8.6.16

Paixão Inesperada - Capitulo 27 - Isso Não Estava em Meus Planos


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Joe
— Com licença Sr. Jonas. — A recepcionista do prédio onde trabalho me chama quando passo por ela logo no começo da manhã.
— Sim, Marilu?
— Hum...Tem uma mulher aqui que gostaria de falar com o senhor.
— Quem?
— Eva Thompson, senhor. Ela tentou subir no seu andar, mas foi impedida pelos seguranças porque sua secretária disse que tinha ordens para não deixa-la subir, porém, não podemos impedi-la de ficar lhe esperando no saguão. — Ela me diz com um sorriso de desculpas.
— Entendi. Obrigada, Marilu. — Dou lhe um sorriso desanimado, meu dia já azedou.
Viro-me na direção do saguão onde vejo algumas pessoas em pé e algumas outras sentadas nos sofás de couro. Não demora muito e eu reconheço os cabelos negros de Eva, solto um suspiro impaciente e vou em sua direção.
— O que você está fazendo aqui? — Paro na sua frente e tento perguntar com uma voz contida, mas é difícil disfarçar a raiva que sinto.
Ela levanta o olhar e um sorriso venenoso se espalha por seus lábios, ela levanta-se do sofá, deixando seu corpo muito próximo do meu. Dou um passo para trás, o que parece diverti-la ainda mais.
— Vim falar com você, docinho. — Deus, meu estômago embrulha toda vez que ela me chama assim. É impressionante como as coisas mudam, no passado ela costumava me excitar como nenhuma outra, agora ela me enoja como muitas outras.
— Você já se esqueceu da conversa que tivemos aquele dia no meu escritório? Eu não quero te ver nunca mais, Eva.
— Como eu poderia me esquecer daquele dia? Do nosso beijo... — Ela diz com um sorriso dengoso, sua mão alisando meu terno.
— Não existe isso de ‘nosso’ beijo. Você me beijou a força e foi horrível.
— Você gostava tanto dos meus beijos antes. Principalmente quando eu te beijava aqui embaixo... — Ela diz escorregando sua mão em direção à braguilha da minha calça. Seguro sua mão com força e a afasto de mim. Olho para os lados para ver se alguém percebeu seu movimento ousado.
— Pare com isso, Eva.
— Docinho, não precisa fingir que você não gosta disso.
— É mais do que não gostar, eu odeio isso, e eu te odeio. Você me lembra de um passado que eu luto diariamente para esquecer. — Por um breve momento vejo magoa passar por seus olhos, mas logo ela disfarça e aquele brilho impertinente retoma seu lugar.
— Muito bem, você definitivamente quer isso do jeito difícil, não é? Eu te dei todas as chances possíveis, Joe, mas você insiste em me recusar, em me humilhar, como naquele dia no seu escritório. É, eu me lembro bem daquele dia, me lembro também que eu lhe fiz uma promessa, e eu sempre cumpro com o que eu prometo.
— Você já teve a sua vingança infantil, você prejudicou minha carreira, agora me deixe em paz.
— Agora quem parece que não se lembra daquele dia é você. Já se esqueceu do que eu te disse? Isso apenas começou Joe, aquele contrato foi a primeira coisa que você perdeu.
— Você não pode mais me prejudicar. — Digo confiante, mas é apenas uma fachada, a verdade é que eu estou com medo. Medo porque Eva está com aquele olhar determinado de quando ela quer algo e não há ninguém que possa impedi-la.
— Vamos ver o que eu posso fazer quanto a isso... — Ela diz remexendo em sua bolsa, olho curioso para ver o que ela procura. Ela sorri parecendo empolgada quando retira um celular da bolsa enorme que pende do seu antebraço.
Fico mais curioso ainda, descanso as mãos na cintura e olho impacientemente para Eva.
— Diga-me Joe, o que você acha que a sua namoradinha irá pensar quando ela ver... — Ela vira o celular na minha direção. — Isso. — Ela parece se deliciar com as palavras.
Olho a tela do celular, uma filmagem está passando.  O ambiente é escuro e não consigo ver muita coisa, mas consigo distinguir vários corpos nus. Uma musica, tão alta que chega até meus ouvidos completamente distorcida, sai do aparelho que Eva segura na altura do meu peito.
Quem está filmando está andando pelo que parece ser uma festa de swing, não sei por que meu corpo todo se arrepia, sinto meu coração batendo rapidamente e um nó em meu estômago se forma.
Algumas das pessoas dançam e outras fazem sexo, no sofá, no chão, em todo lugar. Começo a sentir um mal estar e sinto que estou suando frio.
A pessoa que filma anda, parece seguir por um caminho restrito, ela para em frente a uma porta e a abre, entra em um ambiente claro o suficiente para que eu veja que é um quarto. Com o barulho da musica alta abafada no quarto, os gemidos são audíveis. Uma sinfonia de gemidos sai do celular, estou tão horrorizado que não me importo se as pessoas mais próximas de nós também estão escutando o que parece o áudio de um filme porno.
Ao se aproximar de uma cama, a filmagem mostra claramente dois homens e três mulheres. Quando reconheço o homem de joelhos na cama, comendo uma das mulheres que está de quatro com a cabeça enfiada no meio das pernas de uma segunda mulher, levo à mão a boca como se isso pudesse impelir a bile de subir.
Sou eu nessa filmagem. Sou eu fodendo aquela mulher de quatro. De repente sinto um medo terrível, o que mesmo que Eva disse, mostrar isso para Demi?
Oh Deus não, ela não pode ver isso.
As coisas no vídeo começam a ficar mais ‘pesadas’, mas não consigo desviar o olhar, é como em um acidente de carro.
Quando eu começo a fazer algo que eu não tenho coragem nem ao menos de falar, arranco o celular da mão de Eva e pauso o vídeo. Olho para os lados e vejo algumas pessoas nos olhando com vergonha, curiosidade ou choque. É, acho que elas escutaram os gemidos obscenos 
Pela expressão triunfante de Eva, a minha reação era a que ela estava esperando.
— Como você conseguiu isso? — Minha voz não sai tão irritada quanto eu queria porque ainda estou muito abalado com a ideia de Demi ver esse vídeo.
— Uma das festinhas que frequentávamos. Eu sabia que filmar você me serviria para alguma coisa algum dia.
Raiva, vergonha e medo começam a queimar dentro de mim, provocando uma chama muito perigosa. Aperto no botão de deletar, nunca mais quero ver essa filmagem na minha vida.
— Pode deletar, é claro que eu tenho outras copias. — Ela diz pegando o seu celular de volta.
— O que você quer? — Pergunto com os dentes cerrados, tenho medo de abrir a boca e acabar gritando com todas as minhas forças.
— Você ainda precisa perguntar? — Ela ri. — Eu quero você.
— Não acredito que você guardou durante todos esses anos esse vídeo, você é uma vadia louca, sabia?
— Eu sabia que me seria útil em algum momento. E esse é o momento perfeito.
— Porque agora? Se você tinha isso com você todo esse tempo, porque me chantagear só agora?
— Porque antes não teria adiantado nada. Diga-me, se eu tivesse aparecido com esse vídeo alguns anos atrás, e tivesse ameaçado de mostrar para a sua família ou colocar na internet se você não ficasse comigo, o que você teria feito?
— Teria rido da sua cara. — Respondo sem pensar.
— Exatamente. Porque você não se importava com que os outros pensavam de você. Mas agora, você se importa, não é? Agora você está apaixonado e não quer que sua namoradinha veja com seus próprios olhos como você é pervertido, não quer que os pais dela vejam, estou certa ou não, Joe? — Juro por Deus que o que eu mais quero no momento é tirar seu sorriso de vitória aos socos. Mas calma, Joe, você não bate em mulheres, mesmo nas vadias como Eva. E você está no seu emprego, se acalme.
Fecho os olhos e respiro fundo, tentando controlar esse mar de diferentes emoções que se agita dentro de mim.
— Eu não sei o que você quer que eu diga. — Digo sentindo aquele sentimento horrível de impotência. Ela está certa, não posso conceber a ideia de Demi ver esse vídeo. Uma coisa é falarem para ela o que eu fazia, outra bem diferente é ela ver com seus próprios olhos.
Eu não suportaria se ela desistisse de mim, se decidisse que eu não valho a pena, se ela percebesse que o meu passado é um fardo pesado demais para se carregar.
— Eu quero... — Ela guarda o celular e pega um pedaço de papel. — Que você me encontre nesse endereço, sexta às 21 horas.
Ela me entrega o papel, que vejo se tratar de um dos seus cartões de visita, com um endereço rabiscado em sua letra.
— Se você não estiver lá às 21 horas em ponto, eu vou fazer com que Demi e toda a sua família vejam aquele filmagem. A decisão é sua. Até logo, docinho. — Ela se inclina e beija meu rosto. Estou tão aturdido que não reajo a sua aproximação, encaro-a fixamente enquanto se afasta e vai embora. Quando ela está fora do meu campo de visão sinto como se uma tonelada estivesse sobre meus ombros, me empurrando para baixo, sento-me no sofá e esfrego meu rosto com força onde ela me beijou. Sinto tanto nojo, como eu nunca senti antes em toda a minha vida.
“Deus, como eu pude me envolver com alguém como ela? Onde eu estava com a cabeça?”
Observo com pesar o cartão em minha mão. Não posso ceder e ir encontrar com Eva, mas também não posso deixar Demi ver aquelas cenas nojentas.
Ela é tão inocente, tão pura, tão delicada, não posso a expor a esse tipo de coisa. Ah meu Deus, o que eu faço?
Descanso a cabeça no sofá, encarando o teto decorado a cima de mim e tentando controlar o embrulho em meu estômago.
Demi
— Não sei qual comprar.
— Leve um de cada, sis.
— Tudo bem. — Pego um teste de gravidez de cada marca e coloco na cesta de plástico azul.
Eu vou fazer todos eles, mas somente para provar para Miley que ela está errada, porque é óbvio que eu não estou grávida. Eu não posso estar grávida.
Ela se fixou nessa ideia desde que eu comentei que estava tendo alguns sintomas estranhos nas últimas semanas.
As coisas começaram naquela noite do jantar beneficente, depois das ameaças e revelações de Eva me senti muito mal, a ponto de vomitar todo o jantar. Achei que tivesse ficado enojada com as coisas que ela me disse. Mas então me senti mal no dia seguinte também, e no outro, estranhei, afinal, fazia tempo que não ficava doente. Depois de alguns dias sem enjoos e me sentindo ótima, cheguei à conclusão que o meu mal estar tinha se dado graças a algum vírus.
Mas então em uma certa manhã, subitamente um enjoo fortíssimo me atingiu ao sentir o cheiro de café da manhã enquanto eu passava por uma padaria. E foi nesse dia que os enjoos voltaram com força total, junto com tontura e sonolência. Achei que talvez fosse o estresse, afinal estava acontecendo tanta coisa; Os problemas de Nick com meu namoro, a presença de Eva, a cirurgia de Selena – que aliás, foi um sucesso, agora ela só precisa se cuidar – e também as provas na faculdade.
Estava tão preocupada com essas coisas, que não havia notado que eu estava atrasada uma semana. Juntando todos os pontos, Miley anunciou com grande certeza que eu estava grávida, mas apesar de todos os sintomas apontarem para a confirmação dessa suspeita, eu me recuso a perder as esperanças. Eu não posso estar grávida.
Chego ao caixa e a moça me lança um olhar estranho ao ver as cinco caixas de teste de gravidez, ela tenta me dar um sorriso reconfortante, mas não adianta, meus nervos estão à flor da pele.
Pago pelos testes e ando apressadamente para o carro.
— Podemos fazer isso no seu apartamento? — Pergunto.
— Aletta?
— Exatamente, não quero correr o risco de ela estar lá.
— Tudo bem, vamos.
Miley liga o carro e seguimos para seu dormitório. Ambas em silêncio, ela dirigindo e eu rezando, tem que ser um alarme falso.
“Por favor, meu Deus, eu prometo que se eu não estiver grávida, eu nunca mais vou transar sem camisinha.”
— Demi, pare com isso. — Miley diz retirando minha mão da boca. — Desse jeito você não vai mais ter unha para roer daqui a pouco.
— Estou nervosa, nunca imaginei que cinco minutos pudessem demorar tanto. — Digo balançando minha perna impacientemente.
— Calma, não adianta nada ficar nervosa agora.
— Miley, não acredito que isso está acontecendo comigo. — Digo esfregando o rosto com as mãos.
— Você e o Joe não usam camisinha?
— Não, eu disse para ele que não tinha problema, eu estou tomando pílula.
— Ah Demi, você sabe muito bem que pílula e camisinha não são completamente seguros, por isso tem que usar os dois juntos, sem falar nas doenças sexualmente transmissíveis...
— O Joe está limpo, com isso você não precisa se preocupar. Ele disse sempre fazer os exames a cada dois meses, quando começamos a nos envolver, ele tinha acabado de fazer um.
— Bom, pelo menos ele não era um prostituto irresponsável...Oh, desculpe. — Ela diz ao ver a minha reação à palavra ‘prostituto’.
— Tudo bem. — Digo tristemente. Ele meio que era mesmo, a única diferença é que ele não cobrava.  
— Foi mal mesmo, sei que você não gosta dessa palavra. O Joe mudou, eu acredito nisso agora, sinto muito ter chamado ele assim.
Apenas lhe ofereço um sorriso fraco e volto a roer minhas unhas. Olho o relógio, e pelo amor de Deus, ainda falta dois minutos. Levanto-me da cama e começo a andar pelo quarto de Miley, de um lado ao outro. Depois do que pareceu uma eternidade, ela diz:
— Cinco minutos, sis.
— Ah meu Deus. — Estava tão ansiosa para ver o resultado, e agora que está lá, não consigo ter coragem para ir ver quantos malditos risquinhos tem no maldito palito branco.
Sinto uma náusea no estômago, aquele mal estar típico de quando se está sobre grande pressão, sinto as palmas da minha mão suando. Não consigo fazer isso, definitivamente não consigo.
— Quer que eu veja? — Miley pergunta ao ver o meu olhar de pânico. Apenas balanço a cabeça em sinal afirmativo.
Ela se vira e vai na direção do banheiro, tendo um segundo pensamento, eu seguro-lhe o braço e a paro. Tenho que ser corajosa, eu é que tenho que ver.
— Não, espera. Eu tenho que fazer isso. — Digo, ela me dá um sorriso de incentivo, respiro fundo e vou em direção ao banheiro.
Chegando lá fecho a porta atrás de mim e encaro os potinhos com urina e os palitinhos que repousam dentro. Cinco testes, cinco resultados, os cinco vão conter apenas um risco e então eu vou poder respirar aliviada e rir disso mais tarde.
Acho que é melhor fazer isso rápido, simplesmente pegar o teste e olhar. Mas não consigo, eu o pego, mas não consigo encara-lo, fico observando o meu reflexo no espelho.
Não vou conseguir forçar meus olhos a olhar para baixo, então viro o teste para o espelho e vejo o resultado pelo reflexo.
Sinto que meu coração parou uma batida, então ele começa a bater mais rápido que as asas de um beija-flor. Por um segundo sinto como se o chão tivesse se abrido aos meus pés e eu estivesse caindo. Sinto um frio na barriga, sinto aquela familiar sensação que sempre acontece pelo menos uma vez na vida de todos, a sensação que você está em um mundo paralelo e que aquilo que está acontecendo não está de fato acontecendo.
Meus olhos viajam rapidamente para baixo, e eu confirmo o que eu vi pelo espelho...Dois risquinhos.
“Não! Não pode ser”.
Jogo o resultado na pia, como se ele tivesse me queimado. Com medo e hesitante, pego o segundo, dois risquinhos. Pego o terceiro teste, também dois risquinhos, pego o quarto, um risco, vejo o quinto e último...Dois risquinhos.
Apoio-me na beirada na pia, acho que estou entrando em pânico. Não consigo respirar, ah meu Deus, não consigo respirar.
Respiro profundamente e solto o ar lentamente, mas não está ajudando em nada, o ar continua entrando preguiçosamente em meus pulmões, me sufocando.
Minha visão está ficando embasada, minhas pernas estão fraquejando, acho que vou desmaiar.
— Miley. — Chamo por minha irmã, mas minha voz não sai nada mais do que um sussurro. — Miley. — Tento de novo, dessa vez minha voz sai alta o suficiente para ela escutar, porém trêmula, o que deve ter denunciado meu estado, pois Miley abre a porta com um olhar preocupado.
Ela não pergunta nada, eu não digo nada. Ela vê em meus olhos tudo o que precisa saber, ela leva a mão até a boca.
— Ah meu Deus, eu vou ser tia? — Ela pergunta com um sorriso enorme se formando nos lábios.
Ela está rindo? Por acaso isso parece engraçado?
Balanço a cabeça negativamente várias vezes, agravando a minha tontura. Quase caio, mas Miley me ajuda a tempo e me ajuda a ir sentar no vaso sanitário.
— Como assim, você está grávida ou não? — Ela pergunta ansiosa. Não consigo parar de olhar para o azulejo a minha frente. Será que estou em estado de choque? Ainda não consigo respirar direito. Sinto meus olhos se encherem d’água, não foi assim que eu imaginei, quando acontecesse era para eu estar formada, casada, não na situação em que eu me encontro agora.
— Um deu negativo. — Digo com a voz baixa.
— Um? Mas e os outros quatro?
Abro a boca mas não consigo emitir nenhum som, não consigo dizer em voz alta que eu estou...Que eu estou...Oh Deus, eu não consigo nem pensar nas palavras.
— Fale logo, Demi. — Ela pede com urgência, mas eu simplesmente não consigo lhe dizer.
Ela se irrita com o meu silêncio e vai até a pia, olhando os resultados por si só.
— Ah meu Deus, sis...Você está grávida. — Miley diz com uma voz emocionada.
— Não! — Digo categoricamente. — Um deu negativo. — Digo como se o fato de apenas um resultado ter dado negativo anulasse os outros quatro positivos.
— E quatro deram positivo, é claro que você vai ter que fazer o exame de sangue para ter certeza, mas...Exames de farmácia são bem seguros, sis. Não acredito que eu vou ser titia. — Ela diz dando pulinhos de alegria.
Será que ela perdeu o pouco juízo que tinha? Porque ela está feliz, ela não vê que isso é uma tragédia?
— Porque você está com essa cara, sis? Você está grávida, deveria estar feliz. — Ela diz ficando de joelhos na minha frente, um sorriso bobo em seus lábios.
— Isso é uma tragédia. — Ela parece pessoalmente ofendida com as minhas palavras.
— Como você pode falar isso, Demi? Tem um bebezinho aí dentro, seu filho e do Joe, é uma benção, não uma tragédia.
— Você não entende, Miley. — Digo ainda em um estado meio catatônico.
— Não entendo mesmo, achei que você sempre quis ter filhos.
— E eu queria, eu quero...Mas não agora, eu tenho 20 anos, ainda não me formei, não estou casada e...Meu Deus, não posso contar isso para o Joe.
— Como não? Ele é o pai, ele tem que saber.
— Ele vai surtar, Miley. Ele vai me culpar, porque eu disse que tudo bem não usarmos camisinha. Será que ele vai achar que eu fiz isso de propósito?
— Tudo bem, agora você está começando a falar muita besteira, sis. Primeiro que você não fez essa criança sozinha, Joe não é burro e sabe muito bem os riscos de transar sem camisinha, mesmo com você tomando pílula. E é claro que ele não vai achar que você fez isso de propósito, que ideia maluca é essa?
— Ah Miley, ele vai surtar, ele vai sair correndo no momento em que contar.
— Claro que não, ele te ama.
— Como eu vou contar para ele que ele vai ser pai? Até ontem ele tinha medo de apenas namorar, não posso chegar e jogar uma bomba dessas nele. Ele vai sair correndo e me deixar. — Apoio a cabeça nas mãos e começo a chorar. Sinto a mão de Miley acariciando minhas costas e isso me dá algum conforto.
— Ele não vai te deixar. Isso pode ter sido um pouco inesperado, mas Joe nunca te deixaria grávida e sozinha. Ele está tão mudado, que acho que é até capaz dele te pedir em casamento quando souber da criança. Ele amadureceu e é um homem de verdade agora, todo mundo viu as mudanças em seu comportamento.
— Ah meu Deus, você acha que ele faria isso, me pediria em casamento? Eu não quero isso, não quero que ele se sinta obrigado a se casar comigo só porque estou grávida.
— Eu não quis dizer...
— Se ele pedir, eu não vou aceitar. Não quero me casar só porque fiquei grávida. — Deus, essas palavras ainda saem tão estranhamente de meus lábios, sinto como se não fosse comigo, como se eu tivesse assistindo a cena de longe, e outra pessoa fosse a protagonista.
— Calma, Demi, eu não quis dizer isso...Droga. Você tem que se acalmar, e depois temos que marcar uma consulta para você, o médico vai pedir um exame de sangue para confirmar e se você estiver mesmo grávida, ele vai nos dizer o que devemos fazer.
— Você vai à consulta comigo?
— Mas é claro, se você quiser eu vou.
— Eu quero, não posso fazer isso sozinha.
— Você não precisa, conte para o Joe amanhã mesmo e ele pode ir ao médico com você.
— Não! Não vou contar para ele, não vou contar para ninguém, você tem que me prometer que não vai falar nada. — Digo me levantando rapidamente e me afastando de Miley.
— Demi, você tem que contar. Joe é o pai, ele tem que saber para estar ao seu lado quando precisar, e nossos pais...Você não acha que eles vão fica felizes em saber que serão avós?
— Não posso contar agora. Joe acabou de começar a aceitar a ideia de estar um relacionamento, e nossa família...Não posso contar agora, não depois do que aconteceu com Nick e Selena.
— O que eles tem a ver com isso?
— Selena acabou de fazer uma cirurgia para retirar um tumor, ela pode nunca conseguir ter filhos e isso é o que ela mais quer, como você acha que ela e Nick vão se sentir quando eu falar que estou grávida? Não posso contar nada agora.
— Demi, Nick e Selena vão ter que aceitar, você não pode viver sua vida em função do que os outros vão pensar, do que eles vão sentir. Você tem que contar para Joe o mais rápido possível, e depois para papai e mamãe.
— Não.
— Demi... — Ela me chama com aquele tom reprovatório.
— Não, Miley. Não posso dizer nada por enquanto, não até ter certeza absoluta. Depois do exame de sangue, se eu estiver realmente grávida, eu conto.
— Mas...
— Sem mas, é assim que vai ser. — Digo decidida.
— Tudo bem, se é isso que você quer. — Ela diz, claramente não concordando com minha decisão.
Como eu vou contar para Joe que ele será pai? Ele vai se sentir sufocado, assustado, vai sair correndo direto para o seu antigo estilo de vida. Todas aquelas coisas que Eva disse. Ele ainda está se acostumando com a ideia de um relacionamento, levou anos até que ele conseguisse ter coragem para se envolver seriamente com alguém, se eu disser agora que estou grávida, todo o seu progresso vai por água abaixo. Ele vai se sentir preso e vai fugir, mesmo Miley dizendo que ele não me abandonaria, eu sei que ele vai se sentir assustado o suficiente para correr para bem longe. Mesmo que depois o seu senso de dever lhe devolva a razão e ele volte, mas vai ser por causa da criança e não por minha causa, ele vai querer continuar comigo por causa do bebê e eu não posso permitir isso. Não posso permitir que ele se sinta obrigado a ficar comigo, não quero que ele se sinta infeliz e preso a mim, sempre desejando estar em qualquer outro lugar.
— Então, o que diz aí, doutor? — Pergunto ansiosa para o homem de cabelos grisalhos sentado do outro lado da mesa.
— Parabéns, você está grávida. — Ele diz dobrando os papeis do exame de sangue que eu fiz e me dando um sorriso verdadeiro.
Então é isso, eu estou mesmo grávida. Sinto a mão de Miley apertando a minha, olho para o lado e ela me lança um daqueles seus sorrisos de apoio.
Sinto meus olhos se enxerem d’água, meus pensamentos giram como um redemoinho, confusos, dentro de minha cabeça.
Agora é real, agora é certeza, isso está mesmo acontecendo.
— Você tem o apoio do pai da criança, querida? — O doutor me pergunta observando meu rosto machado pelas lágrimas.
— Ele não sabe ainda, eu não contei. — Digo com a voz fraca.
— Entendo, caso você precise de ajuda, nós temos ótimos programas para mães solteiras. — Ele diz me entregando alguns folhetos. — Essas mulheres são maravilhosas, você sempre encontrará alguém para apoia-la nesses grupos.
— Ela tem quem apoia-la. — Miley diz de repente, soando ofendida. — Nossos pais vão apoia-la e eu também. E o Joe também vai, tenho certeza, Demi. — Ela diz essa última parte se dirigindo a mim.
— Obrigada. — Sorrio para ela e enxugo as lágrimas.
O doutor começa a nos explicar quais deverão ser meus passos a partir de agora. Tenho que marcar uma consulta e começar a fazer o pré-natal imediatamente, para garantir que tudo está bem com meu filho.
Meu filho...Isso ainda é tão estranho de pensar. Não acredito que estou mesmo grávida, que eu vou ser mãe. Isso tudo é muito surreal.
Deixo que Miley preste atenção nas recomendações do doutor e fico imaginando em minha mente as diversas reações de Joe quando eu lhe contar.
Ele vai gritar? Vai sair correndo sem dizer nada? Vai me culpar? Ou vai enfrentar tudo como um homem, porém nem um pouco feliz? Não quero ser a causa da infelicidade de Joe, eu sei que ele não está pronto para ser pai ainda, nem sei se algum dia estará.
Mas agora não tem mais volta, a criança já está aqui dentro, a sementinha já está crescendo dentro de mim. Uma criação de Joe e minha, algo que fizemos juntos. Se as circunstâncias fosse outras, eu estaria chorando de emoção, de felicidade, se eu tivesse certeza que é isso o que Joe quer, eu seria a pessoa mais feliz do mundo.
Coloco a mão em minha barriga e a acaricio. O filho de Joe está aqui dentro, mesmo que ele me deixe, mesmo que tudo o que Eva me disse for verdade, eu vou para sempre ter um pedaço do homem que amo comigo.
Essa ideia é o suficiente para colocar um sorriso em meu rosto.
Após ficar uns bons minutos convencendo Miley de que estou bem e não preciso mais de sua companhia, ela finalmente me deixa sozinha em frente ao meu dormitório.
Sei que o doutor disse que todo esse cansaço é normal, mas me sinto exausta tanto fisicamente como emocionalmente, e preciso urgentemente da minha cama.
Subo as escadas até meu andar quase me arrastando, um sono vindo do nada de repente tomou conta de mim e não paro de bocejar.
Abro a bolsa e procuro por minhas chaves, ao virar em meu corredor sou surpreendida por ver que tem alguém sentado no chão, ao lado da minha porta.
Os cabelos ruivos não me deixam errar, penso em dar meia volta e fugir, mas Vince levanta o olhar e me vê parada no começo das escadas. Ele rapidamente se levanta e vêm até mim, ignorando-o passo por ele e vou abrir minha porta.
— Pequena.
— Por favor, hoje não, Vince. Não estou legal. — Digo colocando a chave na fechadura e destrancando a porta.
— O que você tem, está bem? — Ele pergunta, a preocupação genuína em sua voz não me deixa dispensa-lo com aspereza.
— Estou sim, apenas cansada, obrigada. — Digo olhando-o nos olhos e dando-lhe um sorriso gentil. Abro a porta e entro no apartamento, quando me viro vejo Vince entrando sem ser convidado.
— Vince, eu já disse, por favor, não estou com paciência para você hoje. Vá embora.
— Você diz que está bem, mas sua carinha diz o contrário. — Ele diz segurando meu queixo e analisando meu rosto.
— Eu estou bem, já disse.
— Aquele cara não te fez nada, não é? — A essa altura já sei muito bem a quem ele se refere sempre que diz ‘aquele cara’.
— Não, Joe não me fez nada. Vá embora, por favor. — Aponto para a saída.
— Você não está com uma cara boa, acho melhor não te deixar sozinha. — Ah ótimo, me livrei de Miley apenas para que Vince ocupasse seu lugar, o que eu tenho que fazer para ficar sozinha com meus pensamentos? Pior é que eu não estou nem com forças de discutir com ele e expulsa-lo daqui.
— Vince, quando você vai entender que eu não te quero mais na minha vida? Você está me exaurindo com essa sua insistência.
— Ótimo, assim fica mais fácil de você ceder. — Ele diz fechando a porta.
Solto um suspiro cansado e logo em seguida um bocejo.
— Você parece bem cansada mesmo, porque não se senta confortável no sofá e eu te preparo um chá? — Ele pergunta com um sorriso inocente no rosto. Vince se ofereceu mesmo para me fazer um chá? Tem como esse dia ficar mais surreal? Descubro que estou mesmo grávida e meu ex namorado obsessivo quer me fazer um chá, a vida tem um senso de humor estranho.
— Obrigada, mas acho melhor você ir embora. — Respondo me jogando nas almofadas macias.
— Por quê?
— Humpf, você ainda pergunta? Nós não somos namorados e não somos amigos, Vince. Sei que você está tentando reatar nosso namoro, mas agora mais do que nunca isso é impossível.
— O que você quer dizer com agora mais do que nunca? — Ele pergunta se aproximando.
— Nada, eu só quis dizer que agora eu me apaixonei por outro, sinto muito, mas essa sua perseguição tem que parar. Se Joe descobrir que você está aqui ele vai...
— Foda-se ele. — Vince me interrompe e vem se sentar ao meu lado no sofá. — Foda-se o seu namorado, eu não vou desistir de você, Pequena.
— A questão aqui não é só ele, é eu também. Eu de verdade não quero mais nada com você, Vince. Não tem nada que você possa fazer para mudar isso.
— Tem que ter alguma coisa, tem que ter algo que eu possa fazer.
— Sinto muito, mas não há nada. Acabou, para sempre.
— Eu te amo.
— Engraçado, porque será que esse amor todo só apareceu depois que você me perdeu?
— Eu sempre te amei. — Ele responde magoado.
— Se isso é verdade, então porque você fez o que fez? — Ele abre a boca, parece pronto para responder, mas então se detém. — Acho que isso que você pensa ser amor, é apenas uma obsessão. Você devia parar com isso, para o seu próprio bem. — Meus olhos estão cada vez mais pesados, encosto a cabeça no sofá e fecho os olhos.
— Você deve ir agora. — Digo no meio de um bocejo. — Feche a porta quando sair.
Sinto o sofá se mexendo quando Vince se levanta, o esgotamento emocional e o sono vão me vencendo e finalmente adormeço.
Minha consciência desperta, mas está tão gostoso aqui que me recuso a abrir os olhos. Estou deitada, mas pelo que eu me lembro, eu dormi sentada no sofá. Estou sentindo uma coberta em cima de mim, quem foi que me cobriu? 4
Mexo-me e sinto uma mão em minha cintura, abro os olhos assustada e dou de cara com o rosto de Vince me observando. Solto um grito de susto e se não fosse por seu braço me segurar, teria caído do sofá.
— Hey, calminha, sou eu.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Pergunto analisando a situação.
Estou deitada no sofá com Vince deitado ao meu lado, perto demais. Percebo que estou deitada em seu braço direito e o outro ainda está em minha cintura.
A luz que entra pela janela da sala é fraca e não ilumina nada, deixando-nos em um ambiente escuro. Meu Deus, já deve estar escurecendo, quanto tempo eu dormi?
Faço menção de me levantar, mas Vince me abraça, me segurando no lugar.
— Não quis deixar você sozinha, você não parecia bem. Só queria cuidar de você.
— Então você me deitou, me cobriu e depois veio dormir comigo? — Digo deixando-o ouvir em minha voz que eu não gostei nada disso.
— Foi.
— Me solte Vince, quero levantar. Você não deveria ter ficado, vá embora agora. — Ele não me escuta e continua me segurando em seus braços.
— É tão bom ficar com você assim, tão pertinho de mim.
— Me solte, Vince.
— Você lembra quando costumávamos ficar assim na minha cama, abraçados logo depois de fazermos amor?
— Vince...
— Sinto falta disso. — Ele diz em um sussurro, sua boca se aproxima e ele me rouba um beijo. Na tentativa de me desvencilhar dele, acabo caindo no chão.
— Ai, que droga. — Digo sentindo a dor do meu tombo.
— Pequena, você está bem? — Ele se levanta do sofá rapidamente e me estende a mão, eu dou um tapa nela e me levanto sozinha.
— Você é tão idiota, Vince. E burro, qual a parte de eu não te quero mais que você não entendeu? Que coisa, me deixe em paz. Você fica me perseguindo implorando para voltarmos, tenha um pouco mais de amor próprio. Vá procurar outra e me deixe em paz. — Despejo minha frustração em cima dele, tento ignorar a dor na minha bunda.
Ele fica parado sem dizer nada, então vou até a porta e a abro.
— Saia agora, e se você voltar a me procurar, eu juro por Deus que eu vou pedir um mandado de restrição na justiça. — Encaro-o com a porta aberta.
— Eu só queria cuidar de você. —Ele diz bravo.
Ele pega sua jaqueta no encosto do sofá e sai do apartamento rápido e destrutivo como um furacão.
Bato a porta com força e me dirijo à cozinha para beber um como d’água. Tenho tantas coisas em que pensar agora, a última coisa que eu preciso é me preocupar se magoei os sentimentos de Vince, principalmente depois que ele foi tão leviano com os meus. Espero que ele tenha entendido agora, de uma vez por todas, que eu não quero mais nenhum tipo de relação com ele.
Bebo minha água, agarro minha bolsa em cima do balcão e vou para meu quarto. Apesar de o cochilo ter renovado minhas forças, ainda me sinto um pouco cansada.
Sento-me na cama e procuro pelo papel dentro da bolsa. Quando o encontro desdobro-o e leio mais uma vez o resultado.
Tenho que começar a refazer meus planos, essa criança vai mudar tudo, nada vai ser como era antes. E apesar de saber que eu tenho pessoas que me apoiarão, sinto medo.
Queria que meu primeiro filho chegasse alguns anos depois de já estar casada com um homem carinhoso e que me amasse, não quando estou namorando com um cara tão assustadiço e escorregadio como Joe.
Eu acredito que ele realmente me ama, esse não é o problema, mas...Será que ele ama o suficiente?
É isso que em breve eu vou descobrir, porque agora que eu tenho a certeza, eu vou ter que contar para ele. Contar que nós fizemos um outro ser humano juntos, criamos uma vida que irá alterar o curso da nossa própria para sempre.

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Hey babes como estão?
Bem, passei aqui pra avisar vocês que estamos nos capítulos finais, e em ocorrência disso, eu vou deixar programado para os capítulos saírem a cada dois dias. Por isso não sumam viu!
xoxo

2 comentários:

  1. Esse encosto da Eva não vai deixar o Joe em paz? E agora o que ele vai fazer? A Demi não pode se decepcionar justo agora que descobriu que está grávida... continua...

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