16.6.16

Paixão Inesperada - Capitulo 31 - A Fragilidade da Vida


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Demi
Um mês depois...
Sinto um aperto no peito ao observar Joe sentando em sua mesa encarando fixamente um ponto invisível. Como eu gostaria de poder fazer algo para anima-lo um pouco, tirar essa carga de raiva e desânimo de cima dele, mesmo ele tendo todo o direito de se sentir dessa forma, odeio ver o olhar derrotado em seu rosto.
Mesmo que Charlie tenha conseguido tirar o vídeo de Joe de circulação rapidamente, o pouco tempo em que ele ficou no ar, foi o suficiente para fazer alguns estragos.
Joe perdeu o emprego na Townsend. Eles disseram que não poderiam manter um funcionário, especialmente um que ocupa um alto cargo dentro da empresa, depois de um escândalo desse gênero, eles não queriam a figura de Joe ligada a marca deles. Joe acha que o fato dele ter perdido o contrato com Carlson Thompson, também ajudou seus superiores a tomarem a decisão de o mandarem para o olho da rua.
Joe ficou extremamente infeliz, porque além dele amar seu emprego, nós estamos planejando um casamento e vamos ter um bebê.
“Pior hora para se perder o emprego” ele disse. Tentei tranquiliza-lo e lhe dizer que não precisamos fazer nada de extraordinário para o casamento, que poderíamos cancelar várias das coisas que planejamos fazer e que são, de fato, descartáveis. Faríamos uma cerimônia simples e familiar.
Ele não gostou nada disso, disse que eu não deveria me preocupar porque tinha uma boa quantia guardada e que ele queria que eu tivesse o casamento dos meus sonhos. Ele parecia tão transtornado, que não me incomodei em lhe dizer que as fantasias do casamento dos meus sonhos nunca envolveram um vestido caro, uma comida fina ou uma decoração luxuosa. Minhas expectativas sempre estiveram voltadas ao noivo, o homem que estaria me esperando no final do corredor.
Joe atingiu todas as expectativas e com certeza as ultrapassou. Ele é tudo o que eu poderia querer.
Aproximo-me dele e quando Joe me vê, ergue o olhar e me dá um sorriso fraco.
— Minha linda. — Ele estende a mão para mim e eu me sento em seu colo. Seus braços fortes aquecem meu corpo e eu descanso minha cabeça em seu peito.
— Como está nossa pequena Winifred?
— Urgh...De todos os nomes que você tem usado, esse é o pior. — Ele ri e eu fico feliz ao ouvir esse som, fico mais feliz ainda por ter sido eu quem provocou essa reação nele.
— É um belo nome.
— É horrível, Joe. Nossa filha sofrerá bulling na escola.
— Sofrerá? Então você desistiu e vai assumir que eu estou certo?
— Nunca, ainda acho que é um menino. — Digo encarando-o nos olhos e sorrindo com um misto de confiança e zombaria.
Ele me abraça e ficamos algum tempo em silêncio, apenas escutando nossas respirações. Apoiada em seu peito, escuto o reconfortante bater do seu coração, que junto com o meu, se ajustaram para baterem em sincronia, como se fossemos um só.
— Acho melhor você ir para a cama, precisa descansar.
— Só se você for comigo. — Digo.
— Acho que vou ficar aqui mais um pouco. — Levanto a cabeça e encaro-o seriamente nos olhos.
— Odeio ver você assim, meu amor. Sei que essa situação toda envolvendo o...Bem, eu sei como você deve estar se sentindo, mas não desanime. Tudo vai dar certo no final, você vai ver.
— Queria ter o seu otimismo...Eu perdi meu emprego, milhões de pessoas por todo o pais me viram fazendo coisas das quais eu me arrependo, incluindo seus colegas...
— Já disse para você não se preocupar com eles, eu não ligo para os comentários maldosos, você também não deveria.
— E tem seus pais.
— Eles não viram o vídeo.
— Mas agora eles sabem da existência dele, o que para mim é suficiente.
— Eles foram muito compreensivos.
— Eu sei, mas isso não diminui a vergonha que eu sinto. Aposto que eles devem estar tão orgulhosos do homem que vai casar com a filha deles. — Ele diz sarcasticamente.
— Hey... — Seguro com ambas as mãos seu rosto. — Não fale assim. Você é um homem honesto, inteligente, de bom coração, carinhoso com sua família e comigo, é claro que você é alguém de quem se deve ter muito orgulho. Eu sei que eu tenho, e nossa filhinha também terá.
Vejo seus olhos se enxerem de emoção, ele me trás para mais perto e me aperta firme contra seu corpo.
— Eu te amo tanto. Vocês duas são tudo para mim.
— Não se preocupe, eu sei que logo você vai arrumar outro emprego. Você é brilhante. — Digo encorajando-o.
— E se eles não me quiserem por causa do escândalo?
— Então são eles que vão sair perdendo. — Ela dá uma risada fraca e depois suspira.
— Ah Demi, não sei o que eu faria sem você, meu amor.
Joe
Nunca fui uma pessoa muito paciente, sempre quis ter tudo na hora, por isso essa espera está me matando. Porque eles não ligam logo? Mesmo que seja para me recusar, assim pelo menos eu teria uma resposta.
Até agora não recebi nenhuma ligação de nenhuma das três empresas nas quais eu deixei meu currículo. Talvez eu devesse começar a procurar emprego nas empresas menores, o salário não seria tão bom, mas pelo menos eu não estaria desempregado.
Tomo mais um gole do meu uísque e tento não deixar meus pensamentos irem pelo caminho sombrio que eles parecem tanto quererem seguir.
“Espero que ela sofra muito na prisão”.
Fecho os olhos e tento pensar em qualquer coisa, menos na raiva que eu sinto de Eva. Eu prometi para mim mesmo que não iria mais pensar nela, mas é difícil quando o ódio que cresce em meu coração parece se enraizar cada vez mais.
Eu quero tanto destruir essa mulher, tanto. Mas Demi me fez prometer que eu não deixaria o ódio tomar conta, e eu estou tentando profundamente.
Assim que ouço o toque do meu celular, atravesso a sala com três longas passadas e o pego, na pressa, esqueço-me de ver o nome no visor.
— Alô?
— Joe, sou eu. — Sinto uma pontada de decepção ao ouvir a voz de Charlie Spencer do outro lado.
— Ah oi, Charlie.
— Ainda bem que eu te encontrei, preciso falar com você agora mesmo. — O tom de urgência em sua voz me alerta que algo não está certo.
— O que aconteceu, Charlie?
— É sobre Eva...Ela fugiu da cadeia essa manhã.
Demi
Meu celular toca pela quinta vez só essa manhã, não preciso olhar o visor para saber quem é.
— Oi amor. — Digo revirando os olhos.
— Oi, onde você está agora? — Joe pergunta com aquele tom protetor e preocupado que assumiu há três dias, quando descobrimos que com a ajuda de seu advogado, Eva havia conseguido fugir da cadeia.
— Estou na mesma loja que estava quando você me ligou há uma hora. — Digo passando pela sessão de carrinhos.
— E está tudo bem?
— Sim, tudo na mais perfeita ordem, não precisa se preocupar.
— Não sei não, acho melhor eu ir te encontrar, podemos fazer as compras juntos.
— E a sua entrevista, como fica?
— Que se dane a entrevista, prefiro ficar ao seu lado e me certificar que você e nossa princesa vão ficar bem.
— Joe, sinceramente, acho que você está se preocupando demais, amor.
— Como você pode estar tão calma? Aquela maluca está solta por aí, Deus sabe onde e planejando Deus sabe o que.
— Eva pode ser maluca, mas ela não é burra. Acha mesmo que ela correria o risco de ficar por aqui e ser presa novamente?
— E Miley, ela não pode ficar com você? — Esfrego a testa e solto um suspiro frustrado.
— Você já perguntou isso, lembra? Ela tem as suas próprias coisas para resolver.
— E a sua mãe, ela não pode te acompanhar?
— Joe, até mamãe achar alguém para traze-la até Dallas e até ela chegar aqui, eu já terminei as minhas compras.
— Mas e se...
— Não se preocupe, ok? Estou quase terminando por aqui, comprei umas roupinhas lindas. — Digo acariciando minha barriga com a mão livre.
Estou com 15 semanas e minha barriga já está bem grandinha e redonda, adoro ficar passando a mão por ela.
— Tudo bem, só tome cuidado. E me avise quando estiver voltando.
— Tudo bem, não se preocupe comigo. Se concentre em arrasar nessa entrevista, você vai conseguir o emprego, você é o melhor. — Quando ele responde, sinto o sorriso em suas palavras.
— Vou fazer o meu melhor, obrigado acreditar em mim, amor.
— Eu sempre acreditei em você, Joe, sempre. Tenho muito orgulho de você, amor. Te amo.
— Eu também te amo, muito. Vou desligar, acho que está chegando minha vez.
— Tudo bem, até logo.
— Até logo...Ah, diga a nossa pequena Gina que papai mandou um oi.
— Ok, eu digo. — Digo com um sorriso bobo se formando em meus lábios. Se Joe já é tão carinhoso agora, imagine depois que esse bebê nascer. Ele será um pai maravilhoso.
Desligo o telefone e continuo andando pela enorme loja para crianças. Isso é muito divertido, estou adorando andar por esse lugar e ver as roupinhas, os sapatinhos e os brinquedos e imaginar que logo o meu bebezinho vai estar em meus braços e o apartamento de Joe vai estar cheio de brinquedos jogados pelo chão.
Joe disse que queria comprar uma fazenda em Wills Point, uma de preferência ao lado da dos nossos pais, onde nossos filhos teriam muito espaço para correr e muitas árvores para subir, mas agora que ele perdeu o emprego, acho que não será possível. Bem, eles sempre terão a casa dos avós para fazerem isso.
Como ainda não sabemos o sexo do bebê, e eu estava conversando com Joe e tentando convence-lo que seria uma boa ideia esperarmos o dia do parto para descobrir, comprei muitas coisas que servem tanto para menina como para menino.
Mas admito que a sessão para meninas me chamou a atenção, e apesar de eu achar que é um menino, não pude resistir e comprei um vestidinho pelo qual me apaixonei assim que coloquei os olhos nele.
É um vestidinho de verão de manga e com babadinhos na saia, é cheio de bolinhas e tem um laço rosa na frente.
Depois de comprar várias roupinhas e alguns sapatinhos, vou até o caixa pagar por minhas compras. É nessa hora que meu celular toca de novo.
— Oi, amor, estou pagando pelas compras agora mesmo e devo estar em casa em no máximo quinze minutos.
— Ótimo, vá para casa direto e me espera lá, ok?
— Ok, aconteceu alguma coisa? — Pergunto estranhando sua voz.
— Não, não foi nada, é só que...Não sei, estou com uma sensação ruim no peito, um mau pressentimento. Me prometa que você vai pegar o carro e vai direto para casa.
— Eu prometo, mas eu não estou de carro.
— O que, porque não? — Ele parece irritado.
— A médica me aconselhou a fazer um pouco de caminhada, lembra? Não tinha intenção de vir até tão longe, mas aí eu vi essa loja e tinha umas coisinhas tão lindas na vitrine que eu...
— Tudo bem, termine aí e vá direto para casa. Nos encontramos lá...Ah merda, tenho que ir, acabaram de me chamar. Te amo, se cuide.
— Também te amo, boa sor... — Ele desliga. Encaro a tela do celular com a testa franzida. Joe tem estado meio sobrecarregado nesse últimos dias, por causa da fuga de Eva e da pressão imposta por ele mesmo de conseguir um trabalho tão bom quanto o seu anterior.
Entrego o dinheiro a moça e com um sorriso faceiro pego as sacolas e saio da loja.
Ando pelas causadas lotadas de Dallas com o sorriso da mulher mais feliz do mundo. Daqui cinco meses e uma semana eu vou estar sofrendo provavelmente a pior dor da minha vida, mas tenho certeza que vai valer a pena quando eu estiver segurando meu filho ou filha nos braços, com meu marido ao meu lado.
Não vejo a hora desse mês passar e o dia do meu casamento finalmente chegar.
Paro na beira da calçada enquanto espero o sinal para pedestres mudar de vermelho para verde.
Assim que o homem verde aparece para mim do outro lado da rua, piso na faixa de pedestres. Escuto um barulho alto e olho para o lado, um carro preto vem em alta velocidade. Não me preocupo já que o sinal está fechado para ele e continuo atravessando a rua. Quando o barulho do motor não diminui, muito pelo contrário, parece aumentar, olho para o lado de novo.
O carro preto está muito rápido, com pavor percebo que não vai dar tempo dele parar, ele vai me acertar.
Tento correr, mas não há tempo para que eu desvie. O carro vem com toda a sua velocidade e força destrutiva e me acerta.
Sinto uma dor insuportável da cintura para baixo quando a frente do carro acerta minhas pernas. O impacto faz com que eu passe rolando pelo para-brisa e voe por cima do carro, as sacolas se soltam de minhas mãos e solto um grito, ou pelo menos acho que tentei gritar enquanto estava voando no ar e logo em seguida caindo em direção ao asfalto duro.
Caio de costas com força, minha cabeça bate no chão e uma dor aguda se junta aquela que sinto em minhas pernas, sinto algo molhado escorrendo de minha cabeça, sinto gosto de sangue na boca.
“O que acabou de acontecer? Eu fui...Eu fui atropelada?”
Minha visão fica turva e a luz vai diminuindo, não consigo pensar, minha cabeça dói muito.
“Onde eu estou? O que aconteceu?”
Não consigo me concentrar em nada, meu corpo todo dói como se eu tivesse caído dentro de uma colheitadeira. Não consigo respirar, dói demais.
Escuto alguns gritos, mas estão abafados, muito longe.
“Será que estou sonhando?”
A luz vai diminuindo cada vez mais, e a última coisa que eu vejo antes dela sumir por completo e eu mergulhar na escuridão, é um vestidinho com laço rosa caindo em câmera lenta no chão.
Joe
A porta do elevador se abre, e eu com um sorriso no rosto e um buquê de flores nas mãos, entro no apartamento ansioso para contar a novidade para Demi.
Eu consegui o emprego. Ela vai ficar tão feliz e orgulhosa de mim.
— Amor? Cheguei. — Grito e minha voz ecoa pelo apartamento vazio. Estranho.
Fecho a porta atrás de mim olhando o apartamento com um vinco na testa. As luzes estão apagadas e tudo parece estar exatamente como eu deixei antes de sair.
— Demi, baby... — Acendo as luzes. — Amor? — Nada. Apenas o silêncio.
Vou até nosso quarto, mas está vazio. Banheiro, também vazio. Cozinha, idem.
Deposito o buquê em cima da mesa da sala de jantar e afrouxo a gravata. Que estranho, já era para Demi estar em casa, onde será que ela se meteu?
Pego meu celular para ligar para ela e solto uma maldição quando percebo que me esqueci de ligar o aparelho depois que sai da entrevista.
Assim que a tela volta à vida, sou bombardeado com dezenas de notificações de ligações e mensagens perdidas. Antes que eu possa verificar cada uma, o aparelho começa a tocar.
JAX chamando...
— Oi, Kevin. — Atendo.
— Joe? Graças a Deus, estou igual a um louco atrás de você.
— Acabei de chegar em casa, aconteceu alguma coisa? — Pergunto preocupado com o tom de desespero em sua voz.
— Ah Joe, eu nem sei como te contar o que aconteceu. É a Demi, irmão.
Meu sangue gela na hora e tenho que me apoiar na mesa.
— O que aconteceu com ela? Ela está bem? E a minha filha? Fale de uma vez, Kevin. — Digo angustiado.
— Joe, a Demi está no hospital, ela foi...Ela foi atropelada. — Suas palavras não passam de sussurros, mas é como se ele tivesse as gritado para mim.
Seguro a mesa com força e sinto como se tivesse acabado de levar um soco no estômago, não consigo respirar.
— Joe? Joe, ainda está aí?
— Estou aqui, Kevin. Pelo amor de Deus, me fale como ela está. — Digo sem fôlego, ainda lutando para conseguir respirar.
— Não sabemos, ninguém nos disse nada. Ligaram para nós há meia hora dizendo que ela tinha dado entrada no hospital, viemos correndo para cá, mas até agora não nós deram mais nenhuma informação. Dianna e Eddie estão desesperados.
— Como assim não deram informações? — Solto alguns palavrões e corro para a porta. — Estou indo para aí agora, tente descobrir como ela está, por favor. Preciso saber se ela e a minha filha estão bem. — Chamo o elevador e limpo as lágrimas que escorrem de meus olhos.
— Tudo bem, vou tentar descobrir algo, venha o mais rápido possível, tem um detetive aqui querendo falar com você.
— Um detetive? — Que porra um detetive quer falar comigo agora?
— É, o motorista que acertou Demi... — Escutar essas palavras faz com que eu me curve com a dor em meu coração. — Fugiu sem prestar socorro, as pessoas do local chamaram a ambulância e a policia.
— Filho da puta, ele atropelou uma mulher grávida e simplesmente a deixou jogada na rua? É bom que descubram logo quem é, para que eu possa mata-lo.
Dou um soco na parede do elevador com toda a minha força, uma raiva misturada com desespero toma conta de todo o meu corpo. Estou com medo, mas estou com tanta raiva de quem quer que seja esse motorista, que juro que poderia mata-lo com minhas próprias mãos.
— Joe, por favor, se acalme.
Saio pelo lobby e corro até meu carro, a adrenalina correndo junto com o sangue por minhas veias.
— Estou indo, me dê dez minutos.
— Não dirija igual a um lou... — Ele começa a dizer, mas encerro a chamada.
Ligo o carro e saio dirigindo igual a um louco, como Kevin mesmo falou.
O desespero vai se infiltrando cada vez mais, e começo a imaginar diversos cenários, um mais horrível que o outro.
E se ela perder o bebê? E se ela morrer?
“NÃO! Deus, não, por favor, não leve nenhuma das duas, eu imploro!”
Sinto uma dor insuportável no peito e tenho que levar a mão até o coração. Só de imaginar seu corpo sem vida...Piso mais fundo no acelerador, tenho que chegar até elas.
Constantemente esfrego meus olhos para dispersar as lágrimas e conseguir enxergar a estrada a minha frente. Esse maldito hospital nunca pareceu tão longe.
Exatamente sete minutos depois, paro o carro no estacionamento do hospital. Pulo para fora batendo a porta e corro para a porta de vidro automática que não para de se abrir para que o fluxo de pessoas entre e saia. Vejo Kevin me esperando do lado de fora.
— Kevin. — Chamo-o e corro até meu irmão.
— Joe. — Ele abre os braços e me puxa de encontro a si.
— Descobriu algo, como ela está? — Agarro seus ombros e olho angustiado no fundo dos seus olhos. O que eu vejo lá não é bom, não é nada bom. Antes mesmo dele abrir a boca eu já sei que não será uma boa notícia, então começo a chorar em seu ombro.
— Sinto muito, Joe, mas...O estado dela é grave. Não falaram nada mais que isso e que ela está...No centro cirúrgico.
— Cirurgia? Porque ela precisa de cirurgia? O que está acontecendo, Kevin? — Me agarro a ele como se meu irmão fosse aquele que está me impedindo de afundar e me perder na imensidão escura de um oceano tempestuoso.
— Eu não sei, eu não sei.
— E a minha filha? — Ele parece não ter coragem de me dizer que não sabe se ela está bem ou não, então apenas balança a cabeça.
— Oh Deus, por quê? Por quê?
— Sei que é difícil, mas tente se acalmar. Vamos subir e nos encontrar com os outros, quem sabe conseguimos mais alguma notícia. — Ele me escorra para dentro do hospital, eu apenas sigo-o, estou com muita dor agora para saber em qual direção estou indo.
Ela tem que ficar bem. Elas tem que ficarem bem.
Isso deve ser um pesadelo. É, isso é um pesadelo, só pode ser. Aquele Deus tão bondoso sobre o qual mamãe me falava quando criança, não pode ter me dado Demi apenas para depois tira-la de mim.
Ele não me daria a felicidade de ter criado um outro ser humano com a mulher da minha vida, apenas para me tirar os dois assim.
Seria me pedir para aguentar uma dor impossível. Eu simplesmente não posso, não consigo seguir em frente sem elas.
As primeiras pessoas que eu vejo na sala de espera, são Nick e Selena, eles estão abraçados em pé em um canto e Nick está com uma cara, que se possível, deve estar pior do que a minha.
Dianna está sentada com os ombros caídos, derrotados, e o rosto vermelho e os olhos inchados de tanto chorar. Eddie está ao seu lado consolando-a, mas sua situação não está muito melhor que a da esposa.
Miley está com Miguel ao seu lado, ela parece perdida, como que sem sua gêmea ao lado, ela não soubesse o que fazer a seguir. Dani está com ela.
Um homem baixo e gordo em um canto observa qualquer movimento com olhos de águia. Deve ser o tal detetive que Kevin mencionou.
Mamãe e papai também estão aqui, e apesar de desde garotinho minha mãe ter sido minha fortaleza, aquela a quem eu sempre corria quando precisava de colo, dessa vez eu corro para os braços de meu pai.
— Pai. — Chamo, ele levanta o olhar e assim que me vê, abre os braços.
Abraço-o forte e começo a chorar novamente.
— Ela vai ficar bem, meu filho.
— Como você sabe? Você falou com o médico? — Pergunto com esperança que nesse tempo com Kevin lá embaixo, eles tenham ficado sabendo de algo.
— Não, sem notícias ainda, mas temos que pensar positivo, ter fé.
— Ah pai, eu não sei o que eu vou fazer se algo acontecer a elas. — Soluço em seu ombro.
— Shhh, não diga nada. Ela vai ficar bem, ela e o bebê, você vai ver. — Ele passa a mão em meus cabelos, igual quando eu era criança, e isso de alguma forma me reconforta um pouco.
Seus braços me soltam e são substituídos pelos de mamãe.
— Ah mãe. — Agarro-a e puxo-a para mim.
— Calma, meu menino, calma. — Escuto o choro em suas palavras.
— Ela está em cirurgia, mãe.
— Eu sei, filho.
— Isso não é bom, quer dizer que ela não esta bem. Quer dizer que eu posso perde-la. — Enterro meu rosto em seu pescoço.
— Você não vai, Demi é forte e vai passar por essa, você vai ver.
Escuto alguém limpar a garganta atrás de nós e me viro, o mesmo homem baixo e gordo está me olhando sem graça, mas ainda sim com um olhar duro e profissional.
— Desculpe-me, sei que esse é um momento delicado, mas preciso lhe fazer algumas perguntas.
— Deixe-o em paz, não vê que ele está sofrendo? — O instinto protetor de mamãe está em alerta total e ela grita com o detetive.
— Desculpe-me Sra. Jonas, mas eu preciso falar com seu filho, quanto mais rápido eu puder falar com ele, mas chances temos de conseguir prender o responsável por fazer isso com a Srta. Lovato.
— Tudo bem, mãe, eu falo com ele. — Digo para ela enquanto enxugo o rosto e tento me acalmar.
— Eu sou o Detetive Gordon Race. — Ele diz estendendo a mão depois que chegamos a um canto longe o suficiente para que ninguém escute nossa conversa.
— Joe Jonas.
— Sr. Jonas, quando foi a última vez que você falou com sua noiva? — Ele pergunta levando a mão até o casaco e pegando algo, espero ver um bloquinho e uma caneta, mas ele tem um pequeno gravador na mão.
— Algum problema se eu gravar nossa conversa? — Ele pergunta com uma sobrancelha levantada quando vê que eu observo o pequeno aparelho em sua mão.
— Não.
— Então, quando foi?
— Hoje, eu liguei para ela um pouco antes de ir fazer uma entrevista de emprego. Ela disse que estava terminando de fazer compras e que iria para casa logo em seguida.
— Entendi. Olha, Sr. Jonas, eu vou ser honesto com você. A policia não está tratando desse caso apenas como um caso de atropelamento e negligência, temos motivos que nos levam a crer que a sua noiva sofreu uma tentativa de homicídio.
— Homicídio? Porque vocês acham isso?
— Várias testemunhas do atropelamento, relataram que o carro veio deliberadamente para cima dela, sem tentar frear ou desviar.
Levo a mão a boca e me apoio na parede atrás de mim.
— O Senhor sabe de alguma desavença ou alguém que poderia querer fazer mal a Srta. Lovato?
Fecho os olhos e sou transportado novamente para aquele dia no julgamento.
“Ela jurou se vingar...Foi ela, só pode ter sido Eva. Vou mata-la”.
— Eu sei quem foi, foi ela.
— Ela quem, Sr.?
— Eva McKenna Thompson. — Digo seu nome com nojo e raiva.
— A ex-esposa do milionário Carlson Thompson?
— Sim, ela.
— Desculpe-me, mas como ela se encaixa nessa história?
— Ela vazou um vídeo comprometedor meu como vingança. Eu a processei e ajudei a descobrir que ela estava desviando dinheiro, então ela foi presa e jurou que iria se vingar de mim. Ela sabe que não há melhor maneira de me atingir que indo atrás da pessoa que eu mais amo.
— Entendo, mas ela não está presa? Como ela poderia...
— Ela fugiu, alguns dias atrás com a ajuda do seu advogado. — Vejo o detetive Race ficar levemente pálido.
— Vou tomar as devidas providências agora mesmo, se foi ela quem tentou matar sua noiva, vamos pega-la. Com licença. — Ele guarda o gravador no bolso e some de vista com passos apressados.
Não acredito que Eva foi capaz de fazer algo assim, mas se não foi ela, quem mais poderia ter sido? Com certeza foi ela quem mandou que atropelassem Demi, talvez ela mesma tenha dirigido o carro.
Espero que o detetive Race a ache logo, eu vou estrangula-la com minhas próprias mãos.
— Joe. — Mamãe me chama, uma enfermeira está parada no meio deles dizendo algo, vou até ela correndo.
— A Srta. Lovato está no centro cirúrgico e infelizmente não há muito que eu possa dizer agora.
— Nos diga qualquer coisa, por favor. — Nick implora com lágrimas no rosto.
— Bem... — A enfermeira nos lança um olhar de pena e parece se decidir se nos conta algo ou não. — Seu estado é grave. Ela perdeu muito sangue, bateu a cabeça com muita força o que acabou causando uma lesão, quebrou duas costelas e uma delas acabou perfurando o pulmão... — Sinto os braços de Kevin me envolverem, me apoio nele para não cair no chão. Sinto-me doente e pronto para desmaiar. — Quebrou uma perna e possivelmente...Fraturou uma vértebra. Sinto muito, estamos fazendo o melhor que podemos.
— Oh Deus, não. — Dianna chora e abraça Eddie. Nick chora nos braços de Selena, Miguel consola Miley e eu sinto todo o meu mundo desmoronando.
“Aquela maldita acabou com Demi. Ela a machucou de um jeito, mas eu vou machuca-la muito mais. Eva vai me pagar”.
— Sinto muito, assim que tiver mais notícias, eu lhes informo. — Ela diz e se vira.
— Espere... — Peço tão baixo que ela não me escuta. — Espere, e a minha filha? — Pergunto ainda apoiado em Kevin, como se eu fosse um moribundo.
Ela se vira e me dá um olhar triste.
— Sinto muito, mas não posso dizer mais nada, em breve o doutor deve vir falar com vocês.
Em breve...Gostaria de achar essa enfermeira e lhe perguntar qual a sua noção de em breve, pois parece que já se passou uma eternidade e ninguém se dignou a vir falar conosco.
Não consigo ficar parado, ando de um lado para o outro, sempre me recompondo apenas para em seguida me sentir quebrando novamente.
A sala de espera mergulha em um silêncio perturbador e sombrio, de repente se ouve um choramingo dolorido, é Miley ou Dianna, mas sempre tem alguém perto o suficiente para consola-las imediatamente, então elas se acalmam e o silêncio volta a reinar.
Às vezes escuto alguns gemidos angustiados e me viro para ver qual pobre alma atormentada que o soltou, então percebo que fui eu.
O detetive Gordon Race não apareceu, espero que ele esteja atrás de Eva nesse exato momento, uma enfermeira passa e eu a agarro e exijo saber sobre Demi, ela me olha como se eu fosse louco e apenas me responde que ela ainda está em cirurgia. Com horror descubro que se passou apenas uma hora.
Deus, parece que faz semanas que estou aqui esperando por notícias.
— Como ela está? — Uma voz recém-chegada chama a atenção de todos, me viro e vejo aqueles cabelos ruivos malditos.
Por um momento acho que estou enganado, mas não, ele está aqui, ele realmente teve coragem de vir até aqui. Como ele ficou sabendo o que aconteceu?
— O que você está fazendo aqui? Vá embora. — Grito para que Vince vá.
— Eu vim por que eu preciso saber como ela está. — Seus olhos vermelhos indicam que ele estava chorando. Foda-se, eu não tenho pena.
— Você não tem nada que saber dela, vá embora agora. — Dou passos longos e ansiosos para chegar logo até ele e descontar toda a minha frustração em sua cara, mas braços fortes me seguram, viro o rosto e vejo Nick.
— Hora e lugar errados. — Ele diz.
— Eu só quero saber como ela está, por favor. —Sua voz falha e uma lágrima escorre por seu rosto.
— Ela está muito mal, ela está em cirurgia e esses médicos malditos não me dizem se eu vou perde-la ou não. — Grito com raiva para ele, grito tão alto que tenho certeza que os pacientes e médicos nos outros andares também escutaram.
— Agora você já sabe, vá embora. — Como se para me provocar, ele caminha e se senta em um lugar vago.
— Filho da... — Kevin dá um puxão em meu braço.
— Ele só está preocupado com ela, como todos nós. Apenas ignore-o.
Estou prestes a agarrar Vince pela camisa e joga-lo para fora daqui, quando um homem vestido com uma roupa de cirurgião aparece, ele está sem luvas e sem a máscara e sua cara é indecifrável.
— Familiares da Demi Lovato? — Como resposta todos nos aproximamos e o cercamos, olhando com expectativa.
— Nós fizemos tudo o que pudemos, mas a situação dela é muito complicada. Estamos tentando de tudo para salvar ela e o bebê...A paciente teve uma parada respiratória na mesa de cirurgia, eu não sei se conseguiremos salvar mãe e filho, nem mesmo se conseguiremos salvar a mãe. Sinto muito.
Eu caio. A dor da queda é amortecida pelo meu próprio estado de torpor. Minha visão fica nublada, os sons ao meu redor vão diminuindo, ficando abafados.
— Joe? Joe? — Escuto alguém chamando meu nome, não faço a mínima ideia de quem seja.
Vejo um vulto se ajoelhando na minha frente, mas não consigo distinguir quem é.
— Joe? Você está me escutando? — A voz que chega aos meus ouvidos é lenta, distorcida.
— Acho que ele está em choque. — Uma voz feminina diz, acho que foi mamãe.
Vejo tudo ao meu redor em câmera lenta e como se fosse um borrão, a única coisa que está clara em minha mente são as palavras do médico.
“A paciente teve uma parada respiratória na mesa de cirurgia, eu não sei se conseguiremos salvar mãe e filho, nem mesmo se conseguiremos salvar a mãe”.
Se conseguiremos salvar mãe e filho...Mãe e filho...Mãe e filho...
“Eu vou perde-las, eu vou perder as duas pessoas mais importantes da minha vida. Elas vão morrer e eu não posso fazer nada para impedir”.
Sinto algo estranho, uma escuridão tomando conta do que sobrou do meu coração.
Sinto que minha vida está lentamente escapando de mim, como a areia que escorre por entre os dedos, como a poeira que é tão facilmente carregada pelo vento, como o tempo que nos escapa sem que possamos fazer nada. Sinto toda a minha força e vontade de viver fluindo para longe de mim, sinto como se nunca mais fosse ser feliz de novo.
Então eu desmaio, mas eu preferia que estivesse morrendo, porque eu me recuso a viver em um mundo sem Demi e a nossa bebezinha.
Sinto minha cabeça girando e a boca seca, abro os olhos lentamente. Estou em um quarto que eu nunca vi antes, iluminado apenas pela luz do abajur ao lado da cama.
Escuto um bipe e vejo uns aparelhos estranhos ao meu lado. Esfrego os olhos e reparo que tem alguém deitado no pequeno sofá do outro lado do quarto.
Mamãe.
Sento-me e à medida que a tontura vai passando, a dor excruciante da realidade destroça meu coração.
— Demi... — Choramingo seu nome.
Deus, eu desmaiei. Por quanto tempo fiquei desacordado? A cirurgia já acabou? Será que eu estou respirando enquanto Demi está em algum lugar dura, fria e sem vida? Ou os médicos conseguiram salva-la?
— Demi...Demi... — Chamo seu nome como se fosse uma oração. Mamãe desperta ao ouvir meus lamentos.
Pulo para fora da cama. Onde estão minhas roupas? O que é isso em meu braço?
Tiro a agulha que estava transportando algo diretamente para minha corrente sanguínea e vou procurar minhas coisas.
— Filho? — Mamãe pergunta com a voz sonolenta.
— Onde estão minhas roupas, mãe? Preciso sair daqui, preciso vê-la, mesmo que ela esteja...Morta. — Começo a chorar e passo a mão freneticamente pelo pescoço, tentando me livrar dessa coisa invisível que me sufoca.
— Calma, filho, por favor, sente-se.
— Não, não posso. Quanto tempo eu fiquei aqui? A cirurgia já acabou?
— Já, filho, a cirurgia acabou.
— Eles salvaram Demi? — Pergunto me aproximando dela.
— Sim, ela precisa de muito descanso, mas eles conseguiram salva-la.
— E a minha filhinha, mãe? Eles salvaram ela? — Pergunto em um sussurro.
Mamãe coloca as mãos em meu rosto e vejo lágrimas em seus olhos, mas então ela sorri.
— Sim, eles conseguiram, meu filho. Eles salvaram as duas.
Não consigo acreditar em suas palavras, não pode ser, Deus, muito obrigado.
Abraço-a forte e ambos choramos, mas dessa vez de alivio.
Mal posso acreditar, ela não morreu, eles conseguiram, eles salvaram as duas. Bendito sejam esses médicos, eles as salvaram.
Mesmo com essa boa notícia, meu coração ainda encontra-se nas sombras, a dor e angustia da possibilidade de perder as duas foi real demais para ir embora tão rapidamente.
— Eles conseguiram, mãe? Mesmo? Demi está bem, e o bebê?
— Sim, meu filho. Ela está em observação e ainda não pode receber visitas, mas ela conseguiu, eu disse que Demi era forte. Eu disse, meu menino.
— Ah, mamãe...Eu não sei o que eu faria se ela tivesse morrido.
Mamãe me arrasta para o sofá onde ela estava dormindo e faz com que eu me deite com a cabeça em seu colo.
— Pronto, meu menino, pronto, pode chorar. Coloque tudo para fora. — Ela diz acariciando meus cabelos.
— Fiquei com tanto medo... — Digo soluçando em seu colo.
Depois de ficar sem lágrimas, levanto-me e tiro a roupa de hospital que alguém colocou em mim e visto as minhas próprias.
— Eu preciso vê-la, mãe. Só assim eu vou conseguir acreditar que ela está bem mesmo.
— Ela não pode receber visitas, meu filho.
— Não me importa, eles tem que me deixar entrar.
— Eles não deixaram nem Dianna e Eddie.
— Mas eu sou o noivo dela.
— E eles os pais. Acalme-se, tome um café e coma algo, você ficou apagado por umas seis horas.
— Seis horas? — Pergunto surpreso.
— Sim, eles te deram um calmante. Parece que quando estavam te trazendo para cá, desmaiado, você acordou e começou a gritar. Eles acharam melhor te dopar.
— E o detetive Race, alguma novidade da parte dele?
— Filho, porque não conversamos sobre isso depois? Vamos nos concentrar no fato de que Demi e o bebê estão vivos e vão ficar bem, ok?
— Ok, mas eu vou vê-la. — Abro a porta do quarto e mamãe vem apressada me seguindo pelo corredor.
Vejo um médico parado ao lado de uma porta analisando uns papeis em uma prancheta.
— Oi, eu preciso ver minha noiva, ela acabou de sair da cirurgia.
— Quem é a sua noiva? — O médico levanta os olhos dos seus papeis e me pergunta.
— Demi Lovato.
— A moça grávida que foi atropelada? — Faço que sim com a cabeça. — Sinto muito, mas ninguém pode vê-la por enquanto.
— Mas eu preciso vê-la.
— Ela nem está consciente, assim que ela estiver liberada para receber visitas, a família será informada.
— Mas... — Mamãe segura meu braço e me puxa.
— Você ouviu o médico, filho. Vamos esperar até que ela possa receber visitas. Venha, vamos nos encontrar com os outros antes que alguém perceba que você não está mais no quarto.
Muito cansadamente arrasto meus pés e voltamos para a sala de espera. Todos estão com as expressões melhores, mais confiantes, porém ainda preocupadas.
Dou um abraço forte em papai, Eddie e Dianna. Ninguém foi embora durante o tempo que eu fiquei apagado, com exceção de Vince.
Graças a Deus alguém foi sensato o suficiente e o fez ir embora, não teria forças ou paciência para aguentar sua presença.
Sento-me no sofá de dois lugares e faço algo que eu odeio, mas que é a única opção. Eu espero.
E espero, e espero e espero.
Horas se passam, mamãe me traz comida e café, mas não consigo comer nada, simplesmente não consigo fazer nada até que eu veja com meus próprios olhos que Demi está bem.
Mais uma eternidade se passa, sinto meus olhos pesados, meu corpo esgotado assim como minha mente.
Miguel levou Miley para casa para tomar um banho e descansar um pouco, papai achou melhor levar mamãe também. Ela queria que eu fosse junto, mas o único jeito de eu sair daqui, é quando Demi receber alta. Caso contrário, eu não vou arredar o pé desse lugar.
Apoio os cotovelos nos joelhos e descanso a cabeça em minhas mãos, fecho os olhos e tento não começar a chorar novamente de frustração.
Sinto a presença de alguém na minha frente. Abro os olhos e levanto a cabeça, vejo Nick segurando dois copos de plástico da Starbucks.
— É para você. — Ele diz me estendendo um dos copos. Olho em seus olhos e não vejo mais nenhum vestígio do ódio que eu vi na última vez que nos falamos.
— Obrigado. — Pego o copo fumegante e sinto o cheirinho de café, dou um gole e queimo a língua.
— Posso me sentar? — Ele aponta para o lugar vago ao meu lado.
— Tanto faz. — Digo dando de ombros.
Ele se senta e toma seu café em silêncio. Quando eu finalmente começo a achar que ele não vai dizer nada, ele começa:
— Sei que eu fui o pior melhor amigo do mundo, assim como o pior irmão. Apesar de achar que estou pedindo muito, espero que um dia você e Demi possam me perdoar.
Viro-me para ele e vejo arrependimento em seu olhar, e dor.
— Acho que é meio tarde para isso. — Digo.
— Eu sei que eu fui um completo idiota... — Dou uma risada sarcástica.
— Completo idiota é muito, muito pouco. Você me espancou, ameaçou, tentou me afastar da sua irmã, contou para ela coisas nojentas sobre mim, falou mal da minha filha e disse que eu e Demi estávamos mortos para você. — Ao escutar minhas palavras, um tremor percorre seu corpo e ele abaixa a cabeça, envergonhado.
— Eu não quis dizer aquilo, eu nunca quis que você ou Demi estivessem...Deus, eu sei que aquilo foi horrível. Você imagina como eu me senti culpado quando aquilo que eu disse quase se tornou verdade hoje? Eu não sei o que faria se perdesse minha irmã.
— O que você quer Nick? — Minha voz sai mais ríspida do que eu pretendia.
— Eu quero meu melhor amigo de volta, eu quero minha irmãzinha de volta, eu quero ter a oportunidade de brincar e mimar o meu sobrinho ou sobrinha.
— Sobrinha, é uma menininha.
— É? Uma menina? — Vejo seus olhos cheios d’água e ele me dá um sorriso tímido.
— Sim, e ela vai ser linda como a mãe.
— Tenho certeza que sim. Eu quero tanto fazer parte da vida de vocês, agora eu vejo como agi de uma forma horrível. Por favor, me perdoe por não enxergar que você realmente amava minha irmã. Eu me senti tão traído e com tanta raiva e com ciúmes. Eu não sei o que deu em mim, eu me arrependo profundamente de tudo o que eu fiz e disse, Joe.
— Eu não sei se consigo te perdoar, Nick.
— Eu entendo, mas será que você pode tentar?
— Eu não sei. Eu não estou com cabeça agora para pensar sobre isso, estou preocupado com Demi e estou louco de vontade de vê-la e abraça-la, estou focado nela e na minha filha, e em fazer a pessoa que fez isso com elas pagar. Não tenho tempo para você agora.
— Tudo bem, eu entendo. — Ele diz tentando disfarçar a magoa. — Eu não mereço mesmo o seu perdão, mas eu vou torcer para consegui-lo. Quando você estiver pronto, se você estiver pronto, sabe onde me encontrar.
Ele se levanta e vai se sentar com Selena no outro lado da sala. Dou mais um gole em meu café e continuo esperando e esperando e esperando.
— Eu já conversei com Demi, ela estava confusa e não se lembrava muito bem do que tinha acontecido. Ela perguntou pelo bebê e logo depois por você. Mas Joe, tem algo que você precisa saber antes de entrar lá dentro.
— O que?
— Demi não está sentindo as pernas.
— O que? Ah meu Deus. — Porque ninguém nos disse isso antes? Dianna e Eddie vão ficar arrasados.
— Mas acalme-se, não temos motivos para achar que a lesão será permanente. Será preciso acompanhamento constante e muita fisioterapia, mas as chance dela estar cem por cento em poucos meses é muito grande.
— Como ela reagiu quando percebeu que não estava sentindo as pernas?
— Incrivelmente, ela reagiu bem. Muitos pacientes se desesperam e é necessário seda-los, mas Demi compreendeu tudo o que dissemos para ela e ela sabe que se se esforçar, poderá voltar a andar normalmente.
— Posso vê-la agora doutor? — Não consigo esconder a ansiosidade em minha voz.
— Pode sim. — Ele me dá um sorriso e faz sinal para que eu entre.
Abro a porta lentamente, não sei porque mas estou com medo, meu coração está quase saltando para fora do peito.
Entro no quarto com receio, assim que a vejo deitada na cama, imóvel, eu congelo no lugar.
— Joe? — Sua voz fraca, não mais que um fiapo, me chama e todo o controle que eu estava tentando manter vai embora pela janela. As lágrimas vêm com força como um tsunami e eu corro até ela.
— Meu amor, meu amor. — Paro ao seu lado e me dói profundamente o coração ao vê-la cheia de hematomas e toda imobilizada devido a violência da batida que a machucou tanto.
— Joe, não chore. — Seguro sua mão e beijo cada um dos seus dedos.
— Eu achei que iria te perder. — Escondo o rosto com vergonha por estar chorando igual uma criancinha.
— Mas eu prometi não te deixar nunca, lembra? — Ela me dá um sorriso fraco, demostrando o quanto está cansada.
— Lembro, meu amor, eu lembro. — Digo e então beijo seus lábios. — Posso te abraçar? — Pergunto quando me afasto.
— Com cuidado. — Ela responde.
Hesitantemente envolvo meus braços nela, tenho vontade de esmaga-la contra mim, mas tenho que me contentar apenas com um abraço sem graça e superficial. Minha mão escorrega até sua barriga e eu a acaricio.
— Como está nossa pequena Jessica?
— Jessica? Eu gostei desse nome.
— É o primeiro da minha lista que você gosta. — Digo sorrindo.
— É o primeiro que é bonito. — Ela diz e eu rio.
— Eu senti tanto medo, achei que iria perder vocês duas. Eu nunca quero sentir isso de novo, nunca. É o pior sentimento do mundo, o desespero e o medo que eu senti hoje vão me assombrar para o resto da vida.
— Eu estou aqui, eu estou bem, quebrada mas bem. E não vou a lugar algum.
— Eu te amo tanto, Demi.
— Eu também te...Oh.
— O que foi? — Pergunto preocupado quando ela leva a mão até a barriga e faz uma cara estranha.
— Acho que ela se mexeu. — Demi diz com um sorriso enorme no rosto.
— O que? Deixa eu sentir. — Tiro sua mão e substituo com a minha. Demi ri da minha reação.
— Ainda é cedo para isso, mas eu juro que senti algo.
— Não estou sentindo nada. — Reclamo.
— Acho que você não vai conseguir sentir, só eu.
— Mas eu quero senti-la.
— Calma, logo ela vai estar chutando como um bom jogador de futebol, você vai ver.
— Eu amo tanto ela. Minha pequena Jessy. — Acaricio sua barriga e lhe dou um beijo.
— Eu estou tão cansada, acho que vou dormir. — Demi diz com os olhinhos já se fechando.
— Você dormiu por horas, fique acordada e fale comigo. — Peço egoistamente.
— Não consigo, amor. Fique aqui comigo, segure minha mão enquanto eu durmo.
Seguro sua mão e beijo seu rosto.
— Eu não vou a lugar nenhum, quando você acordar eu vou estar aqui. Prometo.
Vejo Demi adormecer, puxo uma cadeira e me sento ao seu lado, segurando sua mão e acariciando sua barriga.
E pensar que eu poderia ter perdido isso. Mas Deus ouviu minhas preces, ele não as levou de mim, eu nunca vou esquecer o que Ele fez, o presente que ele me deu.
Eu vou ser eternamente grato por esse milagre em minha vida.

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