10.5.15

Lar da Paixão - Capitulo 1

— Que diabos está fazendo?! — Joseph perguntou, atônito, segurando a chave do carro enquanto a observava.
Ela estava prestes a fazer uma besteira, lutando com um colchão, tentando colocá-lo dentro de uma caçamba de lixo, e ele se viu obrigado a interferir.


— Deixe-me ajudá-la. — Joseph colocou a chave do carro no bolso e segurou o colchão para suspendê-lo.


— Não!


Para alguém tão pequena, ela era bem forte.


— Não é assim! — ela gritou e correu para o outro lado, puxando o colchão. — Não é para colocá-lo dentro da ca­çamba, estava tentando tirá-lo!


Ele parou e olhou para ela. Examinou seu rosto sem ne­nhuma maquilagem, os cabelos presos num rabo de cavalo, olhos determinados e lábios viçosos.


— Como assim?


— Eu disse que estou tirando...


— Eu ouvi, só não entendi. É um colchão velho, por que quer tirá-lo da caçamba?


— Porque é melhor do que o meu. Não está manchado; pelo menos não estaria se não o tivessem jogado na caçam­ba. Vou aproveitá-lo.


— Aproveitar? — Ele cruzou os braços e os apoiou sobre o colchão, encarando-a. — Quer mesmo este colchão?


— Isso mesmo, e só temos alguns minutos até o seguran­ça aparecer por aqui novamente. Ou você me ajuda ou sai daí para eu puxá-lo sozinha antes que ele volte!


Joseph olhou para a cabine do segurança e depois para ela.


— Está me pedindo para ajudá-la a roubar um colchão?


— Não é bem um roubo, pois ele foi jogado fora. Vai me ajudar ou não?


Ele demorou demais para responder e ela já estava puxan­do o colchão.


Mas não poderia deixar que ela fizesse aquilo, ela era tão miudinha...


Droga.


— Saia do caminho — ele disse de repente enquanto olha­va para a porta dos seguranças. — Para onde devo levar?


Não era muito longe, mas o suficiente para pesar. Um dos lados do colchão bateu no chão e ele suspendeu e lembrou-se de aceitar a oferta de Nick para usar sua academia de ginás­tica. Seus bíceps estavam mostrando que precisavam de exercícios, ou então aquele colchão era muito bom. O que era uma surpresa, pois nada que vinha do antigo hotel era grande coisa.


De repente ela parou.


— É aqui. — Ela abriu uma porta na parte dos fundos do hotel e deixou que ele a seguisse pela escada. — Cuidado, não tem luz aqui, eles cortaram a energia deste lado — avi­sou, chegando ao topo e entrando num quarto.


Ele parou no meio da escada para recuperar o fôlego e sentiu um cheiro esquisito. Cheiro de umidade. Não era à toa que ela precisava de um colchão novo, ele pensou ao bata­lhar para passar com o colchão pela porta e se perguntar se tinha perdido o juízo.


Claro que havia. Ele não devia estar fazendo isso, facili­tando a permanência dela. Nick e Harry iam querer matá-lo.


Com a pouca iluminação que tinha da rua, ela empurrou algumas coisas do caminho para abrir espaço e colocar o colchão.


— Ali vai ficar ótimo. — Ela se endireitou e, pela primei­ra vez, ele pôde vê-la direito sem o colchão entre os dois.


Ela estava grávida?


Instalada no hotel deles, atrapalhando a reforma, atrasan­do os prazos, estourando o orçamento e ainda por cima grá­vida


Ah, meu Deus. Isso ia de mal a pior.


Ele colocou o colchão no chão porque era melhor do que ficar segurando, e ela prontamente deitou-se sobre ele, de barriga virada para cima, dando um grande suspiro e sorrin­do. A camiseta tinha subido, revelando os alfinetes que seguravam o fecho da calça jeans. Ele vislumbrou a pele branca da sua barriga e sentiu-se tentado a passar a mão sobre a protuberância e fazer promessas...


Mas ela estava com as mãos debaixo da cabeça e os olhos fechados. Ela tateou o colchão e sorriu.


— Isto é maravilhoso! Tão mais macio do que o chão! Venha, experimente!


Experimentar'? Deitar do lado dela? Ela estava maluca! Ele começou a listar mentalmente as razões que o impedi­riam de experimentar: 1) o colchão era roubado; 2) roubado da caçamba da sua própria obra; 3) ela estava deitada sobre ele. Além de ser uma grávida sensual e estar atrasando sua obra, ainda lhe pedia para se deitar do lado dela?


Ele recuou até a porta.


— Não posso. Não tenho tempo. Preciso dar um telefo­nema.


Para contar para Nick e Harry que tinha conhecido sua inquilina. A sua inquilina grávida!


Rapidamente ela se levantou e se dirigiu até o quarto ao lado.


— Faça-me um favor, sim? Jogue isto fora para mim, está cheirando mal.


— O que é isso? — Ele foi atrás dela.


— O colchão velho, o que mais poderia ser?

Claro, ele pensou, o que mais?


— Está me pedindo que jogue um colchão fedorento na caçamba de lixo? — ele indagou, sentindo-se subitamente cansado e confuso, e se perguntando o que fazia com uma mulher grávida que ocupara o hotel deles e atrapalhava todo o cronograma da reforma.


— Bem, na verdade, é apenas uma troca. Tenho certeza de que, diante de todo o transtorno que estou causando aos construtores, eles não vão se importar com um colchão mal­cheiroso. Ele já não era grande coisa, mas, depois que o re­boco do teto caiu na outra noite, ficou ensopado.


Então o reboco do teto tinha caído sobre o colchão de uma mulher grávida? Joseph ficou espantado com aquilo e pen­sou na repercussão negativa que isso poderia causar, e a se­guiu pelo quarto.


Ela estava com a razão. O colchão cheirava muito mal. Mais do que isso, era velho, imundo e cheio de reboco. E ela queria que ele o carregasse pela rua? Exatamente na sua ci­dade natal, onde ele tentava se firmar para ser benquisto pe­los próximos trinta anos?


Mas que droga, ele pensou ao agarrar o colchão para er­guê-lo. Mesmo molhado ele pesava menos do que o outro.


— Abra a porta — ele disse, resignado, lutando para des­cer a escada e chegar à calçada.


— Está cheio de mofo, achei que isso poderia fazer mal ao bebê.


Nem tanto quanto seria se o reboco do teto caísse sobre ela, ele pensou, mas continuou carregando o colchão. Co­nhecendo sua sorte, o segurança devia pegá-los em breve. Fantástico. Já podia imaginar o diálogo entre os dois!


Na entrada do estacionamento ela parou para se certificar se não havia ninguém.


— Tudo bem — ela murmurou.


E ele sufocou uma risada, arrastou o colchão pelo estacio­namento e o soltou na caçamba logo que viu uma luz anun­ciando a chegada do segurança.


— Ei! O que estão fazendo aí? — ele gritou.


A mulher agarrou a mão de Joseph, e os dois saíram cor­rendo. Ela corria e dava risada, puxando sua mão com uma força surpreendente.


Então ele correu também, segurando-a quando ela quase caiu ao virar a esquina. Então a puxou para uma entrada es­condida a poucos metros da rua, colocando a mão sobre a sua boca e sentindo a saliência da sua barriga lhe pressionan­do enquanto ela se esforçava para não rir.


E ele só pensava na maciez dos seus lábios sob sua mão e a sensação estranha daquela barriga comprimindo-o.


Em seguida, ele sentiu o bebê chutar, e o riso deu lugar a um desejo incontrolável de protegê-la.


Não sabia nada sobre essa mulher, exceto que estava rei­vindicando o direito ao hotel, direito esse que foi contestado pelo filho do ex proprietário que vendeu o imóvel a eles pou­co antes de morrer. O próprio filho lhes assegurou que sua pretensão era descabida e que a tiraria de lá em pouco tempo.


Isso foi seis semanas atrás, e ela não saiu. Agora Joe a encontrou e descobriu que estava grávida, o que mudava tudo. Ele quis saber mais sobre ela, conhecer sua história de vida. A mente de Joe lhe dizia que era por causa do hotel, e não pelos olhos sorridentes e a sensação do bebê lhe chutan­do, mas o coração dele era mais sábio.


Pela primeira vez em quase um ano, Joseph Jonas es­tava interessado em uma mulher, e tudo mais, inclusive seu bom senso, ficou sem sentido.


*****
Seu parceiro de roubo botou a cabeça para fora e observou atentamente a rua.


— Nenhum sinal do segurança.


— Que bom. Acho que ele nem se preocupou, é preguiço­so demais. — Ela inclinou a cabeça para o lado, sabendo que deveria se afastar, mas estava gostando de segurar a mão dele e sentir o corpo dele no seu. — Preciso sair e procurar alguma coisa para comer — ela disse, sem entusiasmo, se preparando para comer de novo feijão enlatado, frio, mas ele só tirou a mão do seu ombro, deixando-a com uma sensação de desamparo.


— Você não se alimentou? — ele perguntou, espantado.


— Não, ou não estaria falando de comida.


Ele se afastou, e pela primeira vez ela pôde ver rosto dele, e parecia meio hesitante.


— Que tal comprarmos uma refeição para viagem?


— Mas você não disse que precisava dar um telefonema?


— Depois eu faço isso. De qualquer forma, também pre­ciso comer. Podemos comer na praia, estou convidando.


Parecia bom. Se fosse na casa dele, ela não iria, mas na praia não teria problema. Assim não se afastaria por muito tempo.


— Eu aceito — ela disse, sem querer recusar uma comida, qualquer que fosse a sua origem.


Vivia com fome por causa da gravidez, claro, o bebê su­gava tudo que precisava, e ela vinha se alimentando muito mal ultimamente. Ela não conseguia ganhar quase nada, e todo seu dinheiro era destinado a pagar as despesas com o processo,


— Comida chinesa, indiana, tailandesa, italiana...?


— Tailandesa, nem pensar. Pode ser chinesa?


— Claro. Tem um bom restaurante aqui perto. Venha, va­mos caminhando; a não ser que esteja cansada.


— Estou bem. Só estou grávida e com fome.


— Então vamos comer. Alguma preferência?


— Camarões empanados com legumes e arroz colorido — ela respondeu sem demora.


E pelo celular, ele fez o pedido, acrescentando yakisoba de frango. Nossa, quanta coisa gostosa!


O restaurante ficava de frente para o mar, no final da coli­na que terminava na praia. Ela já havia comido lá uma vez, com Jamie, quando voltaram para Yoxburgh. Parecia que havia passado uma vida inteira.


Duas vidas...


— Vamos entrar?


— Sim, claro.


Finalmente, com as luzes do restaurante, ela conseguiu vê-lo direito enquanto aguardavam a refeição no balcão. Seu carregador de colchão era bem interessante! Que era alto, ela já sabia, mas agora podia ver a beleza do seu rosto e do seu corpo, que mesmo em uma mulher no estado dela despertava interesse. Usava camisa social branca com as mangas arregaçadas, revelando antebraços fortes e bronzeados e um pes­coço poderoso. Seus ombros eram largos, nenhuma barriga e pernas compridas e magras no seu jeans confortável. Saudá­vel em todos os sentidos, ele era uma tentação. Nem que fosse só para tocar. Seu cabelo escuro era sedoso e brilhante, e ela logo pensou no cabelo dela depois de várias semanas lavando com água fria e detergente, e secando ao vento.


Só podia estar medonho.


Não era palpite, era fato, e ela disfarçou e desviou o olhar. O rapaz estava tão afastado dela que era ridículo, e ela nem sabia por que ele estava se incomodando com ela.


Provavelmente por pena, mas ela não ia recusar uma re­feição completa por questões morais. Seria burrice.


Joseph pegou a sacola no balcão e saiu com ela do restau­rante, encaminhando-se até o outro lado da rua, para a calça­da da praia.


— Aqui está bom? — ele perguntou parando ao lado de um banco, e ela acenou.


Havia iluminação suficiente na rua, a lua refletia sua luz sobre o mar, e a comida cheirava tão bem que ela começava a babar.


— Está perfeito — ela disse, tentando não pensar nele e no quanto era intangível, e se concentrando no assunto mais urgente.


Ela se sentou sobre uma das pernas, de frente para ele e para a comida, e esperou enquanto ele tirava as caixinhas da sacola, espalhando-as sobre o banco para em seguida lhe en­tregar os pauzinhos.


— Sinto muito não ter um garfo.


— Os pauzinhos servem. — Ela rasgou o papel da emba­lagem e começou a comer. — Nossa! — ela disse sorrindo para ele. — Que delícia.


Foi só o que disse por um bom tempo.


*****


— Sente-se melhor agora?


Finalmente, com a fome saciada, ela sorriu meio enver­gonhada.


— Acho que sim. Provavelmente vou explodir a qualquer momento, mas, sim, foi fantástico. Obrigada, e lhe agradeço também por ter carregado o colchão para mim.


— Qual deles? O que roubou ou o outro que você doou?

Ela riu, e seus olhos brilharam como o mar.


— Pelos, dois — ela disse, e em seguida o riso se desfez, e ela olhou para o mar com o semblante preocupado.


— Um tostão pelos seus pensamentos.


— Estava me perguntando se valeu a pena tanto trabalho com os colchões. Afinal, será por pouco tempo. Não posso ficar lá. Mas, por outro lado, se sair de lá perco as chances de lutar pelos direitos da minha filha, direito de herdeira.


— Filha? — ele se interessou, ignorando o resto. Depois ele descobriria uma maneira de lidar com isso, quando con­versasse com Nick e Harry, mas por enquanto...


— Estou grávida de uma menina. Descobri quando fiz uma ultrassonografia. Fiz questão de saber o sexo, até por­que agora somos só nós duas e eu queria começar a conhe­cê-la. Podemos conversar bastante agora.


Ele não fez nenhum comentário sobre isso, apenas sorriu.


— Já escolheu um nome para ela?


— Bem, com certeza não será Yoxburgh — ela disse rindo.


— Como?


— Porque meu nome é Demi — ela explicou. — Mas podia ser pior. Conhecendo a minha mãe, poderia ter sido Glastonbury ou Marrakesh, já pensou?


Ele achou graça.


— Devo concordar que Demi é de longe a melhor escolha entre todos, mas sempre tive uma preferência pelas ilhas es­cocesas. — Ele estendeu a mão e sorriu. — Meu nome é Joseph — ele disse, evitando revelar seu nome completo para não estragar o breve interlúdio.


Não ia demorar muito para ela descobrir quem ele era. E, quando isso acontecesse, ela passaria a odiá-lo. Neste mo­mento ele parou de pensar, porque ela lhe segurou a mão, então sua mente parou de funcionar e foi seu corpo que assu­miu o controle.


— E onde sua filha vai nascer? — ele perguntou, forçando-se a raciocinar e recolhendo a mão.


— Não sei, depende.


— Depende de quê?


— De ganhar a briga. — Ela suspirou. — É uma longa história.


— Tenho todo o tempo do mundo — ele disse e se virou no banco de forma a ficar de frente para ela.


Assim podia observá-la e tentar entender o problema que estava ameaçando as obras do hotel. Ele viu as suas mãos protetoras sobre o bebê.


— É uma história complicada.


— Não duvido disso.


— Passei minha vida toda viajando com a minha mãe, de um lado para outro do mundo, desde que nasci. Além de antropóloga, ela é meio hippie. Acho que sabia pouco sobre o meu pai além do nome dele, Rick, mas isso não importa; depois que eu nasci ele nunca nos viu. Eu vivia mudando de escola e às vezes, quando não havia nenhuma por perto, era minha mãe quem me dava aulas. Ainda assim eu consegui terminar meus estudos com notas suficientemente altas para cursar uma universidade.


— E o que foi que escolheu estudar?


— Direito. Queria ser advogada de direitos humanos, mas não concluí. Quando cursava o segundo ano, minha mãe fi­cou doente e quase morreu. Fui cuidar dela e nunca mais voltei. E, mesmo muito doente, ela se recuperou rapidamen­te, mas eu perdi o ano. Resolvi então aproveitar para viajar antes de voltar para Maastricht e retomar meus estudos. Fui para a Tailândia onde conheci Jamie, e passamos a viajar juntos. Viajamos pelo mundo de mochila nas costas, ele me mostrou alguns lugares que visitara e depois de um ano vol­tamos para Yoxburgh para ele ver o pai.


Ela fez uma pausa e ficou séria, enquanto ele observava, fascinado, seu rosto emocionado.


— O pai dele, Brian, não estava bem e pediu a Jamie que ficasse para ajudá-lo a administrar o hotel, mas ele não quis ficar. E ainda queria me levar com ele, mas eu não fui. Assim, ele foi e eu fiquei para ajudar Brian a administrar o hotel e estudar por meio período. Uma das vantagens do modo de vida da minha mãe foi que aprendi muitos idiomas, portanto, pude ganhar dinheiro trabalhando como intérprete e fazendo traduções, já que Brian não podia me pagar nada. Em novem­bro, depois de quase um ano longe, Jamie voltou, mas foi por pouco tempo, nem esperou o Natal. Ele pegou algum dinhei­ro com o pai e voltou para a Tailândia, mas logo adoeceu e morreu. Ele nem chegou a saber que teríamos um filho.


Droga, isto era bem mais complicado do que ele imagina­va. Ele não diria que lamentava porque estaria mentindo. Mas estava revoltado com o comportamento irresponsável do sujeito; porém, não seria correto dizer isto para ela, ainda mais que não havia sinal de tristeza no rosto de Demi, apenas resignação. Então ficou calado, observando-a acariciar a barriga saliente.


Ele não conseguia tirar os olhos daquela mão que acari­ciava a barriga.


Depois de uma pequena pausa ela voltou a falar:


— Brian ficou arrasado. Ele tinha problemas no coração, e o choque com a morte de Jamie acabou provocando um ataque cardíaco; então os médicos o aconselharam a vender o hotel e se tratar. Brian ia fazer um bom negócio com essa empresa de construção, tendo em vista a decadência do ho­tel, e queria garantir o futuro do meu filho. Pretendia arranjar um bom lugar para nós três morarmos e dar metade do di­nheiro para seu outro filho, lan. Só que ele morreu um mês antes de nos mudarmos, e lan, que só veio ver o pai no leito de morte, apareceu para se apropriar da herança. Disse que antes de morrer o pai tinha lhe pedido para não me deixar desamparada, então me deu 500 libras esterlinas e o prazo de uma semana para ir embora.


— E quanto ao testamento?


— Brian tinha dito que mudaria o testamento — ela disse com um sorriso triste. — Mas acho que nunca o fez, e além disso o documento nunca foi encontrado. Segundo Brian, no testamento original ele deixava tudo para seus dois filhos, Jamie e lan, e naquela época Jamie já tinha morrido, e esse foi o motivo de querer mudar o testamento. Obviamente ele nunca o mudou, e, como o documento não foi achado, pela lei toda a herança iria para o outro irmão.


— E o bebê? Ele não tem direito à metade da herança que seria de Jamie?


— Não necessariamente; depende do que está estipulado no testamento. Mas, sem o documento, o assunto é discutí­vel. Achei que lan fosse ser benevolente com meu filho, em consideração ao pedido do pai, mas pelo visto me enganei. Depois de provar que o filho é de Jamie, vou torcer para que o testamento apareça e que tenha alguma cláusula sobre fi­lhos nascituros.


— Acredita que ainda possa aparecer?


— Acho difícil. Ian vasculhou tudo à procura dele, pois sem o testamento a validação poderá levar anos, mas ele não encontrou, e agora devem ter resolvido de outra for­ma, pois a construtora já começou a trabalhar. E Brian era tão desorganizado que o documento poderia estar em qual­quer lugar, ou mesmo ter sido jogado fora por engano; pena que eu não possa entrar lá para procurar. Não posso entrar no prédio principal, apenas no anexo. Não tenho permissão.


— Permissão?


— Os seguranças não me deixam entrar. São as regras da construtora. Não somos amigos.


— Então, o que acontece agora?


— Vou ficar e esperar que lan mude de ideia e resolva me ajudar, mas não posso fazer o teste de DNA enquanto a criança não nascer, e até lá já serei obrigada a sair do hotel. Não quero me mudar, porque, enquanto estiver aqui, estou garantida; por outro lado como vou ter minha filha aqui? E lan se recusa a ceder sem testamento válido. Eu não o culpo, pois ele não me conhece. Nós só nos conhecemos no dia do enterro, e não o vi mais desde quando ele destruiu tudo atrás do testamento. Recebi várias cartas ameaçadoras.


Joe teve de se controlar para não externar sua opinião; e se lan aparecesse ali, naquele momento, ele era capaz de acabar com ele. Mas a situação de Demi era bem mais com­plicada do que ele imaginava. Precisava conversar com Nick e Harry, só que agora estava tarde demais. Demi estava bocejando sem parar, e ele precisava acompanhá-la até sua casa.


Casa?


Ele mal podia acreditar que ela estivesse vivendo daquele jeito, com seus poucos pertences espalhados pelo chão, dor­mindo num colchão velho num lugar úmido e fedorento.


Não havia energia, nem luz, apenas água, e ainda estavam tentando tirá-la de lá por meios legais.


Agora que conhecia o outro lado da história, Joe não sa­bia o que deveriam fazer.


— Você está cansada demais, deixe-me levá-la para casa — ele sugeriu, e a viu colocar os restos todos dentro da quentinha e tampá-la.


— É para amanhã, posso?


— Pode levar — ele disse, jurando para si mesmo que resolveria esta questão de uma vez.


Logo que acordasse, Joe falaria com os outros sobre esta situação. Se dependesse dele, aquela seria a última noite que Demi passaria no colchão reaproveitado naquele quarto úmi­do, com sobras de comida chinesa.


Ela não pretendia deixá-lo entrar, mas ele insistiu em ver se estava seguro, se ninguém havia entrado ali na sua ausên­cia. Em seguida, ele saiu e ouviu o barulho das trancas, e se perguntou contra quem ela estaria se protegendo. Ficou ali pensativo, preocupado com ela, depois se encaminhou até onde deixara seu carro estacionado. O segurança apareceu para saudá-lo quando abriu o carro e as luzes se acenderam automaticamente.


— Está de saída, senhor?


— Sim. Está tudo bem?


— Alguém jogou um colchão na caçamba, mas eu os es­pantei — ele disse. — Eram dois garotos.


Joseph fez força para permanecer sério.


— Acontece o tempo todo — ele disse acenando e entran­do no carro para ir para casa.


Para sua casa, uma residência recém-construída, de cinco quartos e mais uma ala para hóspedes, com uma linda vista para o mar e apenas um morador.


Ao entrar em casa e acender as luzes, a culpa o consumia. Culpa e vergonha. Não pelo luxo, pois não havia nada disso. A casa era decorada com poucos móveis para não prejudicar a circulação. Tudo bem simples, harmonizando pedra, ma­deira, tijolo e vidro.


E vazia.


Daí a culpa, por haver tanto espaço para uma só pessoa, isso era uma obscenidade. Isso e o fato de Demi, sozinha e sem apoio, estar lutando uma batalha que nunca deveria ter lutado no anexo do hotel, um ambiente sórdido, praticamen­te abandonado. Tinham de lutar, mas não com ela, e sim com o tio da criança que ela esperava.


Precisaria conversar com Nick e Harry pela manhã e ver o que fariam, pois ela não podia ficar lá, mesmo sem consi­derar o prazo da reforma e a demolição daquela ala do hotel dentro de duas semanas.


Garantir a sua segurança era imprescindível. Ele cuidaria disso logo pela manhã. Pelo menos, esta noite, não parecia que ia chover.


Com a consciência tranquila, ele subiu, deitou-se e ficou olhando para a lua refletida no mar, se perguntando se ela estava mais confortável no colchão novo e se estava segura naquele quarto sombrio.


De madrugada, quando acordou com o barulho da chuva, Joe se perguntou se o reboco do teto da sala estaria intacto ou se teria caído enquanto ela dormia.


Duas horas depois, sem conseguir dormir e se achando um tolo, ele foi até a cozinha e preparou um café bem forte. Depois sentou-se para tomá-lo, com as portas abertas para o mar, e esperou o dia amanhecer imaginando o que poderiam fazer para ajudá-la.

                                           ----------------------------------------------------------------------
 1° capítulo da nova fic, espero que gostem e comentem. Comentários nunca são demais!
  xoxo Nathi

10 comentários:

  1. Gostei do primeiro capitulo. Poste mais logo!! Beijos

    ResponderExcluir
  2. Wow a fic ja começou lacrando... amei posta logo, beijos

    ResponderExcluir
  3. gosteii...
    ja pode postar varios hehehe

    ResponderExcluir
  4. Esse fic parece que vai bombar,já amei o capitulo

    ResponderExcluir
  5. Adorei!!! Faz maratona por favor!!!

    ResponderExcluir
  6. Não pode acompanhar a outra história, já tinha lido o livro, mas mesmo assin desejava acompanhar.
    Tentarei ficar mais presente nessa, já estou adorando!
    Sam, xoxo.

    ResponderExcluir
  7. A espera do capítulo dois!!!

    ResponderExcluir
  8. Pelo amor de Deus posta outro!

    ResponderExcluir
  9. Gente eu ja estou em estado de abstinência! Cadê o capítulo dois??!!

    ResponderExcluir
  10. Meninas cadê vcs???? Surtando aqui.... adoro esse blog,... super empolgada com a nova história!!!! Por favor posta logoooo!!!!!

    ResponderExcluir