19.11.15

Aviso importantíssimo

Meninas o blog vai ficar em hiatus por um tempo.
Motivo: Meu PC estragou e só vou ganhar um novo no final de dezembro e postar pelo celular é uma loucura. E a Mari também está super atarefada com a faculdade. 
Mas em breve nós voltaremos a postar. 
Caso eu consiga acessar o blog em algum computador, programo os capítulos, mas não é nada prometido.
Esperam que entendam. O blog ficará aberto para vocês relerem sempre que quiserem.
Qualquer coisa me chamem no tt @SraCabeYo ou no da Mari (que eu esqueci agr).
Xoxo

7.11.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 11


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FICAR MENOS tensa, aparentemente me deixava mais tensa.

Percebi esta verdade fundamental enquanto ajustava e reajustava compulsivamente o elástico da minha máscara, sentada à mesa de maquiagem cheia de espelhos no camarim do Backstage.

Poucas dançarinas tinham chegado, afinal eu subiria no palco primeiro, mas já havia perucas, enfeites de cabeça, rolos térmicos de cabelo e secadores espalhados de um lado a outro no balcão do cômodo. O baixo de uma música soul sensual ressoava pelo chão e vibrava em meus pés quando uma das luzes brancas que cercavam meu espelho piscou e desligou com um zumbido elétrico. As duas meninas que entrariam depois de mim estavam circulando no meio da multidão, deixando-me sozinha por ora.

E, de algum modo, o fato de eu me sentir mais confiante naquela noite tinha causado algo estranho em meu humor. Comecei me perguntando por que não estava tensa, e então concluindo que não podia fazer um bom espetáculo, a menos que estivesse completamente exausta, já que era assim que me encontrava da última vez que subira no palco e realizara a apresentação ao público.

Então segui meu esquema de sempre para me agitar. Nunca uma tarefa difícil para mim. Eu só esperava que Joe estivesse lá no meio da multidão. Talvez vê-lo fosse me distrair da confusão mental, igual à última vez.

Dentro da minha bolsa de maquiagem, ouvi meu celular vibrar. Ainda tinha 10 ou 15 minutos antes da minha entrada, então peguei o aparelho para ler a mensagem. Uma atualização sobre alguma atividade nos mercados asiáticos, mas nada avassalador. Para me acalmar, dei uma olhada no restante das mensagens das últimas duas horas. Um número não identificado chamou minha atenção.

Era de Star. Estranho, já que ela raramente me mandava torpedos.

A mulher que deu a aula de dança na minha festa de despedida de solteira vai se apresentar no Backstage hoje à noite! Eu vou com a Lisa do RH para dar uma força, se alguém quiser se juntar a nós…

Ai. Droga.

A mensagem tinha sido enviada para… rolei a tela de volta ao topo… seis outras mulheres além de mim. Três delas trabalhavam na Sphere. Star deve ter recebido algum tipo de atualização falando que Natalie Night tinha um show esta noite e decidiu fazer uma noite das meninas. A mensagem tinha sido enviada mais de uma hora atrás.

Enquanto eu lutava contra uma nova onda de pânico, meu telefone vibrou de novo.

Estou perto do bar! Onde vc está?

Deve ser um texto para o grupo. A parte ruim dessa mensagem? Tinha sido enviada por Selena Barrows.

Natalie tinha falado que era uma péssima ideia. Joe tinha me desencorajado a fazer isso também. No entanto, insisti e por fim minha opinião prevaleceu. E agora estava em uma derrocada espetacular. Isto é, se minhas palmas suadas não me fizessem cair do poste e quebrar o pescoço primeiro. Na verdade, isso seria preferível a ser desmascarada pela jovem Selena Barrows, a Srta. Perfeita.

– Srta. Night? – O chefe da segurança enfiou a cabeça na porta sem bater, seu modus operandi, lembrei-me. – Você está pronta?

Meu ritmo cardíaco acelerou. A hiperventilação apareceu como uma possibilidade distinta. Assenti, já que não era mais capaz de pronunciar uma frase coerente.

O que diabos eu estava pensando ao agendar essa dança estúpida? Eu deveria ter ficado feliz com os avanços que havia feito na vida em vez de ficar cheia de ganância. E vamos encarar. Provavelmente fiz isso como um esforço coxo para me certificar de que Joe permanecia interessado em mim. Não queria considerar essa possibilidade. Talvez nunca tivesse realmente acreditado que merecia um cara como ele.

– Srta. Night? – O segurança franziu a testa, adentrando totalmente no camarim.

Enfiei meu celular de volta na bolsa e a coloquei em uma caixa embaixo da penteadeira, me dirigindo para a porta. Eu não estava pronta. Mas não podia simplesmente correr para fora do clube, como queria. Natalie não seria convidada para retornar no outono se eu fugisse. E não poderia culpar ninguém por isso, senão eu mesma, então o mínimo que podia fazer era ver a coisa se desenrolar até sua conclusão natural… desastrosa.

– JOE FRASER? – A voz feminina soou vagamente familiar, e Joe sentiu um frio na barriga antes de se virar para ver quem o tinha reconhecido.

Demi iria se apresentar a qualquer momento, e a última coisa que ele queria era ser envolvido em uma conversa cujo foco fosse em cima dela. Joe queria vê-la por um motivo. E suspeitava que ela poderia necessitar vê-lo, fazer contato visual, assim que subisse no palco. Possivelmente estava superestimando a própria importância naquilo tudo. No entanto, seu íntimo lhe dizia que ela poderia estar mais tensa com aquela apresentação do que havia imaginado originalmente.

– Sim? – Joe se virou assim que as luzes se apagaram e a música mudou para um tom mais apropriado para um show burlesco.

– Que bom ver você! – disse a loira magra de vestido justo vermelho. – Lembra-se de mim? Selena Barrows de Sphere Asset?

Droga.

Joe tinha esperanças de que seu rosto não transmitisse seus sentimentos. Ele sentiu a barriga apertar quando Demi foi apresentada como Natalie Night. Aplaudiu automaticamente, os olhos ainda em Selena.

– Estas são algumas amigas do trabalho. – Ela fez um gesto vago para três mulheres ao lado. – Conhecemos a dançarina e queríamos dar uma força a ela.

A mente dele disparou. Elas conheciam a dançarina? Quem diabos elas achavam que era? Então ele se lembrou da fotografia no escritório de Demi e juntou as peças. Demi deve ter conhecido a instrutora de dança na mesma época que aquelas mulheres do trabalho. Mas ao passo que ela manteve as aulas de dança, o restante se esqueceu completamente de Natalie Night.

Até agora.

Demi estaria ferrada se ele não conseguisse pensar em uma forma de sair dessa.

Um grito coletivo de alarme subiu da plateia, e Joe se virou em seu assento para ver o que estava acontecendo.

Demi vacilou nos pés instáveis, a mão segurando o poste desajeitadamente por um segundo antes de se aprumar. Será que ela escorregou? Só então os olhos dela encontraram os dele através da máscara, e ela pulou graciosamente no palco, serpenteando sinuosamente ao redor do suporte de aço.

– O que aconteceu? – perguntou Joe para um sujeito à direita, que segurava uma cerveja e assistia à apresentação feito um falcão.

– Ela tropeçou antes de subir. – O cara revirou os olhos. – Embora ela pareça saber como lidar com um mastro. – Ele deu uma risada bruta.

Os dedos cerrados de Joe coçaram para dar um soco no sujeito.

– Então o que você está fazendo aqui? – Selena se enfiou por cima do ombro dele, a mão em seu cotovelo para chamar sua atenção.

– Assistindo ao espetáculo. – Ele se afastou dela, embora tenha meneado a cabeça educadamente.

Joe não ia tirar os olhos de Demi novamente.

Ela o atraíra desde a primeira vez que a vira, prendendo sua atenção com uma sensualidade madura que era rara em clubes como este, onde a maioria das dançarinas mentia a idade. E hoje à noite? Demi o estava hipnotizando. Agora ele entendia o x daquela apresentação. Compreendia as consequências caso ela falhasse. A dança dera a ela algo que seu problema de fala, e possivelmente sua mãe, haviam lhe roubado desde os dias mais tenros da vida. Vê-la lutar por aquele novo nível de confiança era muito mais sexy do aquele traje cavado, que mostrava uma boa parte das coxas, ou as lantejoulas transparentes que revelavam o cóccix.

Joe estava tão fascinado, na verdade, que mal notou um burburinho começando à sua esquerda. Seu cérebro registrou o som de mulheres gritando e de pessoas empurrando, mas foi só isso até uma ruiva baixinha tropeçar nele.

– Cuidado – alertou ele à mulher automaticamente.

Joe teve apenas uma vaga impressão dela, pois sua concentração estava em Demi, até que a ruiva enfiou uma câmera em seu rosto e grudou a bochecha dela à dele.

– Sorria para a câmera, Joe – pediu ela, um flash cegando-o quando tirou uma foto.

Um segurança chegou um instante depois, sussurrando um pedido de desculpas para Joe. Ele retirou a mulher risonha e impressionada, juntamente a algumas amigas, mas não sem antes Joe notá-las trocando cumprimentos, como se parabenizando umas às outras por conseguir uma “foto valiosa” de um figurão de Hollywood.

Ele queria tirar Demi da plataforma e enfiá-la em seu utilitário para que pudessem abandonar aquele lugar. Juntos. Parecia que a música dela já estava terminando.

– Uau. – Selena se inclinou para falar ao ouvido de Joe, o ombro roçando o dele. – Deve ser difícil ser fotografado em todos os lugares a que vai.

Os cílios esvoaçantes e a linguagem corporal melosa de Selena podem não ter sido grande coisa em qualquer outro dia. Mas Joe não estava com paciência para isso. Ele queria dar o fora do Backstage agora.

– Sim, provavelmente vou embora. – Mas como ele poderia ir embora enquanto Demi estava com uma perna em volta do poste e com as costas arqueadas sedutoramente?

E quando o sujeito ao lado dele deu um assovio e acenou para o palco com uma nota de cem dólares, Joe teve certeza de que não poderia deixar Demi sozinha.

– Tem certeza? – Selena entrelaçou o braço ao dele. – Por que você não fica e bebe alguma coisa com a gente? Vou apresentar você para a dançarina.

A dançarina que não era Natalie Night. Como diabos ele iria tirar Demi dali sem as amigas e colegas descobrirem um segredo que poderia lhe custar o emprego?

Demi deslizou para o chão, a apresentação já no fim. Assim que o confete prateado começou a chover do teto, Joe soube que não tinha muito tempo para bolar um plano.

EU TINHA 20 problemas diferentes com os quais lidar enquanto o público irrompia em aplausos fervorosos. Mas o único que importava agora era tirar as unhas bem-feitas de Selena Barrows do braço de Joe. Fuzilei aquelas garras femininas possessivas com meu olhar, desejando que largassem meu homem. Ele era meu.

Podia ser apenas temporário. Só por esta semana, este mês ou, por favor, Deus, por até mais tempo. Mas agora Joe Fraser era o homem na minha vida, e temia por meus atos se minha linda colega de trabalho não repensasse a forma como se aproximava dele. Ela se esfregava em Joe de forma mais fluida do que eu tinha me movimentado em torno do poste durante minha dança. A mulher era boa. Também era inteligente, bem-sucedida e intocada pela insegurança. Se eu tivesse presas, elas já estariam aparecendo.

Passei minha língua sobre meus incisivos, curiosa.

Um movimento periférico chamou minha atenção e percebi que Joe estava gesticulando para eu sair do palco. Tardiamente, me lembrei de que não tinha agradecido, e os aplausos estavam esmorecendo rapidamente. A música tinha mudado. O confete prateado já não estava mais caindo, o que significava o fim do meu ato. Atrás de Joe e de Selena, Star me chamou para ir até ela. Ela conhecia a mim e a Natalie muito bem, e não se deixaria enganar por uma máscara durante muito tempo.

Enquanto eu corria para sair do palco, meu estômago revirava e me perguntava como evitar todas as colegas da Sphere. Para começar, não conseguia acreditar que tinha ignorado Natalie e Joe e agendado a apresentação.

– Grande show, Natalie! – gritou alguém enquanto eu descia os degraus, trêmula e perdida.

Notas de dinheiro de diversos valores eram sacudidas diante do meu rosto, mas um segurança chegou a tempo de fazer os caras que acenavam recuar. Tomei o braço musculoso de bom grado e permiti que ele me levasse de volta ao camarim. Garçonetes apressadas passavam correndo com bandejas de bebidas variadas enquanto alguns modelos de aparência nórdica viravam doses de uma nova marca de vodca russa.

– Natalie! – chamou uma voz feminina familiar atrás de mim enquanto luzes estroboscópicas piscavam ao redor. – Espere por nós!

Eu sabia que só podia ser Star. Eu tinha medido a distância até os camarins e percebi que nunca conseguiria escapar a tempo. Mesmo que a ignorasse e de algum modo conseguisse chegar àquelas portas antes dela, Star iria me seguir e bater até eu atender. E não era como se ela estivesse sozinha. Se estivesse, teria arriscado a compartilhar meu segredo. Mas as outras mulheres com ela não tinham nenhum motivo para manter meu passatempo ousado sob sigilo.

Virando-me lentamente, continuei a segurar o braço do leão-de-chácara.

– Eu p-p-preciso de um m-m-minuto – falei a ele, minha língua como um motor frio se recusando a ligar no inverno. Aprendi essa analogia durante o tempo que passei com meu pai nova-iorquino. Obrigada, pai.

– Oi, Natalie! – Um coro de saudações surgiu. E de repente as mulheres do meu trabalho estavam em cima de mim, juntamente a outras que tinham ido à festa de despedida de solteira de Star. Pior, no meio daquele mar de rostos sorridentes estava Joe.

Minhas colegas iriam acabar comigo, e Joe iria estar lá para testemunhar isso. Agora, mais do que qualquer coisa, queria que ele não estivesse ali para ver minha desgraça. Star me abraçou.

Será que estava perto o suficiente para ver por trás da máscara?

– O-oi – murmurei, passando os dedos na máscara, puxando um pouco para garantir que cobria o máximo possível da minha cara. – O-o-obrigada por…

– Srta. Night – adiantou-se Joe, envolvendo um braço protetor em torno de mim, pousando a mão no meio das minhas costas. – Meu carro está lá fora, se você ainda tiver tempo para nossa reunião.

Confusa, assenti em silêncio, na esperança de que ele tivesse pensado em uma forma de sair dessa. Além disso, mesmo se soubesse o que dizer naquele momento, não teria sido capaz de fazê-lo pelos meus lábios sem ser aos trancos e barrancos. Era exatamente aquele tipo de situação.

– Reunião? – Selena franziu a testa, se insinuando do outro lado de Joe. – Nós vamos comprar uma bebida para nossa amiga, Joe. Venha com a gente.

Ela entrelaçou o braço ao braço livre dele e tive uma visão breve de nós duas fazendo um cabo de guerra.

– Desculpe. – Joe sacudiu a cabeça, todo profissional. – A srta. Night é um dos novos clientes da minha agência. Estamos tentando acertar nossas agendas para essa conversa há duas semanas.

Ele já estava me puxando para trás. O chefe da segurança de pescoço muito grosso e um rádio no quadril captou a dica de Joe e usou seu braço imenso para me separar de Star e do restante das mulheres.

– Vou trazer seu carro, Sr. Fraser – assegurou o sujeito, usando habilidades rápidas como um raio com o rádio para o manobrista entrar em ação do lado de fora.

Ai, meu Deus. Aquilo ia funcionar.

– Obrigada por ter vindo – articulei muito lentamente, tentando deixar minha voz um pouco mais grave de propósito para não ser reconhecida.

Ainda assim, Selena franziu a testa, e me perguntei se tinha dado algum fora sobre minha identidade com meu discurso lento.

Mas Star estava repetindo que eu tinha feito um show maravilhoso enquanto Joe e o segurança me empurravam para fora do clube.

– Minha bolsa. No c-c-camarim – falei para Joe, desconfortável por circular pelo bar principal usando meu traje. Felizmente ninguém prestou muita atenção em mim enquanto eu era imprensada por dois rapazes, um grande o suficiente para bloquear um tanque.

– Você pode pegar as coisas dela? – perguntou Joe ao segurança, que assentiu enquanto continuava a disparar instruções pelo rádio.

Por incrível que pareça, a distância entre mim e minhas colegas aumentou. Selena não estava correndo atrás de nós para me desmascarar. Talvez eu tivesse sido capaz de enfrentar meu fiasco de hoje à noite sem ser reconhecida. Sem perder meu emprego.

Estávamos quase na saída quando outro segurança usando camisa colada ao corpo se aproximou de mim com minha bolsa.

– Kendra disse que esta é a sua. – Ele pôs a sacola de lona preta em meus braços.

– Obrigado – respondeu Joe, dando uma gorjeta generosa ao sujeito. Ele também estava com uma nota de dinheiro pronta para ser entregue ao chefe da segurança quando o gigante sem pescoço abriu a porta traseira para nós.

A poluição noturna me atingiu, um abraço úmido e bem-vindo. Deixando o ruído e a música latejante atrás de nós, saímos para a escuridão. Eu tinha tomado um táxi até ali, sabendo que Joe iria me encontrar. Um manobrista usando casaco branco apareceu e entregou o carro a Joe, baixando a cabeça brevemente em reverência.

– Sinto muito, senhor. – Ele gesticulou para o estacionamento nos fundos, que era menor do que o da frente. Não havia nem sequer um manobrista lá atrás, então o sujeito deve ter corrido para nos encontrar.

– Onde está meu carro? – perguntou Joe, entregando uma nota de dinheiro ao sujeito, mesmo que ele não tivesse feito seu trabalho.

Em Los Angeles, era mais sábio dar gorjetas o tempo todo, tanto dinheiro quanto possível, se você fosse qualquer tipo de celebridade. A última coisa que se queria nesta cidade, onde a imagem era tudo, era ser negado a conseguir uma boa mesa.

– Está logo ali, senhor. – Ele apontou novamente, mas um Escalade branco encostando à calçada bloqueou minha visão. – Seu pai me perguntou se eu podia esperar para trazer o carro para que ele pudesse falar com você.

Joe enrijeceu ao meu lado. Eu congelei. A janela escura do Escalade abaixou-se em um farfalhar suave, e um homem mais velho de aparência distinta se inclinou para fora para acenar para nós, as mangas do cashmere cinza arregaçadas até os cotovelos, revelando antebraços fortes.

– Olá, Joe. – Ele sorriu com o que poderia ser interpretado como afeto, mas eu podia sentir a tensão em cada músculo de Joe enquanto ele tentava me abrigar com o braço.

Ele me entregou a chave do utilitário e tirou o casaco em um movimento suave.

– Você não precisa esperar por mim – murmurou ele enquanto acomodava o casaco sobre meus ombros. Então deu um passo até o Escalade.

– Olá, papai.

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Amores estão gostando?
xoxo

5.11.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 10


~

MENTIRAS. MENTIRAS. Tudo mentira.

Arrastei-me pela casa na manhã seguinte em busca de café, perguntando como poderia ter inventado tal mentira deslavada sobre não ser do tipo casadora. O que havia acontecido comigo desde que conheci Joe que me fazia comportar-me como uma pessoa completamente diferente?

O sol do início da manhã se derramava na cozinha de um painel de janelas altas a leste. Um aparador elegante perto da copa exibia todos os elementos essenciais para fazer café, desde uma cafeteira supermoderna até o pote de açúcar.

Eu já havia tomado banho e me vestido com a camisa e os shorts que Joe me dera no meio da noite, quando invadimos a cozinha para um lanche. Demos cereais um na boca do outro e tentamos transformar os pedacinhos em uma linguagem de estilo hieroglífica. Achei bem divertido ficar escrevendo coisas safadinhas no abdome nu dele antes de eu… Bem, basta dizer que tentei retribuir a imensa quantidade de prazer que ele tinha me ofertado na cama.

A julgar pela reação de Joe, acho que desempenhei a tarefa muito bem.

Agora, à espera do café coar, passeava descalça pela enorme cozinha. Joe tinha escolhido este lugar para nós na noite passada por causa do pátio privativo e da vista.

Eu tinha de admitir, a outra metade vivia bem.

– Fugindo de mim já? – A voz de Joe me assustou quando ele entrou na cozinha e falou.

Girando perto da janela pitoresca, onde eu estava sonhando acordada, captei seu visual sem camisa. Ele tinha tanquinho mesmo. Selena estava cem por cento correta.

– Eu poderia fugir, se você não tivesse café – provoquei, apontando para a chaleira, onde um arabesco de vapor flutuava. – Mas sou uma prisioneira da cafeína. Agora você não vai me tirar daqui até que o café esteja pronto.

– Excelente notícia. – Joe chegou mais perto, um par de jeans velhos caindo baixo nos quadris estreitos.

Era tudo que eu podia fazer para não lamber meus lábios.

– Hum. – Distraída, tentei lembrar do código que criamos com os cereais para: “Vamos ficar nus.”

– Posso fazer uma observação? – Ele tirou duas canecas de um armário e as colocou em cima do balcão.

Algo em seu tom de voz desencadeou um pouco de cautela. Ele parecia mais solene esta manhã. Isso me deixou tensa, porque não estava pronta para que a coisa toda acabasse. Não tínhamos tido momentos maravilhosos juntos?

Não me esforcei para manter as coisas descomplicadas?

– Hum, com certeza. – Sorri até minhas bochechas doerem.

– Você não gagueja quando está comigo. Em especial recentemente.

– Ah. Certo. – Eu não estava esperando por isso. Relaxei um pouco, sentando-me em um banco embutido perto de uma mesa de canto. Tamborilei os dedos na mesinha em estilo vintage.

– Você reparou? – Ele pegou a garrafa e encheu as canecas.

– Na verdade, não gaguejo muito perto de pessoas com quem fico à vontade. – Embora só de pensar em minha gagueira minha língua já ficasse um pouco viscosa, como se fosse tropeçar nela mesma a qualquer momento. Obriguei-me a falar mais devagar. – Tem mais a ver com situações novas ou pessoas novas… se eu sentir qualquer tipo de pressão ou preocupação.

Ele franziu o cenho.

– Então quando nos conhecemos… Eu estava deixando você nervosa?

Lembrei-me de meio que ter contado uma mentira a ele sobre isso, dizendo que eu não tinha ficado nervosa. Mas que diferença fazia agora?

– Eu…– Respirei fundo quando ele colocou o açucareiro e uma colher na minha frente. – Eu gostei de você.

Fiquei vermelha e me senti ridícula. Como se minha quedinha por ele fosse uma novidade.

– Você disse o verbo no passado. – Ele sentou-se na minha frente e misturou o açúcar em seu café. – O que mudou?

Senti como se não estivesse entendendo nada naquela conversa. Aonde ele queria chegar?

– Acho que me sinto mais confortável com você agora do que… – Como é que eu poderia colocar isso? – Quer dizer, parece que você meio que gosta de mim também, se a noite passada serve de indicação.

Joe largou a colher, dando uma risada.

– Não há segredos aqui. – Ele me estudou com seus olhos castanhos-dourados, como se eu fosse um quebra-cabeça a ser solucionado. – O que acho que quero dizer é isso… Se você for capaz de encontrar maneiras de ficar mais confortável no trabalho, por que não pode assumir o cargo de Selena na Sphere?

Quase engasguei com meu primeiro gole.

Tossindo, tive de largar a xícara. Sim, essa minha graciosidade feminina era uma das muitas razões pelas quais não tinha o cargo de Selena.

– Joe, não sou gerente de contas. Mal consegui passar na minha entrevista na Sphere, tropecei tanto nas palavras. – Era humilhante lembrar. – Nunca seria capaz de me reunir com gente nova o tempo todo e vender nossos serviços.

– Então deixe as vendas para outra pessoa. – Joe cobriu a minha mão com a dele, a pele morena em contraste com meus dedos pálidos. – Mas seus conselhos financeiros são geniais. Esse e-mail que você me enviou, delineando formas de garantir que eu tenha capital para a próxima fase do meu modelo de negócios foi brilhante. Você deve ser um membro altamente valorizado na equipe.

Ele falou com tanta sinceridade que quase acreditei. Mas depois lembrei que o “eu” que Joe conhecia era um híbrido de Demi/Natalie. Uma versão mais ousada de mim mesma. Uma ilusão que tinha inventado em um palco. Eu não trazia essa mesma confiança para o restante da minha vida.

Bebi um gole demorado de café enquanto pensava em como enquadrar minha resposta.

– Estou contente com meu trabalho – falei finalmente. – Embora eu esteja lisonjeada por você ter considerado meu conselho útil, de fato não me aprofundei da forma necessária…

– Mas poderia ter se aprofundado – insistiu ele. – Se eu quisesse explorar essas opções para diversificar meus investimentos, você poderia ter me guiado na direção exata, não poderia?

– Talvez. – Na verdade, era bem difícil ser modesta nessa área da minha vida. Eu era excelente no meu trabalho. Estudava notícias financeiras com mais afinco do que a maioria das pessoas na cidade lia a Variety. Isso fazia sentido para mim.

– Quero você no comando da minha conta na Sphere.

– Ah, não. – Levantei-me da mesa e fiquei caminhando na frente do aparador. – Essa não é uma boa ideia.

– Por quê? Quero meu dinheiro trabalhando a meu favor, e você sabe como fazer isso acontecer.

– Selena também sabe – lembrei a ele. Além disso, ela iria repassar minhas recomendações, de qualquer maneira. Seria o mesmo que trabalhar comigo, só que ela era uma mais articulada, tinha o rosto elegante para o negócio.

– Gosto mais de você – insistiu ele teimosamente.

O nervosismo acionava todos os meus botões de pânico quando eu pensava no quão mal aquilo poderia acabar. Por que inventei de mandar o e-mail para ele? Se eu simplesmente o tivesse deixado decifrar suas finanças por conta própria, nada disso teria acontecido e nós estaríamos tomando um banho longo e voluptuoso juntos agora. Ou talvez perseguindo um ao outro ao redor da enorme banheira de água quente que tinha visto em um canto do quintal na noite passada.

– O que acontece quando nós, isto é, quando as coisas não derem certo entre nós, pessoalmente? – Eu não queria pensar nisso, mas precisava ser realista.

Joe Fraser era o homem dos sonhos.

Ele se levantou da mesa, capturando meus ombros entre as mãos largas.

– Somos adultos – assegurou ele. – Não vou me transformar em um babaca se você concluir não querer mais me ver.

Eu? Não querer vê-lo?

Obviamente, ele estava apenas sendo educado.

– Mesmo que quisesse assumir sua conta… – Balancei a cabeça, abordando o problema de outro ângulo – Não poderia. Não é minha função.

– Se um cliente solicita especificamente por você, Demi, vai ser sua função. – Ele beijou meu rosto e algumas das minhas preocupações derreteram um pouco. – Tudo o que quero saber é o seguinte: você tem objecções em relação a trabalhar comigo?

Agora era minha chance de encerrar aquela linha maluca de raciocínio. Isso só iria incitar problemas no trabalho. Mas, sendo bem egoísta, gostava da ideia de ainda poder vê-lo, mesmo depois de não estarmos envolvidos romanticamente mais.

E o orgulho nas minhas habilidades profissionais, o qual eu costumava sufocar, definitivamente estava causando estardalhaço agora. Eu sabia que poderia colocar o dinheiro para trabalhar a favor dele de forma mais eficaz.

– É claro que não vou me opor – concordei. – Vou fazer o que puder para ajudá-lo a erguer esse estúdio de cinema.

UMA SEMANA depois, Joe teve que admitir que Demi tinha mais do que honrado sua palavra.

Ele aguardava por ela na sala de conferência da Sphere, lendo sobre a ampla proposta de pacote de investimentos que ela gerara. Joe tinha telefonado solicitando que Demi supervisionasse suas contas pessoalmente, no mesmo dia em que ela concordara em ajudá-lo, e no dia seguinte ela já estava atolada em pesquisas para ele.

Tanto que, na verdade, Joe não a via pessoalmente desde que tinham passado a noite juntos. A culpa o cutucava agora por colocá-la em uma posição na qual ela sentia que precisava provar algo a ele, ao chefe e aos colegas de trabalho. Ainda assim, enquanto lia as sugestões abrangentes para todo seu patrimônio, desde a venda da propriedade Europeia ao aluguel de um iate que ele raramente utilizava, Joe sabia que tinha tomado uma decisão profissional inteligente ao insistir em ter Demi como sua gerente de contas.

Contudo, o que ele causara à relação pessoal recente entre eles? Ele os colocara em posições diferentes ao se tornar cliente pessoal dela. Praticamente garantiu que Demi estivesse ocupada demais para sair com ele. Pelo que sabia, talvez tivesse sabotado algo realmente especial entre eles para superar o pai. Mas ela montara um perfil dos retornos de investimento de curto prazo baseados em alguns exemplos que ela delineara em suas sugestões para o negócio dele, e Joe sabia bem o quanto ela era boa para os clientes da Sphere.

Tudo isso enquanto os gerentes de contas levavam a maioria do crédito.

– Sinto muito por fazê-lo esperar, Joe. – Demi entrou na sala de reuniões um instante depois, seus tênis brancos em desacordo com o terno cor rosa-shocking que realçava seu cabelo escuro. – Passei meu horário de almoço no estúdio de dança e o trânsito de volta para cá estava uma loucura.

Joe estaria disposto a apostar que ela não fazia ideia de que ainda estava usando tênis. As roupas extravagantes que o teriam feito sorrir uma semana atrás agora o faziam sentir-se um lixo, pois ela estava cheia de pressa por causa dele.

Essa não era a única coisa que Joe notara. O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo baixo que repousava sobre os ombros, a franja jogada para o lado. Um olho ainda estava parcialmente coberto pela franja longa, mas o outro encontrava o olhar dele diretamente.

– Sem problemas. – Joe se levantou para cumprimentá-la, lutando contra o desejo de tomá-la nos braços. Ele olhou por cima do ombro, para a porta aberta da sala de reuniões, e baixou a voz. – Eu beijaria você, mas suponho que você prefira que eu não faça isso.

As bochechas de Demi coraram num tom rosado que combinava com o paletó.

– Ah. Sim. Mas remarcar isso para mais tarde seria bem-vindo.

– Alguém mais vai se juntar a nós? – Ele olhou para a porta novamente. – Se vai ser só a gente, eu poderia levar você para jantar, já que você não almoçou.

– Acho melhor não, mas obrigada. – Ela caminhou de volta para a porta e a fechou, selando-os na privacidade dos lambris de mogno e das estantes pesadas cheias de volumes imponentes. – Pilhas de trabalho para fazer no escritório.

– Desculpe se isso foi demais, Demi…

– Não! – Ela correu para tranquilizá-lo, sentando-se ao lado dele, para que Joe sentisse o cheiro dela, o perfume novo, fresco. – Nem um pouco. Esta nova responsabilidade tem sido uma experiência que está abrindo meus olhos. Tenho andado ocupada, mas é ótimo.

– Mesmo?

– Sim. – Ela sorriu, colocando a mão no braço dele enquanto se aproximava mais. – No começo fiquei preocupada com a reação de todos no escritório, mas eles parecem felizes por mim. Você meio que me obrigou a viver de acordo com meu potencial aqui, e isso foi uma coisa boa.

– Que bom, só que não fiquei sozinho com você a semana toda. – Ele não queria pressioná-la mais, mas droga, recentemente, pensava nela o tempo todo. – Vamos sair amanhã à noite.

– Não posso. – Os dedos dela deslizaram para longe do braço dele.

O nó de decepção em seu peito surpreendeu Joe. Ele não tinha planejado ficar tão íntimo de Demi tão depressa.

Especialmente quando sua vida profissional deveria vir em primeiro lugar, até ele sair da sombra do pai em definitivo.

– Outra hora então – começou ele.

– A menos que você queira vir ao Backstage para meu show – soltou ela.

– O quê? – Ele tinha esperanças de ter ouvido mal.

– Depois do sucesso do meu primeiro show, eles querem que eu volte para repetir o desempenho. – Os olhos cinzentos brilharam com malícia.

– Pensei que a primeira noite tivesse sido um acaso. – Ele tentou se lembrar do que ela dissera sobre a dançar no clube. – Você falou que estava substituindo sua amiga porque ela estava machucada.

Só de pensar em Demi seminua no palco, com uma sala cheia de olhos masculinos gananciosos em cima, Joe ficou tenso.

– E estava. – Ela se inclinou mais perto, como se estivesse com medo de alguém no corredor ouvir sua voz já baixinha. – Mas o show foi um sucesso tão grande que eles ofereceram a Natalie mais um encaixe no espetáculo antes das aparições regulares no outono.

– E você aceitou? – Ele não percebera que tinha falado em voz alta, até que ela respondeu:

– Ainda não aceitei, mas pretendo. – Talvez o alívio dele tenha ficado óbvio, porque ela se apressou em continuar: – Você não faz ideia de como aquele primeiro show mudou minha vida. Enfrentei o público, sendo que sempre fui incrivelmente insegura. Conheci você. Consegui o emprego para minha amiga. – Ela enumerou os pontos nos dedos, as pulseiras de ouro tilintando suavemente com o movimento. – Estou sendo confiada com mais responsabilidades no trabalho, quando nunca teria imaginado operar neste nível.

– Mas os riscos são maiores para o seu emprego agora, certo? Pensei que você precisasse ter cuidado para ninguém reconhecer você, ou poderia ter problemas no trabalho. – Ele imaginou que a recordar sobre os riscos era melhor do que soar como um idiota possessivo autocrático e dizer-lhe diretamente para não dançar.

Porque, droga, ele não a queria nem perto daquele palco novamente.

Ela contraiu os lábios, formando uma linha rija.

– Creio que você está certo. Só pensei que isso ajudaria Natalie. E, claro, deixe-me reviver um momento empolgante.

Joe largou a proposta de investimento na mesa e segurou as mãos dela.

– Correndo o risco de soar arrogante, gostaria de pensar que não seria tão emocionante sem mim. – O coração de Joe golpeava um ritmo pesado no peito enquanto aguardava, cheio de esperanças de que ela concordaria. Ela lhe lançou um olhar enviesado.

– Isso não é arrogância. Isso é um fato.

– Bem, então. – As mãos dele coçavam para tocá-la. Para lhe acariciar as curvas e deslizar sob a bainha do paletó e sentir o que ela usava por baixo. – Acho que você não tem como assumir o compromisso, porque não pretendo estar no Backstage amanhã à noite.

– Não? – Ela arqueou uma sobrancelha, despindo-o com os olhos. – Onde você vai estar?

– Vou estar amarrado a uma morena inteligente…

– Amarrado, você diz? – Ela se inclinou para mais perto, sorvendo-o.

– É uma figura de linguagem. – Ele passou um dedo no joelho dela, por debaixo da mesa.

– Não se eu transformar em realidade.

A porta da sala de reuniões foi aberta sem aviso. Joe se acomodou lentamente em sua cadeira, mas notou Demi saltar para longe dele como se tivesse sido queimada. Suas bochechas estavam num tom rosado ainda mais intenso do que antes.

A recepcionista entrou de costas na sala, a atenção focada em na bandeja de prata que carregava, com um bule, xícaras de chá e garrafas de água.

– O-o-obrigada, Star. – Demi remexeu em alguns papéis sobre a mesa.

– Claro. – Star deu uma espiada nos dois quando colocou a bandeja em um aparador, na parede oposta. – Desculpe por não ter trazido os refrescos mais cedo.

– Não tem problema. Obrigada – repetiu Demi. Suas mãos tremiam um pouco, os papéis que segurava sacolejavam com o movimento.

Tomado pelo desejo de cobrir os dedos dela com os seus, Joe foi lembrado da mulher estranha que tinha conhecido naquela sala. A confiança de Demi realmente percorrera um longo caminho em um curto espaço de tempo. E se ele estivesse privando-a de uma oportunidade de solidificar a autoestima ao desencorajá-la a dançar no Backstage?

Quando a colega de trabalho partiu, Demi bateu os cotovelos na mesa, seus ombros caindo para a frente.

– A quem estou enganando? – perguntou ela, mais para si do que para ele, quando cobriu os olhos com as mãos. – Isso é loucura.

– Qual é? – Ele se inclinou para a frente também, puxando suavemente um dos braços de Demi, para que pudesse vê-la melhor. – Eu diria que é uma loucura você ter esperado tanto tempo para reivindicar seu lugar de direito aqui. Você tem muito a oferecer para ficar sempre atrás.

Ela revelou um olho, ainda escondendo o outro.

– Nunca gaguejei na frente de Star. Ela deve ter notado que algo estava acontecendo.

– Ela provavelmente pensou que estava nervosa porque essa é uma de suas primeiras reuniões com clientes, o que só seria natural.

Depois de um longo instante, Demi balançou a cabeça. – Talvez.

– Será que realmente ajudaria se você dançasse de novo? – Ele não queria lhe negar algo que tinha sido… terapêutico. A dança seminua na frente de caras salivando podia até causar pesadelos nele, mas se ajudava Demi a lidar com algumas de suas ansiedades, ele era capaz de cerrar os dentes e encarar mais uma performance.

Era o que ele esperava.

– Não sei. – A voz dela estava fraquinha. O rosto pálido. – Definitivamente não posso me dar ao luxo de perder este emprego. Você está certo sobre isso.

– Mas você quer dançar – esclareceu Joe, tentando chegar ao cerne da questão.

Ela deixou cair o outro braço e cruzou as mãos sobre a mesa. Olhando diretamente para ele, disse:

– Só se você estiver lá.

Um raio de calor o atingiu ao pensar naquilo. Ele podia odiar a ideia de que qualquer um iria vê-la. Mas não podia negar o apelo de Demi dançando só para ele.

– Eu não perderia por nada.

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Hey everybody! Desculpem a demora pra postar, final de ano e minha vida escolar vira uma loucura. 
Obrigada a todos que comentam e comentaram.
xoxo

2.11.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 9


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EU ESTAVA tremendo, e não era por causa da temperatura ali fora.

O ar frio do Pacífico roçava minha pele exposta, o toque de umidade se transformando em vapor assim que se aproximava da minha pele aquecida. Então eu definitivamente não estava com frio. O tremor era resultado direto das palavras de Joe. E do olhar dele.

Deus. Do. Céu. O olhar dele.

Será que eu estava caindo de amores por ele? Percebi pela primeira vez o quão apropriada era esta metáfora: “caindo.” Porque o sentimento era exatamente como a queda livre de uma montanha-russa imensa, sabendo que seria uma viagem assustadora para baixo. Ainda assim, não conseguia abandonar o passeio agora. Eu tinha pedido por isso, não tinha?

Então as mãos dele já estavam em mim e comecei a descida vertiginosa. Sensações rugiam em meu corpo até minhas terminações nervosas comandarem o espetáculo. A boca quente de Joe na minha, a língua deslizando na fenda dos meus lábios em um apelo erótico. Meus dedos agarrando as lapelas do paletó dele, um esforço para permanecer de pé, já que meus joelhos tinham derretido.

Eu sabia que iria ficar quase nua ao final da minha dança, mas não sabia que me sentiria tão nua. Ficar perto de Joe enquanto ele permanecia vestido, e eu praticamente sem roupa, me causava uma sensação quente, sexy. Rebolei um pouco, gostando do leve atrito do sobretudo de lã contra minha pele desnuda. E, claro, fui recompensada pelo meu esforço árduo com aquilo que estava sob a braguilha dele.

– Vamos entrar – resmungou ele num tom que implicava que eu não devia discutir.

Até parece.

Joe tirou o paletó antes que eu pudesse piscar e o colocou em volta em meus ombros. Confusa, percebi que ele olhava para trás enquanto me empurrava para sairmos de debaixo do caramanchão. Não havia casas nos arredores da costa e nem vizinhos para fazer fofoca, afinal estávamos em um penhasco que se projetava para uma garganta. Mas com luzes visíveis abaixo de nós, talvez ele estivesse preocupado que alguém pudesse me ver enquanto corríamos em direção à casa.

O quão atencioso era isso?

Assim que pensei no assunto, tive um lampejo de preocupação. E se ele simplesmente não quiser ser visto comigo? Mas eu sabia que isso era coisa da antiga e insegura Demi. Esse tipo de pensamento permanecia em meu reflexo principal, tinha perdurado durante toda minha vida, por isso era difícil de ignorar. No entanto, eu iria ignorá-lo. Nada iria me roubar desta noite com Joe. Ele fazia mais do que apenas me desejar.

Ele se importava comigo.

Dava para sentir isso em seu toque. Enxergar isso em seus olhos.

Quando nos aproximamos da casa, moderna e quadrada, construída em quatro níveis diferentes, algumas das janelas estavam iluminadas, e notei muita madeira clara e cromo. Luminárias pesadas pareciam saídas diretamente de alguma fábrica. Eram elegantes e tinham um visual industrial, assim como as escadas emborrachadas e as bancadas de aço inox na cozinha. Mas não seguimos para a seção principal da casa.

Joe nos guiou para outro pátio cercado por árvores de gardênia. Ele abriu uma porta de tela para que pudéssemos entrar em uma porta francesa, dando para uma imensa suíte. O fogo ardia atrás de um gradeado preto aberto em ambos os lados. Uma lareira elegante de pedras o cercava, se projetando para o quarto. Uma colcha cinza cobria a cama king-size, e havia uma pintura de uma papoula vermelha em uma parede, mas essa era a única cor em contraste às paredes neutras e o piso claro de bambu.

Era como entrar em um sonho. Aquela casa linda e vazia no alto de um penhasco era um lugar distante da realidade, um lugar ao qual eu não pertencia. Mas daí, todo meu tempo com Joe parecia assim. Ele era minha realidade alternativa. Estar com ele despertava algum animal sensual latente em mim, e eu adorava a sensação. Provavelmente foi por isso que tentei dançar de novo hoje à noite, para recriar a magia daquela primeira vez.

Joe tirou o paletó dos meus ombros com o mais leve dos toques. Seu olhar cheio de cobiça percorreu meu corpo, e me esqueci de sentir qualquer coisa além da alegria de estar com ele. Eu não iria recuar daquela química mágica. Eu não iria me privar de Joe Fraser.

Então o abracei e o beijei como se não houvesse amanhã.

Perdi-me naquele beijo. Nele. Derreti-me nele, vasculhando botões de camisa e me enfiando em suas mangas para tocar a pele quente. Joe não seria capaz de se despir rápido o suficiente para mim. Talvez eu tivesse esgotado toda minha paciência em meu próprio striptease.

A camisa e o paletó atingiram o piso de bambu em um lampejo. O cinto deslizou facilmente, bem como o zíper das calças. Incitei-o a deitar na cama, tirando as meias ao mesmo tempo que puxava a cueca boxer para baixo. Então a boca dele envolveu meu seio, e não consegui me concentrar em mais nada. Senti a leve provocação da língua dele ao redor do cume, e então ele me tomou entre os lábios e pincelou o mamilo teso com a língua.

Era quase como se ele tivesse me tocado entre as coxas, porque um calor morno começou a vibrar ali também. Urgente agora, levei as mãos aos seios para desabotoar o sutiã, que já estava deslizando pelo meu tórax.

Ouvi um gemido baixo de Joe, um estrondo predatório em desacordo com seu comportamento urbano habitual. Sabia que ele devia estar totalmente no limite, e aquilo já era inebriante por si só. Senti-me privilegiada por vê-lo assim, despido da famosa personalidade pública. Para mim, ele era simplesmente Joe. Meu amante extraordinário.

Ele me carregou e me levou para a cama, me espiando com um olhar sombrio, faminto. Meus dedos dos pés se contraíram quando olhei para ele à luz da lareira, seu corpo lindo revelado. A cama debaixo de mim era tão macia, o homem pairando acima de mim estava tão rijo. Eu mal podia esperar para senti-lo em cima de mim, sua força contra as minhas curvas. Com Joe, não havia nenhum constrangimento. Sentia-me feminina. Mulher. Sexual. E ai, meu Deus, como o desejava.

Joe se demorou tocando cada parte de mim com uma atenção minuciosa que nunca havia sonhado que qualquer homem teria paciência para apresentar. As mãos acariciavam e passeavam, massageando para dissipar toda a tensão persistente. Beijos quentes em meus seios se misturavam ao apalpar hábil de seus dedos pelos meus ombros, pelos meus braços, até darmos as mãos. Apaixonado e terno ao mesmo tempo. Talvez fosse egoísta da minha parte, mas me perdi na felicidade de sua devoção indivisível para mim, para meu prazer.

Ele encontrou zonas erógenas em lugares que eu nunca teria imaginado que alguém iria notar, acariciando com dedos hábeis até eu estar no limite do orgasmo. Quem teria imaginado que a sola do pé poderia ser tão incrivelmente sensível? Mas quando ele apertou o polegar ali, me beijando o tempo todo até chegar à parte interna da minha panturrilha, derreti. Simplesmente derreti.

Quando ele me cobriu e penetrou fundo, flutuei em segundos.

Vi estrelas detrás de meus olhos fechados, pontinhos de luz que estouravam em flashes brilhantes conforme eu chegava ao ápice sem parar. Acho que fiquei me segurando por tanto tempo que ficou impossível esperar mais um segundo assim que o senti grosso e certeiro dentro de mim. Agarrei-lhe os ombros, cravando os dedos profundamente em sua pele para mantê-lo bem junto a mim.

Meus quadris requebravam ao encontro dele, torcendo até a última gota em meio aos tremores pós-orgasmo, e sim, eu gostei para diabo do jeito como meu corpo em movimento junto ao dele o fez gemer de aprovação. Da forma como a respiração quente de Joe acelerou contra meu pescoço enquanto eu, sim, a Demi gaga e tímida, deixei aquele homem magnífico absolutamente louco de desejo.

Deus, sim.

– Demi. – Ele sussurrou meu nome ao meu ouvido direito antes de encontrar o próprio alívio, a palavra repleta de uma ternura que eu não esperara depois da maneira como nos provocamos e tentamos um ao outro durante a noite inteira.

Ele ancorou meu corpo ao dele, nos selando juntos por longos instantes, nos quais compartilhamos o mesmo fôlego. O mesmo ritmo cardíaco.

Logo depois, eu não conseguia me mexer. O prazer lânguido deixava meus membros pesados, e eu estava esparramada debaixo de Joe, ofegante. Aspirei o cheiro dele, nosso cheiro, e absorvi o contato com o homem lindo e cálido ao meu lado.

Disse a mim para não pensar no fato de estar me apaixonando por ele. De que eu já havia começado a espiral descendente antes mesmo desse encontro incrível. Adverti-me para não atribuir significado demais ao sexo inebriante. Só porque tinha abalado o mundo de Joe, fisicamente falando, não significava que ele nutria sentimentos profundos por mim ou mesmo planos de longo prazo, não é? Jurei não ficar obcecada sobre o significado dessa noite juntos.

Eu estava ali para aproveitar o momento com ele pelo tempo que durasse. Não podia perder meu coração para um homem de um mundo tão vastamente diferente, um homem cuja vida era vivida aos olhos do público. Ainda assim, mesmo que tentasse não pensar no futuro, uma pequena parte de mim já estava prevendo manhãs preguiçosas de domingo nos braços dele. Noites cintilantes onde nós guiávamos a orgasmos frenéticos…

Para silenciar o desejo feroz subindo dentro de mim, reuni meu orgulho e independência e corajosamente me afastei dele. Não o suficiente para soar como uma rejeição, apenas o suficiente para resfriar o ar ainda aquecido entre nós. Fiquei de lado para olhar para ele, seu perfil tão convincente quanto o restante do corpo. Coloquei minhas mãos debaixo do travesseiro dobrado para não ficar tentada a tocá-lo.

– Você pode ficar? – perguntou ele, se deitando de lado também. – Não pensei em perguntar isso antes, pois estava tão feliz por finalmente vê-la de novo. – Ele passou a mão pelo meu cabelo, fazendo-me perguntar como estava meu visual.

Um desastre, provavelmente.

Mas suas palavras sugeriam que ele não me achava desagradável. De jeito nenhum. Mencionei que me sentia como uma deusa do sexo com todas aquelas endorfinas fluindo em meu corpo? Essa sensação pode se tornar viciante.

– Eu vim de carona até aqui – lembrei-lhe, grata por poder passar a bola para ele acerca da complicada questão sobre passar ou não a noite. – Então cabe a você decidir quando vou embora.

A maneira como ele franziu a testa me fez pensar que fui muito insolente. Mas daí a expressão dele suavizou.

– Acho que vou manter você como refém mais um pouco então. – Joe alisou uma mecha do meu cabelo entre o polegar e o indicador. – Demorou muito tempo para eu conseguir encontrar você esta semana. Seu trabalho deve manter você bem ocupada.

Tínhamos ficado três dias sem nos ver. Fiquei feliz em saber que não era a única pessoa ansiosa depois do primeiro encontro.

– Assumi novas responsabilidades no trabalho. – Dada a forma como queria me aninhar no peito dele e me esquecer do mundo, achei que seria uma boa ideia falar sobre meu trabalho. Melhor do que admitir o quão louca estava por ele.

– E isso é bom? – Ainda segurando aquela mecha de cabelo, Joe usou as pontas como um pincel, passando-a no meu ombro.

Tive de pensar na pergunta dele por um momento. Por um lado, gostava do que estava fazendo; por outro, não tinha certeza de como me sentia sobre a nova função sem um aumento de salário.

– É empolgante. Estou na Sphere há quase três anos, executando a mesma função. Pensar em uma nova faceta da empresa vai ser interessante. – Expliquei-lhe sobre meu papel anterior nos bastidores e sobre minha apresentação iminente para um cliente. – É tudo mais lisonjeiro ainda para mim por causa dos meus problemas de fala.

– Isso não a deixa tensa?

– Um pouco. Mas depois de dançar no Backstage, acho que posso lidar com alguns riscos novos. – Meus olhos tinham sido abertos naquela noite. Eu não ia voltar para meu estilo de vida passivo, do tipo “aceite o que a vida lhe oferece”.

– Que bom para você. – Joe soltou meu cabelo, e estremeci diante do modo como ele roçou pelo meu braço, pelas minhas costas, para então se apoiar no travesseiro atrás de mim. – Você já pensou em aulas de atuação?

Aquilo me fez soltar uma gargalhada surpresa.

– Hein?! Sou uma pessoa de números, não uma aspirante a Hollywood.

– Às vezes aulas de teatro podem ajudar as pessoas que ficam tensas diante de uma plateia. Elas podem diminuir o nervosismo e ajudar a relaxar.

– Sério? – Tentei me imaginar no programa de entrevistas Inside the Actor’s Studio e falhei. – Já é difícil o bastante ficar de pé na frente de dez pessoas em meu escritório. Não acho que seria capaz de lidar com uma aula na frente de estranhos.

– É só uma ideia. – Ele deu de ombros antes de se virar para pegar um controle remoto que reduzia a chama da lareira. O quarto ficou mais escuro.

– E você? Você também andou bem ocupado nesta semana. Como está seu trabalho?

Joe nos cobriu com o lençol, verificando atrás de mim, para ter certeza de que eu estava totalmente coberta. Meu coração se apertou perante a doçura dele. Ele me puxou para mais perto, a fim de que eu pudesse aninhar a cabeça no bíceps dele.

– Quase todos os meus clientes estão trabalhando agora. Aquele cara que arrastei para o show no Backstage… Eric Reims? Ele vai conseguir um grande papel na semana que vem. Posso sentir isso.

– Mesmo? – Tentei me lembrar do rosto do ator, mas minhas recordações daquela noite se concentravam no homem que estava ao meu lado na cama.

– Sim. O departamento de elenco do filme está louco por ele, e o diretor acabou de me avisar que quer outra reunião. – Joe assentiu com satisfação, como se isso fosse a prova de que precisava. – Uma vez que Eric conseguir o papel, sobrarão só dois adolescentes para os quais preciso encontrar trabalho.

– Então toda sua agência de talentos representa os atores originalmente contratados para o filme que seu pai boicotou? – Eu tinha lido muito sobre os negócios de Joe enquanto estava preparando os relatórios da Sphere para Selena. Sabia o básico sobre o conflito com o pai.

– E mais alguns que conheci desde então. Mas todos estão trabalhando agora, exceto os dois últimos. Uma vez que encontrar trabalhos sólidos para eles, poderei prosseguir.

Uma brisa fresca soprava pelas portas francesas abertas, fazendo com que as chamas na lareira vacilassem e estalassem.

– E abrir o estúdio sobre o qual você não quer que ninguém saiba. – Não consegui resistir e rocei meu rosto na pele quente do braço dele. Era fantástico como um músculo tão duro podia ser um travesseiro tão macio.

– Sim. – Ele ficou tenso, e o fitei para ver sua expressão. – Embora agora eu esteja em dúvida sobre meu primeiro projeto, pois meu pai comprou os direitos para filmar uma história parecida com a que eu queria fazer… Ele parou de falar o que quer que estivesse a ponto de dizer, a mandíbula contraída.

Tentei outra abordagem:

– Por que você acha que ele faz esse tipo de coisa? Contei que minha mãe sempre foi dura comigo também. Mas ela nunca… me frustrou tão ativamente.

Uma perfeccionista por natureza, minha mãe sempre se mostrara decepcionada com o que considerava serem meus defeitos perpétuos. A gagueira era apenas um exemplo. Minha falta de ambição, meu guarda-roupa, minha franja comprida… havia muitas coisas das quais ela não gostava. Mas ao mesmo tempo que reclamava dessas falhas, não queria me ver fracassar. Que estranho o pai de alguém querer isso.

JOE DEMOROU um tempo para responder. Ele não tinha certeza do quanto deveria compartilhar, para começar. E também estava surpreso por Demi ter feito aquela pergunta.

A maioria das pessoas queria saber mais sobre Thomas, o cineasta independente rico que tinha deixado sua marca no ramo após ser criado por pais adotivos em uma região humilde de Oakland. Thomas Fraser era uma lenda, uma encarnação real do sonho americano. Esse era um tema que ele havia revisitado muitas vezes em seus filmes, também. Era carismático e amado pela mídia, independentemente do fato de ter sido um pai rígido.

– Tem a ver com essa coisa de ele ter vencido na vida sem a ajuda de ninguém. – Joe tinha ouvido muito sobre isso durante a infância e a adolescência. – Meu pai teme que, se não desafiar os filhos, seremos fracos. Ele nunca acreditou em subsídios quando éramos jovens, e não acredita em nos ajudar com qualquer coisa agora que estamos crescidos.

Nem mesmo com o crédito em um filme pelo qual Joe trabalhara duro. Nem mesmo o reconhecimento por um trabalho bem-feito.

Joe mudou de posição na cama para se deitar de costas, levando Demi consigo. Ela pôs o cotovelo no peito dele e apoiou a cabeça na própria mão. O cabelo escuro estava esparramado sobre Joe, indo até os quadris e despertando-o, ignorando que ele provavelmente estava bem saciado. Por enquanto, pelo menos. Mas mesmo uma conversa sobre seu pai não poderia diminuir a intensidade da agitação depois do melhor sexo de sua vida.

– Talvez ele ache que esteja ajudando. Ou talvez tenha seguido esse padrão de comportamento por tanto tempo que não sabe como se relacionar com você de outra maneira. – Demi ofereceu um sorriso tímido. – Mas de repente são meus anos de terapia falando mais alto.

Joe odiava saber que a mãe de Demi a levara àquele ponto, mas ela parecia confortável com essa parte de seu passado.

Muito mais confortável do que o próprio Joe sentia-se sobre o pai.

– Eu ficaria surpreso se houvesse alguma forma de meu pai enxergar suas atitudes como úteis.

– As pessoas são capazes de racionalizar um monte de coisas. Você é um cineasta independente. Provavelmente sabe que somos os protagonistas de nossos próprios dramas, certo?

Ele balançou a cabeça, intrigado com aquela mulher. O que tinha começado como forte atração física tornava-se mais interessante a cada momento.

– Então seu pai provavelmente pensa que você precisa dele para fazer sucesso.

Joe achava difícil acreditar naquilo, e ainda assim… certamente era uma explicação mais afável para as atitudes de Thomas do que ele já tinha creditado ao velho.

– Talvez. Mas tendo a pensar que ele é apenas obsessivamente competitivo. – Joe suspirou e dobrou o travesseiro sob a cabeça, para poder ver Demi melhor. – Sei que ele acredita que nossa mãe nos mimou… O que era impossível, uma vez que não a víamos mais do que algumas semanas por ano… E ele acha que é função do pai ser duro com os filhos.

– Pergunto-me como teria sido se ele tivesse uma filha. – Demi traçava círculos ociosos na pele de Joe, e ele pensou em interromper a conversa com um beijo.

E algo mais.

– É difícil dizer. – Embora ele supusesse que seria mais do mesmo. A recusa em elogiar qualquer conquista. A pressão contínua para se esforçar mais na vida.

– Seus irmãos não são casados?

Joe acariciou o cabelo dela. A pele quente do ombro.

– Não. – Ele não conseguia imaginar nenhum de seus irmãos se estabelecendo num casamento. Eles gostavam demais da vida de solteiro.

E depois dessa noite com Demi, Joe fora fortemente lembrado de por que precisava arranjar algum tempo na vida para mulheres. Mais especificamente, tempo para Demi. Ela era… incrível. As lembranças da dança para ele, rodopiando pelo pátio usando apenas os véus, ficariam gravadas em seu cérebro para sempre.

– Você já chegou perto alguma vez? – O sussurro gutural funcionava como uma outra espécie de toque, o som deixando-o excitado novamente. Já.

– O quê? – Ele perdeu o fio da conversa enquanto imaginava nitidamente como eles poderiam passar o restante da noite juntos.

– C-c-casamento – esclareceu ela, pigarreando quando tropeçou um pouco na palavra. – Alguém já tentou você a esse ponto?

Ele desejou muito tê-la beijado antes de a conversa seguir para aquele rumo. Tinha certeza de que também não era capaz de dizer a palavra com “C” sem gaguejar.

– Uma vez. – Joe definitivamente não queria discutir isso. Cruzando os dedos, tentou virar a mesa: – E você?

Demi franziu a testa, baixando os cílios para esconder os belos olhos. Ela estava mesmo magoada porque ele não quisera contar nada sobre Heather? Joe já estava lamentando a reviravolta abrupta daquela conversa. Independentemente de querer manter as coisas descomplicadas entre eles, Joe lhe devia mais do que uma resposta monossilábica e concisa após o que tinham compartilhado.

Mas então Demi encontrou o olhar dele e sorriu.

– Eu? Você está brincando? – Ela se jogou de costas ao lado dele e passou um braço ao redor da cintura máscula. – Definitivamente, não sou do tipo que nasceu para se casar.

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Gente cadê vocês? Os comentários estão muito poucos.
Quero mais que 4 comentários pro próximo capítulo. 
Acho que vocês não estão gostando.
xoxo