29.6.15

Lar da Paixão - Capitulo 5

Assim eles foram até a manhã seguinte.

Demi não fugiu mais, e Joseph não passou a noite toda acordado perguntando-se se ela ainda estava lá.

Ele chegou a pensar em ligar o alarme, para o caso de Demi abrir a porta da rua, mas depois resolveu o contrário. Ele não queria que ela se sentisse presa, e ele precisava confiar nela.

Demi disse que ficaria. Então, ele lhe concedeu o benefício da dúvida e, pela manhã, ela ainda estava lá.

Assim que acordou, ele a viu de pé, imóvel, no jardim, coberta da cabeça aos pés no seu roupão, admirando o mar calmo e tranquilo, e Joseph sentiu algo no peito que não que­ria analisar.

Ele apertou o controle da janela para "nuvens", uma coisa que nunca fazia, e depois de tomar banho e se vestir desceu para colocar a chaleira no fogo e a viu lá fora, com a cabeça ligeiramente inclinada para ver o céu.

— Bom dia — ele disse, e ela voltou para casa, os pés descalços sobre a grama molhada.

— Bom dia. Estava sentindo o ar do mar no rosto.

— Então, ficará por um bom tempo.

— Mas vale a pena, isso é lindo.

— Você dormiu bem?

— Sim, estava cansada.

— O dia foi difícil, ontem.

— Foi sim. — Ela fez uma pausa. — O jardim é todo cercado?

— Completamente.

— Então Pebbles não vai fugir se eu a deixar sair da casa?

— Só se os portões estiveram abertos, mas normalmente não estão. E se a deixar no jardim dos fundos, ela não vai poder chegar à parte da frente da casa. Ela ainda consegue pular? Há uma parede com uma porta junto à garagem, e outra parede do outro lado; ela não pode descer para a praia a não ser que o portão esteja aberto.

— Então ela pode passear pela sala e pelo jardim?

— Pode.

— Ela vai adorar. Ela costumava se deitar no telhado para pegar sol e ver os passarinhos, durante horas. Creio que há muito tempo não consegue pegar os bichos, mas ela gosta de apreciá-los mesmo de longe.

— Tenho certeza de que sim. Deixe-a sair, coitada, vai lhe fazer bem esticar as pernas.

Demi abriu um largo sorriso e se encaminhou para seu apar­tamento, deixando pegadas molhadas ao pisar no piso de pedra. Logo depois, Pebbles apareceu ao seu lado, olhando tudo com muita cautela, pronta para correr ao menor sinal de perigo.

— Chá ou café? — ele perguntou.

— Chá seria ótimo. Mas não era eu que devia estar prepa­rando o café da manhã?

— Você ainda não aceitou o emprego.

O silêncio entre eles se estendeu demais, e ele chegou a pensar que tinha estragado tudo, até que ela sorriu.

— Vou fazer o chá.

E ele respirou aliviado e sorriu também.

— Cuide da sua gatinha. Não estou certo se o café da ma­nhã tão cedo assim se enquadra nas suas funções — ele dis­se. E logo entrou em casa, cantarolando alegremente, mas sem querer saber o motivo de tanta alegria.

*****

— Qual é o horário da reunião com os advogados?

— Não tenho certeza. Talvez dez.

— Ah! — Ela consultou o relógio e mordeu o lábio. Pre­tendia passar suas roupas na noite anterior e separar algo para vestir, mas com toda aquela confusão...

— Qual é o problema?

— Todas as minhas roupas estão úmidas e malcheirosas. Eu tinha planejado lavá-las ontem à noite. Não posso ir a essa reunião vestida de jeans e camiseta.

— Tem alguma roupa de grávida?

— Tenho apenas algumas calças de moletom e camisetas. Minha calça antiga não cabe mais em mim, mas é a melhor roupa que tenho, e ela foi lavada ontem, graças a você.

— Posso perguntar a Emily se ela tem alguma roupa para lhe emprestar.

— Não quero dar trabalho. Vou usar minha calça jeans.

— Vamos fazer compras logo depois da reunião, está bem? Vou lhe comprar umas roupas.

— E isso vai ajudar muito quanto à minha fama de golpis­ta — ela falou baixinho.

— Bobagem, pense que é seu uniforme de trabalho.

Ela não comentou nada, mas seu rosto deve tê-la denun­ciado, porque ele riu.

— Não do tipo de empregada francesa. Mas você precisa­rá de roupas se vai me ajudar a receber convidados. Até por­que, você não vai ficar escondida na cozinha, não é mesmo? E depois, o teto do anexo era de nossa responsabilidade, por­tanto, você poderia reivindicar uma indenização.

Lógico. Inteligente da parte dele, e uma saída para o orgu­lho dela, apesar de estar em pânico quanto a receber os ami­gos. Receber quem, por exemplo? Tomara que não fosse a irmã dele. Mas Joe a observava, esperando por uma respos­ta, então não ia pensar nisso agora.

— Só poucas peças — ela concordou. — Até eu receber meu salário e poder comprar o que preciso.

— Certo. — Ele balançou a cabeça. — Então vamos nos aprontar. Quero sair dentro de meia hora, é tempo suficiente para você se arrumar?

Ela quase caiu na gargalhada. Ela levaria dois minutos para fazer o que era possível, ou dois dias, se fosse se arru­mar apropriadamente com corte de cabelo, sapatos decentes, maquiagem... A lista era longa, mas Demi não tinha tempo para pensar nisso agora. Parecia que estava deixando tudo para depois.

— Meia hora será suficiente.

*****

Ao chegarem ao escritório dos advogados, dois homens vie­ram recebê-los. Demi deduziu que fossem Harry e Nick. Ela reconheceu Harry da TV, onde ele aparecia fazendo reporta­gens pelo mundo, e Nick não lhe era totalmente estranho. Devia tê-lo visto pelo hotel antes da morte de Brian, só que nunca soube dimensionar sua importância.

Ambos pareciam sérios, ela pensou, e um pouco sem jeito na sua presença. Principalmente Harry, pois fora a sua espo­sa que a aborrecera na noite anterior. Ela tentou não pensar nisso, então endireitou os ombros e se aproximou deles com a mão estendida.

— Olá, sou Demi Lovato.

— Harry Kavenagh. Emily me encarregou de lhe pedir desculpas por ela.

Demi sorriu. Ela nem tinha certeza se Emily realmente tinha pedido tal coisa ao marido, mas resolveu lhe dar um crédito por isso. Apesar de ter pedido desculpas a Joe pelo telefone, na noite passada, e dizer que queria vir na casa dele, mas...

— Nick Barron — disse o outro, que sorriu para ela. — Lembro-me de você. Estava trabalhando na recepção quan­do conheci Brian Dawes.

— Na recepção e qualquer outro lugar — ela disse. — Sorte minha por saber fazer coisas variadas.

Todos acharam graça e riram, tornando o clima mais ame­no entre eles. Ao serem recebidos pelo advogado, ele se inte­ressou muito pela história de Demi.

— Então não há sinal do testamento, Srta. Lovato?

— Ian não encontrou, e eu também não sei onde Brian o guardou.

— E Brian não tinha advogado?

— Não sei dizer. Havia um sujeito chamado Barry Edwards. Talvez ele soubesse alguma coisa. Estava cuidando da venda, eu acho, mas não sei onde encontrá-lo. Brian não dis­cutia esses assuntos comigo.

— Conheço Barry Edwards. Estamos fazendo negócios com ele. Se existisse um testamento, ele o teria mencionado. Conversamos sobre a sua pretensão sobre a propriedade. Vou ter mais uma conversa com ele e ver se podemos escla­recer mais as coisas. Por enquanto, imagino que esteja satis­feita de sair do hotel e poder liberar a propriedade para os meus clientes.

Ela acenou a cabeça. Tinha se esquecido de como era es­tar em acomodações apropriadas, e a noite que passou foi como um sonho. Não tinha pressa nenhuma em voltar a viver um pesadelo.

— Não era seguro lá.

— Muito pelo contrário. O telhado desabou na noite pas­sada — Nick informou a todos. — Estive lá esta manhã. O colchão ficou soterrado debaixo de toneladas de entulho. Joe a tirou de lá na hora certa.

Joe respirou fundo ao seu lado.

— Meu Deus, foi mesmo?

— Foi sim. Estamos derrubando o resto que ficou antes que aconteça alguma tragédia.

Demi se sentiu mal. Suas mãos, instintivamente, segura­ram seu bebê, acariciando-a, com os olhos fixos em Joe. Ele a tocou no ombro de leve, e ela sorriu.

Não importava o que os outros pensassem, ele tinha feito a coisa certa, e ambos sabiam disso. Nick também sabia, tan­to que ele logo tratou de fechar a porta com tábuas para im­pedir que ela voltasse. O advogado pigarreou antes de falar:

— Bem, então, acho que o próximo passo é tentar reunir informações para essa sua reivindicação.

— Acho que não precisamos todos ficar aqui para isso, não é mesmo? — disse Joe, e todos concordaram.

— Os senhores querem acrescentar mais alguma coisa?

— Um contrato de trabalho — disse Joe. — Para prote­ger Demi e garantir seus direitos.

— Certo, farei isto também, depois lhe mostro. É só isso?

— Acho que sim — Joe disse. — Vamos voltar ao hotel, então, é, continuar conversando lá. Demi, quer nos en­contrar lá quando terminar aqui? Não fica longe. Estaremos no escritório.

— Certo. Qual é a porta?

— A porta interna, junto ao segurança.

Ela sorriu.

— Diga-lhe para me deixar entrar, por favor. Não somos muito amigos.

— Deixe comigo — disse Joe.

*****

— Ela é boa pessoa — Harry teve de admitir.

— Já havia lhe dito isso — Joe retrucou.

— É agradável, bem articulada, culta... — Harry fez uma careta antes de continuar: — Emily estava com medo de que você fosse se envolver com alguma ordinária interessada no seu dinheiro.

— E no dinheiro de Brian Dawes também; acho que ela usou a expressão mulher perigosa.

— Ai!

— Pois é.

— Emily precisa conhecer Demi.

— Concordo, só não sei se Demi vai querer. Se fosse comi­go, eu não ia querer. É um milagre ela não ter ido embora para nunca mais falar com nenhum de nós.

— Talvez seja por falta de opções — Nick sugeriu ao chegarem ao estacionamento do hotel. — Mas devo dizer que concordo com você, ela é muito simpática. Era fantástica quando trabalhava aqui. Sem ela, o hotel teria falido, porque a saúde de Brian era precária. Eu já estava negociando com ele antes de o filho voltar da Tailândia, e ele estava pronto para desistir. Só não vendeu antes porque tinha esperança de que um dos filhos assumisse a administração do hotel. Se eu soubesse que era ela que ocupava o anexo, teria falado diretamente com Demi, e poderíamos ter resolvido isso há muito tempo.

— Bem, agora já sabemos. Ela já está em segurança, e talvez possamos ajudá-la — Harry disse.

— Para começar, podia convencer a minha irmã de que ela não é uma mulher perigosa — sugeriu Joe secamente, e depois se dirigiu ao segurança na entrada: — A Srta. Lovato vem nos encontrar aqui. Por favor, não tente detê-la — ele disse e o sujeito fechou a cara.

— Srta. Lovato?

— A nossa inquilina. Ela me disse que vocês não são mui­to amigos.

— Só estava fazendo meu trabalho, senhor.

Joe se juntou aos outros.

— Vamos entrar.

*****

Era estranho voltar ali.

Demi entrou pela porta lateral e foi até a recepção, no gran­de hall de entrada. O silêncio do espaço acarpetado tinha dado lugar ao barulho ensurdecedor da obra e da demolição do anexo do outro lado do estacionamento.

Era um lugar familiar e ao mesmo tempo não era. Os ta­petes tinham saído, os móveis não estavam mais, exceto pelo balcão da recepção, e o local parecia uma concha, ecoando sons de perfuração e marteladas, um rádio tocando música pop brega e alguém cantando fora do tom.

Ela fechou os olhos e viu como o hotel fora um dia, com Brian sorrindo para ela do outro lado do velho balcão, com o sino de bronze sobre ele, e ela sentiu uma onda de pesar. Demi apertou bem os olhos até recuperar o controle para então voltar a abri-los. Adorava aquele balcão, com suas marcas feitas ao longo dos seus 150 anos de história. Pensou em quantas pessoas tinham se hospedado ali, nas histórias que teriam para contar. E agora tudo tinha acabado. Ela passou a mão sobre ele e saiu toda empoeirada.

Das cinzas às cinzas.

Ela engoliu em seco e se virou para dar de cara com Joe a observá-la.

— Você está bem? — ele perguntou baixinho, e ela ace­nou com a cabeça.

— Depois do enterro, nunca mais vim aqui. Está tão dife­rente agora.

— E vai ficar ainda mais diferente.

Demi já tinha se dado conta disso, ela precisava esquecer o passado.

— Então, o que planeja fazer? Vai destruí-lo e erguer um hotel moderno?

Ele sorriu.

— De forma alguma. Vamos restaurar o antigo hotel e construir o resto. Vamos transformá-lo num day spa e acade­mia, portanto, ainda será um hotel de certa maneira. Teremos diversos tipos de atividades e tratamentos de beleza, salas de massagens com fisioterapia e aromaterapia além de reiki shiastu. Teremos piscina, sauna a vapor e sauna seca. O lu­gar é muito grande, e está sendo subaproveitado. E não exis­tem espaços como este a quilômetros de distância.

— Preenchendo um nicho?

— Exatamente. Venha até o escritório e conheça o pai de Selena, George Cauldwell, nosso empreiteiro. Vou lhe mostrar as plantas, e depois vamos fazer compras. Como foi com o advogado?

— Foi tudo bem. Obrigada por ter nos deixado a sós e também por me apresentar a ele. Não sei se conseguirei o que quero, mas pelo menos tentei tudo o que era possível.

— Foi um prazer poder ajudá-la — ele disse, e seu sorriso provocou sensações estranhas nela.

Ou então era indigestão.

Mas Demi apostava que aquele sorriso tinha um significado.

*****

Nick estava ao telefone quando eles entraram, e parecia estar falando com Selena.

— Não vamos demorar muito. Acho que praticamente ter­minamos aqui, não é mesmo, George?

George sinalizou com o polegar para cima, e ele continuou: — Ele acabou de confirmar, portanto, sairei daqui em pouco tempo. Por quê?

Ele voltou a olhar para Demi e parecia pensativo.

— Eu não sei. Joe pretende mostrar as plantas a Demi e depois vai sair com ela para fazer compras. Ela perdeu todas as roupas. — Nick fez uma pausa, e eles ouviam a voz de Selena do outro lado da linha protestando. — Como você? Está bem, vou pedir que esperem.

Ele desligou o telefone e olhou para eles dois.

— Selena vai sair com as meninas. Ela disse que vai passar aqui, pois vai trazer umas roupas para você.

— Para mim? — Demi indagou, espantada.

— São roupas de gestante. Ela disse que é bobagem gastar dinheiro com roupas que usará por tão pouco tempo quando ela tem várias, e do seu tamanho. Já vai trazê-las aqui.

Droga. Joe não sabia se isso daria certo. Demi recusou logo de cara a oferta de Emily, mas talvez com Selena fosse diferente.

— Isso seria ótimo. Obrigada. Seria bom pegar uma peça ou duas emprestadas enquanto não compro as minhas próprias.

Emprestadas e por pouco tempo. Ela parecia desconfiar de todos eles, e Joe não a culpava por isso.

Interessante. Isso revelava mais um pouco dessa mulher que começava a intrigá-lo cada vez mais...

*****

Uns dez minutos depois, Demi já tinha sido apresentada a George, visto-os planos para o complexo de lazer e tinha um enorme saco de roupas que Selena havia deixado lá. Demi não a conheceu, pois Selena não chegou a entrar no hotel.

Que pena. Era uma chance para avaliá-la melhor, mas Nick tinha saído para pegar a sacola quando ela telefonou dizendo que estava no estacionamento, e agora ela e Joseph estavam a caminho de casa para experimentar as roupas.

Pouco depois, sozinha no seu apartamento, ela colocou todas as roupas sobre a cama. Calças elegantes de linho, um vestido de jérsei, calças jeans desbotadas, shorts jeans, cami­setas, jardineiras e várias batas, tudo com cheiro de roupa guardada.

Bonitinhas; e estariam perfeitas assim que ela lavasse para tirar o cheiro de mofo. Ela analisou as roupas, uma a uma.

O vestido tinha um corte bonito, assim como as calças e as batas, que seriam bem úteis. Havia até um sutiã. Um sutiã especial, com o suporte adequado, no entanto era grande de­mais. Jamais serviria, mesmo assim ela experimentou e, para sua surpresa, deu certinho. Não só coube, mas era confortá­vel, bonito e até sensual.

Incrível.

Ela experimentou uma calça preta de linho com um top, mais uma camisa de linho por cima e se olhou no espelho. Nossa. Parecia uma mulher respeitável. Não. Mais do que isso. Parecia pronta para sair na rua novamente de cabeça erguida, e depois do que viveu nos últimos meses isso foi o bastante para emocioná-la.

— Não seja estúpida — ela resmungou e pegou o vestido de jérsei.

Era lindo. Macio, leve e elegante. Ela olhou para a etique­ta e se espantou. Não era de uma loja barata, com toda a certeza. Não admirava ela ter se sentido tão bem nele.

E ela estava tão bonita vestida nele.

Havia uma sandália baixinha e, quando ela as retirou da sacola, junto veio um bilhete:

Espero que as roupas lhe sirvam. Sinto muito por tudo o que passou nas últimas semanas. Ligue para mim depois, e poderemos tomar um café e procurar mais algumas peças. Não desperdice dinheiro com esse tipo de roupa, tenho pi­lhas delas! Selena."

Demi engoliu em seco e sentou-se na cama. Um café entre amigas. Ela não fazia um programa desses havia anos; tanto tempo que nem se lembrava mais da última vez.

Joe bateu na porta.

— Demi? Tudo bem com você?

— Estou bem — ela disse, secando as lágrimas e se diri­gindo até a porta para abri-la. — São lindas. Foi muita gen­tileza de Selena. Ela me convidou para tomar um café. O que você acha? Devo ir? E o que devo usar? Eu não a conhe­ço, Não com esta roupa aqui, claro, que é arrumada demais. Tem alguma ideia?

Ela se virou e viu que ele a fitava como se ela tivesse co­metido alguma gafe terrível, e sua confiança começou a ruir.

— Hum, hum, acho melhor vestir meu jeans...

— Não! Está ótima assim. Desculpe-me, fiquei surpreso ao vê-la vestida assim. Você está... — Ele parou de falar e ficou olhando para ela por um tempo que parecia não ter fim, depois desviou o olhar. — Preciso voltar para o hotel. Se você quiser uma carona para ir a casa de Selena, eu posso levá-la, mas precisa ser agora. E vista alguma coisa bem in­formal, um jeans ou algo assim. Selena não se arruma mui­to quando tem de cuidar das crianças.

E Joe saiu do quarto de costas, Como se o quarto estives­se em chamas. Por quê?

Ela se virou para se olhar no espelho e aí ficou claro para ela. O vestido tinha um transpasse formando um decote em V, e com o novo sutiã o peito dela ficava mais bonito. Será que estava sensual?

Nossa.

Ela tirou o vestido com dedos trêmulos, experimentou a calça jeans com um top e achou que assim estava melhor. Agora só tinha de abrir a porta, procurar por Joseph e fingir que nada tinha acontecido.

Não que tivesse entendido o que tinha acontecido, mas ela ficou abalada mesmo assim e, fosse o que fosse, não preten­dia sentir aquilo de novo.

*****

Linda.

Ela ficou linda naquele vestido. Bonita e sensual, e muito feminina com os cabelos caindo soltos e brilhantes sobre os ombros; e ele ficou louco para tocá-los...

Joe saiu para o jardim e respirou fundo. Pebbles estava deitada na pedra tomando banho de sol, e ele a pegou cuida­dosamente e a trouxe para dentro.

Demi apareceu na porta, o cabelo preso novamente, num rabo de cavalo que depois ela retorceu e prendeu da mesma forma que Selena e Emily prendiam os delas. Vestia uma calça jeans e um top cor-de-rosa, e parecia até mais sensual do que antes.

— Está pronta?

Ela acenou com a cabeça.

— É melhor botar a gata no meu quarto — ela disse, e a pegou dos braços de Joseph, mas suas mãos se tocaram e ele sentiu como se tivesse sido queimado.

Demi se afastou, em seguida se virou e foi até o quarto, deixou a gata lá e voltou, cheia de pelo na roupa.

— Você está coberta de pelo da gata — ele disse. Cheia de pelo na barriga. E também nos seios. Será que eles estavam tão grandes assim ontem? Ele foi até a área de serviço e voltou com um rolo adesivo para retirar os pelos.

— Use isso. — Ele lhe entregou. Não poderia usá-lo sobre o corpo dela!

— Melhorou?

— Sim — ele disse sem se deter muito.

Joe colocou o rolo adesivo sobre a mesa, jogou a chave do carro para o alto e a pegou no ar.

— Telefonei para Selena, e ela está em casa. Ela a con­vidou para almoçar. Vamos logo.

*****

Demi se divertiu.

Selena a recebeu na porta, com um bebê encaixado no quadril.

— Olá, é um prazer conhecê-la — ela disse, olhando-a de cima a baixo. — Que bom que as roupas lhe serviram! Fico feliz.

— Ficaram ótimas, obrigada. Foi muito bom ter roupas que abarcassem minha barriga!

— Faça bom proveito. Entre, Demi. Esta é Lucie, e Maya está desenhando na mesa da cozinha.

Lucie devia ter uns 9 ou 10 meses, e Maya, uns 2 anos, ela imaginou. Maya olhou para ela a abriu um largo sorriso, e Demi elogiou seu desenho.

— Quer suco? Estou tomando suco — disse Maya, des­cendo da cadeira e se encaminhado para a geladeira.

Selena pegou a embalagem de suco da mão dela, antes que caísse, serviu dois copos e deu um para Demi.

— Esse top ficou perfeito em você. Nick me disse que você era mais ou menos do meu tamanho, mas eu não acre­ditei. Em geral, os homens não acertam essas coisas. Como ficaram as outras roupas?

— Maravilhosas. Não tive muito tempo para experimen­tar, mas acredito que ficarão todas ótimas. Experimentei um vestido preto, de jérsei, que ficou lindo.

— Ah, aquele... Nick sempre gostou muito dele. É bem confortável, usei bastante. Tenho outras roupas daquele estilo, mas eu não sabia o seu gosto, se era feminina ou prática.

Feminina? Ela nunca tinha sido desse tipo, mas teve von­tade de experimentá-lo.

Se bem que, pelo olhar de Joseph, talvez isso não fosse uma boa ideia.

— Vamos para o jardim. Preparei um piquenique para nós; vamos almoçar, meninas? Demi, será que pode levar Lucie para mim enquanto vou buscar a caixa térmica? Obrigada — ela disse ao lhe entregar o bebê.

— Oi, querida. — Demi sorriu, e a criança lhe sorriu de volta, exibindo três dentinhos.

E ela seria mãe. Nossa! Que coisa boa que ia lhe acontecer num ano com tantos problemas.

A casa era fabulosa, nada igual à de Joseph, mas era uma villa italiana acima da praia, e durante o almoço Selena lhe contou sobre a restauração da casa e a construção dos outros edifícios no terreno, dois anos antes.

— Joseph me contou que você é arquiteta — disse Demi.

— Eu era arquiteta, na verdade — ela corrigiu. — Agora só trabalho nas horas vagas, mas com quatro crianças é bem difí­cil. No futuro vou voltar a trabalhar, mas ajudei Joe com a casa dele. Foi divertido, meio corrido. Foi papai que fez a obra para ele e, como queriam se dedicar ao hotel, apressaram a obra um pouco e concluíram a casa em seis meses. Mas Joe até que gostou. Você conheceu meu pai hoje, George Cauldwell.

— Isso mesmo. Um senhor muito simpático.

— Ele é, sim, mas estou um pouco preocupada com ele. A obra é grande demais para papai, não é do tipo que costuma fazer, mas ele está adorando o desafio. Ele operou o coração dois anos atrás e teve de se afastar, mas agora voltou com força total. Estou tentando convencê-lo a não exagerar, po­rém, ele não me ouve. Nick o faz participar de algumas reu­niões, para obrigá-lo a ficar quieto, quando acha que ele esta cansado demais.

Demi podia imaginar Nick fazendo isso, ele parecia ser um bom sujeito. E Selena era um encanto. Animada e engraça­da; e as meninas, muito fofinhas.

Depois do almoço, Selena colocou as duas meninas para dormir enquanto elas escolhiam roupas de gestante.

Demi experimentou várias delas e mesmo se sentindo cul­pada sobre isso, ela estava começando a concordar com Selena de que era desperdício comprar roupas novas.

— Vou lhe devolver as roupas em pouco tempo — ela prometeu quando guardaram as peças numa sacola.

— Para quando é o bebê?

— Para o início de agosto. Daqui a oito semanas. Mal posso esperar para ver o rostinho dela.

— É menina?

— Foi o que me disseram na ultrassonografia. Espero que estejam certos, já me acostumei com a ideia.

— As meninas são adoráveis. Não que eu não goste dos meninos, eles também são ótimos, mas meninas são espe­ciais. Ora, todos são, claro. Você vai conhecê-los mais tarde. Aliás, os homens estão todos ocupados hoje. Quer vir comi­go buscar os garotos na escola? Depois podemos voltar aqui, e jantamos todos juntos.

Todos? Inclusive Emily?

Não, ela não estava preparada para isso, e nem para o en­contro de mamães na porta da escola.

— Preciso voltar para casa. Afinal, sou a empregada de Joseph e preciso trabalhar para ganhar meu dinheiro. Mas obrigada, mesmo assim.

— Foi um prazer. — Selena lhe entregou a sacola de roupas na porta, depois hesitou. — Sabe, Demi, Emily é uma pessoa adorável. Sei que ela disse coisas terríveis ontem, mas ela ama Joe e está preocupada com ele. Não sabemos o que Kate fez com ele, Joe não fala sobre isso, mas eles foram felizes em Nova York até ele voltar para casa, de repen­te. Sei que não é da minha conta, e. ele vai lhe contar, prova­velmente; mas Emily não quer vê-lo sofrer de novo.

— Mas, Selena, eu sou apenas a empregada — Demi frisou.

E Selena riu baixinho.

— É mesmo? Só sua empregada? Isso nós vamos ver.

— Sou apenas isso. Eu não quero me envolver com nin­guém, e não me parece que ele queira tampouco.

— Veremos. — Ela sorriu.

E, para surpresa de Demi, ela se aproximou e lhe deu um abraço.

— Cuide-se, Demi. Telefone-me se precisar de alguma coisa.

— Obrigada. Adorei passar essas horas com você.

— Eu também. Eu a levaria em casa, mas as meninas...

— Não tem problema. O dia está lindo, e a casa fica logo ali. Vou adorar caminhar.

Isso lhe daria tempo para colocar as ideias em ordem, principalmente sobre se envolver com Joseph Jonas...

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Capítulo novinho pra vcs. Comentem e deixem a tia Nath feliz :)

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