! — disse ele com um sorrisinho, tirando a pa­nela do caminho antes que Demi esbarrasse nela; e, em vez disso, ela colidiu com Joe, seus seios macios e cheios apertados contra ele, e seus olhos se ergueram para encon­trar os dele, arregalados e espantados.

— Cuidado — murmurou ele, colocando a panela na pia e o prato de volta na mesa. E, subitamente relutante em perder aquele contato suave, ele passou os braços ao redor dela e a puxou contra si.

— Joe? — sussurrou ela, num fiapo de voz. Mas foi o suficiente; aquela palavra suave lhe dissera tudo o que ele precisava saber sobre o quanto ela o queria, e, sem esperar convite, ele abaixou a cabeça, fechou os olhos e colou os lábios nos dela.

Ela não podia deixá-lo fazer aquilo. Não podia... Ela deveria estar cheirando a alho. Como ele poderia perceber, depois da paella, Demi não sabia, mas pensou novamente na briga dos dois, no comentário dela sobre aquilo não importar porque ninguém iria beijá-la.

Mas Joe a estava beijando como se sua vida dependesse disso; e, de repente, ela não se importou mais com o alho, e simplesmente retribuiu o beijo, sentindo a força dos bra­ços dele ao seu redor, as coxas poderosas que esmagavam as dela, o som pesado da respiração dele contra seu rosto enquanto ele lhe explorava a boca, os lábios e a língua famintos, o corpo rígido contra o dela, encurralando-a contra a pia para que ela não tivesse dúvidas sobre sua reação.

Uma de suas mãos deslizou por sob o suéter dela e lhe acariciou um dos seios, e ela gemeu baixinho. O som se perdeu na boca de Joe, que emitiu um som parecido, pro­fundo e primitivo, que parecia arrancado de seu corpo.

— Demi, eu preciso de você — sussurrou ele, sua boca contornando o maxilar dela, seus dentes mordiscando-a, não o suficiente para machucar, mas o suficiente para dei­xá-la ainda mais excitada. E, então, ele correu a língua sobre a pequena marca, suavemente, sentindo-lhe o gosto, e seus lábios deslizaram pela pele de Demi, deixando um rastro de fogo.

Ele a estava deixando louca, e sabia disso, mas ela não podia impedi-lo. Não havia como impedi-lo, porque ela precisava daquilo tanto quanto ele. Ou foi o que Demi pensou, até que a pequenina voz que gritava do fundo de seu subconsciente conseguiu chegar à superfície, e ela percebeu que um dos bebês estava chorando. De repen­te, Joe foi chutado do topo de sua lista, e ela sentiu a paixão se desvanecer, substituída pelo fato fundamental da maternidade.

— Joe — disse ela, virando a cabeça, e ele grunhiu e deitou a cabeça no ombro dela.

— Não, Demi. Não me peça para parar, pelo amor de Deus, por favor.

— As crianças — disse ela, e ele ficou parado por um segundo, e então suspirou pesadamente e se afastou, o rosto vermelho, os olhos escuros com a excitação, en­quanto olhava para ela. Seu peito arfava e, depois de um longo momento, ele fechou os olhos e se virou.

— Vá cuidar delas — disse ele. — Eu espero por você. Mas Demi sabia que aquilo seria a coisa mais estúpida que poderia fazer.

— Não, Joe. Não acho que seja uma boa ideia. Eu vou dormir.

— Não!

— Sim, sinto muito. Não é... Nós não estamos prontos ainda.

Joe deu uma risada rude e, sem esperar que ele disses­se alguma coisa, ela correu para as escadas.

— Ela não está pronta, Murphy. O que você acha disso? Murphy bateu com a cauda no chão e olhou para Joe com adoração, e ele suspirou, coçando as orelhas do ca­chorro gentilmente.

— Pois é, eu concordo. Que droga, não é? O que eu ou fazer se ela nunca estiver pronta, Murphs? Isso está me deixando louco. Toda esta maldita situação está me deixando louco. — Ele se serviu de uma última taça de vinho com o que restava na garrafa e olhou para o líquido, melancólico. Se ao menos ele tivesse alguma coisa para fazer! Algo melhor do que levar sua mulher para a cama e fazer amor com ela até que ela estivesse tão desesperada que não conseguisse falar, respirar, nem fazer nada a não ser gritar e soluçar de desejo.

Ele soltou um palavrão, curto e direto, e, apanhando o controle remoto da TV, ligou o aparelho e começou a pu­lar de canal em canal. Não havia nada para ver. Até mes­mo o noticiário era entediante, e nada o interessava; ele já estava a ponto de atirar o controle pela janela, quando Demi apareceu na soleira da porta, vestindo seu pijama de gatinhos e aquele roupão fofinho, os pés descalços aparecen­do sob a barra, parecendo vulnerável e irresistível. Ele queria beijar cada um daqueles dedos, tomá-los na boca e chupá-los lentamente.

— Posso entrar? É seguro? Ele suspirou roucamente.

— Sim, é seguro. Desculpe-me. É que já faz muito tempo.

Ela assentiu e entrou, sentando-se na beirada da cadeira na frente dele, olhando para ele com um ar cansado.

— Eu não estou sendo muito justa com você, estou? Você não está acostumado com tudo isso, e deve estar morrendo de tédio.

— E estou. Não há nada para eu fazer, a não ser pensar em você e imaginar o que eu posso ter feito de tão errado.

— Nada. Você não fez nada. E esse foi o problema, Joe. Você continuou a agir como sempre, e me levou jun­to. E não era o suficiente.

— Era o suficiente para mim. Eu adorava trabalhar com você, e observar sua incrível habilidade em organizar e resolver as coisas. As coisas simplesmente funcionavam quando você estava por perto, e era impressionante. Eu não percebi o que tinha, até que perdi você.

Ela suspirou suavemente, e se enrolou mais ainda em seu roupão.

— Joe, se quisermos fazer isso funcionar, você vai ter que diminuir as horas no escritório; você sabe disso, não sabe? E diminuir o tempo que passa viajando, principal­mente. Isso não combina com a vida em família.

— A minha família conseguiu se virar. Meu pai traba­lhava tanto quanto eu.

— E ele morreu de um ataque cardíaco aos 49 anos! Só onze anos mais velho do que você é agora, Joe. Suas fi­lhas ainda estariam na escola, e eu seria viúva aos 44 anos. Isso não é algo para esperar da vida.

Deus. Onze anos? Só isso? Não era de admirar que sua mãe tivesse encontrado outro homem para compartilhar a vida. Ela só tinha 62 anos agora, e estava em plena forma, era ativa e cheia de vida. E seu marido morrera jovem demais; Joe conseguia ver aquilo, agora. Seria aquilo que o esperava? Ele iria ao trabalho um dia, e encontraria não sua assistente esperando por ele, mas a Morte e seu cajado, como acontecera com seu pai?

— Estou fazendo tudo isso por nós — disse ele, mas suas palavras soavam vazias, e ela sacudiu a cabeça.

— Não. Você está fazendo tudo isso por você mesmo, porque pode, porque é movido pela necessidade do suces­so, mas há outras formas de sucesso, Joe; outras coisas que você pode fazer.

— Como?

Ela deu de ombros.

— Como ser um bom pai para as suas filhas. Aprovei­tar a vida. Ter um hobby, praticar algum esporte. Não ape­nas correr. Isso é só um exercício solitário que você faz para parar de pensar.

Inferno. Havia alguma coisa que aquela mulher não percebesse?

— Que tal uma partida de xadrez? — perguntou Demi, aparentemente do nada, e ele olhou para ela, rindo baixinho.

— Sim, por que não? Embora eu provavelmente vá des­truir você.

— Duvido. Andei praticando. Eu sempre jogo com John, quando ele está aqui.

John, de novo.

— Ele ganha de você?

— Nem sempre.

Bem, ali estava um desafio. Joe relaxou e sorriu.

— Traga o tabuleiro — disse ele, suavemente.

Oh, céus. Ela reconhecia aquele olhar. Bem, pelo me­nos não seria entediante. Ela foi buscar as peças de xadrez e abriu a mesinha de centro, revelando um tabuleiro; em seguida, apanhou um peão preto e um branco, misturando-os atrás das costas, e mostrou os punhos fechados para Joe.

— O da direita — disse ele, e ela abriu a mão direita, suspirando ao ver o sorrisinho satisfeito no rosto dele.

— Tudo bem, você começa — disse ela, entregando-lhe as peças brancas. A coisa foi ladeira abaixo dali por diante, na verdade, porque ela estava com enormes dificuldades de concentração.

— Xeque.

Ela olhou para o tabuleiro, incrédula. Que diabos acon­tecera? Ela perdera completamente o foco. Demi moveu a rainha; ele deu um muxoxo, tomou-lhe o bispo, e disse:

— Xeque.

— Você tem certeza de que quer fazer isso?

Ela olhou para o tabuleiro, resmungou algo por entre os dentes e mudou de idéia, recostando-se na poltrona.

— Tudo bem.

— Oh, céus. — Ele moveu a última peça, deu um sor­riso malicioso e murmurou: —Acho que você vai concor­dar que é xeque-mate.

O quê?

— Oh, droga — disse ela, jogando-se de volta na pol­trona. — Eu tinha me esquecido de como você é bom nisso.

— Vou considerar isso um elogio — disse ele com um sorriso, arrumando as peças novamente.

— Oh, não — respondeu ela, rindo e erguendo as mãos, rendida. — Não esta noite. Estou cansada e não consigo e concentrar. Jogaremos outra partida amanhã. — Naquela altura, ela já teria recuperado o autocontrole e con­seguiria pensar direito novamente.

— Certo, acho que está realmente na hora de ir dormir disse ela, olhando nos olhos dele. — Joe, por que você não vai deitar cedo hoje?

— E ficar deitado a poucos metros de distância de você, pensando em você? Acho que não. Já faz mais de um ano, Demi. Isso é muito tempo.

E então ocorreu a ela que, naquele ano, poderia ter ha­vido outra mulher. Várias, na verdade. Ela queria saber? Sim.

— Você... você teve — Ela se interrompeu, incapaz de dizer as palavras, mas ele compreendeu e respirou fundo, expirando com incredulidade.

— Você realmente pensa isso de mim? Demi, nós so­mos casados. Eu posso não ter sido o melhor marido do mundo, mas meus votos foram sinceros. Eu não olhei para outra mulher, nem toquei em outra mulher, e nem sequer pensei em outra mulher desde que a conheci. E, desde que você me deixou, não penso em outra coisa. Então, perdoe-me se eu não quero ir lá para cima e ficar deitado educadamente, a pouca distância de você, e ir dormir!

Ela sentiu o rubor lhe colorir as faces, levantou-se rapi­damente e foi para a porta.

— Eu sinto muito. Eu não tive a intenção de ser tão insensível. Só para você saber, senti sua falta também.

— Demi! Demi, espere!

Ela parou, com a mão na maçaneta, e ele se aproxi­mou dela por trás, virando-a gentilmente para tomá-la nos braços.

— Eu sinto muito. Estou irritado, porque preciso de você. Estou me sentindo como um leão enjaulado neste momento, e estou descontando em quem estiver por perto. E acontece de ser você, todas as vezes. E isso é uma droga, porque tudo o que eu quero fazer é abraçá-la... — E, sem dar mais uma palavra, ele a apertou cuidadosamente con­tra o peito e encostou a cabeça na dela. Ela podia sentir o coração dele batendo, a tensão que irradiava de seu corpo, mas sabia que as coisas não iriam além daquilo; que ele não a beijaria, nem a tocaria, nem faria qualquer coisa que ela não provocasse diretamente, porque, apesar de todos os seus defeitos, ele a amava.

— Oh, Joe — suspirou ela, e, passando os braços ao redor dele, abraçou-o com força. — Sinto muito por tudo ser tão difícil.

— Não precisa ser. Você pode voltar para mim.

— Já conversamos sobre isso — ela lembrou a ele, desvencilhando-se de seus braços. — Não vou voltar, não antes de ter provas concretas de que você está mudando para melhor. E, até agora, não vi prova nenhuma disso.

Ele olhou para ela seriamente, e assentiu.

— Tudo bem. Então, amanhã, vamos para Londres. Iremos ao escritório, farei algumas ligações e verei o que posso fazer. E eu gostaria de ir ver a minha mãe.

A mãe dele! Claro! Demi sentira falta dela. Linda Gallagher era o mais próximo que ela possuía de uma mãe agora, e Demi sabia que a mulher lhe daria todo o apoio para tentar fazer Joe trabalhar menos. Afinal de contas, ela perdera o próprio marido cedo demais, e não iria querer que o mesmo acontecesse com seu filho. E ela adoraria as crianças.

— Você já contou a ela? Joe sacudiu a cabeça.

— Não. Como eu poderia? Não tenho um telefone — disse ele com ironia, e ela suspirou.

— Você poderia ter usado o telefone da casa para ligar.

— Só que eu não tenho o número dela.

— Você deveria saber o número do telefone da sua mãe — ralhou ela, e ele deu de ombros.

— Por quê? Está gravado no meu celular. Só que eu não tenho mais o meu celular, porque, ao que parece, ele foi confiscado.

— Eu lhe daria o celular de volta, se achasse que pode­ria confiar em você — disse ela francamente, e ele torceu os lábios.

— É melhor ficar com ele, então — disse ele suave­mente. E, abaixando a cabeça, encostou os lábios nos dela. — Vá dormir, Demi. Eu a verei pela manhã, e então decidiremos o que fazer e resolveremos tudo.

Se ao menos ela pudesse acreditar naquilo.

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Capitulo novo! Comentem amores
xoxo

5 comentários:

  1. Demi ta pegando pesado com o Joe.......... Posta maiiisss!!!

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  2. Amando a fic, posta mais!
    OBS: Quando a Mari vai voltar a postar em A Sexóloga?

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  3. Tá muito boa a fic, tô adorando esses dois. Beijos :*

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  4. estou... sem... palavras!
    eu tive um surto muito grande lendo esse capítulo de madrugada
    está tudo muito perfeito <3
    posta logo, bjs

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  5. Heey Nathalia , nova leitora aqui !!
    Estou simpelesmente amando essa história, incrível !! A Libby e a Ava parecem tão fofinhas ��
    Quando você vai postar o próximo capítulo ? Ansiedade dominando por aqui hahahahahaha
    Bjs .

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