27.6.15

Lar da Paixão - Capitulo 4

Onde foi que ela se meteu?

Já estava quase escuro lá fora, a chuva batia no vidro da janela e Joe não entendia por que Demi ainda não tinha apa­recido. Não parecia tão cansada assim e devia ter acordado com o barulho dos trovões e da chuva.

Joe consultou o relógio mais uma vez. Já eram 8h30 da noite; será que ela ainda estava dormindo? Talvez estivesse esperando no quarto, lendo ou algo assim, achando que ele ia chamá-la. O que ele dissera? Não conseguia lembrar exata­mente. Será que não fora claro?

Joe foi até a porta do quarto dela e bateu.

— Demi?

Como não houve resposta, ele abriu a porta e sentiu um vento bater no rosto. Estranhou que uma das portas batesse quando ele entrou, e a outra estivesse escancarada, deixando a chuva entrar. Joe a chamou de novo, falou mais alto, mesmo assim não obteve resposta. Havia uma almofada no chão, do lado de fora, toda molhada da chuva.

Ele saiu para o terraço, pegou a almofada e olhou para o lado. Ali, bem do lado, estava o terraço onde ele e Emily estiveram conversando.

Falando sobre Demi.

Uma sensação de pavor tomou conta dele. Será que ela ouvira a conversa?

Talvez não. Ele voltou para dentro e fechou a porta de correr, chamou por ela mais uma vez, depois entrou no quar­to e parou.

O quarto estava totalmente vazio, exceto pela caixa de areia e pelas tigelas de comida da gata. As bolsas dela não estavam mais lá, a gata se fora, Demi se fora, e ele sabia mui­to bem o motivo.

Joe se encostou na parede e olhou para o teto. Demi ouvi­ra a conversa. Provavelmente estava do lado de fora, sentada na almofada e escutara tudo o que Emily dissera.

Devia ter entendido que ele era um dos construtores e pensado que a queria longe do hotel por causa da reforma; ela não entendeu os verdadeiros motivos dele e, em vez de confrontá-lo, decidiu fugir.

Que droga! Ela foi se esconder naquele anexo fedorento, como uma criminosa. E dificilmente sairia de lá agora.

Mas ele tinha de tentar. Não poderia deixá-la ficar sem uma explicação, nem que precisasse pagar um hotel para que Demi se hospedasse.

— Vou matá-la, Emily — ele falou baixinho.

Joe trancou a porta dos aposentos dela e correu pela casa, pegou a chave do carro, acionou o alarme e saiu. O carro dele estava do lado de fora, então ele manobrou rapidamente até o portão onde teve de esperar, com toda paciência, até que abrisse.

Como será que ela passara pelo portão? Ele nem teve tem­po de mostrar a Demi onde ficava o painel de controle, e ela também não sabia a senha. Será que ela ainda estava ali, no jardim, esperando que alguém abrisse os portões, ou será que saiu junto com Emily? Isso já tinha horas, quase cinco horas, e desde então não parou mais de chover.

Não, ela já tinha ido embora. Mesmo assim ele resolveu procurar por ela no jardim, só para ter certeza.

Nem sombra dela.

Ele deixou os portões abertos, para o caso de ela voltar, e dirigiu lentamente até o hotel, vasculhando as calçadas pelo caminho. Ela devia ter saído logo depois de Emily e àquela hora já estaria naquele buraco.

Ele praguejou baixinho, olhando para todos os lados atrás dela, e logo que virou a esquina ele freou bruscamente o carro.

Aporta estava bloqueada com tábuas de madeira! Nick devia ter interditado o lugar assim que soube que ela não estava mais lá. Ele disse que estava preocupado com a imagem deles. Devia ter chamado um operário da obra para fechar aquele lugar.

Agora não sabia mais onde procurar por ela.

Ele olhou em volta e sentiu medo por Demi. Devia estar morrendo de frio, pois ainda era junho. Congelada, zangada, sentindo-se traída e sozinha.

Sozinha, não. Tinha a gatinha. A velha gatinha que ela se negou a abandonar.

Droga!

Ele bateu no volante do carro e praguejou.

E agora? Danado da vida, ele teclou o número de Emily no celular.

— Demi desapareceu. Ela deve ter ouvido a nossa conversa. Saia para procurar por ela, e eu não quero desculpas. Isso foi por culpa sua. Você apareceu na minha casa gritando, fazendo acu­sações infundadas contra uma pessoa que nem conhecia, e se alguma coisa acontecer com ela, você será a única responsável!

— Ah, Joe! O tempo está péssimo! Onde você está agora?

— Estou em frente ao hotel. A porta do anexo foi bloque­ada. Ela não tem para onde ir, portanto, talvez tenha voltado para minha casa. Vá até lá e procure por ela no jardim. Eu olhei muito rapidamente. Deixei o portão aberto, mas a casa está trancada, então ela pode estar abrigada em algum lugar no jardim, na parte de trás, nos arbustos ou algo assim.

— Não, ela não vai estar ao relento, Joe, não nesta tem­pestade! O tempo está péssimo!

— Sei disso, e com certeza ela também sabe, depois de quase cinco horas. Só estou com esperanças de que ela tenha voltado para a minha casa.

— É mesmo? Acha isso provável?

— Talvez não, depois de tudo o que ela ouviu, mas ela não tem muitas opções, eu acho. Faça isto, por favor, Em, ou mande Harry ir lá. E se não a encontrar, peguem o carro para procurá-la, e eu vou fazer o mesmo. E ligue para mim!

— Espere, não desligue! Eu nem sei como essa moça é! 

Linda.

Ele pigarreou antes de falar:

— Sabe sim. Uma mulher grávida carregando uma mo­chila e um gato. Duvido que encontre muitas por aí. Se algu­ma coisa de ruim acontecer a ela, eu mato você!

Ele desligou e ligou para Nick:

— Pegue o carro e saia para procurar por Demi. Ela desa­pareceu — ele disse, depois deu a mesma descrição que dera para Emily.

— Entendi — o amigo disse e desligou.

*****

Demi estava morrendo de frio.

Toda molhada, ela batia os dentes, e a gatinha tremia no seu colo. A gata podia ser surda, mas ela sentia o trovão; a coitadinha estava apavorada.

As duas estavam encolhidas na porta de uma loja, a mes­ma em que Joseph a escondeu; teria sido na véspera? Foi do outro lado do hotel onde ela estava vivendo, abrigado da chuva, mas em uma rua mais movimentada onde as pessoas que passavam olhavam para ela.

Ninguém parava, preocupados em chegar em casa para se proteger dá borrasca, pelo que Demi dava graças a Deus, porque ela não queria ter de sair dali, nem ter de se explicar. Ao menos ela e a gata estavam abrigadas ali, e sentada na mo­chila ela estava quase confortável.

Sua preocupação agora era saber para onde ir, e com a gata suas opções eram ainda mais limitadas.

O que ela estava pensando? Suas opções eram poucas de qualquer forma, sem dinheiro, sem amigos e com alguns ini­migos de peso.

Sem falar de Emily, que por algum motivo parecia odiá-la, mesmo sem conhecê-la. Seria por causa do marido, Harry e por alguém chamado Carmen... ela não pegou tudo. E quem seria Kate? Não que isso importasse. Nada importava, a não ser encontrar um lugar seco onde pudesse se deitar.

Ela olhou para cima, se perguntando se não haveria onde se sentar na estação em frente e ficar mais aquecida, e bem diante dela apareceu o carro de Joseph, percorrendo lenta­mente a rua.

Ah, meu Deus, ele estava procurando por ela! Não podia ser. Estava tão zangada que poderia perder a calma e dizer uma besteira. Ela se encolheu tentando não ser vista, mas não tinha jeito. Ele parou o carro junto ao meio-fio, deixando o motor ligado, e a abriu a porta no meio da rua.

Alguns carros buzinaram, mas ele os ignorou, correndo para ela, agachando-se na porta de modo que ele não podia ver seu rosto. No entanto, ela podia ouvi-lo, ouvir o tremor na sua voz quando ele agarrou seu braço e a sacudiu levemente.

— Onde você esteve?! Eu estava louco atrás de você!

— Deixe-me!

— Eu sinto muito, Demi, por favor venha até o carro para conversar comigo. Deixe-me explicar.

— Não. Eu não vou com você.

— Eu lhe darei a chave do carro. Assim, não poderei diri­gir e levá-la para algum lugar aonde não queira ir. Mas, por favor, deixe-me explicar. — Ele passou a mão pelo cabelo, e a água escorreu pelos fios.

Ela olhou para Joseph com mais atenção e viu que estava encharcado. Molhado e com frio, quase tanto quanto ela. Ele tinha saído à sua procura, não apenas dentro do carro, mas procurando por ela na chuva.

Mas por quê?

— Explicar o quê? — ela perguntou. — O motivo de ter mentido para mim?

— Eu não menti. Só não lhe contei toda a verdade.

— Só não me contou a maior parte. Ou a parte mais im­portante.

— Eu lhe contei a parte que importava. 

De repente um carro buzinou e freou.

— Você deixou a porta do carro aberta — ela lhe lembrou sem necessidade, mas ele não deu importância.

— Por favor, venha comigo. Vamos para algum lugar onde possa se aquecer, tomar uma bebida quente e conversar sobre isso. Vamos a algum lugar público, a um café ou algo assim. Você escolhe onde.

— Estou com a gata — ela comentou.

— Demi, por favor — ele disse outra vez.

E, porque ele estava começando a tremer e ficando cada vez mais molhado, se isso era possível, ela cedeu.

— Está bem, mas só no carro. Não vamos a lugar nenhum. E você tem cinco minutos.

*****
 
Joseph teve de tirar o carro dali, pois estava obstruindo a passagem, mas foi só até virar a esquina, entrar no estaciona­mento do hotel e parar junto à caçamba de lixo onde estava o antigo colchão dela. Então ele desligou o motor, entre­gou-lhe a chave e se virou para ficar de frente para ela.

— Não sei por onde começar a pedir desculpas — ele disse.

— Esqueça o pedido de desculpas. Eu quero a verdade, toda ela. E pode ligar o aquecimento?

— Não sem a chave do carro.

Sem dizer nada ela lhe entregou de volta a chave e ele li­gou o motor e o aquecimento. Eles estavam tão molhados que, mesmo com a temperatura controlada ali dentro, as ja­nelas ficaram embaçadas e o carro ficou com um cheiro de cachorro molhado. A gatinha tremia.

Pobre Pebbles.

Demi fazia carinho na gata; seus dedos estavam quase azuis de tanto frio, e ela precisava tirar aquelas roupas molhadas.

— Isto é loucura. Deixe-me levá-la para casa para que possa se enxugar e se alimentar. Você deve estar morrendo de fome, e está com frio, e a gata está congelado.

Ela olhou para Pebbles e algo pingou sobre ela. Poderia ter sido água do cabelo dela ou uma lágrima, e seu coração ficou apertado.

Joe segurou seu rosto, virando-a para ele, e viu outra lá­grima escorrer pelo semblante zangado.

Ele limpou a lágrima no rosto de Demi com o polegar e, em seguida, fitou seus olhos azuis como o céu. E decepciona­dos. Com ele. O que o deixava triste.

— Deixe-me levá-la para casa, por favor. Não precisa fi­car. Deixarei o portão aberto, poderá sair quando quiser. Não vou machucá-la, Demi.

— Não. Vai mentir para mim, você, sua irmã e seus amigos. Pensei que estivesse brigando com Ian, mas você era o verdadeiro inimigo o tempo todo. Agora você venceu, conseguiu me tirar de lá, parabéns. Como se sente roubando meu bebê? — Ela afastou a mão dele abruptamente e enxugou as lágrimas que insistiam em cair.

— Nós não...

— Ah, foi! A minha filha tinha uma herança, e agora, Joseph, vai ser muito mais difícil. Eu sabia que era bom demais para ser verdade. Eu cheguei a lhe dizer isso, mesmo assim me deixei enganar. Não acredito que tenha sido tão burra! Mas você não devia ter bloqueado a porta. Eu poderia ter voltado para lá. Ainda posso dar um jeito...

— Não. — Ele balançou a cabeça. — É perigoso demais. E, como se para ilustrar o que ele dizia, uma folha do te­lhado voou e caiu diante deles, bem no estacionamento.

O lábio dela tremeu, e Demi virou a cabeça para o outro lado. Em seguida, o telefone tocou. Joe atendeu e colocou no viva-voz para ela ouvir o que Emily tinha a dizer:

— Alguma noticia?

— Eu a encontrei — ele falou para a irmã.

— Graças a Deus! Ela está bem?

— Graças a você, não.

— Ah, Joe, desculpe-me. Eu só pensava na experiência com Carmen, estava tão preocupada que você se machucasse, sei como vocês, homens, podem ser protetores. E me perdoe por ter comentado sobre o seu caso com Kate. Escu­te, posso falar com ela, tentar explicar...

— Acho que já falou demais por hoje — ele disse. — Não se preocupe, estou cuidando dela.

Depois de uma pequena pausa, Emily acrescentou:

— Está bem. Então, diga-lhe que eu sinto muito, está bem? E eu telefono para você amanhã.

— Faça isso. — Ele desligou e virou-se para ela. — Pre­ciso ligar para Nick. Ele também está procurando por você.

— Preocupado em ser processado?

Ele passou a mão pelos cabelos molhados e soltou um suspiro.

— Não. Está preocupado com uma mulher fragilizada, na rua em dia de tempestade, sem ter para onde ir por causa dele. — Depois ele falou com carinho: — Não estávamos caçando você, Demi. Estamos do seu lado.

— Bem, desculpe-me se não acredito em você — ela dis­se, tensa, e a raiva de Emily veio à tona novamente. — Que ousadia a dela, Joseph! Como pôde fazer aquelas acusações contra mim? Ela nunca sequer me viu! Não me importo se é sua irmã, isso é imperdoável. Eu jamais faria um julgamen­to desses sobre alguém que não conhecesse. Quem ela pen­sa que é?!

Ela percebeu o nível de irritação e resolveu se calar. Vi­rou-se para a janela. Demi se perguntou se Joseph seria um homem genuinamente bom ou apenas um tolo ingênuo como sua irmã dissera. Ou coisa pior. Como ele mesmo disse, Georgie não sabia nada sobre sua vida privada. Ele poderia muito bem ser um assassino serial.

Demi estava quase deixando o carro para sair na chuva quando viram um relâmpago seguido de um trovão, bem perto do carro, e a gatinha tremeu e miou. Não. Não poderia fazer isso. Pebbles morreria, e ela não aguentaria viver com essa culpa.

Joseph estava falando com Nick ao telefone, contando que Demi estava em segurança e que falaria com ele no dia seguinte. Ela recebeu um pedido de desculpas de Nick, tam­bém, antes que Joseph desligasse o celular; e talvez fosse aquilo ou apenas pelo fato de Pebbles estar chorando agora, então ela resolveu ceder.

— Está bem — ela disse friamente. — Mas só por causa da gata. Vou deixar que me leve de volta para poder secá-la e alimentá-la, depois vou me trocar e querer saber exata­mente o que esta acontecendo. Só então vou decidir o que faço.

— Está bem — ele disse, aliviado.

*****

— Por onde quer que eu comece?

Ela olhou desconfiada, sem saber se poderia acreditar em qualquer coisa que viesse daqueles lábios lindos e mentiro­sos, mas ele havia deixado o portão aberto, mostrou onde ficava o painel de controle e revelou o segredo, caso Demi encontrasse o portão fechado.

Também lhe deu a chave da porta da frente e da porta la­teral, o código do alarme, e algum dinheiro, cerca de duzentas libras esterlinas, tudo o que tinha no bolso, segundo ele. E mais um cartão de débito e a senha.

Sério? Era tão confiável assim? Ela não seria tanto. Tal­vez a irmã estivesse certa sobre ele. Ou talvez fosse por­que mesmo que ela saísse gastando loucamente com seu cartão, não seria um prejuízo tão grande quanto faria no seu empreendimento hoteleiro, atrasando a reforma. En­tão, ele queria diminuir os prejuízos ou estava sendo mes­mo decente?

Ele a instalou no quarto de hóspedes, e quando ela saiu do chuveiro Joe já havia envolvido a gata numa toalha quente e a alimentado. E também tirara as roupas dela das sacolas.

— Suas roupas estão todas molhadas — ele disse.

Joe saiu e voltou logo depois com uma calça de moletom, uma camiseta e um grande roupão atoalhado e fofo que ela logo vestiu. Tudo era grande demais, mas Demi não se impor­tava; estava aquecida, a gatinha dormia em seu colo e suas roupas estavam sendo lavadas na máquina, enquanto espera­va que ele começasse a falar.

Joe usava um jeans desbotado e uma blusa de malha, e Demi deduziu que ele tivesse tomado um banho enquanto ela se vestia. Os pés estavam aquecidos com grossas meias es­portivas que ele apoiou sobre a mesa de centro.

— Comece desde o início, Joseph. Desde quando você se deu conta de que eu estava morando lá e resolveu executar seu plano.

— Não foi um plano.

— Chamaria de que, então? Ah, sim, eu me lembro, "re­solver um problema" — ela disse. — Acho que foram essas as suas palavras.

Ele praguejou baixinho e passou as mãos pelo cabelo, sa­cudindo os fios molhados e depois tirando o cabelo da testa para que ela pudesse ver melhor seus olhos.

— Já tinham se passado cerca de 15 dias desde que fina­lizamos...

— Finalizaram?

— Sim, o que você pensou? Que estávamos apenas jogan­do dinheiro fora e tornando sua vida insuportável? É claro que terminamos. Terminamos um dia antes de Brian morrer. Tínhamos feito um acordo, segundo o qual ele poderia ficar por lá por até um mês após a conclusão para lhe dar tempo de pagar as dívidas e encontrar um lugar para morar. Mas, para ser sincero, acho que ele percebeu que estava morrendo e queria receber o dinheiro antes, então a venda não foi con­cluída, por isso nos deixou correr com a obra.

— Então, Brian morreu antes que pudesse fazer qual­quer coisa com o dinheiro. — Demi afundou no sofá, en­quanto pensava. — Mas se você pagou, onde está o dinhei­ro? Com Ian?

— Acho que não. O escritório não vai liberar até que o testamento seja validado. Havia uma pequena quantia reti­da que seria paga quando a propriedade fosse entregue to­talmente desocupada. Esse valor ainda não foi pago por­que, claro, o imóvel não foi inteiramente desocupado até hoje.

— Até que você bolou um plano para me tirar de lá.

— Eu não bolei plano nenhum, isso é mentira; eu fiz, sim, mas não por aquela razão.

— E por que foi?

— Porque era perigoso demais! Eu não dormi na noite passada preocupado com você naquele lugar, com o teto caindo, e quando voltei esta manhã, a parte sobre a escada havia caído também. O telhado está em péssimo estado, Demi. Você viu uma parte dele voar durante a tempestade. Assim como a cobertura está podre, as vigas devem estar também. É uma questão de tempo, tudo vai desabar. E você precisa pensar na criança que está esperando.

Instintivamente, Demi abarcou a barriga pensando na filha. Ele tinha razão, era muito perigoso. Na noite passada, quan­do o teto caiu, ela se assustou, e estava no banheiro quando aconteceu uma semana antes. Todas as suas roupas foram destruídas, o colchão ficou encharcado e coberto de gesso, tudo ficou estragado.

Se ela estivesse na cama...

Demi tremeu só de pensar.

— Você está bem? Está aquecida?

— Sim.

Após uma longa pausa, ele falou de novo:

— Demi, eu quis tirá-la de lá com a melhor das intenções, e se nos convém que você saia de lá, isso é apenas um bônus. Se fosse seguro lá, eu teria deixado você ficar, se era isso que queria, e depois a levaria para conversar com nossos advoga­dos para resolver sua reivindicação.

— Pois assim poderá resolver o problema e se livrar de mim o mais rápido possível?

— Porque eu não quero que seja enganada por um homem que nunca veio visitar o pai, só quando soube que ele estava morrendo.

Será que podia acreditar nele? Ele parecia bem revoltado.

Ela não tinha muita escolha, pensou. Não tinha onde mo­rar, não tinha dinheiro e estava prestes a se tornar mãe. Não possuía um leque de opções, digamos assim, e estava cansa­da de lutar.

— Sabe, se eu soubesse que vocês tinham terminado e que eu não poderia reverter a situação, não teria passado tan­to tempo naquele lugar horroroso. Achei que estava tudo suspenso por causa do testamento. Então, por que não me despejaram de lá, simplesmente?

E, para sua surpresa, ele riu.

— Era o que estávamos tentando fazer. Foi por isso que marcamos de visitar nossos advogados amanhã. Ainda está­vamos com dificuldade de tirar você de lá, e atrasando a obra. A reunião de amanhã era para discutir esse assunto.

— Então por que me ofereceu um emprego? Se a sua equipe ia resolver o problema, por que não deixou por conta deles?

— Porque descobrimos que você estava grávida — ele disse, sem jeito.

— E daí?

— Isso faz uma enorme diferença. Minha irmã passou por uma experiência semelhante quando estava grávida, e ela voltou a viver na casa dos meus pais. Ela era um pouco mais velha do que você, com uma filhinha e um bebê a caminho, mas ao menos tinha uma família a quem recorrer. Você não tem nada, e por pior que me julgue, eu não poderia deixá-la na rua. E também acho que não aceitaria caridade, e você sabe que preciso de alguém para cuidar da casa. E tenho bas­tante espaço aqui.

Os argumentos dele eram definitivos, mas havia algo na sua maneira de não olhar para ela que a deixava intrigada. Parecia estar escondendo alguma coisa dela. Algo a ver com Kate? Não importa, mais tarde ela voltaria a tocar nes­se assunto.

— Então, como foi exatamente que soube de mim?

— Soubemos que havia um inquilino, uma ex-funcionária do hotel, que estava com uma reivindicação maluca quanto à propriedade; nas palavras deles, não minhas. Disseram que não seria problema, que você sairia dentro de um mês. Só que depois de um mês, você continuava lá.

— E Ian lhe disse que eu não tinha nenhum direito?

— Exatamente. Ou advogados dele disseram, mas não sei como, já que o testamento não apareceu.

— Mesmo sem o testamento, há uma chance para minha filha. Existe uma lei antiga que se refere aos bebês. Cha­ma-se en ventre sa mère.

Ele balançou a cabeça e ela ficou surpresa. Então ele já tinha se informado sobre isso?

— Mas tenho de provar que ela é filha de Jamie, antes de mais nada...

— Tem alguma dúvida?

O olhar de indignação dela o fez se desculpar.

— Só estava perguntando, Demi. Poderia ser relevante. Se vamos brigar do seu lado, precisamos saber se existe outra possibilidade.

— Na sua família, ninguém é digno de confiança? — ela perguntou, e ele ficou calado. Na verdade, ela também achou que tinha sido dura demais, então abrandou o tom: — O bebê é de Jamie, sim. Não sou eu quem precisa de uma prova, Joe — ela falou com delicadeza. — São os tribunais. E se Ian se apossar do dinheiro antes do nascimento dela...

— Mas ele não vai conseguir. Se você fizer sua reivindica­ção, o dinheiro não será liberado enquanto o inventário não for concedido. Nossos advogados vão conversar com você sobre isso amanhã. Imagino que concorde em encontrá-los.

Mais uma vez Demi se via sem opções. Poderia se arriscar a ficar na rua. Ou ela poderia ficar nessa casa linda com um homem que, apesar do seu receio, não tinha motivos para confiar nela, mas que estava sendo gentil e queria ajudá-la nessa batalha legal por segurança.

E essa era a palavra mágica.

Segurança.

Para ela, para a gata e acima de tudo para a sua filha.

— Demi?

Ela o encarou e tentou sorrir.

— Sinto muito. Acho que o julguei mal. Ao menos lhe devo o benefício da dúvida.

— Tendo em vista o que você ouviu, seria mais do que razoável você me julgar mal. Então, você me perdoa? Ou melhor, nos perdoa? Vai ficar?

— Você falou sobre assinar um contrato de trabalho. Acho que parece ser uma boa ideia. Não quero ter de ouvir insinuações.

— Claro, podemos fazer isso amanhã.

— E você mencionou jantar.

— Foi sim. Frango à caçarola, que já está pronto na cozinha. 

Ela sorriu, cautelosa.

— Então começaremos pelo frango e vamos nos preocu­par com o resto amanhã.

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Hey girls, finalmente voltei. E ai como estão? Depois de muito tempo aqui estou eu. 
Comentem bastante que eu posto 2 capítulos hoje.

3 comentários:

  1. OMG, graças a Deus, vcs voltaram, posta logo, faz maratona !!!

    Obs: Mari quando vc irá posta em A Sexóloga?

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  2. Aeee voltooou q bom já tava tendo ataque do coração...posta mais

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  3. Ateeee que enfiiiim!!! Posta posta posta posta maaaais kkkk

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